29 dezembro 2003

dias interessantes

reza a lenda que uma das piores pragas que os ingleses rogam é desejar que um sujeito tenha "dias interessantes".

pois bem, os últimos dias até que tiveram sua cota de interesse - para minha sorte, para bem. e se o movimento no botequim continua fraco, paciência. pelo menos não tive muito tempo para pensar nisso.

terça-feira, véspera de natal, fui devolver uns filmes na cavídeo antes de zarpar para a casa de mamã. mas eis que um amigo me vê passar e me chama pelo celular. na mesa ele está com ex-namorada (ou namorada, não entendi bem a situação) e uma outra menina, amiga de amigas de outra galera. já de cara saquei que tinha angu naquele caroço, mas estava por demais elétrico no dia para me concentrar. além do mais, estava gostando da velocidade.

depois do natal, dia 26, fui com o povo de casa e mais dois amigos de salsão ver o último "senhor dos anéis". antes do filme, queimei a língua com um café comprado para evitar o sono. na noite anterior, inexplicavelmente virara a noite, só tendo ido dormir de nove da matina ao meio-dia. o filme é maravilhoso, mas quando o aragorn foi coroado, achei que ele viraria-se para câmera para repetir o bordão do mel brooks: "it's good to be the king". houve duas fugas para xixi durante a projeção, sem maiores danos. e o trailer do segundo homem-aranha, que me deixou bem empolgado.

depois fomos beber, e mais tarde, seguimos para a casa de um dos amigos do salsão, de onde saímos lá pelas cinco, mais sábios, depois de assistir ao show de tributo ao george harrison e algumas cenas do primeiro "senhor..." que não entraram na edição final.

ou seja, outra noite sem dormir.

aí, ontem teve festa aqui em casa, para comemorar o aniversário dos meus "pais". festa ótima, muitos amigos, rostos conhecidos, boa bebida e boa comida até de manhã. resultado: sono picado o dia inteiro, até à nove e meia da noite, mais ou menos.

não tenho tido muito do que me queixar, afinal de contas...apesar dos pesares - que não são poucos - os últimos dias têm sido gratificantes.

26 dezembro 2003

bertrand russel era fera, mas não era cristão

fragmento impecável que encontrei entre os argumentos expostos por russel no seu porque não sou cristão.

Como já disse, não creio que a verdadeira razão pela qual as pessoas aceitam a religião tenha algo que ver com argumentação. Aceitam a religião por motivos emocionais. Dizem-nos com freqüência que é muito errado atacar-se a religião, pois que a religião torna os homens virtuosos. Isso é o que me dizem; eu jamais o percebi. Conheceis, por certo, a paródia desse argumento, tal como é apresentado no livro Erewhom Revisited, de Samuel Butler. Vós vos lembrais de que, em Erewhom, há um certo Higgs que chega a um país remoto e que, após passar lá algum tempo, foge do país num balão. Vinte anos depois, volta ao mesmo país e encontra uma nova religião, na qual é ele adorado sob o nome de “Filho do Sol”, e na qual se afirma que ele subiu ao céu. Verifica que a Festa da Ascensão está prestes a ser celebrada, e ouve os Professores Hanky e Panky dizerem entre si que jamais puseram os olhos no tal Higgs e que esperam não o fazer jamais – mas eles são altos sacerdotes da religião do Filho do Sol. Higgs sente-se muito indignado e, aproximando-se deles, diz-lhes: “Vou desmascarar todo este embuste e dizer ao povo de Erewhom que se tratava apenas de mim, Higgs, e que subi num balão”. Responderam-lhe: “Não deve fazer isso, pois toda a moral deste país gira em torno desse mito e, se souberem que você não subiu aos céus, todos os seus habitantes se tornarão maus”. Persuadido disso, Higgs afasta-se do país silenciosamente.

Eis aí a idéia – a de que todos nós seríamos maus se não nos apegássemos à religião cristã. Parece-me que as pessoas que se apegaram a ela foram, em sua maioria, extremamente más. Tendes este fato curioso: quanto mais intensa a religião em qualquer época, e quanto mais profunda a crença dogmática, tanto maior a crueldade e tanto pior o estado das coisas. Nas chamadas Idades da Fé, quando os homens realmente acreditavam na religião cristã em toda a sua inteireza, houve a Inquisição, com as suas torturas; houve milhares de infelizes queimadas como feiticeiras – e houve toda a espécie de crueldade praticada sobre toda a espécie de gente em nome da religião.

Constatareis, se lançardes um olhar pelo mundo, que cada pequenino progresso verificado nos sentimentos humanos, cada melhoria no direito penal, cada passo no sentido da diminuição da guerra, cada passo no sentido de um melhor tratamento das raças de cor, e que toda diminuição da escravidão, todo o progresso moral havido no mundo, foram coisas combatidas sistematicamente pelas Igrejas estabelecidas do mundo. Digo, com toda convicção, que a religião cristã, tal como se acha organizada em suas Igrejas, foi e ainda é a principal inimiga do progresso no mundo.


como diriam os velhos anarquistas espenhóis, no começo do século passado: "o mundo só será realmente habitável quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre".

ou algo assim.

mary crisma!

natal não é das épocas que mais gozam da minha simpatia. depois que deixei de ganhar a montanha de presentes da infância, então, nem se fala. além disso, não sou fã de peru (em nenhuma de suas manifestações), avelãs, nozes etc. mas o desse ano foi legal.

uma semana antes, minha mãe organizou um jantar na casa dela com a parentada do lado wanderley. um povo ótimo, mas que, estranhamente sempre ficava do lado mais comportado da sala nos pagodes (vai no dicionário!) da casa da minha vó. gente muito boa, com laços fortes entre eles, com tias portadoras da história da família.
o melhor de tudo é que não teve cara de natal. as crianças receberam presentes, e foi tudo. comemos, conversamos e nos divertimos.

na data propriamente dita, estava combinado de irmos para a casa de zé luis, em niterói. confesso que fiquei um pouco dividido entre a satisfação de passar com um pessoal muito animado, mas ao mesmo tempo, que me era totalmente desconhecido. e fora do meu território. mas, ok, vamos lá.

estava combinado de rolar uma leitura de poesias, o que achei por deveras chique. para mim, achei perfeito o o oitavo poema do guardador de rebanhos, de alberto caeiro, vulgo f'rnando p'ssoa.

como era de se esperar, a reação da minha mãe foi mesma de quando a li para minha irmã: ficou chocada. não adiantou argumentar que, apesar das blasfêmias, o menino zizús saía limpo da história, e que os dogmas da igreja católica são apenas representações falhas - e muitas vezes contraditórias - do espírito dos ensinamentos de jotacristo. mas qual, de nada adiantou meu latim. fiquei puto e, de pirraça, me recusei ler o beijo de papai, do meu bisavô eustórgio wanderley (calma, revisão!), já que era o único de nós que conhecia bem a métrica e que conseguia lê-la sem chorar. (no final das contas, já com várias na cabeça, eu a declamaria de bom grado, mas não houve impressora na casa, e "o beijo..." acabou ficando para o ano que vem.)

lá na casa do zé luis almoçamos, e depois o povo seguiu para decorar a outra casa, onde seria a festa. mas fiquei foi na rede, de papo pro ar, meio lendo o jornal, meio cochilando. aí o marim me ligou. disse que tinha comprado um carro, e estava passando lá para me dar um abraço de natal. carro é o cacete! era uma puta caminhonete mitsubishi, a diesel, com direito a cascata artificial com filhote de jacaré. rodamos até achar uma padaria aberta, onde trabalhamos uma cerveja boa, e depois ele me deixou em casa.

de noite apareceram os filhos e sobrinhos. uma molecada dos 25 aos 27, todos quase o dobro do meu tamanho, mas uma rapaziada engraçada e acolhedora. tava também a paula, de quem me haviam falado tanto. o repertório de palavrões no começo me deu um susto, mas depois me acostumei. eu mesmo tenho uma boca suja pra caralho...

amigo-oculto, ceia etc. aí veio a roda de poesias, cantei nelson cavaquinho acompanhado pelo zé luis, aprendia a tocar harpa de nariz, e terminamos a noite todos bailando e forrozando. ah, descobri que não sei dançar.

boa, a noite, boa.

depois segui com o marão para tomarmos a saideira, perto do country. tinha uma festiva onde toda niterói estava. inclusive os galalaus lá da minha festa, só que os caras tinham uns ingressos vips, que davam dierito a tudo de grátis. íamos mesmo apenas tomar uma cerveja, mas um amigo do marão me deu o convite que tinha sobrando. entramos, mas achei um bobódromo. cheguei de manhã em casa. minha irmã disse, para minha surpresa, que ronquei direto.

boa, a festa, boa.

22 dezembro 2003

telemerda e o fim da cidadania

há dias que não consigo mais ligar para celulares do meu telefone fixo. no finde, tive a idéia de tomar satisfações com a telemerda, mas como só lembrava disso nos horários mais desarrazoados, resolvi deixar pra hoje.

assim, descobri que fui vítima de uma armadilha semântica: através de uma atendente que provavelmente não leva o cérebro para o trabalho (ou será esse um pré-requisito para trabalhar nesse cargo? será que eles ganham adicional de insalubridade para aturar os maus-bofes de consumidores como eu? será que estamos, pela privação de alimentação e alternativas de educação, criando uma sub-casta como os ipsilones semi-imbecis do admirável mundo novo, do huxley? eu sei, sou obcecado por esse livro. mas, enfim, divago...), a atendente me informou que em novembro eles "habilitaram" esse serviço de bloqueio de celular.

- desabilitaram, você quer dizer.
- não, senhor. o serviço foi habilitado, e gratuitamente.
- não, você não me entendeu. vocês desabilitaram. se antes eu conseguia ligar para celulares e agora fui impedido de fazê-lo, eu deixo de ter um serviço à minha disposição, correto? fui, portanto, desabilitado.
- senhor, esse é um dos serviços que a tele... oferece ao custo de dois reais mensais.
- peraí! vocês não estão me cobrando por isso, não, é?
- não, senhor, o serviço foi oferecido gratuitamente para o senhor.
- mas se foi oferecido, como é que eu não fiquei sabendo? como é que vocês presumiram que eu queria fazer uso disso, se eu não disse nada? se não concordei com nada?
- a informação foi enviada junto com a a sua conta de novembro.

bom, diante disso, não havia mais o que fazer, a não ser pedir que me reabilitassem logo. não costumo ler as propagandas e demais chorumelas que eles me mandam.

mas tive mais uma prova da engrenagem do capital neoliberal: você não importa, mesmo que pague. antes, se você pagava, anida tinha direitos, era tratado de "doutor" e tinha lá sua cota de rapapés; hoje, nem isso. as decisões são tomadas à sua revelia, e você que se dane para acompanhá-las.

o consumidor, hoje o substituto do cidadão, tem que dançar conforme a música que tocam. e ai daquele que não puder sequer ser consumidor. perde o direito à própria dignidade humana; e um resquício de ética religiosa é o que os impede de desenvolver uma "solução final" efetiva aos párias do capital. no entanto, se as previsões de que, com a automação, 20% terão trabalho e 80% terão "tempo livre" (ô, eufemismo!), é bom preparar o pescoço para o fio da espada.

21 dezembro 2003

o anjo exterminador

hoje acordei piano, tranqüilão, mesmo, fiz café, li o jornal, molhei as plantas e pensei em ir pra praia. recebi a mãe do salsão, que veio dar um trato na tutuca (a gatinha da casa).

aí caí na esparrela de jack in (ah, neuromancer!...) pra ver os imeios. tinha um da duli, que levei um tempão respondendo. e me loguei aqui pra mandar um bostejinho, mas eis que topo com a grata surpresa de um comentário da conceição, que não vejo acho que desde o fim da faculdade. escrevi sobre ela há um tempo atrás, quando falei de ricardo reis. enfim, outro imeio.

bom, o saldo da brincadeira é que não consegui me desplugar. o tempo passou, nublou, não almocei e sequer consegui botar o nariz pra fora de casa. são quase nove da noite, tem um sambão comendo solto desde de tarde em algum lugar da rua e eu, nada. achei que era num terraço aqui em frente, mas não tenho certeza de onde vem a música.

além de não conseguir sair de casa, continuo sem celulari e, portanto, impossibilitado de entrar em contato com quem quer que seja.

para não dizer que estou apenas choramingando pelo dia (voluntariamente) perdido, encontrei no gravataí merengue uma história hilária sobre a aracy de almeida, contada pelo caetano.

quando se fala em aracy de almeida, a primeira imagem que me vem a cabeça é dela como jurada do sílvio santos. na época, já uma senhora, ela parecia uma bruxa de óculos escuros, emoldurada por um pixaim bléqui, com o humor de uma sogra com tpm. só anos depois é que fui entender porque era ela que gongava os calouros, ao som do famoso bordão "vai levar dez paus". mas chega de blábláblá e vamos à história, de 26 de novembro do corrente:

CAETANO VELOSO: "LETRA SÓ" E "SOBRE AS LETRAS"

Chegaram hoje os dois livros de Caetano Veloso, recém-lançados pela Companhia das Letras. "Letra Só" é uma compilação de letras de música. Uma boa para quem não tenha os encartes de todos os CDs. Para os que têm, que se presume sejam fãs, é uma ótima (pois para fã tudo do ídolo é ótimo). Tiro certeiro da editora.

Já "Sobre as Letras" é uma coisa mais interessante, sobretudo para os fãs. Caetano fala de suas letras, desfaz alguns postulados até então tidos como verdadeiros, e explica situações bem inusitadas. Gostei muito do pouco que li.

Uma vez falei da música "A Voz do Morto". Adoro a letra, adoro a melodia. Ele fez para a Aracy de Almeida, disso eu sabia. Mas não conhecia o contexto da coisa. É algo engraçado, faz parte da história da MPB (Aracy, Caetano e o contexto).

Quem quiser ouvir a gravação na voz do autor, precisa conseguir o "compacto duplo ao vivo", gravado com Mutantes (do qual constam, além dessa, "Baby", "Saudosismo" e "Marcianita"). Era o showzinho gravado na boate Sucata, paralelamente ao Festival da Globo de 1968 (em que CV tocou "É Proibido Proibir" e deu no que deu...).

Vejam como Caetano Veloso narra o episódio da composição:

"Assim como 'Baby' me foi sugerida por Bethânia, 'A Voz do Morto' me foi ditada pela Aracy de Almeida. Ela estava em São Paulo para fazer a Bienal do Samba, que era um festival só de sambas, e estava muito irritada com a ideologia em torno daquilo. Ela vei falar comigo: 'Pô, me tratar como glória nacional pensando que vão me salvar? Puta que o pariu, salvar o caralho! Estão pensando que vaão salvar o samba na televisão? Salvar o caralho! Quero que você faça um samba porque você que é o verdadeiro Noel, porque você é violento, você é novo!'. Era assim que ela falava para mim: 'Eu já estou por aqui, de saco cheio' - e ela pegava, como se tivesse saco mesmo -; 'Eu estou de saco cheio desse negócio de Noel Rosa, ter que arrastar esse morto pelo resto da vida. Quando eu canto é a voz desse morto! E ninguém me engana com essa porra não, de festival do samba. Faça uma música da pesada para eu gravar, esculhambando essa porra toda!'. Ela me ditou o samba! Fiz essa música, ela adorou e gravou"

Agora, a tal letra:

A VOZ DO MORTO - Caetano Veloso
Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e de prata
De filó, de náilon
Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais
Coitados
Ninguém me salva
Ninguém me engana
Eu sou alegre
Eu sou contente
Eu sou cigana
Eu sou terrível
Eu sou o samba
A voz do morto
Os pés do torto
A vez do louco
A paz do mundo
Na glória
Na glória
Na glória
Na glória
Eu canto com o mundo que roda
Eu e Paulinho da Viola
Viva Paulinho da Viola

há algo de podre no reino da...dinamarca?

tenho desenvolvido a postura zen de não julgar nada. apenas observo os fatos, tentando reagir como o junco, que muda de atitude conforme a direção do vento. digo isso porque abri o noticiário do meu provedor (não digo o nome, ele não merece a propaganda), e me choquei com as notícias.

me corrijam se eu estiver errado (ou se eu começar outra frase com pronome oblíquo): ou existe uma conspiração tendenciosa entre as principais agências internacionais, ou humildemente percebo algo como um desequilíbrio de forças na política do oriente médio.

vejam as notícias de hoje (21/12):


Guerra no O. Médio :: 12:54:12
Israel está radiante com Kadafi, a prisão de Saddam e a pressão sobre Assad

Guerra no O. Médio :: 11:55:14
Catar intermediou entre EUA e Hamas para fim de ataques a civis

Guerra no O. Médio :: 10:35:07
Dois menores palestinos são mortos por soldados israelenses

Guerra no O. Médio :: 09:44:09
Um menino palestino de cinco anos é morto perto de Nablus

Guerra no O. Médio :: 09:18:15
Israelenses prendem autoridade do Hamas na Cisjordânia

Guerra no O. Médio :: 07:54:07
George W. Bush quer se "livrar" de Arafat, diz jornal

Guerra no O. Médio :: 07:15:09
Bush defende que "é preciso se livrar de Arafat", diz jornal

Guerra no O. Médio :: 07:05:11
Exército israelense detém porta-voz do Hamas na Cisjordânia

Guerra no O. Médio :: 06:54:10
Israel prendeu um importante chefe do Hamas na Cisjordânia

Guerra no O. Médio :: 06:15:09
Exército israelense destrói dois edifícios na zona de Rafah


papai noel/ vê se você tem/ a felicidade/ pra você me dar.

socorro!

20 dezembro 2003

depois da morte, à vida!

não sei porque, hoje acordei feliz. tarde, um solzinho frouxo e aconchegante me acorda depois dos dias de chuva e frio. sinto-me até humano.

tomo quase um litro de café, mas felizmente, a tranqüilidade não me abandona. aparece salsão, bota uns discos na vitrola (que nem temos em casa, mas como eu adoro a palavra!...), lemos jornal, conversamos. gabi está na vera, me conta ele.

tento entrar em contato com os amigos, mas os números estão todos no celulari, esquecido ontem na casa de mamã. fico triste por não poder falar com ninguém, mas feliz porque é menos uma tralha para carregar para a praia.

ainda espero um imeio dela, que nem sei se me escreverá, nem sei se me quer. bom, até espero, mas depois que as roupas saírem da máquina, nada mais me prende em casa. apenas, talvez, uma outra trouxa de roupas - há muito que não lavo nada.

mas não é nada disso que eu queria dizer; e sim que, depois de um ano de muito medo de tudo, o casulo se rompe e volto à vida, ao trabalho, ao samba, ao mestrado e às mulheres (não necessariamente nessa ordem).

2003 já vai tarde.

17 dezembro 2003

more farid (mó farid)

duas pessoas que eu sequer conhecia deixaram seu comentários sobre o nosso bróda farid ( no terceiro bostejo abaixo). e quando eu já achava que o assunto não mexeria mais comigo, os depoimentos trouxeram toda a emoção de volta à tona.
continua parecendo que tudo não passa de uma piada de mau-gosto, e que daqui a pouco, ele vai estar no telefone convidando para mais um show...

quando uns poucos amigos combinamos o encontro em homenagem ao negão, na quinta, a coisa toda talvez tivesse só o gostinho de uma combinação carioca, como os famosos "vou te ligar...", que adoramos pregar uns nos outros, sem, no entanto, a menor intenção de sacanearninguém. (talvez seja um traço cultural, uma herança geográfica, sei lá - mas acreditamos mesmo que vamos ligar depois, só que são tantas coisa a fazer, que ...)

de qualquer forma, amanhã (hoje) estarei pessoalmente empenhado em coordenar a galera toda do gaivotas & cercanias para o encontro.

summer fire (samir faia)

hoje foi um dia radiante para mim - e aqui não faço nenhuma ironia ao calor senegalesco que castigou a cidade, chegando a insuportáveis 41,5º. assim não se pode viver de maneira decente. recomendo à governadorazinha lançar a campanha do ar-condicionado a R$ 1,00.

enfim, radiante porque trabalhei muito bem, e acho que dei o pontapé inicial numa nova perspectiva de vida e de carreira, que promete render frutos a partir do ano que vem. preparem-se, pois ninguém me segura mais.

de noite, eu e tereza fomos comemorar à vera a última noite de trabalho do ano. espírito do chope, cobal do humaitá. lá chegamos de noitinha, vimos a chuva, e só saímos com os garçons já à paisana, loucos para irmos embora. farra como não vivíamos desde os tempos de faculdade.

à certa altura, liguei para a priscilla em busca do telefone da duli. ela não tinha, mas deu as coordenadas para consegui-lo. tenho que ligar para um cara que está na casa do claudio, para que ele encontre numa agenda o telefone da mãe dela, em curitiba. aí, quem sabe, eu consiga jogar uma lábia para conseguir o número de sampaulo. operação de guerra; mas, como disse o poeta, "tudo vale a pena...".

na carona de volta para casa, ouvimos uma velha canção do bob & erasmo de roterdã carlos, "não se esqueça de mim". se tivesse sido encomendada, não teria vindo em tão boa hora:

(algumas canções de amor de bob carlos são tão despudoradamentes emotivas que conseguem me deixar ao mesmo tempo tocado e envergonhado, por serem tão diretas. alguém já sentiu isso, ou só eu mesmo?)


Onde você estiver não se esqueça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim.

Onde você estiver não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta em sua lembrança
Um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver não se esqueça de mim.

Onde você estiver não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar
Você da minha minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim.


...

estou definitivamente babão.

16 dezembro 2003

happiness is a warm gun (rapinez esaú amigão)

tenho algumas restrições ao arnaldo jabor, mas não deixo de lê-lo sempre que posso. (assim como o olavo de carvalho, que todo sábado estimula minha produção de bile logo pela manhã, mas isso é outra história.) hoje, no entanto, ele conseguiu expressar um fenômeno que venho reparando muito ultimamente, em pessoas muito próximas a mim, inclusive.

felicidade não é sinônimo de consumo, nem tampouco de alienação. cada vez mais se confirmam minhas suspeitas de que estamos vivendo num tempo muito parecido com o descrito no admirável mundo novo, de huxley (o aldous).

A felicidade é a empada do Bigode

Arnaldo Jabor

No fim de ano todo mundo começa a falar: “Feliz Natal, feliz ano novo!”. Mas, ser feliz, como? O sujeito passou o ano todo quebrando a cara, reclamando da mulher, batendo nos filhos, lutando contra o desemprego, sendo humilhado pelos patrões, e aí chega o fim do ano e todo mundo diz: “Seja feliz!”. E aí o sujeito tem de estampar um sorriso alvar no rosto, uma baba simpática, um olhar vazado de luz bondosa, faz uma arvorezinha de Natal com bolotas coloridas, mata um peru magro e pensa: “Sou feliz! O ano que vem, vai melhorar!”.

Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o “sacrifício”, a luta por cima de obstáculos. Felicidade se construía — por sabedoria ou esforço criávamos condições de paz e alegria em nossas vidas.

Hoje, felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. Hoje, confundimos nosso destino com o destino das coisas... Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?

A felicidade não é mais interna, contemplativa, não é a calma vivência do instante, ou a visão da beleza. A felicidade é ter um “bom funcionamento”. Marshall McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, inverteram-se. Nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um eletrodoméstico, um “avião”, uma máquina peituda, bunduda. Claro que mulheres lindas nos despertam fantasias sacanas mas, em seguida, pensamos: “E depois? Vou ter de conversar... e aí?”. Como conversar com um “avião” maravilhoso, mas idiota? (Aliás, dizem que uma das vantagens do Viagra é que, esperando o efeito, os homens conversam com as mulheres sobre tudo, até topam “discutir a relação”).

Mas o homem também quer ser “coisa”, só que mais ativa, como uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente e, mais que tudo, um grande pênis voador, pássaro superpotente, mas irresponsável, frívolo, que pousa e voa de novo, sem flacidez e sem angústias. Seu prazer é cumulativo, feito de apropriações indébitas, dando-lhe o glamour de uma eterna juventude que afasta a idéia de morte ou velhice.

E eu não falo isso como crítica. Não. Eu tenho inveja, a verde, viscosa e sinistra inveja dessa ausência de angústia, dessa ignorância gargalhante que adivinho sob os seios de mulheres gostosérrimas ou nos peitos raspados de garotões lindos. Quero ser feliz, mas carrego comigo lentidões, traumas, conflitos. Sinto-me aquém dos felizes de hoje. Posso ter uma crise de depressão em meio a uma orgia, não tenho o dom da gargalhada frouxa, posso broxar no auge de uma bacanal. Fui educado por jesuítas e pai severo, para quem o riso era quase um pecado. O narcisismo de butique de hoje reprime dúvidas e tristezas óbvias. Eles têm medo do medo e praticam uma espécie de fobia eufórica, uma síndrome de pânico ao avesso: gargalhadas de pavor. E ainda atribuem uma estranha “profundidade” a esta superficialidade, porque, hoje, esse diletantismo tem o charme raso de ser uma sabedoria elegante e “pós-tudo”.

Mas falo, falo e não digo o essencial. Hoje, a felicidade é entrar num pavilhão de privilegiados. Eu queria não pensar, queria ser um imbecil completo sem angústias — meus inimigos dirão: “Você tem tudo pra isso. Sou uma esponja que se deixa tocar por tudo, desde a crise da dívida pública até o muro da Cisjordânia. Lembro a personagem de Eça de Queiroz que dizia: “Como posso ser feliz se a Polônia sofre?”

Hoje, a felicidade está na relação direta com a capacidade de não ver, de negar, de “forcluir”, como dizem os lacanianos. Felicidade é uma lista de negativas. Não ter câncer, não ler jornal, não olhar os meninos miseráveis no sinal, não ver cadáveres na TV, não ter coração. O mundo esta tão sujo e terrível que a felicidade é se transformar num clone de si mesmo, num andróide sem sentimentos, sem esperança, sem futuro, só vivendo um presente longo, como uma rave sem fim. Pedem-me previsões para o ano que vem. Tudo pode acontecer. Quem imaginaria o 11 de Setembro?

Osama nos legou o fatalismo dos árabes. Daqui para frente, teremos de aprender com eles a dizer: “Maktub!” — tudo estava escrito, nada nos surpreenderá mais. Só nos restam a orientalização, a religião evangélica louca ou a “objetificação” do consumo. Ou, então, viver a felicidade das pequenas coisas. Outro dia, eu estava comendo uma empada de palmito na porta da Globo (na Kombi do Bigode, que faz as melhores empadas do mundo) quando, sem quê nem para quê, fui invadido por uma infinita ventura, uma felicidade que nunca tive. Durou uns minutos. Não sei a razão; acho que foi um protesto do corpo, um cansaço da depressão. Mas, logo depois, passou e voltei ao duro show da vida.

Hoje felicidade é o brilho de um solitário que suga o prazer, sem conflitos, sem afetos profundos, mas sempre com um sorriso simpático e congelado, porque é mais “comercial” ser alegre do que o velho herói dos anos 60, que carregava a dor do mundo. O herói feliz acha que não precisa de ninguém, que todos devem se aprisionar em seu charme, mas ele, a ninguém. Para o herói criado pela mídia, o mundo é um grande pudim a ser comido. Feliz Natal e feliz ano novo.

14 dezembro 2003

rest in peace, bro' (resta um piço, broa)

se sábado recebi dois imeios que salpicaram o dia com brilhos dourados, no domingo não tive tanta sorte. estava no parque lage, curtindo um piquenique com marçuda, uns amigos e seus filhotes. mas eis que toca o celulari da minha irmã. ela atende volta e dispara: mar, o farid morreu".

até agora, depois de escrever essa frase, ainda não consigo realizar o fato. um cara muito bom, da minha idade, torcedor do américa, músico de mão cheia, e, sem dúvida, o camarada mais alto-astral que eu já conheci, se foi num acidente de carro besta em cabo-frio.

nem éramos tão próximos, mas tínhamos afinidades musicais muito parecidas, o que redundava num carinho e numa admiração mútua muito grande. sempre fazíamos um carnaval quando nos encontrávamos. de tanto que eu andava ausente, as perguntas que ele fazia à marçuda sobre mim já tinham se tornado uma piada interna.

nos falamos pela última vez na quinta-feira passada, no samba que rola no planetário. conversamos bastante, e ele estava radiante pelos shows em que tinha tocado, e pelos que ainda ia tocar. contou como estava conseguindo encontrar o suíngue que tanto procurara com sua banda anterior, a Garapa, e os caras nem curtiam tanto. eu contei orgulhoso das minhas recentes incursões pelo mundo do samba, e combinamos de ir aos ensaios dos blocos de carnaval. também mexemos com minha prima, uma amiga e outras meninas que vinham conversar conosco.

agora ficamos todos seus órfãos. órfãos da sua simpatia e do seu carinho. alguns amigos mais próximos e que souberam mais cedo, se despencaram para cabo-frio para resolver as questões burocráticas de hospital, reconhecimento...

alguns ficaram dando uma força ao irmão e ao pai, e todos nós pensávamos em como contariam para a mãe dele, que não sabia ainda nem do acidente. ela, que além de tudo que se possa dizer do amor de mãe, ia a todos os seus shows, recebia de braços abertos uma cambada nos fins de semana na casa de saquarema.

...não me venham dizer que existe propósito em tanta dor inútil; não me venham falar de desígnios!

eu e minha irmã fomos encontrar alguns amigos no planetário, onde acabamos formando uma espécie de agência de notícias informal, recebendo e repassando as notícias que chegavam. e bebemos. lembramos histórias dele e com ele, e tentamos rir, pois era assim que o conhecíamos, e assim que ele talvez gostasse de nos ver, reagindo num momento de tristeza.

nesta próxima quinta, estamos pensando em homenageá-lo. um pretende fazer um mural com as fotos que tirou num dos shows do farid, outro levar os cds que ele gravou, e vamos todos beber juntos, à sua memória, mandando boas vibrações para que o nosso negão faça sua passagem numa boa, e que lá em cima ele se enturme logo com a galera pra arrebentar numa jam session divina, cheia de suíngue classe A.

é isso aí, irmão. alexandre, farid, negão, até algum dia...saiba que vais fazer falta...

12 dezembro 2003

i feel sick (a fio seque)

depois de muitas noites em que simplesmente esqueci de dormir, de alimentação irregular, de doses regulares de álcool (em ocasiões não-regulares), essa noite, en la casa de mami, comecei a sentir a garganta fechar, seguida de uma impertinente coriza. os sintomas não poderiam ser mais claros se estampados num autidór: "resfriado a caminho".

merda.

e para não fugir do tema, quando vinha pra casa me acometeu (epa!) uma dor de barriga de dar calafrios. achei que estava com febre, mas o corpo estava gelado. para evitar uma tragédia, inspirava e fazia uns movimentos com o abdômen para tentar inverter o peristaltismo. e ordenava o organismo para segurar por mais alguns minutos/kilômetros. barra pesada, hermanitos!

já na rua, encontro um camarada que conheci ontem no boteco cardosão. falei rapidinho e saí batido. suava. graças ao bom deus, deu tudo certo; mas acho que volto pra mami e fico piano nesse finde. amanhã tinha um showzinho de roquenrrou dos anos 80 na barra, mas diante da atual conjuntura, creio que declinarei. vídeos, cama e vitamina c, aí vou eu!

message in a bottle (massagem abalo)

apenas um náufrago, preso na ilha do meu próprio corpo, cercado de gente por todos os lados. "mais solidão", diz o sting, "que qualquer homem pode agüentar. Resgate-me antes que eu caia em desespero".

no entorno da ilha, graças a são sebá, também há montanhas, umas poucas matas nas encostas ainda não tomadas por favela, e também o samba - ritmo melancólico bom de cantar e de botar para mexer o esqueleto. e as praias, claro, as quais não posso mais ignorar, sob pena de começar a ser chamado para trabalhar como rebatedor de luz.

e à parte o desespero das perguntas aindas sem respostas, e da voz que ecoa no vazio, vivo bem. um resfriado anda brincando comigo, mas já já dou um jeito nele. são os excessos, meu pai, são os excessos, minha mãe...

voltemos à ilha: tento mantê-la da melhor maneira, mas às vezes a solidão me leva a arroubos que não compreendo ou controlo.

a mulher que um dia tomar posse dessa gleba, fértil e rica de novidades, corre o risco de, com jeito, desencavar um tesouro. embora já avise que não é fácil, pois está ele muito bem entocado. outras já tombaram tentando, e as poucas que porventura conseguiram tocá-lo, por algum atrapalhamento, deixaram a terra engoli-lo mais.

até hoje está la. mas o tempo, o inexorável passar das eras - ou quem sabe, os ventos de verão - está afastando a terra, a hera e o limo que o cobrem.

posso acreditar que ele deve estar pronto para ser escavado. e talvez até queira ser encontrado...quem sabe...

11 dezembro 2003

sobre a beleza da noite fatal

gosto muito da idéia da morte. calma, não sou um depressivo mórbido (pelo menos não mais que a maioria), mas me agrada muito a certeza desse evento único, o avesso e, ao mesmo tempo, o irmão gêmeo do nascimento, que nos iguala a todos, está sempre à distância do comprimento do braço esquerdo (não esqueci de ti, castañeda!), e do qual ninguém sabe absolutamente nada.

o caso é que o assunto me fascina, assim como as canções que tratam do tema, inclusas aí as parcerias de nelson cavaquinho e guilherme de brito, entre muitas outras. das quais destaco duas: indigo, do peter gabriel (cuja letra já foi bostejada aqui), e picasso's last words, do álbum band on the run, do bom e velho macca. percebam com que nobreza e elegância o sujeito, mesmo derrotado, prepara-se para o encontro definitivo.

a propósito da música, ouvi outro dia uma história, atribuída ao dustin hoffman, de que ele e um grupo de pessoas estavam passado um fim de semana com o mccartney, e que alguém perguntou ao músico sobre seu processo criativo. ao que ele respondeu que bastava sentar e propor-se a compor, que saía uma música. e pediu um tema qualquer para provar. picasso tinha morrido naquele dia, e alguém apontou-lhe a notícia no jornal. e macca foi, viu e venceu. saiu a canção abaixo.

quem me contou essa história disse que o dustin hoffman jurava que fora a única vez em que testemunhara a gênese de uma obra de arte.

Picasso's last words

The Grand Old Painter Died Last Night
His Paintings On The Wall
Before He Went He Bade Us Well
And Said Goodnight To Us All.
Drink To Me, Drink To My Health
You Know I Can't Drink Any More
Drink To Me, Drink To My Health
You Know I Can't Drink Any More

3 O'clock In The Morning
I'm Getting Ready For Bed
It Came Without A Warning
But I'll Be Waiting For You Baby
I'll Be Waiting For You There

So Drink To Me Drink To My Health
You Know I Can't Drink Any More
Drink To Me Drink To My Health
You Know I Can't Drink Any More...






odores familiares e nostálgicos

da rua, enquanto trabalho, vem um cheiro como o das gavetas de roupa do tempo em que morei no jardim botânico.

um cheiro fresco, quase como o de ozona (O3) ao se desprender do chão quando chove num dia de muito calor; mas ao mesmo tempo, ligeiramente perfumado, como um sabonete muito suave sobre a pele feminina recém saída do banho.

ah, nostalgia desgraçada!
hoje estou quase um casemiro de abreu:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!

o último poema de amor

em 11 de janeiro de 1999 (portanto, há um mês de completar cinco anos...cinco anos! meu deus! parece que foi hontem!), ganhei uma antologia de poemas do neruda, que até hoje preservo como lembrança carinhosa de um tempo feliz.

é bem verdade que há muito não abria o livro, mas na madrugada de hoje saquei dele essa pérola, o último dos vinte poemas do volume "veinte poemas y una canción desesperada". segue em espanhol mesmo, tá mole de entender.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado a sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

Qué importa, que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y ésos sean los últimos versos que yo le escribo.


...

às musas que já cruzaram meu caminho.

10 dezembro 2003

fome de knut hamsun

semana passada terminei de ler "fome", do autor supracitado. há mais de 20 anos saiu a última edição em português, se não me engano, traduzida pelo drummond de andrade. há tempos percorro em vão os sebos atrás de um exemplar, até que tive que me contentar com uma edição em inglês que, pelo menos, tem uma bela introdução do issac bashevis singer.

bashevis singer explica que hamsun é o pai da narrativa moderna. frases curtas, mecanismos psicológicos do personagem etc. foram recursos - na época revolucionários - de que ele lançou mão. hoje as qualidades inovadoras do livro passam praticamente despercebidas, tanto seu estilo já foi copiado.

singer também desfaz as acusações de que hamsun teria sido partidário do nazismo. ele descreve inclusive uma foto em que o escritor, com então 80 anos, aparece apertando a mão de hilter. enquanto o primeiro apresenta um semblante visivelmente embaraçado, o açogueiro alemão o observa com desprezo, segundo singer. (tentei procurá-la pela internet, mas até agora, nada. se alguém (?) consegui-la, avisem-me.)

mas nada disso importa; e sim que o livro é uma pequena obra-prima. na cidade christiania, noruega, um sujeito de seus vinte anos, agoniza de fome enquanto tenta escrever artigos de jornal que lhe paguem a próxima refeição e o quarto de pensão. seu cérebro delira pela falta de alimento, enquanto os dias vão passando, e sempre que parece que seu destino é definitivo, ele consegue alguma coroas (a moeda local) que garantam seu sustento por mais alguns dias.

fiz uma tradução livre de uma das passagens que julguei mais fortes, quando nosso anti-herói pede um osso num açougue para tentar saciar sua fome. ele mastiga os pequenos pedaços de carne que vêm colados, mas o odor de sangue seco o faz vomitar. ele tenta de novo, mas o estômago é incapaz de reter a carne crua. entre lágrimas e vômitos sucessivos, ele se enfurece com sua sorte, na escuridão da noite:

Silêncio. Nenhuma pessoa à minha volta, nem luzes, nenhum som. Eu estava num estado selvagem, minha respiração pesada e audível, e soluçava, rangendo os dentes, toda vez que tinha que abandonar esses pedaços de carne que teriam satisfeito minha fome. Quando nada mais ajudava, a despeito do quanto eu tentasse, atirei o osso contra o portão, enlouquecido pelo mais impotente ódio. Levado pela ira, gritei e urrei ameaças aos céus, rouco e selvagem vociferei o nome de Deus, e dobrei meus dedos como garras...Eu te digo, seu Baal sagrado no céu, tu não existes, mas se existires, eu te amaldiçôo tanto que teu paraíso vai estremecer com o fogo do inferno! Sabes que me ofereci como teu servo, e me rejeitaste, me afastaste de ti, e agora dou-te as costas por toda a eternidade, porque não soubeste a hora de tua visitação! Eu te digo, sei que vou morrer, e zombo de ti do mesmo jeito, mesmo estando cara a cara com a morte, seu Apis dos céus! Usaste de força contra mim, mas não percebeste que ela não funciona comigo. Será que não viste? Será que estavas a dormir quando fizeste meu coração e minha alma? Eu te digo, toda minha energia e cada gota do meu sangue se regozija para que eu zombe de ti e cuspa nas tuas graças. De agora em diante, eu renuncio todos os teus trabalhos e todas as tuas formas, exilarei meus pensamentos mesmo que eles pensem em ti de novo, e rasgarei meus lábios se eles pronunciarem teu nome uma vez mais. Agora, se tu existes, direi-te minha palavra final na vida ou na morte, eu te digo adeus. E como estou mudo, viro-te as costas, e sigo meu caminho...
Silêncio.

tem alguém mexendo comigo?

foi lançado um livro chamado "Quem mexeu no meu sabonete?". tem também "Quem mexeu no meu queijo?", "Quem mexeu no meu queijo? - para jovens" e "Quem mexeu no meu hambúrguer?".

ou muito me engano, ou um surto de paranóia e mania de perseguição está acometendo os administradores do mundo todo.

as belas da noite

depois de trabalhar, fui com a tereza tomar um chope de fim de ano na cobal. o clima estava agradável e a lua estupidamente cheia desperdiçava beleza para um monte de bêbados incapazes de levantar os narizes acima das tulipas.

o cansaço acumulado das noites passadas estava me deixando muito disperso. mas também colaboravam as meninas, muitas. de todos os formatos, tamanhos e etnias, para todos os gostos. mal conseguia prestar atenção aos planos para o trabalho no ano que vem, às últimas pendências, e às questões filosóficas que nunca saem da nossa pauta.

mais tarde, voltando do banheiro, lembrei de uma frase de uma amiga, queixando-se de estar só no dia dos namorados. "o mundo é feito para casais".
achei-a exagerada na ocasião, mas o tempo e a solidão confirmaram a afirmativa. tudo é feito para dois e a dois. de publicidade às diárias de hotéis.

e ao meu redor, todas aquelas mulheres desfilando desacompanhadas. talvez o ximenes esteja certo com a coisa das homonóicas. o senso comum diz que não dá para viver só, mas ao mesmo tempo, há um esforço, uma propaganda, uma campanha subliminar, sei lá!, para vender homens e mulheres inatingíveis. as mulheres compraram isso, e salvo exceções, se tornam escravas de dietas, academias e cosméticos (a concorrência é grande, qualquer uma pode levar seu homem!), enquanto vivem a insatisfação oscilando entre o brucutu ("não respeita meus sentimentos") e o sensível ("será que é bicha?").

não que eu esteja reclamando, mas graças a esse padrão, caras como eu têm que utilizar de todas as artimanhas para conseguir alguma coisa.

ponto para as que sabem que o tempo urge, e que o importante é saber agarrar as oportunidades.

a bela da tarde

na segunda página do blogger, quando se entra para postar, há no canto direito superior uma lista de blogs recentemente mexidos. quase nunca dou importância a ela. hoje, entretanto, um dos nomes me chamou a atenção: belle de jour. como o filme homônimo do buñuel é conhecido em todo o mundo, o blog poderia ser de qualquer lugar. mas qual não foi a surpresa de descobrir que é um diário de uma suposta puta de londres.

li algumas coisas, e além de interessante é bem escrito.

me fez pensar que as pessoas talvez busquem nos blogs algum tipo de evasão através das experiências alheias. sei lá, divago. mas não acho que tenho feito esse espaço muito atrativo nos últimos tempos. talvez em tempo algum.

parafraseando "o iluminado", do stephen king (de quem eu devorava livros dos quinze aos dezessete):

pouco trabalho e pouca diversão fazem de marcelo um garoto tedioso.

09 dezembro 2003

quase cantei

aliás, no sábado, quase cantei the man in me. a vontade foi forte, mas segurei a onda.

...acho que se cantasse, dançava.

dois casamentos e um churrasco (e um show)

este foi o saldo dos últimos três dias: sábado e segunda-feira fui a dois casamentos de amigos. no domingo, teve um típico e folclórico churrascão de subúrbio e, mais tarde, um puta show cover dos beatles.

os dois casamentos foram vizinhos: o de sábado, no topo do forte do leme, a uns 800 metros de altura, com uma vista acachapante estendendo-se desde a baía até o fim de copacabana. o de segunda, foi morro abaixo, no salão do círculo militar, de frente para a praia vermelha.

(aliás, só entende o nome da praia quem vem do mar. à distância, a areia adquire uma coloração avermelhada. já fiz a experiência uma vez, num veleiro.)

no sábado, valsei com minha irmã, forrozei com uma curitibana espetacular, e bailei esse tal de roquenrrou. tomei "chicote" selo preto, e, pasmem! peguei o buquê da noiva. terminamos, umas treze pessoas, na suíte dos noivos, bebendo prosecco (me segurei para não fazer um trocadilho de baixíssimo calão) no gargalo. resumindo, uma pândega.

depois fui à praia, brinquei muito, suei tudo o que podia e o que não podia, e acabei chegando em casa às sete e tal da matina, nas nuvens, com o espírito leve leve de alegria.

às onze acordei, piano, e fui devidamente rebocado para a casa de uma ex-empregada que foi praticamente criada com a minha mãe. zarpamos para o caju, depois do cemitério e do arsenal de guerra da cidade. ela se emocionou quando nos viu chegar, e nós também. e a parentaia estava toda lá. uma festa como nos tempos da casa da minha vó. e tome cerveja, e tome papo, e tome churrasco (ela cozinha às pampas). nos fez questão de mostrar a casa, apresentar a família etc. digam o que disserem, a velha cortesia e a gentileza sobrevivem no subúrbio. gente de peito aberto, recebendo com carinho e com fartura, sem desconfiança.

o filho dela, meu chapinha de brincadeiras e implicâncias dna infância, é professor de percussão e sax, e toca no centro de artes e cultura banto - ou algo assim, não estou muito certo do nome - lá na lapa. do lado do casarão do grupo de teatro tá na rua. quando falei que tava arranhando uma caixa no Laranjada, me chamou para participar das aulas de bateria do bloco dele. aceitei na hora, e se deus quiser, sexta à noite tô eu lá, mais banto do que nunca. negão de nascença.

cheguei em casa, dei uma dormida, e às nove tava tinindo para assistir a mais um show da pepperband. os caras fazem cover dos beatles, e são tão bons que já ganharam prêmio de melhor banda no concurso promovido pelo cavern club, de liverpool. concorrendo com gente do mundo inteiro. neguinho é foda.

todo o primeiro e terceiro domingos do mês eles tocam no far up, na cobal do humaitá. a sensação é a de estar ouvindo o quarteto ao vivo. de arrepiar. entre outras coisas, tocaram a day in the life, e tive que me segurar para as lágrimas não descerem. essa é, por sinal, a interpretação mais pungente do john lennon, na minha opinião. a única que me faz lembrar "putz! john lennon morreu!..." .

os caras não fazem feio. todos cantam, e os efeitos sonoros de estúdio e orquestrações estão todas lá. um dos integrantes é meu bróder de colégio militar, gustavo camardela, na guitarra solo e nos vocais de deixar o paul mccartney de queixo caído.

o casório de ontem também foi jóia. outra faixa etária, universitários. muita dança, biritinha e bifê de primeira. depois conheci um camarada gente fina, e fomos com um grupo para o espírito do chope. lá encontrei mais alguns amigos, e acabei chegando em casa um pouco mais tarde do que devia.

minha maré está definitivamente mudando para melhor. sinto no ar. basta uma sintonia fina minha com o mundo, e de 2004 em diante, ninguém me segura.

caô cabecile, meu pai Xangô!

06 dezembro 2003

meu mundo é hoje

salsão chegou em casa com o disco do filme sobre o paulinho da viola.

devo confessar que, tempos atrás, não era muito chegado no cara. achava meio choroso, voz pequena etc. ... tava acostumado com monarco, candeia...vozeirão, sacumé? mas, ao contrário do zé keti, mudei de opinião. e a prova do mau julgamento é essa pérola cantada, de autoria de wilson e josé batista (irmãos?):

eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim
meu mundo é hoje não existe amanhã pra mim


e tenho dito.

03 dezembro 2003

suassuna e collor

é quase um pecado conspurcar o nome de mestre Ariano Suassuna situando-o ao lado do (pé-de-pato, mangalô três vezes!) ex-presidente cheirando collor de mello.

é que ontem estava na casa da minha mãe e assisti os dois na tevê (não juntos, claro). primeiro o collor na gimenez, com um orte de cabelo inacreditável de ridículo, tentando passar uma imagem de bom-moço-injustiçado. acredito que ele estava dopado, tamanha sua calma. no auditório, a ex-primeira fuinha rosane collor. magra pacas, era só olhos, gengivas e limpa-trilhos. tão esticada que não deve conseguir mais piscar (os olhos!). deve ser um castigo ser condenado a dar de cara com aquele tribufu toda manhã. mas ele merece muito mais...

depois, a redenção com Ariano Suassuna, na tevê senac. na pauta, o de sempre: o sucesso de sua obra, a origem de seus personagens, o brasil oficial e o brasil real, conceitos apropriados de Machado de Assis, e a globalização. sobre essa última, deu show.

separou globalização desse novo colonialismo cultural que nos tem sido impingido. "por ser internacionalista é que sou contra essa falsa internacionalização", sapecou. e concluiu dizendo que a cultura deve ser sim, mundial, mas que "na vasta sinfonia da cultura universal, cada país deve contribuir, igualmente, com sua nota. e não apenas receber o lixo que vem de fora".

óbvio, mas é o tipo de declaração que nunca é suficientemente repetida.

assino embaixo e dou fé.

02 dezembro 2003

o samba é meu dom

...com uma certa dose de presunção de minha parte, faço minhas as palavras do bamba Wilson das Neves:


O samba é meu dom
Aprendi bater samba
Ao compasso do meu coração
De quadra, de enredo
De roda na palma da mão
De breque, de partido alto
E o samba-canção

O samba é meu dom
Aprendi dançar samba
Vendo o samba de pé no chão
No Império Serrano
A escola da minha paixão
No terreiro, na rua, no bar
Gafieira e salão

O samba é meu dom
Aprendi cantar samba
Com quem dele fez profissão
Mario Reis, Vasourinha,
Ataulfo, Ismael, Jamelão
Com Roberto Silva, Sinhô,
Donga, Cyro e João

O samba é meu dom
Aprendi muito samba
Com quem sempre fez samba bom
Silas, Zinco, Aniceto, Anescar
Cachinê, Jaguarão,
Zé-com-Fome, Herivelto,
Marçal, Mirabeau, Henricão

O samba é meu dom
É no samba que eu vivo
É do samba que eu ganho
O meu pão
E é num samba que eu quero morrer
De baquetas na mão
Pois quem é do samba
Meu nome não esquece mais não.


...

Salve, padrinho!

o samba volta à vida (à minha)

as memórias musicais mais marcantes da minha infância são bete carvalho cantando "coisinha do pai" e maria alcina interpretando "kid cavaquinho", ouvidas na rádio mundial, lá na tijuca, com a minha irmã bete. tinha também o elvis (de quem assisti o último show, transmitido pela tevê), a "melô da asa delta", o peter frampton, a nikka costa (minha primeira paixão infantil, depois da minha prima renata, aos quatro anos), mas o grosso era samba, mesmo.

aí fui morar nos estados zunidos, e como era de se esperar, voltei intoxicado, nem tanto pelo roquenrrou, mas por um popizinho muito do sem vergonha. com o tempo, os representantes da língua inglesa tornaram-se mais encorpados, e vieram beatles, ella, billie holliday, louis armstrong, dave brubeck, e porque não, black sabbath, sex pistols, dead kennedys e outros que tais.

com a adolescência afloraram a revolta, o comunismo, a maconha, o álcool, o sexo e descoberta da psicodelia dos mutantes, mais a poesia de chico, gil & caetano, joba, giba, dorival e nana. até o dia em que esbarrei nos discos do meu primo paulinho, em especial na coleção completa de música brasileira lançada pela editora abril nas bancas, nos anos 70. foi uma epifania embalada por pixinguinha, donga, joão da bahiana, blecaute, mario reis, chico viola, quatro ases e um coringa, aracy de almeida, sinhô, herivelto martins, geraldo pereira, dolores duran, e ela, a maior de todas, a divina elizete cardoso.

eu e meu bróder joão trocávamos figurinhas musicais, ele na viola e eu assassinando os vocais. depois veio o ricardo, nos apresentado pela ana sylvia. daí para a criação do cordão do boitatá foi um pulo, questão de reunir mais uma galera.

mas como diria chico, por conta de umas questões paralelas, me retirei do grupo. logo em seguida, o núcleo passou por uma fissão, e alguns dos treze integrantes partiram para projetos próprios, mais identificados com os gostos individuais. mas o carinho permaneceu.

tô enrolando à vera pra contar que o motivo de tudo foi eu ter ido na sexta passada ao "flor do chorume". pra quem não conhece, é o samba da rua do mercado, onde ficava a bolsa de valres, no centro, já tinha ouvido falar, mas nunca tinha dado às caras lá. e qual não foi minha surpresa ao topar com a gangue toda do boitatá, que além de comandar o espetáculo, comemorava a última promissória paga de um casarão que compraram, lá mesmo, em parceria com o abayomi (das bonequinhas negras) e o teatro do anônimo. a felicidade e o samba me contagiaram. e fiquei feliz quando o ricardo me apresentou numa roda como um dos criadores do boitatá.

no sábado, salsão, gabi e marçuda e eu fomos ao candongueiro, no lançamento da biografia do adoniran pelo andré diniz e patroa, a juliana. putaquiupariu! o lugar é demais, e o melhor é que fica a um espirro da casa do zé luis, namorado de mi mamã. tamos combinandos, mái sister e eu, de voltarmos lá no sábado pra ver a teresa cristina.

e por último, mas não menos importante, está o Laranjada Samba Clube, o bloco aqui da general glicério, do qual farei parte da bateria, se deus quiser. para isso, venho atacando uma caixa toda segunda. já tô conseguindo enganar legal, e no sábado de carná pretendo estar tinindo.

o samba, meus amigos, é a suprema felicidade. é inspirador de uma alegria que eu não sentia desde os tempos do boitatá, e da qual eu andei afastado tanto tempo. a alegria de participar, de misturar-se à massa e ser - cantando, tocando, dançando ou simplesmente curtindo - parte importante de uma totalidade de prazer. o sonho de fusão que os regimes totalitários tentaram através da coerção pela violência e pelo medo, e por isso fracassaram.

o samba é a grande utopia.

27 novembro 2003

sincronicidade é isso aí!

e não é que fui acordado hoje com uma reportagem da cbn sobre planejamento familiar?
a matéria citava duas ongs, a BEMFAM (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil), que existe desde 1967, e o CEVAM (Centro Vergueiro de Atenção à Mulher).

Louvável, mas as ongs não podem assumir as responsabilidades de uma política de estado. é pouco, ainda.

em todo caso, meu faro para pautas está afiadíssimo.

26 novembro 2003

incêndio na ceasa e o excesso de crianças

antes que a notícia envelheça demais, gostaria de tecer algumas considerações sobre os saques ocorridos depois do incêndio da ceasa. no noticiário de anteontem, apareceu uma senhora favelada reclamando da fome, pois só tinha sal para dar de comer aos seus sete filhos.

aí penso cá com meus botões, o problema não é de fome. é de planejamento familiar. ora bolas, se essa dona tivesse dois - em vez de sete – filhos, ela talvez não estivsse sofrendo tal penúria. esticando um pouco mais o raciocínio, lembrei que há anos não ouço nenhum governante falar no assunto. a última vez, para ser bem preciso, foi em 1996, na feira de ciências do colégio militar (instituição que freqüentei tempo suficiente para aprender a detestar qualquer tipo de organização de massa). antes disso, também, no começo da minha vida escolar, passada nos bancos de diversas escolas públicas, nos estertores da ditadura. depois do governo sarney, nunca mais. é como se o problema não existisse.

aí, apresentada às conseqüências da falta de informação, o que faz a nossa gloriosa classe média, da qual faço parte? oscila entre a vontade nunca confessa de exterminar as hordas de pivetes e mendigos que enfeiam a garcia dávila, ou apela para soluções paliativas de distribuição de sopão na madrugada, à moda zarur (essa é só pra quem tem mais de quarenta). mas sobre planejamento familiar, silêncio fúnebre.

quero deixar claro que não estou falando de esterilização sem consentimento, mas da possibilidade consciente de decisão entre ter ou não (mais) filhos. até porque, sem isso, acontecem coisas como a que eu ouvi de uma amiga, que contou que o porteiro de seu prédio desejava mandar a mulher de volta para o nordeste, “porque aqui ela só sabia era fazer filho”.

19 novembro 2003

neuromancer

comecei a ler a nova edição em portuga de neuromancer, do william gibson. para quem não sabe, o camarada é autor do ciberespaço, conceituando-o como um ambiente virtual de transmissão de dados. o personagem principal, Case, é um caubói do ciberespaço, um hacker viajando pelo ambiente binário da Matrix.

qualquer semelhança com algo que vocês já tenham visto é mera chupação mesmo. os irmãos wachowzchfpsky realmente se inspiraram até o talo no livro. este aliás, mais do que a história, prende pela construção do ambiente, que vêm influenciando a ficção científica desde antes de blade runner, e pela caracterização e situações, um tanto clichês pinot noir, mais ainda assim, deliciosas.

como diz um coleguinha, recomendo com ênfase! a próxma aquisição é the difference engine, do mesmo gibson, e do bruce sterling. mas sobre esse eu falo depois.

flash mob contra o fim das prisões especiais

diante do anúncio do possível fim da prisão especial para nível superior, gabi sugeriu protestarmos com uma flash mob. em conjunto, estabelecemos como palavra de ordem "universitários, unidos, jamais serão prendidos!"

man on the mam, ou a volta do diabo da garrafa

desde domingo, pé de cachimbo, estou para contar sobre como enchi os cornetos no finde. fui ao mam para umas festas de algum evento. eu mais uma amiga mais seu namorado batemos ponto na sexta, e no sábado repetimos a dose, sem o namorado, que estava tocando com sua banda.

bão, na sexta marcamos num japa aqui de laranjeiras, e enquanto eles jantavam, mergulhei no saquê até atingir um estado que, na vertical, poderia se aproximar de um arremedo de consciência zen.

embora a festiva em si estivesse fraca, valeu por ter encontrado alguns amigos que não via há tempos. saímos de lá relativamente cedo e partimos para o recém-reinaugurado jobi, o pai de todos os bebuns no leblon. os garçãos, coitados, envergando coletes xadrez iguais às toalhas das mesas. feio que só.

sábado, pela primeira desde que cheguei no bairro, há dois meses, dei as caras no choro aqui na rua com gabi e salsão. estava, segundo eles, mais cheio que de costume, graças à matéria do caderno de bairros do globo. comi pastel e bebi garapa. de álcool, nem uma gota sequer. encontramos com uns amigos paulistas, fizemos um tour pelas redondezas e paramos no serafim. chopes e doses de magnífica molharam as palavras dos amigos, enquanto eu fiquei no mate (ou coca, não lembro).

depois vieram todos pra cá, mas fui pra cama. de noite, segui para a casa do casal, e de lá rumamos para o mam, diversas doses de uísque com red bull depois.

o show do autoramas foi legal, bacalhau está destroçando na batera, mas a baixista tinha uns trejeitos esquisitos. de vez em quando repetia o mesmo gesto de levantar o baixo na vertical à sua frente, e fazia umas caretas que lembravam o lon chaney interpretando o fantasma da ópera. alguém precisa avisar pra essa menina...

minha partner de noitada saiu cedo pois o namorado veio buscá-la, e fiquei só, zanzando como barata tonta depois de algumas generosas doses de vodca pura com gelo. e a carne começou a esquentar. e o desejo aumentou na mesma medida em que eu me dispersava. o conhecido e temido desfecho caminhava a passos largos para sua realização: sairia dali de manhã - sozinho, obviamente.

mas antes encontrei com uma amiga e ex, que por sua vez estava acompanhada de uma amiga (dela), figura em quem já havia reparado noutra ocasião. mas como àquela altura meu meu filme ficando quieto. mas tarde, entornaria o caldo queimando-o, quem sabe, irremediavelmente.

nas indas e vindas pelos dois salões, mais birita foi absorvida, meu senso decrescdo proporcionalmente. e o velho diabo da garrafa ia tomando conta da personalidade. reencontrei as duas, que há horas conversavam com dois camaradas. o clima era de pegação, mesmo assim puxei minha "amiga ex" e sussurrei (sem muita certeza de não estar sendo ouvido por todos): "pô, esses caras não vão tomar uma atitude? esse papo já tá rolando há um tempão e até agora, nada!"
ela me mandou um "vai tomar banho", enquanto eu me afastava, contente com a molecagem.

amanhecia, a pista esvaziava, e pintou uma cadeira de plástico numa parte afazstada do salão. sentei e me pus a admirar uma menina que, apesar da pouca idade, já tinha passado da validade de ser a avril lavigne que ela gostaria. era bonita, e pela lentes embaçadas, dava a impressão de estar retribuindo os olhares. fui até ela, que estava meio de costas pra mim, conversando com uma gordinha à minha frente. quando me aproximei, a gordinha levantou o olhar, avisando-a. ela se virou, eu disse oi. ao que ela respondeu, com uma agressividade de quem se acha muito esperta:

- algum problema?
- problema nenhum. só gostaria de me apresentar. meu nome é marcelo.
- meu nome é michelle.

na verdade, não lembro se o nome era esse, nem o que exatamente eu disse em seguida, mas acho que pedi o telefone, ou coisa que o valha. talvez tenha dito que gostaria de conhecê-la melhor. a resposta foi um "não" seco. não perdi a pose e disse que que achava que quem devia estar com problemas era ela, com aquele humor péssimo. encerrei a discussão dizendo que ela não sabia o que estava perdendo; virei as costas e voltei para minha cadeira em triunfo, certo de que havia ensinado àquela fedelha uma lição de educação e malandragem. um sorriso estampou-se em meu rosto enquanto eu caminhava despreocupado, as mãos nos bolsos. devo até ter assoviado, mas de qualquer forma ela não ouviria, com todo o volume da música. sentei-me, e fiz uma varredura no entorno, começando em sua direção, mas sem fixar o olhar. sentia-me magnânimo e paternal, como um barão admirando seus escravos trabalhando a terra.

fui embora por volta das sete, sob o sol já então castigando. assisti a uma briga de casal no ponto , num espaço de tempo que me pareceu eterno. tomei o ônibus e saltei na padaria perto de casa. comi um risole que jurou algum dia ter hospedado um camarão. frito em óleo de caminhão. tomei um mate e pedi um queijo minas na chapa.

na saída, liguei para a "amiga ex", para perguntar como tinha sido a noite. estranhei a rapidez com que ela atendeu e a clareza da voz. perguntei onde estava. em copa, foi a resposta, com a amiga e os dois carinhas. não resisti:

- pô! quer dizer que os caras ainda tão aí de papo, sem tomar uma atitude até agora?! ah, não! que é isso, meu deus! e por acaso seu pai sabe que você está na rua até essa hora?

e continuei falando disparates. acho que no começo ela riu, mas depois deve ter ficad brava. tenho esse problema, perco os amigos, mas não posso perder a piada. aliás, acho que liguei duas vezes, pois se não me angano a amiga também atendeu, e até brincou por eu ter confundido as vozes.

enfim, foi isso. não falei com ela até hoje. acho que amanhã eu ligo para saber como foi. e como fui.

dessa história, só sei tirar uma conclusão: não posso facilitar com o diabo da garrafa, pois ele parece ser muito meu chapa, mas sempre acaba me sacaneando. mas o pior é que, olhando em perspectiva, me divirto bastante. afinal, o que é a vida sem essas pequenas incongruências?

de qualquer forma, vou dar um sossego no bicho. acho.

17 novembro 2003

frase da semana

"Um homem que detesta crianças e cachorros não pode ser mau de todo".
- W. C. Fields

qualquer semelhança é...bem, deixa pra lá.

11 novembro 2003

a esperança veio me ver

uma baita esperança entrou no meu quarto, botou uma fileira de ovos atrá do cartaz do festival de cinema de miami de 2001 pregado embaixo da janela, e agora está passeando sobre a minha cortina branca. pensei em enxotá-la do quarto, mas resolvi deixa-lá em paz. afinal, é raro eu ter a esperança por companhia.

as invasões bárbaras dos genes egoístas

ainda estou sob o impacto de as invasões bárbaras. é sem sombra de dúvida um dos melhores filmes que já vi. apaixonante, singelo, politicamente incorreto, sexista...posso gastar teclas e teclas de adjetivos e elogios. roteiro afiado, atores idem (destaque para a junky interpretada pela marie-josée croze, que além de tudo é portadora de uma beleza narcótica).

levante já essa bunda da cadeira e corra até o cinema!

mas não era sobre isso que eu queria falar. o personagem principal está à beira da morte, e desfia uma série de questões sobre o sentido de sua vida, e lamenta-se pelo que poderia ter feito. isso mexeu muito comigo. minha crença em vida após à morte, reencadernação etc. é variável. depende mais do dia e do interlocutor do que de uma certeza interna. se o sujeito é crente na matéria e eu estou num bom dia, sou até capaz de acreditar. mas às vezes sou cético, acho tudo isso besteria; a gente morre, vira comida de verme e pronto. afinal de contas, é muita pretensão querer conservar o ego além da matéria, né? ah, não, faça-me o favor... quando chegar minha vez de tocar harpa na terra do pé junto, quero descansar de ser marcelo. apagar a ficha, zerar a contagem, e que tudo o mais vá pro inferno!

mas também não era exatamente isso. recapitulando: o cara questiona o sentido da vida - e fiquei pensando que talvez não haja nenhum. talvez o importante seja perceber isso e aproveitar tudo até o momento de atar as duas pontas do nada. mas sem egoísmo, pois a fila atrás de você é interminável, e a toda hora chega mais gente. então, o importante é manter a casa arrumada (não apenas para os seus), porque eles têm tanto direito a curtir tanto quanto você.

a receita deve ser mesmo ouvir boas músicas, ler bons livros, cultivar amizades e atrasar contas; porque afinal, já que você vai perder um tempão por aqui, o ideal é que pelo menos você se distraia durante a estada. e o resto que se dane!

certo deve estar o Richard Dawkins, que escreveu que não passamos mesmo de um amontoado de genes egoístas, cuja única função é a auto-reprodução. o gene só quer saber de se perpetuar, e vem daí toda a aventura da vida, seja ela um vírus, um cocker spaniel, o paulo maluf ou a luana piovani (aliás, luana, se o seu gene quiser se reproduzir às minhas custas, é só mandar um imeio que a gente de cá dá um jeito, viu?). veja bem: qual a utilidade de um mosquito ou de uma barata, a não ser se multiplicarem ao ponto de se tornarem uma praga ou uma epidemia? não há qualquer explicação para eles, salvo o egoísmo genético.

como explicar a rãzinha do deserto do arizona, que passa a vida toda enterrada na areia, só saindo durante o período das chuvas, quando têm não mais que uns quinze dias para chegar à superfície, procurar uma fêmea, cruzar, procriar e se enfiar de novo no chão, onde passrá mais um ano sem fazer absolutamente nada, em estado de quase hibernação. que sentido tem essa vida bunda? que sentido tem a nossa? só porque construímos torres e as explodimos, escrevemos livros e os queimamos, criamos deuses e os esquecemos? cantamos, dançamos, andamos de bicicleta, nos equilibramos sobre o meio-fio, caímos, enfiamos moedas no nariz, chupamos gilete, somos explorados no trabalho e corneados, jogamos no bicho, nos apaixonamos, levamos fora, choramos, bebemos guaraná com formicida, rimos, algumas vezes envelhecemos, e sempre haveremos de morrer. e sabe de uma coisa? isso é tudo. kaput. surpresa! esse papo de transcendência é só para confortar as crianças, os angustiados e os que têm medo de se arriscar. "ah, nessa vida fui pio, casto e só rezei, mas quando chegar do outro lado vou botar pra quebrar, vocês me aguardem!" não senhor, querido. o tíquete só dá direito a uma viagem. bobeou, perdeu. depois daqui, babau. já era. se a tua energia se decompõe e se recompõe com outras para formar uma nova pessoa, não sei. nunca ninguém achou o caminho de volta para contar.

acho que o assunto deveu-se também ao impacto de descobrir Lugal e Nin, os imortais do Max Mallman. ou será o próprio Max um deles? respostas (e mais dúvidas) no zigurate.

aliás, Max, parabéns. li o livro de quase um fôlego. agora vou atrás da epopéia de gilgamesh. não consigo mais parar. ah, rapá, você me paga...

04 novembro 2003

enquanto isso, em gotham city...

...os comentários parecem que resistiram às mudanças. bom.

report dead links

flanando, acabei de descobrir que dois links da minha lista morreram: águas claras, do meu bróder dude, e brazileira preta, da clarinhah averbuck. ambos deixaram mensagens de despedida, que reproduzo a seguir. primeiro as damas:

Sexta-feira, Outubro 24, 2003

brazileira!preta - R.I.P.
28.9.01 - 24.10.03

Foi bom, foi lindo, frutífero e inspirado, dois anos de posts ininterruptamente cuspidos e jorrados diretamente do coração desta que vos escreve, dois anos de paixões e amigos e risadas e momentos tristes e uns outros momentos do caralho, dois anos de miséria e euforia.

Mas tudo o que é bom tudo acaba. Senão não tem graça.

Poderia dizer que não tenho mais tempo e que estou afundada entre fraldas e mamadeiras e noites mal dormidas e um frila na mtv - o que é verdade, mas não me impediria de continuar se eu realmente quisesse. Poderia dizer que agora sou uma mulher casada, fiel e apaixonada e que não sofro mais de amor perdido, o que também é verdade - e é que eu procurei a minha vida inteira. Mas isso também não me impediria de escrever no blog. A única coisa que me impede sou eu mesma. Cansei disso tudo, porque um dia cansa.

E eu não vou ficar me forçando a fazer algo que não quero. Sem paixão não rola. Sem paixão não tem condições. Está nos meus Dez Mandamentos: não faço nada que não queira, nada que seja forçado, senão fica sem alma e sem alma não presta pra nada. O brazileira!preta, de um tempo para cá, tornou-se mais uma obrigação do que prazer. Antes eu era obcecada por postar, postar, postar, escrever, escrever, escrever, o tempo todo, o dia inteiro, com chuva, com sol, neve, granizo, coração partido, álcool nas veias, lágrimas nos olhos. Passou. Claro que eu não vou parar de escrever, senão eu morro. These words I write still keep me from total madness, mas elas agora serão escritas de outro jeito, em outros lugares, lidas por outras pessoas, em jornais ou livros ou revistas ou qualquer outro veículo. Mas não mais aqui. Cansei, saturou, não quero mais saber desse negócio de blog. Só essa palavra já me embrulha o estômago, dá ânsia de vômito, "bloooogh". Cansei. Mas não vou parar. Só vou mudar de novo, e de novo, e de novo. Prometo que aviso quando o Vida de Gato sair. Vocês reclamem com o Joca Reiners Terron, que eu já entreguei o livro para ele e agora não é mais comigo. Estou escrevendo outro livro, agora para uma editora grande, bem grande, mas não vou falar sobre essas coisas porque dá azar. Agora eu vou escrever livros. Chega de blog, chega de escrever de graça, chega de gastar as minhas histórias. Queridos leitores, obrigada por tudo, todo o carinho, todos os emails, todos os presentes e tudo que vocês me deram. Eu vou continuar por aí, nas prateleiras, nas revistas, nos arquivos do blog e no coração de vocês.

E agora chega, que eu detesto despedidas.

Com amor,

.: Lady Averbuck :. 1:46 AM


...

já meu amigão foi sucinto. não sei se o que ele mantém com a patroa, o barulinho continua valendo. desconfio que não, mas mantenho o laço que nos une:

Segunda-feira, Novembro 03, 2003

C'est fini. Mas quem quiser usar os links, fique a vontade.

... rascunhado por Dudu mais ou menos às 10:38 AM


...

justificados ou não, ambos cantraram pra subir. com isso, declaro automaticamente extintas duas posições da lista.

bem que minha mãe falou pra eu não acreditar nesse povo de blog!

sem comentários

pô, toda vez que eu mexo no template, essa bagaça apaga o código dos comentários.

ah, minha santa querupita!...mas será impossível?!

comentários

graças à matéria do informática etc., ao blogs.com.br e ao falou e disse, até eu pude instalar um sistema de comentários.

pelo menos agora saberei que não falam comigo pela qualidade dos textos, e não por falta de acesso.

em breve teremos novas e eletrizantes configurações. uau!

01 novembro 2003

a los muertos

amanhã é dia de finados. quão apropriado.

em comemoração à data e ao clima tãããããão acolhedor, siga a bolinha, por peter gabriel:

Indigo

It's too late, this model's out of date.
Got every spare part, but there ain't much heart inside here.
Not like the start, I was good at the art of survival;
I've always tried to keep my feelings deep inside
Where I can hide them, now I'm open wide.

When it ends, again I'll see my friends,
They'll give me a lift, I've been running adrift, so easy...
Shifting the gear, I've got nothing to fear from a showdown,
I'll go down quiet.
And the kids downstairs making a hell of a din,
I'm all alone, getting a quote for the wages of sin.

Beyond the indigo, indigo,
Where the chilly winds, winds will blow,
My time is running low.
Going to cross the dark, dark river,
Going to see my good life-giver,
Better cover my yellow liver.

All right, I'm giving up the fight,
I didn't know when I'd be a stranger again in my own land.
The days are okay, but oh, how I hate these long nights.
You understand?
Darling, please just hold my hand.
You feel so warm, in the eye of the storm,
I'm going away, I'm going away, I'm going away.
See you again someday...
Darling, I'm going away.
Feel like I'm going away, this time I'm going away.

...

taquíuspa!, como eu gostaria de ter escrito isso...

Virgílio já sabia

Forsan et haec olim meminisse iuvabit

ou, em bom portuga "talvez, futuramente, seja prazeroso recordar estes fatos".

sonho frustrado de uma tarde de...verão?

e lá estava eu, debaixo de um calor opressivo dentro das calças jeans e da camiseta escura, pés e meias ensopados de suor, a ressaca atirando dardos no meu cerebelo, a meio caminho de encontrar meu passado. e se não foi bonito, tampouco foi feio. mais parecido com pele morta.

tudo quase como eu havia deixado, com exceção das duas fotos sobre as estantes - estandartes da minha derrota definitiva. eu não conseguia ser engraçado. não conseguia ser nada. o ar faltou, e enquanto falavam ao telefone, busquei a janela da sala. a paisagem resplandecia imóvel, lentamente cozida pelo sol. recuperei-me, e de volta ao quarto, senti-me um pouco mais presente. a ressaca agora atravessava meu crânio com um picador de gelo, e no almoço tomei uns goles de cerveja para rebater. no ônibus, tinha me esforçado para não cair num pranto de auto-piedade pela antecipação do encontro. mas agora, durante o refeição, podia quase reconhecer o velho eu de volta, viçoso, contando histórias e arrancando sorrisos.

quando saímos, entretanto, sabia que o assunto viria à tona. minhas chances eram escassas, e me fechei em copas. mas não fui esperto o suficiente, e uma pergunta me abriu a guarda, expondo meu flanco mais débil. deixei pingarem algumas gotas sobre a situação, mas veio óleo quente sobre as minhas esperanças. respondi com sobras de ironia - quase um dândi - mas meu destino estava consumado. sem perceber, servi meu nervo de bandeja. ela estava certa, eu errado. deixei a emoção tomar conta da situação - embora mais tarde, analisando tudo, no íntimo eu soubesse que ela precisava de uma vitória. sua certeza e paz só seriam completas quando eu me humilhasse. mas no calor do momento, os pensamentos eram amargos: "espero que a proximidade destrua as ilusões", ou "um dia, o amor chegará para mim, esplendoroso, e ao seu lado desfilarei em triunfo".

ao mesmo tempo, pensei quem era eu para querer ainda amor depois de tantas oportunidades atiradas à lama, depois do rastro de corações despedaçados que até hoje marca meu caminho, e às vezes me assombra na escuridão da noite. algum dia terei paz? algum dia serei capaz? algum dia merecedor? alguém?

isso me lembra um poema de Drummond. afinal, mesmo as derrotas precisam de estilo:

Coisa Miserável

Coisa miserável, suspiro de angústia
enchendo o espaço,
vontade de chorar,
coisa miserável,
miserável.

Senhor, piedade de mim,
olhos misericordiosos
pousando nos meus,
braços divinos
cingindo meu peito,
coisa miserável
no pó sem consolo,
consolai-me.

Mas de nada vale
gemer ou chorar,
de nada vale
erguer mãos e olhos
para um céu tão longe,
para um deus tão longe
ou, quem sabe? para um céu vazio.

É melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
entre duas paredes,
sem a mais leve cólera
ou humilhação.

30 outubro 2003

sons do bicho

parabéns para você, amiguinho que descobriu que o título é uma brincadeira com o pet sounds, do beach boys. é que ontem, estávamos eu, Salsão e MW aproveitando a viagem de negócios da mulher da casa para falar besteiras, ouvir música alta e consumir substâncias estupefaciantes. e pintou o papo sobre álbuns lapidares do pop internacional.

desde que assisti no cabo o vanilla sky e uns documentários sobre os anos 60, fiquei meio obcecado pelo grupo do brian wilson, citei na lata o pet sounds, entre vários pink floyds, jimis e led zeppelins. depois de alguma discussão e farta distribuição de pescoções, chegamos à conclusão de que, apesar de ser um disco pau-duro (afinal foi uma das ins-pirações para o SGT. Peppers, referência pra lá de respeitável), não é muito lembrado. e sequer rendeu uma onda revival de"beachboysmania". quem sabe, sabe, mas ainda assim,acho um disco injustiçado.

experimente escutar god only knows ou wouldn't it be nice - só pra ficar nas mais óbvias - e diga se não estou certo.

27 outubro 2003

sobre cachorros em apartamentos e seus donos

muita gente vai querer arrancar minha carótida a dentadas, mas, em geral, classifico gente que tem cahorro em apartamento entre os tipos que menos respeito têm pelos seus semelhantes.

como diria jack, o estripador, vamos por partes:

1) cocô. infelizmente, ainda é exceção o sujeito levar um saquinho para catar o cocô do seu estimado totó. das duas uma: 1) ou o cara que faz isso nunca pisou em cocô na rua, ou 2) não se importa de entrar com o sapato cagado em casa. qualquer uma das opções é porcaria. essa é a mentalidade da lei de gérson. levar vantagem em tudo, certo? farinha pouca, meu pirão primeiro. e danem-se os outros.

2) latidos. é a mais pura falta de respeito obrigar os outros a escutar em casa a sinfonia de latidos. quando eu morava na casa da minha vó, tinha um camarada que sempre quando saía ou limpava a casa, deixava o "cóqui ispénel" latindo na varanda. e o bicho se esgoelava a tarde inteira, sem intervalos. até pensar ficava inviável nestas condições. e ninguém fazia nada. e ganha um doce porque as bestas fazem um escândalo toda vez que se toca uma campainha?

3) ruído no assoalho. essa só entende quem já teve vizinho de cima dono de cachorro. é um tique-tique-tique na sua cabeça a qualquer hora do dia ou da noite. pior do que barulho de salto alto. sempre lembrava isso à minha ex quando ela reclamava do vizinho de baixo botava a casa toda pra tremer no último volume do home theatre nos fins de semana.

4) cheiro. dentro de casa ou no elevador. sem mais comentários.

antes de sofrer linchamento, só gostaria de lembrar que não tenho nada contra cachorros. gosto deles e eles, normalmente, de mim. e por respeitá-los é que acho judiação e egoísmo mantê-los em apartamentos. é igual a ter passarinho em gaiola. cachorro precisa de espaço.

sem falar na grana de manutenção, que poderia ser melhor empregada na ajuda dos necessitados da sua própria espécie. até porque são eles os bárbaros que descerão dos morros para ameaçar a tranqüilidade burguesa da classe média criada a toddynho. na qual eu me incluo.

mais dda na sua vida

é, meus velhos, parece que os prognósticos se confirmam. ontem levei um papo rápido com uma amiga psiquiatra, que me conhece há anos (antes mesmo de estudar para encolher cabeças), e assim que levantei a hipótese de dda, ela fuzilou um "também acho" convicto.

pano rápido é o cacete. me encontro com ela essa semana para tirarmos essa história a limpo.

bái de uei, os compromissos ainda andam a passos de cágado. aleijado.

24 outubro 2003

acho que tenho dda

dda é a sigla de "distúrbio de déficit de atenção", mas também pode ser conhecida como tdah, vulgo "transtorno de déficit de atenção e hiperatividade".

pois bem, falando sério como poucas vezes posso ter falado na vida (pelo menos que eu lembre - outro sintoma de dda é o esquecimento), acho que tenho essa porra, cujo processo se traduz num rateamento dos lobos pré-frontais toda vez que eu preciso me concentrar em alguma coisa. ao invés de funcionar, o bicho desliga. ou então liga demais, criando estados de super-concentração.

o papo surgiu hoje na análise, quando eu me queixava do constante adiamento das tarefas mais banais a que era submetido, da dispersão absurda, do medo do enfrentamento, das mentiras constantes e da baixa capacidade da realização dos meus projetos. daí meu analista perguntou se eu havia lido um texto que ele me passara há mais de um mês e que eu obviamente perdera antes de poder lê-lo. era sobre dda, e a cada sintoma descrito na sessão de hoje, meu queixo caía um centrímetro a mais, tamanha a identicação.

cheguei em casa e vim procurar pelo assunto na rede. e cheguei a conclusão que deve ser isso mesmo. uma matéria da Istoé de 6/09/2003 transcrita no blog conviver com dda ou tdah, entre outras coisas diz o seguinte:

"Para saber se o adulto é hiperativo, é necessário que ele tenha sentido na infância pelo menos seis dos sintomas indicados abaixo. E que ainda hoje conviva com alguns destes sinais por no mínimo um semestre:

'Os pacientes distraem-se facilmente e têm dificuldades para se concentrar. Assim, cometem erros no trabalho,
'São desorganizados, esquecidos e impulsivos,
'Agitados e inquietos, não ficam parados por muito tempo,
'Têm mudanças bruscas de humor e entram facilmente em depressão,
'São volúveis nos relacionamentos afetivos,
'Falam excessivamente,
'Não completam as tarefas,
'Perdem com frequência os objetos."

sou eu mesmo. mifudi, né?
na matéria ainda tem um caso de um camarada que voltou a fazer faculdade depois de a ter largado porque "estava achando chato". porra, eu tentei três, e só terminei a última por intervenção direta de uma grande amiga, que literalmente me pegava em casa, do contrário eu não ia. passei três anos e tal admirado por todos os professores como um crânio, e nos dois últimos semestres, quase fui reprovado duas vezes por faltas. o mistério tinha sido desvelado, e lá nada mais me interessava.

e o que dizer da facilidade com que eu conquistei e desperdicei namoradas? no começo me apaixono, me envolvo etc., mas depois de conquistada a presa, entrando na rotina, me desinteresso absurdamente. sou capaz das maiores veleidades, sem querer. é raro - e falo aqui sem a menor dose de presunção - freqüentar festas de determinados grupos de amigos, sem que haja pelo menos uma ex presente. no entanto, meu recorde de permanência com elas é de um ano e meio, com muito custo.

acho que o fato de eu nunca ter passado mais de dois anos no mesmo colégio, devido as constantes mudanças a que meu pai era submetido como militar, pode ter mascarado o problema durante o período escolar - se é que eu o tenho. idependente disso, sempre tive dificuldades de cumprir prazos (um dia, depois de fevereiro, provavelmente, contarei a história do meu ingresso no mestrado). escrever o menor dos textos pode demorar horas, às vezes dias, tantas são as vezes em que interrompo a tarefa. (felizmente hoje devo estar no período de super-concentração)

uma qualidade de que sempre me orgulhei (e que sempre irritou todos ao meu redor) é a capacidade de conversar com uma pessoa e ao mesmo tempo olhar a menina passando na rua e escutar uma música que esteja tocando. pois descobri que isso é típico de ddas.

embora o texto esteja leve e eu esteja muito empolgado escrevendo-o, se for dda o que eu tenho, estarão explicadas muitas tardes de verão em que eu me trancava no quarto com as cortinas fechadas. assim como os constantes conflitos que fui protagonista e que tornaram boa parte da minha adolescência em casa uma chaga aberta. eu vivenciava uma insatisfação incompreensível para meus pais. tinha pavor (e raiva) de acabar como eles, de uma maneira que eu classificava de ignorante e medíocre. queria mais, queria uma plenitude intraduzível. algumas vezes eles até tentavam entender meus motivos, mas o turbilhão de sentimentos e a falta de termos adequados só me deixavam mais irado. e como eu chorava nessa época...

ao mesmo tempo, para consumo externo, eu era dos caras mais populares e um dos amigos mais leais que qualquer um pudesse ter... durante uns seis meses. quantas vezes eu não disse para os outros e para mim mesmo que as pessoas não passavam de sombras na minha vida; elas apareciam e desapareciam sem maiores dramas, normalmente. quantas vezes não fui chamado de egoísta por isso!...

também perdi a conta das vezes em que reencontrava amigos de longa data que me contavam coisas de arrepiar o cabelo que eu supostamente havia dito. e muitas delas eu só acreditava por reconhecer um certo padrão de raciocínio meu - mas lembrar, mesmo, qual o quê!... ultimamente achei até que os lapsos haviam sido superados, mas eis que há pouco tempo, fui protagonista de dois episódios: uma ex que encontrei me disse que, quando namorávamos, eu costumava usar uma frase extremamente desairosa como um comentário corriqueiro; e numa festa, uma amiga de uma amiga (por quem eu até alimento um certo quebranto secreto e inatingível) lembrou de um encontro que tivemos num antigo emprego meu. depois de tanta insistência dela, tive que fingir que lembrava do episódio, que só pode ter sido verdade, tamanhos os detalhes e as circunstâncias. mas não guardo a mínima lembrança de nenhum dos dois casos.

enfim, posso passar muito tempo descrevendo coisas da minha vida associadas ao dda, mas acho que já me estendi bastante. e se pareço um tanto eufórico, é mais por parecer conseguir uma explicação para tantos problemas que venho enfrentando nos últimos anos, e que agora parecem atingir um ponto próximo do insuportável. é um alívio descobrir que o que te impede não é falta de caráter ou de perseverança, e sim um desequilíbrio na produção de dopamina, o que quer que isso signifique. diante disso, basta (basta? como assim?) tentar criar mecanismos de conscientização dos processo e não deixá-los acontecer.

assim parece.

de qualquer forma, encontrei outro site muito bom, o orientações médicas, escrito pela dra. sonia maria coutinho orquiza, que dá uma explicação bem detalhada da parada, com inclusive dicas de estímulo positivo dos lobinhos pré-frontais. o site do napades, da dra. ana beatriz barbosa, que anda muito badalada no assunto, ela mesma uma dda.

23 outubro 2003

mais sobre Ricardo Reis

continuo meu romance com ricardo Reis. calma! antes que algum desavisado saia aos quatro ventos espalhando que virei adepto da inversão, aviso: RR é o heterônimo do Fernando Pessoa que eu não gostava na era da pedra lascada, mas que o redescobri há dias, e de quem ando lendo tudo.

minha humilde impressão é a de que, diante da tomada da consciência da finitude do corpo e da vida, RR empreende uma volta ao classicismo grego como forma de dar sentido à iminência do fim, organizando-a esteticamente.

bão, tudo isso me lembra muito um curso que uma professora de faculdade e amiga contou que ministrou uma vez na PUC: Fernando Pessoa à luz do budismo. (e para ninguém ter cócegas de utilizar a idéia, quebro minha política de privacidade e dou nomes aos...bem...a ela: maria da conceição do couto netto, vulgo "meu anjo".

a teoria dela era a de que se podia organizar os heterônimos, independente de sua cronologia, de forma a desenhar um paralelo com a iluminação budista. começando com a poesia histórica de Fernando Pessoa ele mesmo, e o desejo de retorno à simplicidade da infância. Diante da consciência da morte pinta o RR, com a grande experiência de um passado clássico, grandioso, que pelo menos justifique a miséria do fim. mas o esforço, além de desgastante, mostra inútil. vem daí a revolta e a descrença de Álvaro de Campos. por último, depois de romperem-se as amarras às regras sociais de boa conduta e de civilidade, chega-se à placidez sem de Alberto Caeiro, sensorial, direto, que não se importa com o mistério, e que só pensaria no mundo se estivesse doente. "Por que o ter consciência não me obriga a ter teoria sobre sa cousas:/ Só me obriga a ser consciente".

em linhas gerais é isso. pra terminar, gostaria de sapecar mais um Ricardo Reis. Se eu tivesse um túmulo, gostaria que fosse esta a inscrição:

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

um leitor! um leitor!

descobri um cara que lê (ou pelo menos leu uma vez) o blog sem a minha expressa recomendação. alguém que realmente encontrou-o pelo google e o leu. e até citou a história do "seu tiguê".

tudo bem, o cara é meu conhecido, mas não importa. ele jamais poderia ter adivinhado que eu perdia meu tempo aqui. aliás, sem medo de parecer baba-ovo, o cara é um dos grandes luminares das letras da nova geração. e embora eu tenha estabelecido como norma pessoal evitar ao máximo citar o nome de pessoas, nesse caso vou abrir uma exceção: é o max mallman.

na minha humilde opinião (que ninguém pediu, é verdade), seu "síndrome de quimera" está entre os livros mais bacanas que já li. tá pra sair outro na segunda que vem, na travecona de ipanema. se não me falha a grafia, o título é "zigurate". não percam!

21 outubro 2003

velhos hábitos não são solúveis em água

há dois dias não consigo sair de casa, não procuro meu orientador, sequer vou atrás do dinheiro que estão me devendo. fico sentado nesse computador maldito, jogando, vendo sacanagens, enquanto o mundo corre, o tempo passa, e os prazos encolhem.

a letargia está tomando conta de mim de novo. e eu que achei que isso estava superado...

SOCORRO!!!

"prazer, mas devagar"

Ricardo Reis é um dos heterônimos de Fernando Pessoa. É o dos versos exaltando o classicismo grego. como bom clássico, RR tem lá a sua musa inspiradora, Lídia.

quando eu cometia versos durante a adolescência, o heterônimo com quem eu menos simpatizava era o próprio, mais interessado estava eu nas experiências transgressoras dos modernistas e dos poetas contemporâneos do que em redondilhas e alexandrinos. coisa de moleque.

semana passada minha irmã atiçou meu interesse, ao me contar como tinha, pela primeira vez, lido o "ficções do interlúdio", anos depois de ter praticamente forçado o ex a dar-lhe o livro de presente. comentávamos sobre as características dos diferentes autores, e hoje, levei-o para ler no - arham - banheiro.

dele (do livro, não do banheiro) tirei duas pérolas do RR. uma delas sobre a discrição dos amantes, e outra sobre mania das mulheres de antecipar tudo, ou de só fazer as coisas pensando no futuro. ei-las:

XVII

Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã. Cumpre-te hoje, não sperando.
Tu mesma é tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?

XIX

Prazer, mas devagar
Lídia, que a sorte àqueles não é grata
Que lhe das maõs arrancam.
Furtivos retiremos do horto mundo
Os depredandos pomos.
Não despertemos, onde dorme, a erinis
Que cada gozo trava.
Como um regato, mudos passageiros,
Gozemos escondidos.
A sorte inveja, Lídia. Emudeçamos.

...

a propósito, não achei "erinis" nem no houaiss. no entanto, lá mesmo tem "erínia", cuja etimologia francesa érigne ou érine, remetem ao latim aranea - aranha, teia ou fio. faz sentido. as palavras foram grafadas exatamente como no livro. as letras faltando não são erros de digitação. é métrica, manja?

tão pensando o quê? marcelão também é cultura!

...e a cozinha virou veneza

...mas não só ela: a área, o quartinho de empregada, o hall de entrada e o tapete que o decora, e passando por debaixo da porta, até o corredor do elevador.

tudo porque ontem, quando fui lavar minhas roupas de manhã, não notei que havia uma camisa do Salsão dentro do tanque. botei-as na máquina como de costume e fui cuidar da vida. mas a camisa acabou tapando o ralo, e toda a água expelida nos vários processo de enxágue, torção, centrifugação etc., em vez de seguir seu curso natural pelo encanamento, transbordou alagando metade do apê. depois de uma meia hora, de banho tomado, arrumado e cheiroso, vou pendurar as roupas, mas eis que ouço o chapinhar de poças da d'água. - mas peralá! na minha cozinha?!

corri para a área, achando que a mangueira tinha escapulido do tanque. mas qual!...(a bem da verdade, escapulindo ou não, o estrago teria sido o mesmo.)

resumindo: passei o dia inteiro com o rodo na mão, puxando água até o banheiro de empregada, onde fica o único ralo disponível por aquelas plagas, e trocando de tempos em tempos os jornais que eu usava para chupar á água. esse processo, como já disse, me consumiu o dia inteiro, e todos os planos que eu havia estabelecido para ontem se esboroaram.

em compensação, a cozinha ficou limpa e cheirosa.

os grafites de banksy

li na trip de outubro: na inglaterra, um grafiteiro que atende pela alcunha de banksy cria intervenções nas ruas com temática esculhambatória ao status quo, além de levantar questões para as pessoas pensarem. mas como o grafite é proibido na bretanha, ninguém sabe ao certo se o cara é homem ou mulher, preto ou branca. e como é considerado criminoso, banksy não pode dar mole de aparecer. mesmo quando uma galeria londrina organizou uma exposição com seus trabalhos, não se sabe se ele compareceu.

um exemplo das traquinagens do sujeito são os monumentos grafitados com os dizeres "área permitida para grafite", como se fosse um aviso oficial. no dia seguinte, os ditos já ostentam milhões de garatujas de várias procedências. e pra provar que é um cabra arretado mesmo, ele fez isso numa viatura policial. está registrado no sítio dele, onde também se pode encontrar outras obras cometidas no mobiliário e no cenário urbanos. também está na lista dos favoritos, no canto direito da página. divirtam-se!