25 março 2008

(mau) tradutor, traidor

esse bostejo surgiu da necessidade de criticar a qualidade das traduções de livros e que tais que tenho visto por aí. achei até que tinha encontrado dois exemplos envolvendo a expressão "floresta tropical". o primeiro estava tão errado que foi difícil entender o que estava sendo dito (tem foto lá embaixo). o segundo foi ignorância minha, que não sabia que "floresta pluvial" era um sinônimo correto. mas é que o texto como um todo estava tão truncado, que fiquei de má vontade.

o texto que planejei escrever era assim, prestem atenção:

quando tinha dez anos de idade, tive a sorte de morar por quase um ano nos estados zunidos. quando digo sorte, me refiro a aprender, por imersão, um novo idioma quando seu cérebro ainda é uma esponja praticamente saída de fábrica.

porque aos dez anos, a uma criança com sorte suficiente para nascer numa classe média com privilégios inimagináveis para boa parte da população mundial, só importa brincar. e isso pode ser feito praticamente em qualquer lugar, em qualquer país.

meu cérebro hoje é uma esponja bastante maltratada, mas ainda boa o suficiente para inutilidades como decorar letras de música e criar piadas sobre o disc-jóquei preferido de einstein, e coisas importantes como gravar senhas de banco e de correio eletrônico. para quê mais serviria uma esponja velha?

enfim, desde os dez anos venho tentando honrar da melhor maneira possível o presente de ter aprendido outra língua, estimulando minha esponja a não esquecê-la. para isso, me forço a ler livros no original (sempre na companhia de um dicionário) e a assistir filmes sem legendas. não têm aparecido muitas oportunidades de conversar com nativos, o que prejudica um pouco a rapidez e a fluência, mas me viro como posso.

meu pouco conhecimento, quase todo instrumental, e meus poucos escrúpulos, não me permitem aventuras no campo da tradução. pelo menos não de forma séria. já ajudei amigos com resumos de dissertações (abstracts), textos teóricos e trivialidades, mas sempre me desculpando pela indigência, e recomendando que procurassem a palavra final de um especialista.

aliás, um pequeno parêntese: já notaram como, em todos os aspectos da vida, os que "se dão bem" (o que quer que isso signifique) são sempre aqueles que assumem uma postura de segurança, mesmo quando não fazem a mais vaga idéia do que estão fazendo? reparem, em todos os campos, quem está no comando das coisas são sempre os escroques e os semi-analfabetos. os poucos competentes de destaque são exceções, os "soluços da máquina". fecha parêntese.

entre os tradutores a situação não é diferente. o primeiro caso a que me referia lá em cima, no começo do bostejo, partiu de um resumo de programação de tv por assinatura, na foto abaixo:


peraí, camaradinha: "chuva florestal"?! pô, o mínimo que se espera de um tradutor é que ele esteja atualizado com as questões que envolvem seu metiê. estamos falando de "rain forest", um termo que, nesses tempos de globalização, farc e aquecimento global, é mencionado em pelo menos uma de cada dez notícias. o cara deve ter usado a ferramenta de tradução automática do computador e não revisou depois.

vejam bem, não estamos falando de nenhum jargão específico de economia, ou mesmo de biologia, como foi o caso quando, nos tempos pré-internet, passei semanas arrancando os cabelos para descobrir que "fry" significa "alevino", numa tradução para um amigo oceanógrafo.

o segundo caso, o da "floresta pluvial", veio da versão em português do livro timequake, do kurt vonnegut. o termo está certo e eu não sabia, mas é que a tradução emperrada estava me tirando todo o prazer da leitura. já li o autor no original, e sabia que ele não escreve com o freio-de-mão puxado.

não pretendo entrar em discussões teóricas sobre fidelidade versus fluência nas traduções, e muito menos ficar arrotando grosso sobre assunto que não entendo, mas acho que uma boa tradução deve ser aquela em que a história flui sem que você perceba que está lendo, sem precisar ficar voltando à mesma frases várias vezes para entender o que está sendo dito.

sei lá, também...
pô, vocês chegaram até aqui? não têm mais o que fazer, não?