26 novembro 2003

incêndio na ceasa e o excesso de crianças

antes que a notícia envelheça demais, gostaria de tecer algumas considerações sobre os saques ocorridos depois do incêndio da ceasa. no noticiário de anteontem, apareceu uma senhora favelada reclamando da fome, pois só tinha sal para dar de comer aos seus sete filhos.

aí penso cá com meus botões, o problema não é de fome. é de planejamento familiar. ora bolas, se essa dona tivesse dois - em vez de sete – filhos, ela talvez não estivsse sofrendo tal penúria. esticando um pouco mais o raciocínio, lembrei que há anos não ouço nenhum governante falar no assunto. a última vez, para ser bem preciso, foi em 1996, na feira de ciências do colégio militar (instituição que freqüentei tempo suficiente para aprender a detestar qualquer tipo de organização de massa). antes disso, também, no começo da minha vida escolar, passada nos bancos de diversas escolas públicas, nos estertores da ditadura. depois do governo sarney, nunca mais. é como se o problema não existisse.

aí, apresentada às conseqüências da falta de informação, o que faz a nossa gloriosa classe média, da qual faço parte? oscila entre a vontade nunca confessa de exterminar as hordas de pivetes e mendigos que enfeiam a garcia dávila, ou apela para soluções paliativas de distribuição de sopão na madrugada, à moda zarur (essa é só pra quem tem mais de quarenta). mas sobre planejamento familiar, silêncio fúnebre.

quero deixar claro que não estou falando de esterilização sem consentimento, mas da possibilidade consciente de decisão entre ter ou não (mais) filhos. até porque, sem isso, acontecem coisas como a que eu ouvi de uma amiga, que contou que o porteiro de seu prédio desejava mandar a mulher de volta para o nordeste, “porque aqui ela só sabia era fazer filho”.