30 dezembro 2004

o último bostejo do ano (2)

correção: há bostejos atrás, eu rejubilava-me com a interjeição "evoé! zut! zut!". queria então este humilde digitante, fazer gracejos com os parnasianos. no entanto, anta que sou, confundi-me. corrige-me o genial cony, em sua crônica "evoé!", registrada no volume "o harém das bananeiras", de 1999. registro-a aqui:

Evoé

Nunca entendi o que quer dizer. Os jornais de antigamente, ao chegar aquilo que chamavam de "tríduo momesco", botavam nas primeiras páginas, em letras garrafais, EVOÉ! - assim mesmo, em maíusculas e com o ponto de exclamação que foi abolido pelos copidesques que vieram depois e introduziram nos textos da redação o pavoroso "diz que".

Evoé era uma senha, talvez de alegria, talvez de esbórnia, e como nada significava realmente, tanto fazia. Os dicionários explicam que era o grito festivo com que se animavam as orgias de Baco, também conhecidas como bacanais. Triste festa e triste animação que necessitavam de tal palavra para dar início aos trabalhos.

nas Cruzadas, diante das hordas heréticas, os grandes de Espanha e os pares de França gritavam para seus comandados: "Deus vult' - Deus o quer! - em português a exclamação é necessária, pois o "vult"latino já contém uma dose razoável de exclamação. Matava-se ou morria-se por um
slogan. Amava-se também. Na Idade Média, as esposas iam para a cama com uma camisola na qual havia uma fenda no lugar apropriado, com o mesmo estímulo: deus o quer. Como se vê, até para fornicar era aconselhável ter um estímulo suplementar.

Bem verdade que não se precisa de uma senha para morrer e muito menos para fornicar. Essas coisas acontecem no devido tempo - e ainda bem que acontecem. Nada aconteceria, por exemplo, se, ao invés de "Evoé!", fossem usadas aquelas interjeições que os parnasianos freqüentemente colocavam em seus poemas: "Eia! Sus! Sus!"

Fico imaginando o Joãosinho Trinta gritando eia, sus, sus para animar os foliões da Beija-Flor durante os desfiles do carnaval. acho que o técnico de nossa seleção, na Copa do Mundo, após esgotar todas as miraculosas fórmulas táticas de ganhar um jogo, bem que podia pensar no assunto.

Falta a todos nós, tanto no carnaval como no futebol, na vida em geral, um grito de guerra, um "Deus vult", um "Evoé!", até mesmo, em caso de desespero, um Eia! Sus! Sus! Talvez por isso ainda não demos certo.

o último bostejo do ano (1)

não conhecia o radiohead (ok, podem me chamar fóssil. estou acostumado, e, de certa forma, me envaidece). continuo não conhecendo, mas, flanando pela internet, achei essa animação, em cima da música "creep". o vídeo é muito bom (vale a pena ver), a música é bonita, mas a letra é do tipo "sou-um-pobre-adolescente-todo-errado-mamãe-e-papai-não-me-entendem-coitadinho-de-mim-a-gata-do-colégio-não-me-dá-bola-ai-que-vontade-de-ter-coragem-para-cortar-os-pulsos". semcomentários.

e pensar que um dia eu fui adolescente. puá! que vergonha...

29 dezembro 2004

chico "unabridged"

um dos trechos mais contundentes da entrevista do chico buarque ao jornalista fernando de barros, para a folha de são paulo. saiu no domingo, 26/12. quem não tiver acesso ao jornal ou ao uol, me mande um email que envio a entrevista.

Folha - Você faz parte de uma geração de artistas que foi porta-voz de ambições grandes em relação às possibilidades do país. Hoje essas ambições encolheram muito, não se vê mais a perspectiva de mudanças sociais como antes. As aspirações foram redimensionadas para baixo. Como você analisa isso?
Chico Buarque -
Hoje em dia a gente vê pouquíssima margem de uma mudança social. Ao mesmo tempo, em países pobres, como o Brasil é, deveria ser mais do que nunca premente a necessidade de uma transformação social. A situação se deteriora e não se enxerga uma alternativa razoável.
Me preocupa que estamos nos encaminhando cada vez mais para uma situação irracional. Tudo passa pela economia. É difícil. Eu tendo a acreditar nos economistas quando dizem ser impossível gerenciar países como o nosso de outra forma. Quem sou eu para opinar? Eu me sinto muito diminuído, tenho pouco interesse em me manifestar, da mesma forma que tenho pouco interesse em ler opiniões de leigos, de gente desavisada a esse respeito.
Às vezes podem dizer coisas interessantes, ou até brilhantes, mas quando chega a hora de uma discussão mais séria essas opiniões soam quase como um escárnio, coisa de poeta.

Folha - Você se vê pressionado a falar sobre esses assuntos?
Chico -
Eu cada vez mais me abstenho por reconhecimento da minha limitação, da minha ignorância. Aí eu sou realmente modesto. Não sou modesto em relação ao que eu faço como artista. Mas, sobre os rumos ou possibilidades do país, não vejo honestamente que contribuição eu possa dar.
O que eu posso fazer é só constatar minhas perplexidades, meus receios diante desse quadro cada vez mais assustador. Como não se vê perspectiva de mudança a curto ou mesmo a médio prazo, a sociedade toda é levada a um certo conformismo, ou mesmo a um cinismo. Na alta classe média, assim como já houve um certo esquerdismo de salão, há hoje um pensamento cada vez mais reacionário, com tintas de racismo e de intolerâncias impressionantes.
O medo da violência na classe média se transforma também em repúdio não só ao chamado marginal, mas aos pobres em geral, ao sujeito que tem um carro velho, ao sujeito que é mulato, ao sujeito que está mal vestido. Toda essa indústria da glamourização, de quem pode, de quem ostenta, de quem torra dinheiro -enfim, ser reacionário se tornou de bom tom. As moças bonitas no meu tempo eram de esquerda. Hoje são todas de direita (risos).
Boutades às vezes racistas, preconceitos de classe, manifestações de desprezo mesmo pelos mais pobres se tornaram algo muito comum e socialmente valorizado.

Folha - Estamos diante de uma grande restauração, uma grande maré conservadora?
Chico -
Exatamente. E diante da negação de conquistas não só sociais mas também comportamentais. Vejo um pensamento cada vez mais conservador, até mesmo na aparência das pessoas, todo mundo arrumadinho...

Folha - Mas isso convive, no caso brasileiro, com um governo de um líder operário, o que poderia ser visto como uma conquista histórica na contramão desse quadro. Como explicar esse curto-circuito?
Chico -
Em primeiro lugar, acho que a eleição do Lula foi uma vitória. Ter conseguido eleger o Lula talvez tenha sido um último sinal de que algo ainda possa mudar para melhor. O outro lado da moeda é esse de que falei.
O Lula sabe o que o cara do rap está cantando. Ele conhece aquela voz. Outros podiam não conhecer, mas o Lula sabe exatamente o que é aquilo, não há de esquecer. O Lula não tem o direito de ignorar isso. Nessa altura, fico depositando minha confiança pessoal no Lula, minha esperança de que ele encontre uma maneira de pelo menos suavizar esse quadro. Mas esse é um fardo muito pesado. É uma esperança talvez demasiada.
De certa forma, o Lula trouxe o acúmulo de esperanças de muito tempo para um tempo em que elas não podem mais se realizar. E aí não é culpa dele. É por isso que tendo a reagir às críticas que são feitas exageradamente ao Lula.

Folha - Parece que você quer evitar jogar água no moinho dos que dizem que as coisas no governo não funcionam ou que o Lula é igual ao Fernando Henrique.
Chico -
Não quero jogar, porque já tem muita água nesse moinho. Vejo muita gente com ódio pessoal do Lula. E não vejo essa gente verbalizar com argumentos essa oposição tão visceral ao Lula. Parece que há uma certa vergonha de ter um presidente como o Lula, um operário, um sujeito com um dedo a menos e que fala errado. Uma vergonha de ver o Lula representando o país lá fora. Percebo isso em gente próxima. E vejo isso na mídia também. Na verdade, isso deveria orgulhar um brasileiro -ter um homem com as origens sociais do Lula na Presidência da República.

Folha - Isso é um avanço em relação à era tucana?
Chico -
Deveria ser também motivo de satisfação ter tido um professor, um sociólogo como o Fernando Henrique na Presidência. Foi um progresso. Nós vínhamos de anos e anos de generais, que não eram eleitos, depois tivemos o Sarney, acidentalmente, o Collor e o Itamar. A eleição do Fernando Henrique foi um salto qualitativo. É um intelectual, um homem com estofo. Agora, também não concordo com aquela satisfação que se viu no nosso meio -"é um de nós, finalmente". Não quero um de nós na Presidência (risos). Não quero ser presidente. Não gostaria que meu pai fosse presidente da República. Não é por aí. Também não acho que o fato de o Lula não ter curso secundário completo seja em si uma virtude. Virtude é ele poder ter sido eleito. Ele pode ser um bom ou um mau presidente. O Brasil ter eleito Lula contradiz tudo o que eu disse há pouco a respeito de um país que parece cada vez mais estar contra gente como o Lula. E volto a repetir: não vejo apenas um sentimento contra o marginal, o traficante, o ladrão. Mas contra o motoboy, contra o desempregado, contra o sujeito que não fala direito, isso apesar de a elite brasileira falar muito mal o português. Constato um sentimento difuso quase a favor do apartheid social.

(...)
Folha - O Rio, onde você mora há muito anos, também mudou muito de cara, em termos sociais. Na sua música, quando a gente pega, por exemplo, dois sambas como "Estação Derradeira", de 1987, e "Carioca", de 1998, percebe-se com clareza essa mudança. Os personagens são outros, a atmosfera é outra, a barra é muito mais pesada, apesar dos muitos encantos da cidade. Como você sente isso no dia a dia?
Chico -
O clima hoje na cidade é muito mais pesado. Para não falar lá de cima, na própria zona sul já há territórios demarcados. Eu conheci a praia como um espaço democrático. Hoje em dia já se sente no ar a idéia de que vai existir logo uma fronteira entre Ipanema e o Leblon. Tem um pessoal na altura do Jardim de Alá [moradores de um cortiço na rua do canal que divide Ipanema e Leblon] que desce ali e ocupa a praia. Vira uma paranóia, vira uma hostilidade com esses garotos que ficam circulando ali. Assaltar na praia é o pior negócio que existe. De vez em quando acontece. No dia seguinte, vem a polícia e enfia os meninos no camburão, quando não faz coisa pior. Eles querem tirar da praia, sumir com eles dali. Não vai ter onde botar esses meninos.
As soluções sugeridas para isso, as coisas que eu leio nas cartas dos leitores dos jornais, em geral são fascistas. Virou moda responder a quem defende os direitos humanos com o trocadilho infame dos "humanos direitos" contra os vagabundos que nos retiram o direito de andar livremente pelo calçadão. Isso quando não se defende abertamente a pena de morte, a reclusão dos garotos de rua, a diminuição da maioridade penal, a prisão perpétua. Eles querem exterminar com os pobres do Rio. Se puderem sumir com aquilo tudo -ótimo. Os meninos são os inimigos, são os nossos árabes, são os nossos muçulmanos.

Folha - E o problema cada vez mais grave do tráfico, como fica? Porque o tráfico virou talvez a única perspectiva de ascensão social, ou de possibilidade de um enredo vitorioso na cabeça de um menino morador da favela.
Chico -
É. Assim como o futebol ou o pagode, o tráfico virou um veículo de ascensão, de chance de ter dinheiro, poder, mulheres e fama, mesmo ao preço de uma vida muito curta. É o que se reserva para um menino sem estrutura familiar, sem emprego, sem quase nada. Eu não vejo outra saída para a violência ligada ao tráfico senão a descriminalização de alguma forma, não sei se total ou parcial, das drogas.
Lembro de ter lido nos jornais que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, era favorável a essa idéia quando tomou posse. Não sei porque o governo não levou e não leva essa discussão adiante. Isso pode ser desgastante para os índices de popularidade do governo, talvez por isso ninguém toque no assunto.
Talvez pensem que não é o momento de enfrentar o problema em razão de alianças e de compromissos com os evangélicos do PL, essas coisas. Mas se não enfrentarem o problema agora, quando é que vão enfrentar? Se o Lula não enfrentar... Isso tem a ver com tudo o que a gente estava falando antes, com o rap, com o que os garotos da periferia estão falando, com a falta de perspectivas, com a violência toda que está ali, manifesta nas canções.
O Lula sabe muito bem o que é isso. Se não encarar isso, não sei quem vai fazer. Não entendo por que não se discute isso a sério.

Folha - Você acha que o governo, para além dos constrangimentos econômicos, está deixando escapar entre os dedos oportunidades históricas de intervenção social?
Chico -
Acho. Acho. Entendo os compromissos, o FMI, a dívida etc. Tudo bem. Mas isso não tem nada a ver com essas outras omissões. Ou é isso ou é a Bíblia.

dedo (sujo) na ferida

quem sou eu para mensurar tragédias? no entanto, é curioso ver a velocidade com que europeus e americanos estão se mobilizando para mandar ajuda financeira e humanitária para as vítimas da "tsuruba" asiática. por pura provocação, digo quatro palavras: somália, ruanda, haiti e iraque.

ou será que os abastados do primeiro mundo estão apenas com medo de perder seus exóticos balneários?

28 dezembro 2004

enquanto houver irresponsabilidade, não à árvore da lagoa!

se a bradesco é tão pródiga em utilizar o espaço público (a lagoa rodrigo de freitas, ou sacopenapã, para os íntimos) na tentativa de criar uma atração turística para a cidade, bem que poderia apresentar alguma cidadania na sua conservação: da inauguração ao desmanche (de 27/11 a 06/01), a árvore leva diariamente o caos ao trânsito e à ciclovia, com centenas de pessoas e ambulantes de guloseimas e quinquilharias (alô, alô, fiscalização municipal!), que acabam emporcalhando tudo.

a população tem todo o direito à diversão, mas que tal oferecer lazer com responsabilidade? já que a bradesco seguros instalou na cidade o que deve ser um dos maiores outdoors ao ar livre do mundo, bem que podia arcar com o ônus da confusão: pagar as horas extras dos fiscais de trânsito da prefeitura, contratar firmas de limpeza e de jardinagem, para conservar a integridade da paisagem, pelo tempo em que ocupar um espaço que não lhe pertence. a árvore, segundo nos querem fazer crer, "é de todas as famílias". mas a cidade, também. e a lagoa precisa estar apresentavel para receber visitantes nos outros 325 dias do ano.

vamos tomar vergonha na cara e não nos deixar seduzir: em troca dos espelhinhos e miçangas, eles normalmente pedem nosso ouro, nosso suor e nosso sangue.

25 dezembro 2004

fabulazinha babaca (para combinar com o espírito natalino)

- papai noel, você rói unha?
- rôo, rôo, rôo!

21 dezembro 2004

humilde contribuição para o espírito natalino (quem ler, lerá)



O guardador de rebanhos - Alberto Caeiro
Poema VIII


Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
.............................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
......................................................................
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
.....................................................................
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

guimarães rosa já sabia...

como dizia o impoluto criador de augusto matraga: "todo mundo tem sua hora e sua vez". a minha está próxima, muito próxima.

a massa ainda vai provar do meu fino biscoito. evoé! zut! zut!

15 dezembro 2004

o despertar dos idiotas

O grande acontecimento do século XIX foi a ascensão espantosa do idiota. Até então, o idiota era apenas o idiota e como tal se comportava. Não vejam em minhas palavras nenhum exagero caricatural. E o primeiro a saber-se idiota era o próprio idiota. Não tinha ilusões. Julgando-se um inepto nato e hereditário, jamais atreveu-se a mover uma palha, ou a tirar uma cadeira do lugar. E então, aquele sujeito que, em 50 mil, ou cem, ou duzentos anos, limitava-se a babar na gravata, aquele sujeito, dizia eu, passou a existir socialmente, economicamente, politicamente, culturamente etc. Houve, em toda parte, a explosão triunfal de idiotas. Muitos estranham a violência da nossa época. Eis um mistério nada misterioso. É o ódio do idiota, sempre humilhado, sempre ofendido, sempre frustrado, e que agora reage com toda a potência de seu ressentimento.

Deve-se a Marx o formidável despertar dos idiotas. Estes descobrem que são em maior número e sentem a embriaguez da onipotência numérica. Bertrand Russell diz, por outras palavras, que sem o ódio não exixtiriam nem Marx, nem marxistas. Mas a vitalidade do marxismo depende dos idiotas.


Nelson Rodrigues. O Pesadelo Humorístico (p. 72), in: O reacionário, memória e confissões.

mais um trecho genial do Nelson Rodrigues. o que importa se ele fala mal de marx? um sujeito que teve peito para dizer uma coisa dessas, com tal ironia, num jornal diário, em pleno 1969, merece meu crédito. é um iconoclasta fantástico. vejam que ele não tem a menor preocupação de teorizar ou embasar sua opinião.

são passagens como essa que me orgulham de ter forçado barra para batizar minha turma de faculdade com seu nome. evoé! zut! zut!

perdoai-os, senhor. eles sabem o que fazem...

fui vítima de uma nova forma de tunga eclesiástica. ontem, como fiz durante os dois anos do mestrado, fui estudar na biblioteca da puc. cheguei à uma e saí às oito, e como de hábito, utilizei um dos armários para guardar mochila e livros. eis que, na hora de devolver as chaves, descubro que agora foi instituída a renovação do empréstimo do armário a cada quatro horas. resultado: fiquei devendo, por estar totalmente desprovido de erário (sim, meus credores, nada ainda).

estava, enfim, explicada a reforma desnecessária no hall da biblioteca, já anteriormente impecável; a maquiagem do ambiente, que nada mais fez do que colorir armários e paredes. porra, está certo que o aviso estava (discretamente) escrito junto ao guichê, mas custava o funcionário dizer também? como se aqueles jesuítas nababos já não arrancassem o couro dos alunos para sustentar as mordomias de seu latifúndio na gávea!

se deus existe mesmo, precisa urgentemente contratar um assessor de imprensa (estou à disposição, viu, senhor?) ou um relações públicas (hoje a profissão tem uns nomes mais feios, todos derivados do inglês). isso porque seus mininstros e representantes do lado de cá só têm feito lambança. como diria o profeta gentileza, num documentário sobre sua vida que assisti há alguns anos, "o papa só quer saber de papar, os pastores, de pastar; no vaticano só se come com talher de ouro". e a usura continua solta, com espetáculos catódicos de exoercismo e danças imbecilizantes que fariam jesus descer da cruz para açoitar os vendilhões do templo. quando eu ainda mantinha alguma relação com a igreja católica (a última vez em que entrei numa igreja para rezar foi aos quinze anos, quando fui praticamente forçado pela família a fazer a primeira comunhão, no colégio militar), aprendi que a usura é pecado. dos brabos.

09 dezembro 2004

pití global

não sou de aderir às fofocas das estrelas, mas essa aqui, chupada do comunique-se tá boa demais. me furto ao duireito de qualquer comentário. julgue que ler:

Autor de novela se irrita com textos de jornalistas

Da Redação

O autor da novela "Começar de Novo", exibida às 19h pela TV Globo, reagiu de forma irritada a uma nota publicada na Folha de S. Paulo, na coluna de Daniel Castro, e um artigo da revista Veja, assinado pelo jornalista Ricardo Valladares. Os dois receberam um e-mail de Antonio Calmon, prometendo reagir sempre que as críticas o atingirem.

Castro dizia em uma nota - somente para assinantes do UOL - que "insatisfeita com a trama e a audiência em queda de 'Começar de Novo', a cúpula da TV Globo deu duas semanas, a partir desta, para o autor Antonio Calmon acertar os rumos da atual novela das sete. Caso contrário, a produção, prevista para durar no ar até abril, deverá ser encurtada", enquanto Valladares comentou as mudanças nos personagens e a entrada repentina da atriz Carolina Ferraz.

Segundo nota da TV Globo, Calmon está de licença médica por 30 dias, devido a uma crise de hipertensão, stress, dor precordial e dispnéia. Ele deverá se submeter a vários exames médicos durante esse período.

Valladares disse que não vai comentar o assunto. Castro não foi encontrado por nossa redação.

Leia a carta enviada pelo autor de "Começar de Novo":

"Bom dia, Daniel Castro! Dormiu bem? Como se sente depois de ter provocado em mim uma crise de hipertensão? Feliz? Realizado? Parabéns!, a partir de hoje você será finalmente famoso, quer queira, quer não. A má notícia? Você se meteu com um sujeito que não tem medo de nada, que escreve mil vezes melhor e que fará tudo para devolver o café da manhã que você me serviu anteontem.

Meu coração poderia ter explodido. Uma veia em meu cérebro poderia ter estourado. Mas, para desgraça sua, isso não aconteceu. Por que você faz esse tipo de coisa? Inveja? Para agradar seu editor? Acha que consegue um aumento? Espera tornar-se Um Deles? Péssimas notícias para você, Daniel. Você jamais será Um Deles. Quarenta anos, uma coluna de tv num jornal esnobe, os artigos realmente importantes sendo escritos pelas duas mulheres, a barriguinha crescendo, essa vidinha de merda... Não vejo muito futuro para você.

Você e o Ricardo Valladares trocam figurinhas quem nem duas colegiais maldosas no início da puberdade? Ele te contou como torceu minhas palavras e jogou-me contra a jovem atriz? Vocês deram risadinhas malvadas com a dor que ele inflingiu a ela, culpando a mim, e que você agora repicou? Vocês acham que podem manipular a verdade a esse ponto, impunemente?

Eu vi esse outro cretino, pomposo e arrogante, com sua roupa cafona e barba pretensiosa, andando pela festa da novela como se fosse dono dela. Foram logo me avisando: esse cara é uma cobra, cuidado com ele! Ele me cumprimentou do alto da sua mediocridade. Patético e deslumbrado, um infeliz que nem você, visivelmente mal resolvido. Ao telefone, mal conseguia disfarçar o prazer que estava sentindo em me apunhalar. Eu só queria promover a Carolina Ferraz. Ele estava mais interessada em desmoralizar a Giselle Itiê. Por que vocês odeiam tanto as mulheres? Por que você faz um trabalho de mulher?

Um homem casado, com filhos, que inventa fofocas sobre a vida conjugal de um homem descasado, com filhas, não é um homem digno de respeito. O Marcos Paulo te perturba tanto assim, Daniel? Você acha que ele não é um galã, meu bem? Você não tem vergonha de fazer mexericos da Candinha? E seus ideais de juventude, onde foram parar?

Temos muitos meses pela frente. Toda vez que mencionar meu nome ou meu trabalho, cada vez que agir tão baixo com outra pessoa como fez comigo anteontem, eu juro que descerei sobre você e te exporei nu, a todos. Você é transparente, Daniel Castro. Senti a depressão e a covardia na tua voz ao telefone. Por mais neutro e digno que tente ser seu estilo, você está lá inteiro, no esplendor da sua insignificância. Vai ser moleza.

Não importa que você não leia minhas mensagens, a conselho de seu analista ou advogado. Os outros lerão. Não importa que você mude seu endereço de e-mail ou ponha um filtro em seu computador. Os outros saberão. Estarei sempre mandando mensagens como essa. Com a mesma frieza com que você e o Ricardo Valladares provocam sofrimento nas outras pessoas. Seja bem-vindo ao Outro Lado.

Aprendi com um samurai cego: para poder bater nos outros, é preciso saber apanhar. Eu vou te ensinar a apanhar, Gafanhoto, lição por lição.

As hemorrídas [sic] do fã purista do pop vão arder.

Antonio Calmon


12/3/2004

28 novembro 2004

bem-vindo ao panteão dos semideuses, santoro!

há muito tempo, meu bróder joão callado e eu, criamos o panteão dos semideuses, um lugar imaginário, dedicado a caras que realizaram feitos incríveis. o objetivo era homenagear meu homônimo, marcello mastroianni, graças ao seu desempenho no filme stay as you are (così come sei). do filme, guardo pouca coisa além de que ele interpreta um coroa que tem um caso com a nastassja kinski. e como se isso não fosse o suficiente, mastroianni humilha na cena emj que dá uma mordida na bunda dela. aí o cara ultrapassou o limite dos meros mortais. e assim, só nos restou alçá-lo à categoria de semideus.

pois bem, acabei de assistir na tv o comercial do perfume channel 5, em que o rodrigo santoro beija a boca de ninguém menos do que nicole kidman. meu queixo caiu. o camarada também namorou anos a luana piovani. dirão os ididotas da objetividade que la piovani, segundo consta no bas-fond da mídia nacional, presenteou o rapaz com um chapéu de touro. "ora", responderei, "não importa: comeu ou não comeu?" então, meus caros, se carimbou o passaporte, o resto é paisagem. para terminar, só tenho a dizer que, com um currículo desses, o sujeito merece o ingresso no panteão dos semideuses.

e tenho dito.

26 novembro 2004

a isenção da mídia

há anos digo que o jb não tem leitores, e sim, torcedores. é triste, sim, ver a derrocada de um jornal que, não fosse pela importância que teve para a história do jornalismo, pelo menos porque carrega o nome do país. o brasil merece mais. mas não vim aqui para alimentar saudosismos, mas para falar do presente. presente em que nada é por acaso, onde o interesse passa ao largo do bem público, e onde se busca o benefício de apenas um lado - o próprio. por mais multifacetado que ele seja.

conteúdo roubado, desta vez do xingatório.

Quinta-feira, Novembro 25
Notícias do Jota


Olá, caros. Depois de longo inverno, este humilde Assis se sentiu obrigado a reaparecer quando descobriu algumas histórias que andam acontecendo no velho Jornal do Brasil.

Vejam só o que me contaram:

A redação da Rio Branco não é mais a única sede da empresa. Parte dos suplementos se mudou de mala e cuia para a Casa do Bispo, uma bela morada no Rio Comprido, cercada de violência por todos os lados. Lá estão, por exemplo, as revistas Domingo e Vida.

Na primeira semana no novo lar, não houve um dia sequer em que os jornalistas não tenham tido o prazer de ouvir tiroteios. Por recomendação sabe-se lá de quem, nenhum funcionário pode vestir roupa vermelha, porque a área é do Terceiro Comando, e tampouco continuar trabalhando após as 18h, quando o bicho começa a pegar. A cereja do bolo veio na terça-feira, quando um segurança do dr. Nelson Tanure, em visita à casa, foi assaltado por dois sujeitos armados.

Diante dos fatos, o manda-chuva da segurança no Estado, Marcelo Itagiba, gente de primeiríssima qualidade, foi hoje ao JB-Rio Comprido para ver o que pode fazer. Fala-se em espalhar câmeras pelas redondezas. Tudo sem segundas intenções, claro. Se por acaso o jornal aumentar o número de matérias elogiando Garotinho, não se espantem. Será mera coincidência.

Xingado por Assis 2:58 PM

bocão é fundamental!

tava zapeando e parei no filme "o rei da água", exibido no tnt. é uma comediazinha bem chulé, mas o que me roubou minha atenção foi a estampa da fairuza balk.

pra quem não conhece, além de uma beleza incomum (ousaria até "extravagante"), ela é a maior boca desde a béatrice dalle em "betty blue". ela atuou como uma das ripongas da tribo de groupies no "almost famous" (aqui é a do meio, de xale vermelho. saca o estilo), e mais uns outros aí, que estou com preguiça de listar (para isso existe o google). se tem talento ou não é questão de somenos. no momento, estou ligado na beleza.

e para finalizar, um duelo de lábios: fairuza versus béatrice.

mas verdade seja dita, a da tatica (graças!) também não deixa nada a dever...e não digo isso para me livrar da surra depois, não. ;)

25 novembro 2004

copiado descaradamente do paulo markun

não resisti. é altamente sintomático do obscurantismo da direita brasileira, representada por "coronéis" latifundiários e usineiros.

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

A IDEOLOGIA DOS SARNEY


Fala-se que o presidente Lula pretende conseguir a transferência da senadora maranhense do PFL Roseana Sarney para o PMDB e entregar a ela o ministério do Planejamento, como forma de serenar a ziquezira independendista do partido.
Pode ser que dê resultado a tática, mas o retrospecto da senadora mostra que a grande condição dela não é política, mas genética – ser filha do presidente do Senado, José Sarney, que acaba de perder a chance de se reeleger para o cargo, mas continua um bom aliado do governo de Lula.
Roseana tem sua carreira apoiada integralmente na figura do pai. Depois de trabalhar como assessora dele, elegeu-se a mais votada deputada federal pelo PFL em 1990 e em seguida, chegou ao governo do Maranhão, onde passou dois mandatos. Teve problemas de saúde graves e quase disputou a presidência da República pelo PFL, depois de ter sido colocada como um mero balão de ensaio, que conseguiu vida própria graças a uma forte presença na propaganda política.
Não é preciso ir muito longe para verificar que a senadora pode ser ótima nos conchavos e articulações e uma perfeita intérprete dos desejos de seu poderoso pai, mas tem um desempenho pífio no plenário. No ano todo, ela fez apenas quatro discursos: elogiando o paraibano José Chaves, outro de homenagem à medicina, mais um cumprimentando a Anatel por padronizar os telefones de emergência e um sim, pesado, sobre as conseqüências das enchentes no Maranhão. Aparte, não deu nenhum e também não aprovou um só projeto de sua autoria. Foi relatora de duas propostas, uma sobre o primeiro emprego e outra de um acordo com a Ucrânia para usar a base de Alcântara e o site da senadora festeja suas vitórias nesses dois temas.
Portanto, a ida de Roseana Sarney para o PMDB pode representar uma massagem no ego do papai, mas não vai suprir a ausência de idéias e propostas que esse partido tem como característica essencial. Para complicar, quando ela foi candidata a presidente da República pelo PFL e disparou nas pesquisas, até ser abatida pela descoberta de um pacote de dólares no escritório de sua empresa, a reação mais suave de Lula foi dizer que aquela eleição não era concurso para miss Brasil.
Sobre a ideologia de Roseana Sarney, provável futura ministra do governo do PT, a definição é dela mesma: “Não existe esquerda, nem direita. Todos querem as mesmas coisas. As formas de se alcançar é que diferem.”

20 novembro 2004

rezar muito pode ser prejudicial

no último feriado fomos para a casa da tatica em lorena (sp). corremos para pegar o ônibus das 12h de sábado. chegamos em tempo hábil na rodoviária, mas qual!... lotado. resolvemos fazer cera para esperar o das 14h comendo alguma coisa.

enquanto os pratos não chegavam, a tatica disse que provavelmente, o ônibus que perdemos deveria estar apinhado de fiéis indo para a basílica de aparecida, que é relativamente próxima de lorena. eu, no meu folclórico sarcasmo mal-humorado, cheguei à conclusão de que havia sido melhor perder o das 12h, porque, afinal, com tantos devotos a bordo, seria bem capaz de o ônibus tombar na estrada.

o raciocínio é bem simples, e amparado por estatísticas: é só verificar as notícias durante os feriados religiosos. os desastres trágicos sempre envolvem os transportes utilizados pelos romeiros, seja um barco numa procissão fluvial em belém, um caminhão de pau-de-arara na direção de juazeiro do norte, ou um ônibus fretado para aparecida. acho que o povo reza com tal fervor, deseja tanto as compensações do paraíso e da vida após a morte, que quando pegam deus distraído, o levam a pensar que estão querendo furar fila para subir. e aí ele chama mesmo.

estão achando que sou louco? e o que me dizem do oscar niemeyer? o caboclo já tá com 90 e tantos, e tá firme aí, com sua prótese peniana a mil. pergunta no que ele acredita. e o martin luther king, malcolm x (não me refiro necessariamente ao deus cristão) e os demais mártires de todas as religiões? quanto duraram? então, captaram? não reze muito não, que senão você corre o risco de conseguir um pistolão.

18 novembro 2004

gatos! melhor não tê-los?

há dois posts, coloquei uma poesia com elogios à gatinha. bom, estou a ponto de retirar o que disse...a bichana anda pintando o sete, no mau sentido.

por algum estranho motivo, ela morre de pavor da faxineira, que nunca a maltratou, pelo contrário. mas basta soar a campainha para a gatinha ficar alarmada. confirmado seu temor, ela foge para o nosso quarto e passa o dia sob as cobertas, imóvel. até que um dia, resolvi tentar acabar com esse medo besta e infundado. enquanto o quarto era arrumado, peguei a bicha no colo e a levei para a faxineira vê-la. qual o quê. a bicha começou a miar grosso e a se agitar. em pouco tempo, ela grudou-se à minha camisa, e depois passou a unhar sem dó meu braço mais próximo. os lanhos foram vários, e quase tomaram o comprimento total do antebraço (primeira foto, menor, já quase cicatrizado). de medo, tudo o que ela tinha dentro dela, guardado para quando a faxineira fosse embora, "aflorou" um pouco. sobre o chão, o sólido, e sobre o encosto do sofá do escritório, o líquido. uma maravilha...

passados alguns dias, depois de miar quase ao ponto de estourar nossa paciência, finalmente veio o cio. e com ele, a novidade: ao pegar minha bolsa na hora de sair, percebo algo molhado: xixi de gato. puto e indignado, já do ônibus, ligo para a tati. ela olhou o sofá onde estava a bolsa (o mesmo que recebera o conteúdo da outra vez), mas tudo normal. estaria eu então delirando? não, o cheiro pouco sutil e o couro úmido confirmavam minha constatação. logo em seguida toca o cel, e a tati avisa que a filha da puta tinha mijado em cima da minha blusa que estava sobre o sofá (provavelmente ao lado da bolsa).

tati ligou para a moça de quem adotou a gatinha, em busca de socorro. ela disse que o xixi é normal no cio. pode ser também carência, ou estímulo do cheiro anterior. ok, então. de noite, volto à casa disposto a, apesar de tudo, relevar. mas ainda me espantava o cinismo do bicho, que de manhã viera fazer festinha e se mostrava muito amistosa, como nos melhores dias. brinco um pouco com ela (vai ver o xixi foi o troco dos cascudos que dei. tudo bem, estamos quites, agora), e depois, eu e tati escarrapachados sobre o sofá da sala, conversa vai, conversa vem, ela pergunta: "tá sentindo o cheiro?" não é que a bichana havia mijado também no sofá da sala - duas vezes! - e escondido sobre as almofadas. aí o sangue ferveu. fui atrás dela, para esfregar seu focinho no mijo, e depois na caixinha de areia, para explicá-la que não pode fazer isso, com ou sem hormônios. e ela, mais uma vez, usou meu braço de arranhador. o mesmo da outra vez (segunda foto).

para nosso intenso prazer, passamos o resto da noite passando escovão com desinfetante animal e sabão em pó no sofá da sala e na minha bolsa. programão. a gatinha vai ficar na cozinha até segunda-feira, como castigo. não batemos, ou a deixamos sem comer. ela está com seus brinquedinhos, etc., mas precisa aprender que há limites na vida, para homens e animais, estejam eles com tesão ou não.




agora estamos atrás de castração, para o mais breve possível. não temos grana, e parece que na suipa fazem quase de graça. é em benfica. veremos. a verdade é que eu mesmo estou quase esterelizando-a com meu canivete suíço; mas ainda assim, prefiro ela a qualquer cachorro, por mais educado e simpático. agora virou uma questão de postura política.

17 novembro 2004

só peço a deus (?)

faz muito tempo que não escutava um cd de priscas eras, do argentino leon gieco. bom som, meio folk, misturando uns bandoneons com melodias à la cat stevens, mas sem estragar nenhum dos dois. aí, em face do cansaço que a vida tem me dado nesse momento, levanto a cabeça em direção ao horizonte, estufo o peito, e canto, a plenos pulmões:

Sólo le pido a Dios - Leon Gieco

Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente,
que no me abofeteen la otra mejilla
después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente
si un traidor puede más que unos cuantos,
que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente,
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente.

04 novembro 2004

a vida imita a arte

Pensão familiar (Manuel Bandeira)

Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais.

Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
— É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.


igualzinho aqui em casa. como diria o poeta, em terra de troços que parecem sapos-bois (e que assustam as moças sem lentes), a gatinha definitivamente é a única criatura fina. demente, mas fina.

31 outubro 2004

jerusalém da razão

deu no globo de hoje que a doença do arafat pode ser apenas uma infecção viral (nada mal, em comparação com um suposto diagnóstico de leucemia). diz o periódico:

Por sua parte, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, prometer manter sua dura política de repressão a radicais palestinos e que nem morto Arafat entraria em Jerusalém, cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos. o grifo é nosso.

se a cidade encontra-se num enclave fundamental para a paz mundial, não seria o caso de a onu considerá-la patrimônio internacional (por que só querem fazer isso com a amazônia?), administrada por um conselho supranacional, com direito a tropas para garantir a paz e o livre acesso de qualquer pessoa?

*UPDATE*

retificando minha ignorância no tema, minha médica disse que infecção viral não pode ser classificada nunca como "apenas". primeiro que doenças simpaticíssimas como a aids e o ébola são infecções virais. ela disse também que esse negócio de "queda de plaquetas e firulas afins" cheira muito a coagulação intravascular disseminada, geralmente causada por vírus do tipo filovírus, da família do ebola. ou seja, amiguinhos, pode se tratar de um caso de envenenamento biológico básico.

por isso que eu amo minha médica. e sou dos que acreditam que paranóia é uma forma evoluída de inteligência...

30 outubro 2004

traças (1)

tendo finalmente completado a mudança da antiga casa, deparei-me com a tarefa de reduzir uma pilha babilônica de papel aos padrões aceitáveis. esbarrei com antigos trabalhos e anotações do período de faculdade, praticamente todos relacionados à aula de português da conceição - sem sombra de dúvida, a única matéria que justificou os quatro anos de curso. vou bostejar os mais queridos, para azar de quem os ler.

o texto a seguir é fruto da primeira aula, quando ela já entrou de sola, pedindo para que escrevêssemos a seguinte redação: "quem sou eu?". a minha ficou entre as lida em voz alta para a turma, o que me encheu de orgulho e vergonha.

Bom, eu sou esse nome aí no topo da página. Mas às vezes não sou apenas um nome. Sou também adjetivos. Vários. Poderia gastar cadernos e mais cadernos só me adjetivando. E não seria narcisismo, não. Porqeu nem todos os adjetivos que me dou são agradáveis; mas esses eu prefiro guardar para mim mesmo.

é lógico que há também os que me atribuem. Alguns são simpáticos, outros não são do meu agrado, mas normalmente consigo sobreviver a eles. E até gosto, porque me servem de ponto de partida para auto-análises e reavaliações de comportamento.

Acho que poderia falar mais de mim, mas não gosto de parecer impertinente - não há nada mais maçante do que alguém falando de si mesmo o tempo todo. não é mesmo.

28 outubro 2004

meu qi é 133

não sei se é bom ou ruim, mas foi o resultado desse testezinho. segundo ele, sou um filósofo visionário. meu pai não discordaria muito.
foi assim a resposta:
Your Intellectual Type is Visionary Philosopher. This means you are highly intelligent and have a powerful mix of skills and insight that can be applied in a variety of different ways. Like Plato, your exceptional math and verbal skills make you very adept at explaining things to others — and at anticipating and predicting patterns.

ética e capital

Da terra vos sei dizer que é mãe de vilões ruins e madrasta de homens honrados. Porque os que se cá lançam a buscar dinheiro, sempre se sustentam sobre a água como bexigas; mas os que sua opinião deita a las armas, Mouriscote, como a maré corpos mortos à praia, sabei que, antes que amadureçam, se secam.


Carta de Luís Vaz de Camões, escrita da Índia a um seu amigo, resumindo a ética da civilização cristã e ocidental. mas, diante dos recentes eventos, pode-se dizer que se encaixa como uma luva à (falta de) moralidade capitalista. enquanto essa praga não for superada, só haverá dor e escravidão.

17 outubro 2004

Não poderia ser mais certo

You are .swf  You are flashy, but lack substance.  You like playing, but often you are annoying. Grow up.

Which File Extension are You?

conclusão

falando, a fernanda abreu é a versão feminina do evandro mesquita.

15 outubro 2004

recado ao poder

wilson das neves é baterista de mão cheia e compositor supimpa, mas não sabia que era vidente. e como bom malandro, dá o recado no sapatinho, em forma de música.

vamos acordar, minha gente: "os hômi" tão brincando, e o bicho não tarda a pegar (pra mim, já tá pegando...). não vai ter passeata na praia e abraço que dê jeito, não, rapeize...

O dia em que o morro descer e não for carnaval
(W. das Neves/ P. Cesar Pinheiro)


O dia em que o morro descer e não for carnaval
Ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
Na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
Vai ser de escopeta metralha granada e fuzil (guerra civil)

O dia em que o morro descer e não for carnaval
Não vai nem dar tempo de ver o ensaio geral
E cada uma ala da escola será uma quadrilha
A evolução já vai ser de guerrilha
E a alegoria é um tremendo arsenal
O tema do enredo vai ser "A Cidade Partida"
No dia em que o couro comer na avenida
Se o morro descer e não for carnaval

(repete tudo)

O povo virá de cortiço, alagado e favela
Mostrando a miséria sobre a passarela
Sem a fantasia que sai no jornal
Vai ser uma única escola, uma só bateria
Quem vai ser jurado? Ninguém gostaria
Que desfile assim não vai ter nada igual

Não tem órgão oficial, nem governo, nem liga,
Nem autoridade que compre essa briga
Ninguém sabe a força desse pessoal
Melhor o poder devolver pra esse povo a alegria
Senão todo mundo vai sambar no dia que o morro descer
E não for carnaval

14 outubro 2004

associação direta

os portões dos campos de concentração alemães eram encimados pela inscrição "arbeit mach frei" ("só o trabalho liberta"). donde se pode concluir que o trabalho não apenas é uma violência brutal, como tem o sabor de uma cruel ironia nazista.
cqd.

chupado de outro blog...

Enviado por César Seabra - 5/10/2004 - 18:24

A idiotia americana

Papo fresquinho, agora há pouco, num elevador da Chambers Street, em Manhattan. Dois amigos brasileiros conversavam, quando uma agente imobiliária americana interrompeu:

- Me perdoem, mas vocês são de onde? E que língua estranha é essa que vocês falam?

- Somos do Brasil e falamos Português - respondeu um deles.

- Ah, eu tenho uma amiga de Portugal, ela também fala Português - disse a gringa.

- Sim, o Brasil foi colonizado por Portugal, por isso falamos o Português. Assim como os Estados Unidos foram colonizados pela Inglaterra e vocês falam o Inglês - respondeu o outro brasileiro.

- Ah... quer dizer, então, que o Brasil faz fronteira com Portugal? - perguntou a americana.

Os dois brazucas se entreolharam e disseram baixinho:

- Não faz isso comigo... Mauuuuuuuuuuuuu...


salve, joão cabral!

uma amiga usou o poema abaixo nos agradecimentos de sua dissertação. eu não poderia estar mais de acordo. até porque as circunstâncias me levaram a utilizar do mesmo expediente.

Num Monumento à Aspirina

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda a hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia...

13 outubro 2004

autonomia carioca: eu apóio

já tinha ouvido falar, mas pensei em rumores e delírios. no entanto, um outdoor na real grandeza me alertou: o negócio é sério. o movimento pretende separar a cidade do rio do resto do estado, recuperando o antigo estado da guanabara. uma proposta assaz interessante, seja pelo lado político, seja pelo econômico.

carioca ou não, se você ama o rio, não perca tempo. vamos lavar a escória dos "politiquinhos" de volta para o buraco de onde eles nunca deveriam ter saído.

saiba aqui como participar.

12 outubro 2004

adiós, mestre.

meu gosto pela leitura, teve também o mineiro fernando sabino como grande culpado. não me esqueço da primeira vez que que li suas crônicas - forma de literatura pela qual nutro preferência até hoje - no exemplar do "para gostar de ler" que exibia na capa a ilustração de um pintinho, em referência a um dos textos. além dele (o sabino, não o pintinho), paulo mendes campos, carlos drummond e o urso braga: uma trinca da pesada.

mais tarde, foi com ele meu "encontro marcado" com as dores das transformações da adolescência, e os primeiros vislumbres da maturidade. eduardo marciano foi meu modelo de erros e acertos, uma espécie de grilo falante.

foi também graças ao fernando sabino, ou melhor, de sua filha, verônica, que descobri minha paixão por mulheres narigudas.

e agora ele me apronta uma dessas e se vai, provavelmente ao encontro dos outros três cavaleiros do apocalipse - o já citado pmc, hélio pellegrino e otto lara resende. a freqüência lá em cima está cada vez melhor, enquanto que aqui embaixo...

nesse momento de tristeza (fiquei arrepiado quando ouvi a notícia), deixo uma crônica ainda não conhecida - linda - que ma foi apresentada pela tati (linda também).

09 outubro 2004

"era urso?"

era uma vez um livrinho que um dia foi lido por um menino. o menino nunca mais esqueceu da história escrita naquele livrinho, e tampouco dos desenhos que ilustravam suas páginas. passados muitos anos, é possível entender que muitas das escolhas feitas por aquele menino foram influenciadas por aquele livrinho. e hoje, quase vinte e cinco anos depois, o menino descobre o nome do autor: frank tashlin.

o livrinho?
"era urso?"

mesmo sem as ilustrações (primorosas), é uma obra-prima.

respostas cretinas para perguntas imbecis

este questionário tarrei na mão grande.

Adjetivo: imprevisível (dica da tati, de quem roubei o questionário);
Alergia: a estudante de marketing e administração (se tá estudando é porque não sabe);
Amigo(a): o reflexo do espelho;
Amuleto: meu canivete;
Ano: 2004;
Aperitivo: os que vêm antes da comida;
Área: dentro da calcinha;
Arma: língua afiada;
Barulho: gemidos;
Bebida: cerveja;
Bebida alcoólica: grão destilado da caledônia (essa é para os fãs de asterix);
Bordão: "vai por mim que eu te quero bem", "só alegria";
Brega: chorar em filme. choro mesmo;
Brincos: que isso, rapá?! tá me estranhando?;
Calçado: CONFORTÁVEL e durável;
Carne: lombo - no bom e no mau sentido;
Cheiro: mulher de cabelo lavado;
Chocolate: meio amargo;
Cigarro: semedão;
Colégio: nenhum presta;
Cômodo: mais ou menos;
Cor: preto no branco (epa!);
Data: 09/10/2004 (hoje);
Doce: não, obrigado;
Esporte: purrinha;
Fantasia: de esqueleto, fosforescente - sempre quis ter uma;
Fetiche: sandálias pretas em pés de marfim;
Flor: de cactus;
Fruta: não tenho nada contra;
Horário: sem;
Instrumento: caixa de guerra - ainda chego no violão;
Irmão: não, só irmã, a "coisinha";
Junk Food: Bob's;
Língua: português, mas tá cada vez mais difícil encontrar alguém que saiba, para conversar;
Livro: "era urso?", frank tashlin;
Loucura: shopping no fim de semana;
Lugar: colo;
Medo: de ETs, mediocridade e ignorância;
Mobília: rede;
Música: "don't you eat that yellow snow", zappa;
Nome: marcelo;
Número: três, porque é demais!;
Ódio: burrice,
Paisagem: mulher pelada;
Parte do corpo: Meus seios (da tati). A única coisa que gosto mesmo em mim, sem quaisquer ressalvas (deixa ela...);
Perfume: o que eu ganhar de presente. nunca comprei;
Pergunta: "quo vadis?";
Pessoa: fernando;
Piercing: só cerveja;
Programa: comprar pamonha;
Queijo: minas;
Recheio: queijo;
Religião: só lamento;
Revista: trip;
Roupa: limpa;
Ritmo: o que dê para chacoalhar;
Sentido: sem;
Sentimento ultimamente?: prefiro não;
Série: de números;
Signo: gêmeos com peixes, lua em touro, ano do boi de água;
Substantivo: próprio;
Tara: a fazenda de "o vento levou...";
Tatuagem: vai chegar;
Temperatura: 36 graus;
Time: botafogo, botafogo, campeão desde mil novecentos e sete;
Verbo:o que se fez carne;
Viagem: álcool;
Virtude: vai saber...

07 outubro 2004

nasruddin e o acadêmico

a tradição sufi tem as histórias como um dos pilares de seus ensinamentos. e o mullá nasruddin costuma ser o personagem principal delas. ora sábio, ora bobo, nasruddin personifica o ensinamento, que muitas vezes assume a forma de anedotas, e outras, não fazem o menor sentido - na hora. dizem que ele viveu no século XIII etc., mas é besteira. segundo o livro "os sufis", idries shah afirma que nasruddin foi criado pelos dervixes para expressar determinados estados de consciência - ou coisa que o valha. seja lá o que for, esse papo começou com um post da maffalda. bom, vamos ao que interessa:

um dia, nasruddin convida um importante acadêmico para comer na sua casa. o sujeito, muito convencido e cheio de si, chega à casa e bate várias vezes à porta, sem resposta. circunda a propriedade chamando por nasruddin, e nada. depois de várias tentativas, ele se enfurece e, antes de ir embora, escreve na porta: "idiota".

horas depois, nasruddin chega à casa, completamente esquecido do encontro. quando vê o escrito, toma um susto, lembra-se de tudo e corre ao mercado, chamando pelo acadêmico, a quem logo encontra.

"oh, mil desculpas, por favor, perdoe-me. eu só lembrei de nosso encontro quando vi seu nome escrito na minha porta!"


gostou? pra quem manja do idioma do bush, tem mais aqui, aqui e aqui.

06 outubro 2004

força na peruca

sempre que vejo o resultado de uma escova japonesa, me questiono se os americanos não fizeram um mau negócio em poupar tóquio e o resto do país...

metamorfose ou coincidência?

o (via) dinho não está ficando a cara do cantor/ator/whatever fabio jr?
no entanto, o paulo ricardo é que seria o fabio jr amanhã. já o (via) dinho está mais para jerry adriani...

04 outubro 2004

problemas 2, a missão

o espaço dos comentários voltou, mas todos foram apagados. depois da pernada do blogger br, passei pro haloscan. espero que esses não dêem uma de enron, e me deixem na mão de novo. veremos.

problemas

vou tentar resolver o problema nos comentários. espero não tê-los perdido.

01 outubro 2004

"Sizenando, a vida é triste"

o título refere-se à uma crônica do mestge rubem braga que encontrei por acaso, enquanto fazia uma pesquisa. o esperanto pode estar morto, mas o braga pulsa de vitalidade.

30 setembro 2004

comanche (jorge ben)

enquanto existir deus no céu
urubu não come folhas
enquanto existir deus no céu
vou cantando numa boa (gente boa)
minha mãe me chama
comanche
minha mãe me disse
comanche
descobriram a lua, querem descobrir o sol
você é um comanche, um guerreiro
fique de olho aberto, perdigueiro
você nasceu pra viver contente
com você e com toda a gente
deus está no céu, olhando
e lhe passando harmonia
só depende de você viver essa alegria
enquanto existir deus no céu
urubu não come folhas
enquanto existir deus no céu
eu vou cantando, gente boa
comanche, comanche

24 setembro 2004

dinheiro não traz felicidade...

..."manda buscar", dizem os gaiatos. não sei.

sei, sim, na carne, que a ausência dele pode trazer dores de cabeça, insônia, ansiedade, caspa nervosa, medo toda vez que o telefone toca (será algum credor?), irritação e a suspensão quase integral do desejo sexual. para resumir: melhor do que isso, só pão com catarro (pouco pão, por favor).

pelo menos, o bom-humor segue inteiro, embora muito arranhado. e a pressão sangüínea está de garoto.

e faz sol lá fora, o que não deixa de trazer uma certa esperança, apesar do calor. apesar da ligeira sensação de estar sendo feito de otário...

23 setembro 2004

filhos? melhor não tê-los...

crônica do ximenes, retirada do blog dele. não poderia estar mais de acordo...

como já dizia o comediante bebum w.c. fields, "alguém que odeia crianças e cachorros não pode ser de todo mau".

Enviado por João Ximenes Braga - 18/9/2004 - 13:12

A crônica do jornal

Dia desses, na coluna “Gente boa”, do Joaquim, havia um pai indignado por sua filha não poder jogar bola no Parque Lage. “Uma menina correndo atrás da bola não incomoda ninguém”, dizia. Comando para Terra com uma notícia incrível: incomoda, sim. E muito. Uma menina correndo atrás da bola, em geral, grita. Voz de criança, em geral, é estridente.

E ainda que seja uma bola de plástico leve, pode danificar as plantas.

Seria precipitado concluir que este é mais um caso de pais que não sabem impor limites aos filhos. Provavelmente é apenas outra evidência da guerra travada no cotidiano da classe média: de um lado, os com-filhos (chamemo-los de CF), de outro, os sem-filhos (SF).

Não são necessariamente antagonistas, mas duas espécies de animais de comportamento díspar obrigadas a partilhar o mesmo território. A questão anda na minha cabeça desde que presenciei um raro momento de sinceridade e respeito. Estava num almoço de domingo regado a chope e picanha. Ao lado da minha mesa boêmia, havia uma familiar, cheia de crianças. Elas incomodavam, sim, mas estávamos resignados. Até que, na mesa de cá, uma jornalista, casada, revelou sua intenção de procriar a médio prazo. Outra jornalista, também casada, disse:

— Você sabe que quando isso acontecer a gente vai parar de falar com você, né?

Ainda não acredita que CF e SF vivem em dimensões paralelas? Vejam a história de outra amiga que foi dormir pela primeira vez com um pai divorciado. Ela acorda na cama dele, ele não está mais lá. Chama pelo nome. Ouve a voz saindo do banheiro, cuja porta está aberta:

— Estou fazendo cocô!

A moça ficou indignada. Não bastava ele estar de porta aberta? Não bastava dar informação desnecessária sobre o que estava fazendo lá? Ele tinha que usar aquela palavra infantil?!

— Ele não era um imbecil — vaticinava essa amiga à frente de um chope, dias depois. — Já tinha reparado o mesmo com amigas que tiveram filhos. Chafurdam em fraldas e acham que merda é a coisa mais natural do mundo. Vivem no limiar da coprofagia.

Talvez este seja um caso extremo. O problema mais comum entre os CF e os SF é outro: um estranho mecanismo que é acionado logo após o parto e faz com que todo CF perca um neurônio específico da região do desconfiômetro. Justo aquele que informa ao cérebro que, sim, sua criança é a coisa mais fofa de toda a galáxia, mas isso não significa que o resto do mundo partilhe do seu entusiasmo. Não faria mal distribuir um folheto nas maternidades ensinando os CF a se comportar junto aos SF:

Registros fotográficos de batizado, aniversários e, sobretudo, do parto, devem circular apenas entre pais e avós.

Para um SF, leite é apenas algo que se pinga no café. Qualquer referência a leite produzido por animais outros que não vacas e cabras é terminantemente proibida. Sobretudo durante as refeições.

Ninguém está realmente interessado se você anda dormindo pouco. Sabe aquele sorriso de solidariedade dos amigos SF ao ouvir suas queixas? É falso. Até porque eles também andam dormindo pouco, mas suas razões não são levadas em conta.

E por que não um manual ensinando os SF a se portarem frente aos CF? Bem, porque os SF já são o lado mais fraco da corda. Quem admite não ter particular interesse por crianças é logo tachado de desalmado. Nem mesmo a mãe de uma delegada conseguiria reunir três equipes da Polícia se fosse incomodada por uma menina correndo atrás da bola. Pior, os SF são discriminados no trabalho. Outra amiga, que até pensa em ter filhos, mas ainda não tem, queixa-se que o lobby das mamães é mais poderoso que o dos ruralistas em Brasília. Uma festa na escola do filho é suficiente para que todas as mães se mobilizem para rearranjar a escala de plantão da coleguinha. Já as SF são vistas como gente que nunca têm nada de importante para fazer.

— Só por que não tenho filho não posso tirar licença-maternidade? Isso é discriminação — reivindica ela.

16 setembro 2004

a melhor de todas!

genial! genial! os joselitos estão afiadíssimos. mas não é tudo.

15 setembro 2004

a gatinha demente nossa de cada dia

quem lê a tatipiv já deve conhecer a nossa gatinha. tenho uma relação de amor meio obsessiva com ela, pois apesar de achá-la linda, continuo não simpatizando muito com ela. então, uma das maneiras que encontrei para acabar com essa babaquice foi fotografá-la. os gatos, como se sabe, possuem uma graça natural que os cachorros jamais terão (que a tati não me leia, mas me veio à mente agora uma analogia entre gatos/cariocas, e paulistas/cachorros; mas ainda é apenas uma especulação ainda não elaborada).



então, como o volume de fotos ficou muito grande, a tati resolveu criar o "Gatinha Demente", só com as fotos da bicha. têm poucas fotos, porque é recente, e só se pode bostejá-las uma por vez.

isso até me lembra a época em que ia para a puc com meu brother joão callado, para desenharmos os gatos vagabundos que viviam por lá.

enfim, cliquem na foto e curtam a demência.

10 setembro 2004

pára tudo II, a missão

como andei encontrando no yorkut um monte de amiguinhos do stockler, onde cursei a sétima (como repente do colégio militar) e a oitava séries, fui dar uma olhada no conta-giros, pra medir a freqüência cá deste boteco. qual não foi minha surpresa ao ver gente aqui atrás do élio gaspari, da biografia de casimiro de abreu, de letras do peter frampton e até do paulinho da viola.

mas a internet é um playground de anormais, e dessa vez eles se superaram: depois do clásico "fotos de coroa trepando", que às vezes traz como adendo "com adolescentes", teve gente atrás de "fotos de pés, suvacos, e pernas de homens". olha, perversão por perversão, cada um tem a sua - como disse nelson rodrigues, "se as pessoas expusessem suas fantasias, ninguém se cumprimentava na rua" -; mas suvaco de homem barrou qualquer limite do bom-gosto. tenham santa paciência. acho engraçado como eles vêm para aqui atrás disso. mas, a julgar pelo que eu já disse aqui, não duvido mais de nada...

09 setembro 2004

...pode ser até que ele fique puto, mas...

conversa com um amigo, via msn, no fim do expediente (reescrita de memória):

- Vou chegando, cara, que ainda tenho que ir em tal lugar para fazer tal coisa, pegar fulana e depois ir ao São Luiz, para AvP.

- que diabos é AvP?

- Alien Vs Predador.


logo em seguida ele se desconectou. ia dizer que depois não podia falar um ai mal do filme. porque, convenhamos, o que esperar de um filme desses, além de muitas explosões, litros de gosma e outros (d)efeitos especiais? então, quem se digna a pagar, digamos, 15 reais, para assisti-lo, tem que estar muito a fim de ser brindado com um pacote de ultra-violência fantástica na moleira. e apenas isso. história, não tem. coerência, tampouco. e isso, até o meu amigo sabe. então, se sabe que pagou exatamente por isso, vai reclamar do quê, depois?

divertimento? curiosidade? escapismo? entorpecimento? desse tipo? e ainda por cima, pagando? no, thanks...

terra da graça

acabei de baixar graceland, do paul simon. o disco, de 86, é uma obra-prima sem par ou herdeiro. fruto de pesquisas de ritmos negros nos estados unidos e em algumas nações africanas, o disco é uma mistura bem temperada de folk, cajun, cânticos e timbres hipnóticos. é de uma aparente simplicidade desconcertante. não tem nada que se aproxime de sua originalidade na história do pop. escutei-o enquanto cozinhava. foi uma curtição só...

é uma pena que depois desse disco, o baixinho tenha se tornado um "etno-chato". esse povo do hemisfério norte é engraçado; não podem ver um índio, um crioulo seminu suado que começam a salivar. vide o sting e o "boca-de-bandeja" raoni...

"nossos antepassados"

...é o título dado à trilogia fantástico-surrealista de italo calvino, formada pelos deliciosos visconde partido ao meio, o barão nas árvores e o cavaleiro inexistente. embora não tenha lido ainda o barão..., considero o cavaleiro... uma obra-prima difícil de se igualar. a história gira em torno de agilulfo emo bertrandino dos guildiverni e dos altri de corbentraz e sura, cavaleiro de selímpia citerior e fez, paladino do exército de carlos magno, que é nada mais do que uma extrema força de vontade dentro de uma armadura vazia. isso mesmo - o caboclo não existe. é consciência sem existência.

ele é acompanhado por gurdulu, seu escudeiro aloprado, que não sabe exatamente o que é, ou que nome tem. é existência sem consciência, oscilando ao sabor do vento, quase zen - o contraponto perfeito de seu senhor. agilulfo acaba ganhando um aprendiz informal, o jovem rambaldo de rossiglione, aspirante a cavaleiro, cujo pai, o marquês gherardo, morreu pelas mãos do emir isoarre. a existência de rambaldo não goza de paz, com a consciência atormentada ora pelo dever da vingança, ora pelo amor de bradamente, mulher que luta entre os cavaleiros do imperador da frança. um pouco como todos nós, enfim.

destaco um trecho em que os três dirigem-se ao campo de batalha, para enterrar os que tombaram em combate, ao fim do dia. dá bem uma idéia da personalidade deles - e nossa também (sobre mim, pelo menos, que oscilo entre os três, freqüentemente). é interessante ver como calvino cosegue alternar grça e profundidade na medida certa:

Agilulfo arrasta um morto e pensa: "Ó morto, você tem aquilo que jamais tive nem terei: esta carcaça. Ou seja, você não tem: você é esta carcaça, isto é, aquilo que às vezes, nos momentos de melancolia, me surpreendo a invejar nos homens existentes. Grande coisa! Posso muito bem considerar-me privilegiado, eu que posso passar sem ela e fazer de tudo. Tudo - se me entende - aquilo que me parece mais importante; e muitas coisas que consigo fazer melhor do que aqueles que existem, sem os seus habituais defeitos de grosseria, aproximação, incoerência , fedor. É verdade que quem existe põe sempre alguma coisa de seu no que faz, um sinal particular, que não conseguirei jamais imprimir. Mas, se o segredo deles está aqui, neste saco de tripas, muito obrigado, não me faz falta. Este vale de corpos nus que se desagregam não me provoca mais arrepios que o açougue do gênero humano vivo".

Gurdulu arrasta um morto e pensa: "Você dá certos peidos mais fedidos que os meus, cadáver. Não sei porque todos se compadecem de você. O que lhe falta? Antes você se movia, agora seu movimento passa para os vermes que você nutre. Fazia crescer unhas e cabelos: agora vai produzir líqüidos que farão crescer mais altas sob o sol as ervas do campo. Vai se tornar capim, depois leite das vacas que comerão o capim, sangue de criança que bebeu o leite, e assim por diante. Ó, cadáver, você é mais capaz do que eu para viver?"

Rambaldo arrasta um morto e pensa: "Ó morto, corro, corro, corro para chegar até aqui como você, a me fazer puxar pelos calcanhares. O que é esta fúria que me empurra, esta mania de batalhas e amores, vista do ponto onde observamos seus olhos arregalados, sua cabeça virada que bate nas pedras? Penso, ó morto, você me obriga a pensar; mas o que muda? Nada. Não existem outros dias senão estes nossos dias antes do túmulo, para nós, vivos, e também para vocês, mortos. Que me seja concedido não desperdiçá-los, não perder nada daquilo que sou e daquilo que poderia ser. Praticar ações insignes para o exército franco. Abraçar, abraçado, a orgulhosa Bradamante. Espero que você não tenha gasto seus dias de modo pior, ó morto. De qualquer maneira, para você os dados já decidiram seus números. Para mim ainda se agitam no copo dos azares. Eu amo, ó morto, minha ansiedade, não sua paz".

06 setembro 2004

pára tudo!!!!

algum anormal veio parar aqui enquanto procurava "fotos peitos de aracy de almeida"!

eu mereço...

03 setembro 2004

...e tome polca

pra quem não conhece a canção de josé maria de abreu e luís peixoto, na versão anárquica da maria alcina (a quem eu cresci ouvindo):

E Tome Polca

Um sarau
Na rua Itapirú
Em casa das Novaes
O calor está abrasador
E tem gente demais
E tome polca

Num sofá
A dona Jacintha
Faz bola de papel
E na janela, de papelotes,
A Berenice namorisca
Um furriel

A reclamar silêncio
Surge o seu Fulgêncio
Um rotundo e bom comendador
Sim, porque nesta altura,
Chega o padre cura
Com o corregedor

- Senhorinha, a honra desta dança, acaso quer me dar?
Cavalheiro, a honra é toda minha,
Porém já tenho par...
E tome polca

Entra o Souza
Que vem pisando em ovos
Com as botas de verniz
Enquanto a sua esposa
De olhos em alvo
Fica torcendo
Os cabelinhos do nariz

Por trás de uma cortina
Vê-se a Minervina
A preta que é mais preta
Que um tição
E diz entre risadas
Quebra, dona Alice
Quebra, seu Beltrão

Atenção!, acordes a Dalila
Que seu Gil vai recitar
Formam roda
E o moço encalistrado
Começa a gaguejar
E tome polca

Tem um chá
Bolinhos de polvilho
E outros triviais
São onze horas
Apague o gás
E assim termina
O bailarico das Novaes
...E tome polca

conversas exaustas pré-sono

- você já prestou atenção no verbo "liqüefazer"? significa "fazer-se líqüido". ao contrário de "solidificar", que seria "ficar sólido". percebe como é interessante? um "se faz", enquanto o outro "fica"...

bom, daí em diante, foi um tal de brincar com as palavras, como "gaseifazer", "liqüeficar", e tome polca...

02 setembro 2004

dupla dinâmica

novos heróis na área: "beiço de jegue" e "boca de afegã boqueteira".

antes que comecem a maldar, não é bem o que vocês estão pensando. de qualquer forma, nunca supus que a vida a dois poderia ser tão demente e engraçada...

31 agosto 2004

cinema ou realidade?

o nome do filme é alien vs predador, mas dada a proximidade com as eleições americanas, podia muito bem ser kerry vs bush.

* * *
update:
a sensação de certeza confirmou-se com o slogan dos cartazes do filme pelas ruas: "não importa quem vença. nós perdemos". ironia ou previsão?

29 agosto 2004

para não dizer que não falei de política

é o seguinte, garotada: a situação tá uma merda? tá. o pt parece estar meio desorientado? parece. o lula anda trocando os pés pelas mãos? anda. veja bem, concordo com todas as reclamações contra o nosso presidente. mas não se pode esperar que o caboclo mude tudo em quatro anos. principalmente se lembrarmos que não houve revolução. as elites políticas e empresariais que estão aí são as mesmas que, há quatrocentos e tantos anos, mandavam cortar os pés dos "negros fujões", e que tratavam índio a fogo de arcabuz. como ouvi por aí, os "empresários do ano" costumam ser filhos de senadores, netos de comendadores, bisnetos de barões e tataranetos de ladrões de cavalo. assim nasceram as grandes fortunas do brasil, e até hoje não apareceu quem me provasse o contrário.

no quesito política internacional, com a tal da globalização, quem acha que o nosso sapo barbudo poderia fazer algo diferente, com a estreita faixa de manobra que o g-8 nos dedicou, ou é louco, burro, ou mal-intencionado. vamos falar a verdade, as ordens vêm de fora, mesmo, e a menos que rompamos os laços com o capital de forma definitiva (e nos tornamos uma cuba, mas aí, meus caros amigos da barra da tijuca e do interior de são paulo, não tem mais jatinho, helicóptero, angra, maresias e daslu...), a coisa não poderia ter um rumo diferente. ainda mais com a herança deixada pelo nosso ex-príncipe, fernando II, o artífice da estabilidade econômica, como ele gostaria de entrar para a história. mas parece que ninguém lembra mais de seu legado de incompetência.

mas hoje, não me lembro porque cargas d'água, comentei com a tati sobre a entrevista do barbosa lima sobrinho para a falecida bundas, em 99. barbosa, que de bobo não tinha nada, já conhecia o potencial lambão do fernando henrique cardoso de outros carnavais. repito: a declaração abaixo é do nosso barbosa lima sobrinho, a única unanimidade do país, a reserva moral da nação. faço questão de reproduzi-la:

Bundas - O senhor votou nele [FHC]?

Barbosa - Não, votei no Lula. O pai de Fernando Henrique, general Leônidas Cardoso, e o tio, general Felicíssimo Cardoso, eram nacionalistas. Seu pai, eleito deputado federal com o apoio dos comunistas - que estavam na ilegalidade - desempenhou seu mandato na Câmara inspirado em ideais nacionalistas. O filho, atual presidente da República, não honrou o nome do pai nem a tradição da família. Empregou o genro numa agência empenhada numa política declaradamente anti-Petrobrás. Gostaria de contar uma história: em 1968 houve uma reunião da Campanha Nacional de Defesa da Amazônia na casa do general Felicíssimo Cardoso, presidente da comissão, tio do atual presidente. Participavam Henrique Miranda, hoje diretor da ABI, o general Carlos Hesse de Melo, Os professores Alvércio Gomes e Orlando Valverde e a geógrafa Irene Garrido. Todos foram testemunhas. Discutia-se a redação de um documento de defesa da Amazônia e Henrique Miranda sugeriu que se mandasse o texto para Fernando Henrique, em São Paulo, para que ele o divulgasse e colhesse mais assinaturas. Aí o general Felicíssimo disse: "Pode mandar, Miranda, mas este meu sobrinho não é de confiança". Concordo com a opinião dele.


28 agosto 2004

pílulas barretianas

afonso henriques de lima barreto. nome de rei ou nobre. na verdade, mulato, pobre, alcoólatra e um dos maiores escritores nacionais. com certeza o mais carioca deles, ao lado de joão do rio.

sua condição marginal lhe conferia uma visão aguda da natureza humana e da sociedade; quase sempre implacável quando o assunto era seu próprio papel nela.

há muito tempo li o "cemitério dos vivos", amargo diário sobre sua derradeira estadia no sanatório da praia vermelha, atualmente, campus da ufrj. é lá que fica, entre outras, a escola de comunicação da ufrj, onde concluí o mestrado (pode-se dizer que há pontos de contato entre o passado e o presente, mas isso é outra história...). hoje, fazendo uma mega-limpeza no computa, achei uns trechos do livro, que faço questão de reproduzir. depois me digam se o sujeito não era um azougue.

"Eu não tenho nenhuma espécie de superstição pelos nossos títulos escolares ou universitários; eles dão algumas vezes algum saber profissional, muito restrito e ronceiro, e nunca uma verdadeira cultura (...)"

"Esta nossa sociedade é absolutamente idiota. Nunca se viu tanta falta de gosto. Nunca se viu tanta atonia, tanta falta de iniciativa e autonomia intelectual! É um rebanho de Panúrgio, que só quer ver o doutor em tudo, e isso cada vez mais se justifica, quanto mais os doutores se desmoralizam pela sua ignorância e voracidade de empregos. Quem quiser lutar aqui e tiver de fato um ideal qualquer superior, há de por força cair. Não encontra quem o siga, não encontra quem o apoie. Pobre, há de cair pela sua própria pobreza; rico, há de cair pelo desânimo e pelo desdém por esta Bruzundanga. Nos grandes países de grandes invenções, de grandes descobertas, de teorias ousadas, não se vê nosso fetichismo pelo título universitário que aqui se transformou
em título nobiliárquico. É o Don espanhol."


" (...) embora a glória me tenha dado beijos furtivos, eu sinto que a vida não tem mais sabor para mim. Não quero, entretanto, morrer; queria outra vida, queria esquecer a que vivi, mesmo talvez com perda de certas boas qualidades que tenho, mas queria que ela fosse plácida, serena, medíocre e pacífica, como a de todos."

só para manter o fluxo...

acordei e fui no mercado comprar pamonha (nota: mercado no fim de semana de manhã é coisa de pobre. não que minha condição financeira me habilite a esse tipo de julgamento, mas a única coisa que me faz encarar esse tipo de programa ianomâmi é a recém-adquirida paixão por pamonha. doce, não. ainda guardo algum tipo de dignidade...).
para variar, estava lotado, e aproveitei para dar uma calibrada na despensa de casa. na fila, quilométrica, pedi pro cara da frente dar uma olhada no carrinho, enquanto voei na banca para comprar um jornal. para variar, nada de novo, mas como faz falta a novidade vazia travestida de informação que nos obrigam a engolir nesse mundo globalizado, para manter-nos dispersos e fragmantados.
na hora de pagar, vi que estava sem dinheiro e sem o cartão. ligo para a patroa (ela vai adorar a denominação), em casa. oi, dá para trazer o cartão? tá, bom, to indo. uns dez minutos depois, ela chega. de perfume. quis ensaiar uma gracinha mal-criada, e ouvi um "quem foi que esqueceu o cartão, mesmo?", só para me botar de volta ao prumo. bonito isso.

e o dia transcorria, preguiçoso. e as preocupações escorriam sob o mormaço, enquanto eu pensava em como é bom estar vivo...

27 agosto 2004

atendendo a pedidos: a lei de imprensa

sei que tenho andado sumidão, mas não ando desligado. as delícias da vida a dois, as agruras de tentar deixar a casa minimamente habitável com salário (qual?) apertado, e o trabalho que não ata nem desata têm consumido tempo e paciência para cuidar do boteco. no entanto, introduzo (epa!) o tema a partir do diálogo travado nos comentários do bostejo anterior, com meu amigo análise, sobre a lei de imprensa. para não deixá-lo sem resposta, reproduzo o artigo do elio gaspari (de 25 de agosto), impecável, que traduz minha opinião melhor do que eu mesmo jamais seria capaz de formulá-la. vai ficar enorme, mas quem tiver saco de ler, lerá.

A essência da LulaPress é a empulhação

Aqui vão dois pares de textos. Relacionam-se com noções de ética e disciplina dos jornalistas. Estão separados pelo tempo, pelo propósito e pela origem.

O primeiro diz o seguinte:

"As notícias devem ser precisas, versando apenas sobre fatos consumados. Não permitir informações falsas, supostas, dúbias ou vagas."

"A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de comunicação pública, independentemente da natureza de sua propriedade."

A segunda frase está no Código de Ética que servirá de base para a definição da alma do projeto que Lula mandou ao Congresso para "normatizar, fiscalizar e punir as condutas inadequadas dos jornalistas". Esse Código, aprovado num congresso da classe em 1987, é muito mais um manual de conduta. Acoplado ao projeto de Lula resultará num regulamento disciplinar dos jornalistas.

A primeira afirmação é do general Silvio Correa de Andrade, chefe da Polícia Federal em São Paulo, no Manual de Censura que distribuiu aos jornais em dezembro de 1968, horas antes da edição do Ato Institucional n 5.

O problema está na coincidência

O Código de Ética do aparelho sindical diz que "é dever do jornalista prestigiar as entidades representativas e democráticas da categoria."

Outro manual de censura, de junho de 1969, avisava que não se podia "publicar notícias ou comentários tendentes a provocar conflitos entre as Forças Armadas, ou entre essas e o poder público, ou entre esse e o povo."

No mundo dos generais considerava-se desprestígio dizer que em alguns de seus quartéis praticavam-se a tortura e o extermínio como política de Estado.

No mundo dos companheiros, os jornalistas têm o dever de "prestigiar" os sindicatos e a Federação Nacional dos Jornalistas, a Fenaj. Seria desprestígio lembrar a maracutaia das aposentadorias de falsos perseguidos políticos, promovida em 1995 pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro?

Qualquer semelhança entre os manuais de censura e a visão autoritária e aparelhada que acompanha o projeto de criação do conselho federal do ofício é mera coincidência. Quando uma iniciativa de Lula, associado à Fenaj, guarda semelhanças retóricas com o palavrório dos censores, algo de ruim está acontecendo.

O projeto enviado por Lula ao Congresso ficará alguns anos na gaveta, rosnando. É um documento pedestre, mal intencionado. Na exposição de motivos o ministro Ricardo Berzoini diz o seguinte: "A sociedade tem o direito à informação prestada com qualidade, correção e precisão, baseada em apuração ética dos fatos." Sabendo-se que em 1968, durante a reunião em que se decidiu baixar o Ato Institucional n 5, louvou-se 19 vezes a democracia e condenou-se 13 vezes a ditadura, pode-se perceber como palavras bonitas ("qualidade, correção e precisão"), escondem o bornal do controle ("disciplina", "advertência", "censura", "suspensão", "cassação").

O projeto confunde deliberadamente um elemento essencial à profissão (a correção e o zelo pela precisão da notícia) com uma obrigação legal submetida à fiscalização, ao julgamento e à disciplina de um braço sindical sustentado pelo confisco de uma parte da renda dos profissionais.

A imprensa tem horror à fiscalização


Depois de se dizer tudo isso contra o projeto, pode-se argumentar que os jornalistas querem publicar grampos telefônicos obtidos ilegalmente, violar o sigilo bancário dos outros, defender o controle externo dos poderes alheios e escrever mentiras. Quando se fala em fiscalizá-los, esperneiam, cantam a "Marselhesa" e se escondem debaixo da alegoria da liberdade de imprensa. Quem achar assim estará muito mais certo do que errado.

O pior é que essa pessoa pode achar mais. Ela pode achar que há órgãos de imprensa que vendem reportagens, entregando-as aos leitores como se fossem produto daquela tal atividade protegida pela Constituição. Pode também suspeitar que os governos federal, estaduais e municipais gastam o dinheiro da patuléia e das empresas estatais com publicidade geralmente associada à simpatia do noticiário. Pode amaldiçoar jornalistas que escrevem belezas sobre eventos aos quais foram convidados a custo zero. São as chamadas "bocas-livres". Em suma: há corrupção, e muita, na imprensa. Essas práticas não atingem a todos os jornais, revistas e emissoras, mas as maracutaias do mundo das comunicações são menos noticiadas no Brasil do que pedofilia de padre no Observatore Romano.

A imprensa brasileira precisa de algum tipo de fiscalização crítica independente. Uma forma simples, pública e bem-sucedida de fiscalização é a figura do ombudsman, adotada em 1989 pela "Folha de S. Paulo". Depois de passar por memoráveis vexames, o "New York Times" criou o seu ombudsman no ano passado. Pode-se achar que é pouco.

Devem existir instâncias de fiscalização além do Poder Judiciário? Para médicos, advogados e arquitetos, elas existem.

Essas instâncias devem se misturar com o Estado ou devem se confinar ao universo do prestígio profissional? De um lado ficam os conselhos como o que Lula quer criar. São organismos de alistamento e arrecadação compulsória. De outro, entidades como as associações de jornais, revistas ou emissoras. Como as instâncias fiscalizadoras dos agrupamentos patronais freqüentemente não fiscalizam coisa alguma, a bola poderia rolar para a Associação Brasileira de Imprensa?

Essas são questões a respeito das quais cada um deve formar a sua opinião, pronto para mudá-la a cada duas semanas. Debate bonito é assim.

Notícia e verdade não são a mesma coisa

Vale voltar às duas primeiras afirmativas lá de cima. Pode-se sustentar que o Código de Ética dos jornalistas e o Manual de Censura do general dizem coisas parecidas porque dizem coisas verdadeiras. É aí que mora o perigo. Toda vez que se fala em notícias necessariamente precisas, verdadeiras, seguras e claras, o que se quer é embaralhar o debate. Coisa do tipo enquanto-houver-fome-não-haverá-democracia.

A confusão entre notícia e verdade é uma falácia. Ela foi desmontada há quase um século por Walter Lippmann, um dos maiores jornalistas do seu tempo:

"Quem acredita que notícia e verdade são duas palavras que designam a mesma coisa, não vai a lugar algum. A função da notícia é sinalizar um acontecimento. A função da verdade é trazer à luz fatos ocultos, formando um quadro da realidade dentro do qual as pessoas possam agir. (?) Nós não entendemos a natureza limitada das notícias e a complexidade ilimitada da sociedade; nós superestimamos nossa capacidade de resistir, nosso espírito público e nossa competência." Ele se divertiu lembrando que os cidadãos pagam bom dinheiro pelos seus lugares no teatro e pelas passagens de trem, mas querem comprar a verdade, todos os dias, pagando com a menor moeda em circulação (Em 1921 os jornais custavam um centavo de dólar).

"Precisas e corretas" mistificações


Em 1964 num memorável julgamento da Suprema Corte dos Estados Unidos, o juiz William Brennan Jr. redigiu a sentença que assegura à imprensa americana o direito de cometer erros factuais no noticiário relacionado com personalidades públicas. Brennan sustentou que se os jornalistas forem colocados debaixo do medo de punições legais caso não contem histórias "precisas e corretas", quem perde é a sociedade, por ficar menos informada. Nada a ver com licença para mentir. O jornalista obriga-se a demonstrar que não sabia da falsidade da notícia e que não agiu como se pouco lhe importasse o fato de ela ser verdadeira ou falsa. Se alguém acha que a Corte Suprema é leniente com a imprensa, vale informar que, pelos seus critérios, algumas dezenas de jornalistas brasileiros teriam passado pela cadeia por conta da publicação de grampos. As casas impressoras ou transmissoras onde trabalhavam teriam corrido o risco de falir.

O comissariado que produziu o projeto de LulaPress promete ao público um regime de informações "precisas e corretas", sabendo que esse tipo de doce não existe. Às vezes essa empulhação parte dos jornalistas. Outras vezes parte daqueles que pretendem controlar os jornalistas. Em todos casos, o que se quer é empulhar a patuléia.