30 janeiro 2006

o que faz um homem, homem?

Within the universe there exist fierce cold things, which I have given the name "machines" to. Their behavior frightens me, especially if it imitates human behavior so well that I get the uncomfortable sense that these things are trying to pass themselves off as humans but are not. I call them "androids," which is my own way of using that word. By "android" I do not mean a sincere attempt to create in the laboratory a human being (as we saw in the excellent TV film The Questor Tapes). I mean a thing somehow generated to deceive us in a cruel way, to cause us to think it to be one of ourselves. Made in a laboratory -- that aspect is not meaningful to me; the entire universe is one vast laboratory, and out of it come sly and cruel entities which smile as they reach out to shake hands. But their handshake is the grip of death, and their smile has the coldness of the grave.

These creatures are among us, although morphologically they do not differ from us; we must not posit a difference of essence, but a difference of behavior. In my science fiction I write about about them constantly. Sometimes they themselves do not know they are androids. Like Rachel Rosen, they can be pretty but somehow lack something; or, like Pris in WE CAN BUILD YOU, they can be absolutely born of a human womb and even desing androids -- the Abraham Lincoln one in that book -- and themselves be without warmth; they then fall within the clinical entity "schizoid," which means lacking proper feeling. I am sure we mean the same thing here, with the emphasis on the word "thing." A human being without the proper empathy or feeling is the same as an android built so as to lack it, either by design or mistake. We mean, basically, someone who does not care about the fate which his fellow living creatures fall victim to; he stands detached, a spectator, acting out by his indifference John Donne's theorem that "No man is an island," but giving that theorem a twist: that which is a mental and a moral island is not a man.


Man, Android and Machine
By Philip K. Dick, 1975

29 janeiro 2006

garotas de programa e passarelas

não sou moralista, mas também não sou hipócrita: para mim, ser garota de programa é ter um ofício tão digno quanto qualquer outro, como ser por exemplo... modelo e manequim.

sob um olhar científico, as duas profissões tem muitas semelhanças, embora em uma delas as meninas cobrem muito acima da tabela e sejam mais facilmente aceitas pela sociedade. para corroborar com minha teoria, a época dessa semana traz uma matéria sobre a "tribo de bruna surfistinha", enfocando a vida da gp mais popular do brasil, e de outras "colegas".

na newsletter que recebo toda semana, abaixo desta chamada, casualmente (?) há outra sobre as especulações do mercado sobre as novas "promessas das passarelas". fiquei confuso se estas também se incluem na já mencionada "tribo", já que, pelos depoimentos, os relatos de ambas as "categorias" giram em torno dos mesmos temas: quanto ganham, como gastam, e a reação das famílias.

pode-se até arriscar que vemos a reprodução capitalista da oposição entre força de trabalho (prostitutas) e poder de trabalho (modelos).

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ps: o fato de bostejar duas vezes seguidas sobre a mesma revista é uma mera coincidência. talvez por se tratar da expressão mais direta da hegemonia do senso comum midiático. não que eu recusasse um dindim global. ;)

25 janeiro 2006

pérolas políticas

é inegável o fato de garotinho e rosinha detestarem a população do rio. talvez em represália ao desprezo dispensado pelos cariocas ao casalzinho de emergentes campistas, que galgou o poder às custas da ingenuidade do interior do estado. agora a tropa de choque do governo estadual se aproveita do assalto ao ônibus de turistas ingleses, para expressar o desprezo pela população:

diz o saite do rj-tv que "O secretário estadual de Turismo, Sérgio Ricardo de Almeida, apresentou na reunião um projeto de lei do deputado Bernardo Ariston, do PMDB. A proposta é que aquele que assalta turistas receba uma pena maior do que a prevista para o criminoso comum."

óquei, seu sérgio ricardo; óquei, seu ariston: só espero que suas próximas candidaturas sejam bem longe da cidade.

(quem vai poder se dar bem nessa é a tatiana, que pode sempre alegar que não é daqui).

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a grande mídia anda fazendo malabarismos para tentar levantar a bola do psdb: vide a época dessa semana (de 23 de janeiro, com a capa sobre a wikipédia), na tentativa de melhorar a abulia dos dois possíveis candidatos do partido:

na página 63, sob o título "Amor perfeito", joyce pascowitch escreve:
"O prefeito José Serra anda num bom humor admirável. Mais feliz que o habitual, ele só fala de cinema, acaba de discutir o mundo da moda, discute shows e virou o maior tiete do disco Partimpim, de Adriana Calcanhotto, por causa de seu neto, que adora. Quem te viu, quem te vê!"

(serra e paucanhotto, taí dois que se merecem!)

embora afirme duas vezes em sua coluna "Xongas" (pág. 82) que não está dando uma declaração de voto, ricardo freire louva a inexpressividade do alckimn, ao declarar sua tendência "(...) a achar que, se um governante não fica o tempo todo desovando números, índices e programas com nomes criativos, deve ser porque de fato esteja de fato fazendo algo que preste."

então, tá!...

21 janeiro 2006

chupado na íntegra

bostejo de stromboli e madame forrester.

George II

"Do you know what happened the last time a nation listened to a
bush? Its people wandered in the desert for 40 years."

Desvarios no Brooklyn, Paul Auster. Taí um livro que faz qualquer insônia valer a pena.

audácia do boff

"(...) a economia se desgarrou da sociedade. Desinserida e desvinculada de qualquer controle social, estatal e humano ela ganhou livre curso. Funciona obedecendo a sua própria lógica que é maximizar os ganhos, minimalizar os investimentos e encurtar ao máximo os prazos. E isso em escala mundial e sem qualquer cuidado ecológico. Tudo vira um grande Big Mac, tudo é colocado na banca do mercado: saúde, cultura, órgãos, religião.(...)

O efeito mais desastroso desta transformação consiste em reduzir o ser humano a um mero produtor e a um simples consumidor. O resto são zeros econômicos desprezíveis: pessoas, classes, regiões e inteiras nações. O trabalho morto (máquinas, aparelhos, robots) suplanta o trabalho vivo (os trabalhadores). Tudo é reduzido a mercados a serem conquistados para poder acumular de forma ilimitada. O motor que preside esta lógica é a competição a mais feroz possível. Só o forte subsiste, o fraco não resiste, desiste e inexiste".


a íntegra tá aqui.

peripécias de nosso futuro presidente

tirado da folha (mas acho que precisa ser assinante):

Governo Alckmin afirma que secretário não influenciou decisão; terreno equivale a 54 parques Ibirapuera

SP CEDE FAZENDA A FUNDAÇÃO LIGADA A CHALITA

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) cedeu uma fazenda de 87 hectares -cerca de 54 vezes o parque Ibirapuera-, em Lorena (a 188 km de SP), à rede católica Canção Nova, ligada ao secretário da Educação, Gabriel Chalita.
A fazenda Centri também fora solicitada por pelo menos dois órgãos do próprio governo. O Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) pretendia utilizar o local para reforma agrária. A Faenquil (Faculdade de Engenharia Química de Lorena), vizinha à área, pretendia ampliar seu campus. Preteridos, disseram que não foram avisados da decisão.
Tanto o governo do Estado quanto a rede Canção Nova negam que Chalita tenha influenciado a escolha.
A Canção Nova, fundada pelo padre Jonas Abib, é uma comunidade mantida pela Fundação João Paulo 2º, que busca "a evangelização através dos meios de comunicação". Para isso, conta com editora, rádio e televisão próprias.
Cotado para disputar o governo do Estado pelo PSDB, Chalita é uma das figuras centrais da programação da rede.
O secretário aparece com destaque em todos os meios, a começar da página de abertura do site. Ele apresenta um programa diário de rádio e outro, semanal, na televisão, além de ter um livro publicado pela editora Canção Nova.
Em seu programa de televisão da última quarta-feira, seus convidados foram justamente o governador Geraldo Alckmin e sua mulher, Lu Alckmin. Entre os temas da entrevista, a política.
Na sede do grupo, um complexo localizado em Cachoeira Paulista, cidade natal de Chalita, a imagem do secretário também é recorrente. Num galpão destinado para a realização de shows, por exemplo, há um pôster com cerca de 8 m2 de um dos livros de Chalita, com duas fotos do secretário.
A fazenda do governo é vinculada à Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e não estava sendo utilizada. Foi cedida para a Canção Nova em dezembro de 2004 por tempo indeterminado.
Hoje, nas dez casas da propriedade, moram funcionários da entidade. A fazenda produz alimentos para consumo dos fiéis que freqüentam a fundação e de seus funcionários. Há ainda projetos educacionais e na área de saúde.

Reforma agrária
A Faenquil, ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado, mandou em 2004 um ofício requerendo o terreno da fazenda para a ampliação de um dos seus campus, vizinho à propriedade do Estado.
"Pedimos aquela área, mas até hoje não tivemos resposta", disse o diretor-geral da Faenquil, João Batista de Almeida Silva. Ele considerou "lamentável" a decisão.
"A Canção Nova é forte politicamente aqui na região. O secretário da Educação é de Cachoeira Paulista e isso acaba influenciando", afirmou Silva.
Assim como a faculdade, o Itesp também manifestou interesse pela área. Depois de ser informado pelo Conselho do Patrimônio Imobiliário, em 1º de junho de 2004, de que o Estado possuía a fazenda Centri, o órgão vistoriou o local para verificar a viabilidade do imóvel para a implantação de um assentamento e concluiu que ele é apto para a reforma agrária.
O Itesp manifestou em 30 de junho de 2004 interesse pela área e passou a aguardar a decisão sobre o imóvel. Não recebeu, no entanto, nem a terra nem a resposta.

20 janeiro 2006

a gente não tem cara de babaca?

só soube pelos telejornais que o u2 vinha de novo ao brasil. com o exemplo paulistano, de novo o público é submetido à venalidade inescrupulosa dos realizadores e ao descaso da banda. o que me leva à conclusão que as tais "causas humanitárias" que o bono defende obviamente não se estendem aos fãs.

cada vez mais percebo que não estava errado ao deixar de acompanhar a banda desde "i still haven't found what i'm looking for". que aliás, devia ser o hino dos fãs brasileños.

coloquem os narizes vermelhos e rumem para sampaulo. fazer papel de otário nunca custou tanto.

vou ficar rindo daqui.

14 janeiro 2006

a outra tabacaria

-- Tem idéia da probabilidade matemática de que um pedaço de matéria do universo seja escolhido para participar da biosfera, seja como uma folha, uma salsicha ou água potável? Ou mesmo ar respirável? As chances são de aproximadamente um quatrilhão para um! Nosso universo é um lugar prodigiosamente sem vida. Só uma partícula em um quatrilhão entra no ciclo da vida, no processo de nascimento e morte, desenvolvimento e decadência -- pense que evento raro isso representa. E agora peço que considere não a probabilidade de existência de um bocado de comida, uma gota d'água ou um sopro de ar, mas a probabilidade de existência de um embrião humano. Pegue a proporção da massa do universo: os sóis extintos, os planetas congelados, os montes de lixo cósmico que chamamos nebulosas, a enorme cloaca de poeira, cascalho e gás nóxio que chamamos de Via-Láctea, toda essa fermentação termonuclear, esse torvelinho de entulhos. Pegue a proporção entre essa massa total e a massa de um corpo humano. Aí tem você a probabilidade de que uma porção de matéria, igual ao peso de um homem, seja um homem...Esta probabilidade é negligenciável!

-- Negligenciável? -- perguntei.

-- Em outras palavras, você e eu, todos nós nessa sala, não podemos existir estatisticamente. Realmente não estamos aqui...


stanislaw lem, em "memórias encontradas numa banheira". livro dos mais estranhos, aflitivos e interessantes.

a página oficial do polaco cachorro doido merece uma olhada. principalmente o artigo sobre o remake de solaris pelo soderbergh.

08 janeiro 2006

v de vou ver

gostei de saber que "v de vingança", uma das histórias mais interessantes que já li, vai virar filme.

gostei mais ainda de saber que escalaram o john hurt, numa espécie de homenagem "outro-lado-da-moeda" ao seu winston smith de 1984 (aliás, ele está a cara do emmanuel goldstein). e muito mais ainda de saber que o stephen rea faz o finch. e muito mais mesmo de ver como a natalie portman encarou o desafio de raspar o coco para o filme (e não é que a danada continuou bonita?). tá reconquistando meu respeito, já que, mesmo depois do "closer", o papelucho no "guerra nas estrelas" ainda causa um travo na língua.

mas não vou gostar nada se eles caírem na esparrela de inventar uma identidade para o codinome v. esperemos...

o saite da parada é aqui.

06 janeiro 2006

jornalismo: pau-pra-toda-obra

uma das conseqüências do crescimento boçal do poder dos meios de comunicação de massa nos últimos 50 anos foi a transformação do jornalismo numa espécie de "carreira-coringa", um trunfo a mais para quem quer conseguir um passaporte para a fama.

o público adquiriu a percepção distorcida de que os profissionais da área são os arautos do maravilhoso mundo do espetáculo. percepção que, na verdade, nasce e alimenta-se na própria estrutura de produção industrial da mídia.

como consequência, o aprendizado e o exercício profissional acabam tornando-se um terreno pantanoso para os aspirantes a ter sua insignificância eternizada pelo olimpo midiático. daí os "humoristas-entrevistadores", os "atores-repórteres", as "modelos-apresentadoras".

arrisco dizer que chegamos ao ponto em que "jornalista" pode ser usado como eufemismo de "garota de programa", assim como os célebres "atriz-manequim-modelo" e "universitária", versão moderna do antigo "normalista". exagerei? então, faça-se luz:

Uma participante da sexta edição do "Big Brother Brasil" já posou para a revista masculina Playboy. Ela se chama Juliana Canabarro, 23, que é apresentada pela Globo apenas como "promotora de eventos".

Gaúcha de Porto Alegre, ela mora em São Paulo. Quando apareceu como "coelhinha" da Playboy, na edição de junho de 2005 (na capa Anna Flávia, sósia de Daniella Cicarelli), Juliana se apresentou como estudante de jornalismo".


deu no folha online.

03 janeiro 2006

sobre o reveilão em niterói e otras cositas más...

pode ser que esteja enganado, mas nunca vi noticiado em nenhum jornal carioca a curiosa tradição niterioiense de botar na rua, em pleno 31 de dezembro, um bloco de piranhas. a cidade estava coalhada de marmanjos vestidos de mulher. fui informado de que a tradição é antiga.

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os fogos em icaraí duraram algo além de vinte minutos. mais tempo do que o espetáculo apresentado em copacabana e no flamengo. e não fizeram feio. a tal "vista mais bonita de niterói" ofereceu um parâmetro de comparação inquestionável. meninos, eu vi.

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assisti à entrevista do lula. gostei da postura de estadista ponderado: respondeu a tudo direitinho, sem evasivas. até aí, nenhuma novidade, se levarmos em conta que, enquanto o pedro bial ainda fumava maconha e cometia versos no baixo leblon, lula já se diplomava em trato com a mídia. macaco velho. o bonner já sabiam que não agüentaria o tranco. curioso não botarem o caco barcellos, talvez o último dos repórteres digno do nome na emissora. mas ele não se presta a esse papel, vai ver é cláusula contratual.

no fundo, tudo foi previsível demais, de ambos os lados. mesmo quando parecia acuá-lo, bial só fazia levantar a bola para as cortadas certeiras. em alguns momentos lula até ria, como se o agradecesse. quem sabe foi uma maneira de a globo assoprar as mordidas na cobertura dos "escândalos", já prevendo o fiasco de serra ou alckmin nas urnas (de aécio, nem se fala. é como um táxi, basta o menor sinal de tormenta para ele desaparecer das ruas. ao que parece, a direita modernosa vai ter que esperar). a entrevista foi uma espécie de "hedge". afinal, o melhor lugar para se estar numa batalha é ao lado dos vencedores.

a ponto de adotar o voto nulo como resposta radical à descrença com a política nacional, depois da entrevista, já penso em refugar. devo ser mesmo um paspalhão...

e que venha 2006!