21 dezembro 2007

balanço do ano

chegamos há dez dias do fim de 2007. ouvi de uma amiga que, graças a soma dos algarismos dar 9, esse foi (é) um ano de decisões. morte, nascimento, gravidez, separação e casamento. aconteceu o que tinha que acontecer com quem devia e com quem não devia.

disseram que ano que vem vai ser o do infinito em pé, por causa do formato do número oito. prefiro acreditar em renovação, já que o somatório dá um. espero que seja um novo começo.

comigo, foi um ano mais de altos que de baixos. depois de seis mudanças de casa em nove anos, finalmente consegui um canto para chamar de meu.

uma situação estável à custa de um choque de realidade e uma dose de conformismo, mas com a certeza de que o único caminho para a redenção é através da arte.

o coração refestelou-se, deu uns pulinhos de susto, murchou aqui e acolá, e acabou o ano com ótimos prognósticos, crescendo a olhos vistos.

o fim do ano vai me levar de volta à fortaleza, depois de nove anos e meio. reencontrar um velho amigo, me aproximar de atuais e conhecer novos - amigos e horizontes.

é bem capaz de que essa seja a última vez que bosteje esse ano. pelo menos, aqui no rio. se assim for, que tudo dê certo ano que vem. ou coisa que o valha. tá tarde e tô com sono. meu quarto tá uma zona e amanhã cedo tem visita.

16 dezembro 2007

para não perder a piada...

...com a palavra, noel rosa.

Habeas Corpus
(Noel Rosa/Orestes Barbosa)

No tribunal da minha consciência
O teu crime não tem apelação
Debalde tu alegas inocência
Mas não terás minha absolvição

Os autos do processo da agonia
Que me causaste em troca
ao bem que fiz
Correram lá naquela pretoria
Na qual o coração foi o juiz

Tu tens as agravantes
da surpresa
E também as da premeditação
Mas na minh'alma tu não ficas presa
Por que o teu caso, é caso de expulsão

Tu vais ser deportada do meu peito
Por que teu crime encheu-me de pavor
Talvez o habeas corpus da saudade
Consinta o teu regresso ao meu amor

15 dezembro 2007

música para ninar moça

não testei, mas algo me diz que não falha.



se tudo o mais der errado, eu furo os olhos e vou tocar piano.
(siga a bolinha.)

13 dezembro 2007

i like ike

ike turner morreu.

dou risada quando vejo esses cantores de rap tirando onda de malandros e caftens (e nem me refiro apenas ao visual ridículo). penso com meus botões que esses caras nunca devem ter ouvido falar no velho ike. nem musicalmente, nem por sua reputação. porque esse, sim, era um bad motherfucker.

instrumentista de mão cheia, ele tocou piano no primeiro disco de roquenrrou da história, ainda em 1951. mas além do talento, o que o fez entrar para a história foi o fato de ter "descoberto" a tina turner, de quem foi parceiro de cama e palco durante anos, além de sentar o catiripapo nela sem dó.

depois da separação, ela começou a fazer uma musiquinha pop muito da sem-vergonha. eu sei. fui no show dela no maracanã. dormi no meio.

as mulheres vão querer me trucidar por isso, mas não há como não relacionar a queda na qualidade ao fim dos tabefes.

memória literária

aos 12 anos contraí caxumba, e como sói acontecer, fiquei impedido de brincar por um tempão, por medo de que os gânglios "descessem" e me deixassem estéril (até hoje não sei se esse papo é verdade).

para me distrair durante a convalescença, entupiram-me de livros. foi quando tomei contato com as aventuras de pedro malasartes, asterix, o pequeno nicolau, e fiquei íntimo do pessoal do sítio do picapau amarelo. tornei-me um leitor compulsivo.

desde 2000 passei a anotar todos os livros que leio, inspirado pela autobiografia do akira kurosawa, que no começo da carreira (ou quando ainda só era cinéfilo, não lembro ao certo) listou durante alguns anos todos os filmes a que assistiu.

no começo, minha tarefa tinha o propósito exclusivo de contabilizá-los. no entanto, logo descobri que, a partir da anotação dos livros, conseguia me lembrar com perfeição do que havia acontecido comigo durante o período de leitura.

para quem tem sérios problemas de organização cronológica de eventos, esse foi um achado e tanto.

agora posso dizer com precisão o que se passou em determinada época apenas consultando o livro da época. e vice-versa.
a desse ano, até agora é:

- o sol é para todos - harper lee (janeiro)
- a epopéia de gilgamesh - desconhecido (jan.)
- terror e êxtase - carlinhos oliveira (jan.)
- o pastelão, ou solitário nunca mais - kurt vonnegut (fev.)
- o espião americano - kurt vonnegut (fev.)
- barba azul - kurt vonnegut (fev.)
- zen e a arte de manutenção de motocicletas - robert pirsig (fev.)
- anaconda - alberto vázquez-figueroa (abr.)
- in cold blood - truman capote (mai.)
- guerra dentro da gente - paulo leminski (mai.)
- mundos perdidos de 2001 - arthur c. clarke (jun.)
- febeapá 1, 2, 3 - stanislaw ponte preta (jun.)
- roberto carlos em detalhes - paulo césar araújo (jun.)
- livro dos homens - ronaldo correia de brito (jun.)
- a man without a country - kurt vonnegut (jun.)
- jesus kid - lourenço muttarelli (jul.) releitura
- revolução no futuro - kurt vonnegut (ago.)
- the old times - harold pinter (ago.)
- bom dia, preguiça - corinne maier (ago.)
- la vie en close - paulo leminski (ago.)
- travessuras da menina má - mario vargas llosa (set.)
- o supermacho - alfred jarry (set.)
- à mão esquerda - fausto wolff (out.)
- deus o abençoe, dr. kevorkian - kurt vonnegut (out.)
- junky - william burroughs (nov.)
- vale tudo - nelson motta (dez.)
- o mundo louco - kurt vonnegut (dez.)

04 dezembro 2007

mais uma novidade...

enquanto não sai o tratado sobre a dança do acasalamento (calma, nego véio!), descobri mais uma maneira divertida de perder tempo.

fiz uma gambiarra que transforma todos os textos em inglês, com um porém: os resultados são os mais estapafúrdios e nonsense que se possa imaginar. até que saem coisas engraçadas, quando é possível entendê-las. talvez a culpa seja do meu estilo excessivamente informal. é só ver o link "tarzan's version" aí do lado.

fiz isso pensando na única pessoa a se expressar no vernáculo shakespeariano que sei ter interesse em ler minhas bobagens, mas acho que o resultado final vai confundir mais do que explicar.

28 novembro 2007

tudo de boa

faz anos que não escuto rádio. com isso, a taxa de atualização do meu gosto musical caiu muito. por exemplo, para eu saber das novidades hoje, só através de trilhas sonoras, dicas de (poucos) amigos, ou algum som captado em festas. mas de forma alguma isso representou prejuízo.

de vez em quando também topo com algum videoclipe na tevê a cabo. quando é homem, dois acordes bastam para saber se mudo de canal. entretanto, essas cantoras tipo jennifer lopez, beyoncé, mariah carey, e as aguileras da vida, esses troços todos, quando aparecem eu até assisto. mas tiro todo o volume. só faço apreciá-las se contorcendo como lagartixas profissionais. porque é isso que elas vendem: libido. não se enganem, a música é apenas a embalagem. e ruim, diga-se de passagem.

mas nem tudo está perdido. há algum tempo venho acompanhando com surpresa a shakira. das que estão na crista da onda, acho ela a única que tem feito uma musiquinha bem decente. além de cantar bem e ter um timbre bastante interessante, ela é um pitéu e possui o único par de coxas capaz de rivalizar com meu fetiche pelo sovaco cabeludo da madonna.

mas antes que as moças torçam seus lindos narizinhos me considerando uma espécie de sátiro babão (tenho certeza que os homens concordarão com cada vírgula do que bostejei), saibam que não estou só: tanto que a moça foi escolhida para cantar a trilha sonora do filme amor nos tempos de cólera, que aliás é bacana (vejam o trailer).

a propósito, o que me motivou a escrever foi o novo clipe dela. dá licença, que eu preciso ir lá dentro apanhar o babador...

24 novembro 2007

paul is not dead, he just smells funny

qualquer fã de beatles mais hidrófobo conhece a lenda de que o paul mccartney morreu e foi substituído por um sósia.

o que, vai dizer que nunca ouviu essa história? experimente digitar paul maccartney is dead no google para ver o que acontece. são mais de dois milhões de páginas sobre o assunto!

as evidências seriam inúmeras, e as pistas estariam espalhadas pela obra dos beatles, desde as capas do sgt. pepper's e de abbey road, até algumas músicas que, tocadas ao contrário, contariam a "verdade". de minha parte, nunca dei ouvidos a tais baboseiras, pela qualidade constante de seu trabalho posterior, e por considerá-las fruto de gente com bem pouca coisa pra fazer.

entretanto, outro dia confesso ter ficado com a pulga atrás da orelha ao ver a foto a seguir:
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dê um clique e repare nas nas costeletas do homem. o verdadeiro sir paul mccartney, cavaleiro da rainha da inglaterra, assumiria os fios de cabelo branco com dignidade. essa tinta acaju na cabeça só pode ser obra de um impostor. socorro!

22 novembro 2007

entropia

a partir do nada, surge a semente em estado de latência, que nasce, cresce, atinge a maturidade, entra em decadência e morre. fim.

temos o privilégio de acompanhar de perto o milagre do ciclo inexorável da vida acontecendo a cada momento, conosco mesmo e com tudo à nossa volta, mas raramente nos damos conta disso.

além do meu próprio, um processo em especial tem me interessado ultimamente. entretanto, mau cientista que sou, a paixão pelo objeto leva-me a alterar os dados, como se interferindo no andamento da experiência eu fosse capaz de evitar os resultados. mas deus não joga dados e jesus não tem dentes no país dos banguelas.

não há força capaz de impedir o destino. por maior que seja o amor. "a única coisa a fazer é tocar um tango argentino", disse o poeta.

e não me venham chamar de cassandra.

11 novembro 2007

louvação

deus salve a nossa senhora da farmacopéia do juízo frouxo.

aqui estou a vossos pés.

como diria o robert crumb, how perfectly goddamn delightful it all is, to be sure.

e o que é esse calor de chocadeira que anda fazendo, minha gente?

10 novembro 2007

quero ser cab calloway

...ou pelo menos, ter seu suíngue.



a animação do leão marinho foi toda feita em cima das imagens do próprio cab dançando.

a noite é uma criança

querido diário, há uma semana ando num ânimo péssimo, dando bronca até para bom-dia, mas ontem tava demais. nem eu estava me agüentando.

a salvação foi caroline café me convidar para a coisa mais legal do mundo, que é jogar conversa fora em mesa de bar. aí percebi o quanto estava com saudade das pessoas.

como não queria ter que pegar condução pra beber, rumamos para o capela. tracei uns oito chopes, que desceram como água. ela repetiu pela pentelhonésima vez que foi ali que madame satã matou geraldo pereira, e mais uma vez expliquei que não tinha sido naquele capela, e sim no antigo, no largo da lapa.

caroline café não estava bebendo, e queria comer alguma coisa láite, depois fazer mercado, faxina, sei lá, essas coisas que as mulheres adoram. então propus que dali seguíssemos para o mercadinho, onde chamamos outros dois outros comparsas de copo, nego véio e gabi.

nego véio levou metade da noite contando suas desventuras com outro amigo nosso para comprar um laptop nos subúrbios de roma, onde césar perdeu as botas. o mercadinho não estava rendendo, e posto que a sede era de anteontem, descemos até o lamas, para ficarmos idem.

lá entornamos mais uma fábula de chopes. mostrei para eles o machado de assis escondido na foto do pulmão que ilustra as costas dos maços de cigarros, e comemos um sei-que-lá à piamontese (ou será à piamontesa? cartas para esse endereço).

na saída, ainda encontrei a maffalda com um gringo a quem ela chamava "gringo", mas que falava português como se fosse gente grande. cheguei em casa sabe-se deus como, desabei na cama de luz acesa e as roupas espalhadas pelo chão.

de manhã fui botar a roupa para lavar e encontrei no bolso da minha camisa um bilhete escrito numa toalha de papel, com a minha própria letra, onde se lia:

por que você acha que só mulher pode ser mãe?

vai entender...

09 novembro 2007

frase pra inglês ver

deu no globo: 'Exterminador do Futuro' tem a frase preferida do cinema. sinceramente, "i'll be back"?

não posso considerar séria uma lista que exclui
- "i've always depended on the kindness of strangers" (um bonde chamado desejo);
- "i'm ready for my close-up, mr. de mille" (crepúsculo dos deuses);
- "it's good to be the king" (a história do mundo).

03 novembro 2007

diálogo de uma tarde de compras

ele - você reparou como era bonita a moça que atendeu a gente? parecia meio oriental, asiática...

ela - não reparei nela, não. só vi as unhas, pintadas de vermelho.

ele - as unhas? nem prestei atenção.

ela - isso mostra bem que você é homem e eu sou mulher.

31 outubro 2007

papa-anjo

acredito que todo mundo deve ter liberdade para fazer o que quiser com o próprio corpo, desde que assuma a responsabilidade por seus atos e depois não aporrinhe ninguém. por isso sou favorável à descriminalização das drogas e do aborto.

esse segundo assunto me chamou a atenção ontem, quando, na volta do trabalho, topo na cinelândia com uma manifestação nas escadarias da câmara dos vereadores de um suposto grupo "a favor da vida".

posso pensar em argumentos científicos, psicológicos, sociais, humanistas e até malthusianos para defender a interrupção de uma gravidez. entretanto, o único argumento em contrário é ordem divina. e contra crença e fé não há debate.

enquanto pensava nisso, escuto uma das manifestantes dizer:

-- as pessoas falam em direito da mulher, mas o que dizem do direito de um ser inocente e indefeso à vida?


peraí, se a questão é defender o direito à vida de seres indefesos, o que me dizem do tratamento cruel dispensado aos frangos, vacas, carneiros e outras delícias criadas apenas para o abate?

parece tratar-se de um caso de dois pesos e duas medidas. porque se emplaca a modesta proposta do escritor-patê jonathan swift, será que eles defenderiam a mesma posição com tanta veemência?

por via das dúvidas, a partir de agora só discutirei a legalização do aborto com vegetarianos.

morfologia ou semântica?

iPod + iPhone = iPhode?

29 outubro 2007

pérolas do mundo corporativo


em tom de galhofa, uma colega de batente me traz um texto que ela recebeu para divulgação interna, onde se lê:

"(...) o portal amplia, portanto, a visibilidade das atividades das unidades".

não merecia o primeiro prêmio no mundial de aliteração?

e ainda ousam questionar o porquê de contratarem tantos jornalistas...

25 outubro 2007

nós "semo" tatu!

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há um mês e pouco tatuei meu braço direito.

lá em casa sempre se considerou tatuagem coisa de marginal. o assunto era tão distante de nossa realidade, que discuti-lo seriamente pareceria um absurdo risível.

até a adolescência, jamais havia pensado na possibilidade de me tatuar. a exceção foi quando os hormônios resolveram jogar pingue-pongue com meu raciocínio, e, influenciado por uma matéria na falecida revista "animal", pensei em tatuar meu rosto todo, a exemplo de horace ridler, vulgo "o grande omi" (sem trocadilho).

nessa mesma época, cultivei o desejo de pular de um avião sem pára-quedas, de modo que o que eu digo não se escreve.

lembro do meu pai dizendo, quando as meninas começaram a prestar atenção em mim (porque até então só eu as via), que "mulher tatuada, ou é perdida ou já se perdeu na vida". essa opinião acabou sendo revista anos depois, quando tanto minha mãe (já separada) quanto minha irmã pintaram os corpos, por motivos diferentes.

minha irmã, para completar, meteu até uns piercings no "embigo", nariz e orelha, para seu desespero. ao vê-la "furada como um índio", perguntou, desconsolado: "você está com algum problema, minha filha?" juro que fiquei emocionado.

a idéia de me tatuar voltou na época do mestrado, quando assolado pelo desespero de escrever minha dissertação, resolvi que se saísse de tal enrascada com a sanidade apenas um pouco (mais) avariada, marcaria o período na pele.

no começo de 2004 tive minhas primeiras idéias. mas no fim, achei o urobouros meio pretensioso, uma amiga comparou o "allah" ao desenho de um ralo, e o salsão, meu consultor para assuntos macumbísticos, com quem eu morava na época, disse que caveira é uma imagem carregada.

três anos depois, equivocadamente me sentindo dono do meu nariz, mas já capaz de pagar minha contas sozinho, resolvi concretizar o plano, e quando esbarrei com umas "calaveras" do dia dos mortos mexicano, tive a certeza do que buscava.

sempre me atraiu a idéia da morte como celebração, como acreditam os mexicanos. acho que há algo de anárquico em subverter a tristeza da perda, talvez porque ela traga implícita o fim da ilusão de posse. afinal, ninguém é de ninguém, nem é dono de nada. portanto, encontrar a morte seria libertar-se de todas as coisas terrenas, de todas as agruras da vida.

voltando ao assunto, perdi o medo e fui ao king seven tatoo, estúdio recomendado por nove entre dez tatuados responsas que conheço. além de gente finíssima, o pessoal de lá contou umas histórias engraçadíssimas (depois eu conto). mostrei umas referências pro nino, que sacou o espírito, acrescentou uns rococós em volta e ainda meteu um dentão de ouro. classe!

quem disse que tatuagem vicia, tava certo. se achar um desenho bacana, também rabisco o outro braço.

16 outubro 2007

nota mental

comentário de uma amiga sobre a sensação de se chegar aos 60 anos, no dia de seu aniversário:

não dói. mas dá um medo...

14 outubro 2007

à sinistra

li um troço bacana na "norótica", que resolvi imitar: trata-se de pegar o livro mais próximo de você (mas não pode escolher), abrir na página 161 e publicar a quinta frase. tem mais, mas como não gosto de alimentar correntes, não repasso para ninguém.

"Mas o dinheiro da venda dos jornais ele acabava invariavelmente gastando em gibis."

o trecho é de à mão esquerda, do fausto wollf. um dos melhores livros que já li, e arrisco dizer, um dos maiores romances da literatura brasileira recente. talvez um dos mais injustiçados, também. porque se não fosse leitor do "lobo", jamais teria ouvido falar nele, que foi até agraciado com o jabuti, em 96, se não me engano.

quanto à frase, se trocar "jornais" por "alma" e "gibis" por "livros", fica igualzinho a alguém que eu acho que conheço.

forma e conteúdo

dá pra resistir, não, camará. ó o suíngue do caboclo.



Ebony eyes - Stevie Wonder

She's a Miss Beautiful Supreme
A girl that other wish that they could be
If there's seven wonders of the world
Then I know she's gotta be number one
She's a girl that can't be beat
Born and raised on ghetto streets
She's a devastating beauty
A pretty girl with ebony eyes

She's the sunflower of nature's seeds
A girl that some men only
find in their dreams
When she smiles it seems the stars all know
Cause one by one they start
to light up the sky
She's a girl that can't be beat
Born and raised on ghetto streets
She's a devastating beauty
A pretty girl with ebony eyes

When she starts talking soft and sweet
Like birds of spring her
words all seem to sing
With a rhythm that is made of love
And the happiness that she only brings
She's a girl that can't be beat
Born and raised on ghetto streets
She's a devastating beauty
A pretty girl with ebony eyes

12 outubro 2007

valei-me pelos outros

hoje é sexta-feira de feriado (sei lá qual), acabei de chegar em casa para pegar um dinheiro e esticar o programa de praia em algum bar. ao dar um telefonema convidando uma amiga para se juntar à trupe, aprendo mais uma lição de um curso expresso de comportamento humano do qual nem me sabia inscrito.

já tive amores que me trocaram por outros homens, mas sempre mantive um mínimo de dignidade. nunca importunei ex-namorada que me largou. se tivesse do que me queixar dela -- coisa que sempre se faz quando se é "largado", mesmo que tenha sido eu o agente da separação -- tinha a decência de chorar minhas pitangas para os amigos, em mesa de bar. jamais liguei de madrugada ou chamei a própria na cara de puta sem-vergonha nem nada do gênero.

por isso não há como não sentir uma certa revolta quando vejo baixarias desse calibre acontecendo com uma amiga querida de longa data. acompanho a história à distância, e até aconselho quando acho que tenho abertura para tal.

filho de xangô que sou, não agüento injustiça, e poucas não são as vezes em que sinto o sangue ferver nas orelhas quando a vejo caluniada. a vontade que dá, mesmo fraquinho que sou, é ir até o camarada e sentar-lhe uma porrada nos cornos do qual ele nunca se esquecerá, e da qual se quiser se vingar, vai ter que contratar uns peemes para me dar uns tecos. torcendo para que acertem, porque se errarem, eu volto para encestá-lo com gosto.

nesse momentos, é preciso respirar muito fundo e lembrar que a demanda não é minha. não posso resolver os problemas dos outros. portanto, vou tomar uma ducha e encontrar os amigos. antes de sair de casa vou rezar para o diabo não me tentar, porque pode dar um merdê dos grandes.

então, só me resta apelar:

Justiça, Xangô, justiça!
Justiça, justiceiro de Oxalá!
Aqui se faz, aqui tem que pagar
Quem planta rosa não pode colher jasmim
Quem planta vento colhe tempestade
Quem faz o bem não pode fazer o mal
Quem faz o mal a si mesmo se destrói
Justiça, Xangô!

10 outubro 2007

"minhas férias"

não tenho escrito porque estou de férias. tirei quinze dias para dar uma acelerada na "montagem" da minha casa, e até que tive um relativo sucesso. salvo um ou outro sobressalto, os dias têm sido plácidos, como devem ser os dias de folga. poucas preocupações, livros, boa comida, alguma bebida, livros e descanso em demasia.

perdi um pouco do tom esverdeado, e talvez tenha ganhado peso, mas não posso dizer ao certo. desde que adotei o princípio de não subir em balanças, descobri que vivo mais feliz. hoje meu referencial para esses assuntos são as calças, e elas estão mais frouxas. dois cintos ganharam um furo extra cada.

nas minhas peregrinações em busca de móveis, descobri uma livraria na real grandeza, entre a voluntários e a visconde de caravelas, que está se desfazendo de grande parte de seu estoque. comprei uma pá de livros, a preços que variavam entre cinco, dez e quinze pilas. foi um estrago no bolso.

cheguei à conclusão que falei tanto em computador por dois motivos: primeiro, para um geminiano disperso e absorvente como eu, a internet foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. encontro de tudo, e quanto mais acho, mais procuro. é uma deliciosa corrida de ratos. segundo, meu computador novo é o primeiro que comprei, de maneira que pude, finalmente, formatá-lo do meu jeito. a primeira coisa que fiz foi me livrar do bill guêitis, daí a novidade. como é doce a ilusão de poder...

enfim, durante o tempo que fiquei sem bostejar, acumulei um monte de lixo para aporrinhar meus eventuais leitores, mas jacaré tá com disposição de escrever? nem eu.

como diria meu herói macunaíma, "ai, que preguiça..."

05 outubro 2007

brinquedinho novo

ninguém perguntou, mas digo assim mesmo. achei mais uma nova maneira de perder tempo online, e ainda dar dar uma melhorada no blog. o site abaixo tem acervo de música, vídeos e o escambau, e ainda deve dar para abrir no trabalho, onde o you tube não pega. saca só o frank zappa em "king kong":

mais uma daquelas listas

achei na tatipiv, meio sem entender o contexto, mas gostei. é sobre músicas apropriadas para diversos contextos:

1* pra dançar freneticamente: shout, otis day and the knights.

2* pra dirigir a toda numa estrada deserta: the grand wazoo, frank zappa.

3* pra adormecer: estate, com joão gilberto.

4* pra tocar diariamente no seu despertador: give me love, george harrison.

5* pra cantar num karaokê: a minha teimosia é uma arma pra te conquistar, jorge ben.

6* pra fornicar: apesar do péssimo termo, o bolero de ravel. deve ser meio lugar comum, mas não inventaram nada melhor.

7* pra fazer amorzinho: um pouco contrariado com outro termo indecente, e meio sem entender a diferença para o item anterior (seria mudança de intensidade?)... dindi, com a gal.

8* pra servir de trilha-sonora pro filme da sua vida: i'm feeling good, nina simone.

9* pra tocar no telefone enquanto você aguarda ser atendido por aquela maldita prestadora de serviço: blessed relief, frank zappa. pra ter paciência com os seres inferiores.

10* pro seu velório: in the mood, glenn miller. com direito a muito uísque e cachaça.

atualização:
correção nos itens 6 e 7: trilha sonora pra furunfar, calminho ou nervoso, é songs in the key of life, do stevie wonder. os dois álbuns, de preferência. de cabo a rabo.

03 outubro 2007

e por falar em plágio...

baixaria na rede. parece que a coluna do fausto wolff no jb em 30 de setembro teria sido plagiada de um texto publicado na rede há mais de cinco meses pelo marconi leal.

vítima de um plágio insignificante comparado a esse, me solidarizo com a indignação do marconi, de quem me tornei leitor há pouco tempo, graças ao sopa de tamanco (link na coluna da direita). por outro lado, acompanho o fausto há anos, e me dói imaginar que ele tenha sido capaz de (na melhor das hipóteses) um vacilo desses.

tomei conhecimento do assunto ontem, através de um editorial publicado no site do fausto. o marconi também tem comentado o assunto, em capítulos, desde 1o de outubro. recomendo a leitura de ambos.

atualização:
fausto explicou-se hoje, com a verve que lhe é peculiar. confesso que achei as desculpas meio canhestras, não sei se agradarão. de qualquer forma, este leitor agradece a consideração.

não falo, computo

marinho é um amigo de longa data. se algum dia houver juízo final (minha religiosidade, ou falta dela, variam de acordo com a conveniência), a única coisa que poderei alegar a meu favor diante de deus é que fiz uma pessoa gostar de ler. essa pessoa é o marinho.

o ritmo de nossas vidas fez com que nos vejamos pouco, mas hoje em dia ele me indica livros. e nossos papos regados a decalitros de café nunca são suficientes para atualizarmos nossas novidades literárias. no entanto, essas sessões de "filosofices escalafobéticas" são sempre muito divertidas.

programador de talento ímpar, marinho também me ensinou que existe beleza e criatividade na tecnologia. talvez se não fosse por ele, hoje eu ainda ficasse perguntando aos outros como se mexe no msn. mas ontem nos falamos rapidamente ao telefone, e ele reclamou que só ando escrevendo sobre o meu computador. vou isentá-lo de sua parcela de culpa, e ao mesmo tempo pedir-lhe desculpas por retornar ao assunto. pela última vez, juro.

é que a pancada, uma colega dessa categoria estranha que são as pessoas que só conheço através da internet, fez um comentário num bostejo abaixo que merece resposta. reproduzo:

Voce nao pediu opiniao, mas vc sabe como eu sou abelhuda....Segundo meu marido, o kurumim é mais pra ignorante, digo, amador. Pra cobra em informática (rasteja e leva paulada). Falando sério, pra ele os scrips do kurumim nao rodam perfeitamente... ele gostou mto do ubuntu pq nao tem tanta "porcariada" (entenda como quiser), mas diz que ambos rodam todos os aplicativos perfeitamente.
Voce vai particionar o disco e instalar um em cada partição?
pancada | 03.10.07 - 12:47 am |

********

pancadinha,

para não desperdiçar trocadilho, botei (n)o ubuntu, mas num particionei nada, não. testei antes o kurumin, minha escolha inicial pela facilidade da língua, mas ao instalá-lo a resolução de tela apareceu errada, talvez por barbeiragem minha. as imagens ficaram descentralizadas, faltando de um lado e sobrando do outro. medrei. como o outro deu certo de cara, nem pestanejei.

o bicho é levinho, roda bem, mas de vez em quando tomo umas surras. o linux é uma mudança de mentalidade em relação à tecnologia. é sair do ostracismo de apenas olhar para a janela (windows), e meter a mão na massa.

nesse pouco tempo de uso, confesso já ter perdido um par de noites tentando instalar bobagens que, no sistema operacional antigo, seriam meros plug-and-play. mas é imensa a sensação de vitória que um leigo como eu sente ao desvendar os mistérios contidos nas linhas de código.

é bem verdade que, ao terminar, mal consigo descrever o que fiz (o que dirá repetir as mesmas coisas), mas quem se importa? eu não. apenas respiro fundo, à espera do novo desafio, com esperança de um dia entender o funcionamento desta joça.

pronto, falei. não encherei mais o saco de ninguém com esse assunto. só com outros.

01 outubro 2007

ctrl c ctrl v na mão grande

agora descobri o que é o sucesso. plagiaram meu blog. fiquei surpreso e até um pouco perplexo, mas no fundo vi a coisa como um atestado de qualidade. afinal, ninguém quer copiar a mediocridade (embora percebê-la seja difícil, e nesse caso, errado estaria eu. mas, parafraseando aquele filme clássico, dr. divago).

nem adianta espernearem, me oferecerem dinheiro e virgens em holocausto, que não dou o link. só digo que o autor identifica-se como madeira de dá (sic) em "DOIDO"(sic). para bom "googador", meia dica basta.

relutei, mas escrevi ao sujeito, porque ele também tarrou o subtítulo e o usou como perfil. sem nem ao menos lê-lo, porque o cabra parece ser baiano (pelo menos, escreve coisas sobre o estado), e o texto diz "carioca", e "botafoguense". é preguiça demais.

para os curiosos, segue a tônica do texto. perdi o original e não pude recuperá-lo, porque os comentários lá passam por moderação. se ele se sentir ofendido, talvez nunca consiga reler o que escrevi. foi mais ou menos assim:

meu caro amigo madeira,
percebo com orgulho que você utilizou um nome quase idêntico ao do meu blog para o seu. sinal de que os quatro anos de escritos na rede estão dando certo. ou que, pelo menos na hora do "batismo", fiz uma escolha feliz.

também fico lisonjeado ao ver meu subtítulo copiado como seu perfil. as definições vieram do dicionário houaiss, mas os números 3 e 4 foram criados por mim. o "carioca" não deve se aplicar a você, que parece ser baiano. talvez isso acabe por confundir seus leitores.

no mais, sucesso com o blog. mas da próxima vez use um pouco mais a criatividade, e não copie tudo dos outros.

um grande abraço,

marcelo.


atualização:

parece que o texto foi aprovado e está aqui. como não vi que tinha moderação, bostejei duas vezes.

26 setembro 2007

marcado na agenda

dia oito de dezembro não me convidem para nada.

Organizadores confirmam show do The Police no Brasil.

quem quiser se juntar a mim na empreitada será bem-vindo.

ps:a banda é a única exceção ao fiasco que foram os anos 80.

24 setembro 2007

brinquedo novo

até as pedras portuguesas do calçadão da atlântica sabem que estou sem computador. mas se tudo der certo, os verbos vão para o passado hoje à noite.

depois de acreditar que a compra de um computador de segunda mão iria me causar menos dor de cabeça do que um novo (e ainda ajudaria uma amiga), vi que a espera seria demasiada. de maneira que perdi os pudores, raspei o tacho e comprei um estalando de novo.

é verdade que ainda não pude usá-lo, porque como avisei, decidi mandar a microsoft pro espaço. consultei dois colegas de trabalho conhecedores de linux, e cada um gravou um cd com um sistema operacional de sua preferência: o luis escolheu o ubuntu, e o dudu, o kurumin. vou testá-los hoje à noite para saber qual adotar.

já vi que minha noite vai ser animadíssima. um dos pontos altos da vida de solteiro...

17 setembro 2007

vou ali e volto já...

computador só daqui a duas semanas.

até lá, divirtam-se com o povo aqui à direita, ou vão lamber sabão.

beijundas.

10 setembro 2007

aviso aos navegantes

não confundam o aparente descaso com abandono de domicílio.

é que o computador de casa morreu mesmo. agora não adianta nem ele cismar de ressuscitar, porque dessa vez perdi a paciência pra valer.

vou trocar por outro, e já tenho em vista uma proposta de escambo por um de segunda mão. o que não deixa de ser uma evolução, visto que do antigo fui o terceiro proprietário.

o bom é que, nesse meio tempo desconectado, redescobri as ruas, o mar, as leituras e os dias de sol, embora a pele ainda não tenha perdido de todo o tom esverdeado. acho que, por enquanto, o corpo está apenas repondo os enormes déficits nos meus estoques de vitamina d, para só depois impressionar os melanócitos.

me aguardem. vocês ainda não estão livres de mim.

30 agosto 2007

macca sabe tudo!

Every night - Paul McCartney

Every night I just wanna go out, get out of my head
Every day I don't want to get up, get out of my bed
Every night I want to play out
And every day I want to do ooh ooh oh oh

But tonight I just want to stay in
And be with you,
And be with you.
Ooh ooh, believe me mama.

Every day I lean on a lamp post, I'm wasting my time
Every day I lay on a pillow, I'm resting my mind
Every morning brings a new day
Every night that day is through ooh ooh oh oh

But tonight I just want to stay in
And be with you,
And be with you.
Ooh ooh, believe me mama.

***

24 agosto 2007

é pique, é pique, é pique!

comentei com uma amiga recém-leitora sobre um troço que tinha bostejado em 2003. ela se assustou com o tempo de vida do blog.

pois fui checar a data de início, e não é que no dia 13 fez quatro anos que entupo a rede com minhas bobagens? pior do que uma sexta-feira 13, só uma segunda-feira 13 (inventei esse ditado outro dia no trabalho).

na época em que comecei morava na casa da minha avó, tinha acabado de terminar um namoro de ano e meio, estava desempregado e constipado com um mestrado.

nesse meio tempo mudei de casa cinco vezes, casei e descasei, tive três gatinhos de estimação, terminei o mestrado aos trancos, e arrumei um emprego em que provavelmente devo me gastar pelo resto da vida profissional.

também aprendi que leveza é a alma do negócio, que afeto não é feito para se economizar, e que até a gente morrer, é tudo vida. e que o melhor é não querer nada. meu projeto de vida tem sido esse: não querer nada. e aproveitar o que vier.

acho que os textos melhoraram um pouquinho. tento ser menos metido a gaiato e, principalmente, menos sabichão. querer parecer inteligente é, na minha opinião, o primeiro passo para se escrever mal. mas tenho muita vergonha dos escritos antigos, assim como terei vergonha dessas linhas daqui a quatro anos. se chegar lá.

enfim, nós, que insistimos na vida, os saudamos. felizes bordunadas!

23 agosto 2007

cadê meu nariz de palhaço?

acabei de ler n'o globo que produtores músicais e artistas foram ao congresso pedir isenção fiscal para a produção fonográfica nacional. a mátéria diz que isso já acontece com jornais, periódicos e livros.

peraí, livros não pagam impostos?! então porque diabos eles continuam custando tão caro? as editoras devem estar faturando os tubos! sim, porque alguém acredita que autores ou designers de capas (ou como quer que sejam chamados atualmente) andam por aí desfilando de carro importado ou esquiando nas férias em aspen?

vai perguntar para o cony, o veríssimo, o fausto wolff ou o marcelo rubens paiva, por exemplo, se eles não preferiam deixar os jornais para se dedicarem apenas à literatura? a mais-valia deve ser usada para negociar o passe de best-sellers como o paulo coelho e que tais.

sei não, mas parece que os músicos estão sendo usados como bois-de-piranha das gravadoras. é a conseqüência do modelo de divisão do trabalho taylorista/fordista aplicado às artes, que dá aos artistas o status de "seres elevados", apenas responsáveis pela parte da "criação", enquanto os aliena do controle de sua produção.

como muitos aceitam o papel de "prima-donas" (muitas vezes por preguiça de pensar), fica fácil para os tubarões da indústria cultural manipular os fatos, na tentativa de dar sobrevida a um modelo de negócios que a troca de arquivos digitais já dinamitou há muito tempo. é por isso que endosso a pirataria musical e literária.

a morte e a morte do meu computador

o cerco (ou seria o circo?) está se fechando. no domingo meu computador teve um segundo "avs" -- acidente de velhice do sistema.

chego em casa de manhã, feliz da vida, e vou ver a quantas andam as músicas e filmes que estava baixando. mas eis que ele tinha reiniciado (malditas atualizações de sistema!), e, como de costume, a setinha do cursor encontrava-se congelada no meio da tela.

é preciso abrir um parêntese para explicar que esse computador tem, brincando, mais de dez anos. e embora quase nenhum componente hoje seja da configuração original, sou dos que acreditam que o funcionamento da máquina é "moldado" pelo usuário.

isto posto, entre outras manias e achaques, meu "cérebro eletrônico" exige ter o mouse bolinado enquanto está sendo ligado, sob a pena de congelar o cursor. fecha o parêntese.

tentei reiniciá-lo, quem disse que o féla voltava? a cada tentativa, aparecia uma novidade, mas nada de funcionar. liguei para a tati, que entre outras qualidades, sabe tudo de computador. é quase uma susan calvin. o diagnóstico foi formatação imediata.

ela passou a tarde de segunda inteira aqui para descobrirmos que o maior e principal dos discos rígidos (que, num acidente semelhante anos atrás ganhou dela o carinhoso apelido de "merdão") estava queimado. passou-se o sistema operacional para o "merdinha" (disco secundário, de apenas 3 gigas), mas nada de internet.

depois de horas de tentativas de ligações para a net (incrível, não briguei com nenhum atendente, mesmo eles me indicando os processos mais bisonhos para restabelecer a conexão), consegui agendar uma visita para a manhã do dia seguinte.

o cara chegou na hora marcada e tomou uma canseira até quase meio-dia. e descobriu que a placa de rede também já tinha passado desta pra melhor. a gambiarra que ele fez demorou o resto do dia para funcionar.

como saldo final, além de ter perdido todos os arquivos e dispor de apenas uma vaga lembrança em disco, a placa de som também não funciona, e, apertem os cintos, o processador de textos sumiu! escrever, agora, só no bloco de notas. ma-ga-vi-lha!

não tem jeito, vou ter que comprar um novo. e tome facada no orçamento. mas para a próxima vez, já tomei uma decisão: uíndous, nunca mais! vou me aproveitar do conhecimento de uns povos do trabalho e meter um openoffice na máquina nova. adeus, biu guêitis!

se alguém foi no link acima e se interessou pela empreitada, basta entrar aqui para baixar a bagaça. o bom é que, o processo de migração certamente vai dar novo fôlego aos bostejos. aguardem!

18 agosto 2007

eu não tenho pé

torci o pé. mas a maneira como aconteceu poderia figurar na série "se eu contar ninguém acredita". até porque, não tem ninguém acreditando.

mas olha, o negócio foi assim:

na quarta à noite, voltei do cinema empolgadíssimo. não sei se tanto pelo que passou na tela ou na platéia. afeto é bom e feito para se gastar, pensava. sabe-se lá se daqui a pouco você vai estar comendo capim pela raiz?

cheguei, fiz um chazinho de camomila e outras mumunhas para dormir cedo, e nem liguei a tevê para fazer barulho (porque para assistir tá cada vez mais difícil, não tem net que salve). peguei um livro muito do subversivo e li até cochilar.

a luz acesa me incomodou e acordei para apagá-la. devo ter dormido sobre a perna esquerda, porque ela estava completamente dormente (e não é que o sacana do ortopedista teve a cara-de-pau de dizer que "isso acontece com muita freqüência quando se toma umas cachaças", sendo que eu estava purinho?).

como o pé estava completamente bobo, devo tê-lo apoiado errado, porque ele virou para dentro, com meu peso em cima. despenquei de dor, mas o sono era mais forte e me arrastei de volta para a cama.

no dia seguinte, fui trabalhar, mesmo sofrendo uma dor excruciante. até porque a carteirinha do plano de saúde estava na gaveta do escritório. caminhar do ônibus ao trabalho foi uma tarefa de tirar o fôlego. literalmente.

cheguei, explanei o caso para a chefia, desci para o serviço médico, me deram um analgésico e me mandaram de táxi (exclamação) para um ortopedista. ainda ganhei o auxílio luxuosíssimo de uma colega de trabalho como acompanhante (outra exclamação).

radiografia, a piadinha supracitada, edema e estiramento de ligamentos de diagnóstico, dez dias de fisioterapia. apenas um dia de dispensa, e porque eu pedi. chegando em casa, cruzo com salsão no botequim. o sacana me pergunta se vou competir no parapan. fico mais um dia de molho por conta própria, pois a dor ainda era muita.

mais tarde a piv me viu, disse que estiramento nada, o roxo denunciava ligamentos rompidos. levei um esporro por ainda não ter comprado o antiinflamatório, mas ganhei emprestado o "robofoot" dela, uma bota que imobiliza o pé e o tornozelo. para vocês poderem visualizar, a geringonça é algo entre o pé do robocop e aqueles aparelhos de paralisia infantil.

dois dias depois, lá vou eu, todo pimpão, a caminho da labuta. as mulheres me olham na rua, mas desconfio que não é pelas minhas doces olheiras. quando vê minha bota nova, minha chefe diz que não era para estar lá, que se um fiscal do trabalho aparecesse, era multa certa para a empresa.

a doutora do serviço médico confirma e me recomenda voltar ao ortopedista e pegar um atestado decente. eu realmente nem poderia ter entrado no prédio com aquele calçado.

resumindo: vou ficar mais uma semana cevando, olhando para o teto, lendo e vendo filmes. preferia tirar esse tempo para viajar, ou, pelo menos, ter uma moça para cuidar de mim.

hipotética trajetória poética

(nas letras do paulo leminski)


vi vidas, vi mortes
nada vi que se medisse
com o azar que tive
ao ter você, minha sorte
***

escurece
cresce tudo
que carece
***

quem me dera
até para a flor no vaso
um dia chega a primavera
***

arisco asco
a partir de ti refaço
uma alma em pedaços
***

longo o caminho
até uma flor
só de espinho
***

vertigo
ver te
comigo
***

nu como um grego
ouço um músico negro
e me desagrego
***

essa vida que quero,
querida

encostar na minha
a tua ferida
***

la vie en close
c'est une autre chose

c'est lui
c'est moi
c'est ça

c'est la vie des choses
qui n'ont pas
un autre choix

09 agosto 2007

invasores de corpos

nunca fui um sujeito magro. meus pais contam que, no primeiro ano de vida, quando tentavam me colocar sentado, o bebê-eu caía esparramado para os lados, como uma espécie de joão-bobo ao contrário.

o padrão seguiu-se por grande parte da minha vida, sempre mais afeito que fui aos livros e aos desenhos do que aos esportes. pelo menos até o período entre os quatorze aos vinte e três, quando, impulsionado pelos hormônios da adolescência, e depois pela urgência de agradar o sexo oposto, espichei (não muito, vide minha altura) e emagreci.

no entanto, a descoberta do álcool, do tabaco e de drogas como carboidratos de várias procedências, ketchup e maionese, fizeram-me retornar às origens rotundas. mas foi a aparição de uma presença muito especial na minha vida que me tirou da escuridão. não, não me refiro a jesus, e sim ao colesterol.

desde que nos apresentaram formalmente, saltei da montanha-russa de peso, procurando maneirar na gastronomia. em compensação, fiz um trato comigo mesmo de não subir mais em balança. e assim vamos vivendo em paz.

mas não era nada disso que tinha a dizer. minha intenção era contar algo do tempo em que um imeio selou o fim do meu primeiro casamento. sim, amiguinhos, devo ter sido o desbravador das separações via internet (a propósito, se o guiness estiver interessado, ainda devo ter uma cópia impressa em algum lugar).

entre as várias tolices que fiz nesse período, a maior delas deve ter sido me envolver com outras mulheres sem ter cicatrizado a ferida. creio que fui responsável por algumas semanas de análise a mais de pelo menos duas. aliás, se alguma delas estiver lendo estas mal-digitadas, gostaria que soubessem que sinto muito. não era eu naquela época. ou talvez fosse eu demais. sei lá.

enfim chegamos aonde eu queria: uma dessas moças era uma atleta dedicada -- principalmente para os meus padrões. ou será que academia não é esporte? tem gente que acha que fórmula 1 é. divago...

mas a moça era tão bacana que quis dar uma aprimorada no meu shape. para me estimular, apresentou um método muito ajeitadinho de exercícios chamado body for life, desses em que bastam dez minutos por dia para você passar de barbapapa a super-homem num piscar de olhos.

ela me trouxe uma série de planilhas, encapadas numa pasta transparente, com um disquete colado (era no tempo do disquete), para o caso de eu precisar imprimir mais folhas.

se bem me lembro, para o troço funcionar azeitado, eu deveria realizar uma série leve por tantos minutos, depois uma pesada e outra média, sempre pelo mesmo tempo, descansando entra cada uma. ou algo assim. e a cada semana entrariam novos exercícios, a duração aumentaria (ou diminuiria) à medida que o tempo passasse, até que, voilá! eu me transformaria no charles atlas.

tudo lindo, se não fosse por vários problemas. primeiro, um camarada que sai de casa meia hora atrasado para um compromisso achando que vai chegar pontualmente, como é meu caso, jamais conseguiria seguir esses minutos como manda o figurino.

segundo, cresci assistindo conan, o bárbaro. portanto, acredito até hoje que para um sujeito conseguir uma forma física situada entre o expressionismo e o realismo fantástico, como é o caso do schw@z&$wrrgueÇxnyegger, ele deve, no mínimo, passar mais da metade da vida acorrentado a uma pedra de mó, empurrando-a sem parar, ao som do canto do chicote, e exposto às intempéries. nunca vão me convencer que é possível ficar forte sem sofrimento.

e terceiro, quando ela me mostrou o livro de onde havia aprendido o método, eu perdi o respeito. e olha que ela é uma de inteligência acima da média. acima da minha, com certeza. mas é que vivi o suficiente para não acreditar em nenhum americano querendo ajudar cucaracho, principalmente os que estampam sorrisos cândidos congelados. pois o sujeito era bem assim. até achei a foto dele para provar.

esse papo todo veio à tona quando hoje, voltando do trabalho, estava prestes a começar a leitura de um livro que está na fila de espera desde meu aniversário. não é que, quando pego o marcador que veio de brinde da livraria, encontro uma foto da versão feminina do camarada? com um baita sorrisão psicopático, e o detalhe macabro -- um estetoscópio, o que sugere que a moça é médica! e deve ser, mesmo, porque tem um "dra." antes do nome dela. alô, povo de branco! podem rasgar seus diplomas.

essas figuras parecem as vagens alienígenas que tomavam as formas humanas no filme invasores de corpos, ou os clones "ipsilones semi-imbecis" do admirável mundo novo do huxley. assustadora é a impressão de que eles estão em cada vez maior número. medo.

08 agosto 2007

cinco músicas marcantes

1. "kid cavaquinho" - joão bosco e aldir blanc:
minha primeira lembrança musical é a versão da maria alcina para essa canção. achava engraçadíssima a voz dela, e o fato de a música conter as palavras "genésio" e "vagabundo". anos depois, já morando com salsão e gabi, perderíamos preciosos minutos fazendo análises sintáticas da letra para tentarmos descobrir a relação entre o "genésio", a "mulher do vizinho" e o narrador. até hoje não chegamos a nenhuma conclusão.

2. "heart of glass" - blondie:
desde cedo tive a sorte de desfrutar da companhia de mulheres mais velhas, como primas -- muitas --, e as amigas da minha irmã bete. numa das vezes em que moramos em brasília, no começo dos anos 80, tive a oportunidade de acompanhá-la em algumas festinhas. nessas ocasiões, tornava-me "mascote" das meninas, e recebia dos caras valiosos conselhos dos sobre como tratar as mulheres. além disso, fui apresentado para as músicas de gente grande. lembro-me bem do que se ouvia na época, mas fui contagiado pela debbie harry. principalmente depois que a vi no muppet show (até hoje é um dos meus programas favoritos).

3. "supper's ready", genesis:
posso dizer que -- estranhamente, devo ressaltar -- minha fase psicodélica começou com black sabbath. ouvi muito seus quatro primeiros discos. depois tive uma fase meio mahavishnu orchestra e emerson, lake & palmer, mas graças a deus passou rápido. o auge mesmo foi com o genesis. os discos da fase peter gabriel foram importantíssimos para minha formação. quantas vezes nas férias não abarrotamos o carro de um amigo, e seguíamos em direção à joatinga, prainha ou grumari, com essa música aos berros? quantas vezes não subi a cachoeira do primata, no jardim botânico, com seus versos na cabeça? é um tema épico de mais de 20 minutos sobre a batalha entre o bem e o mal, com direito ao retorno do messias e a convocação para a "ceia do todo-poderoso" (daí o título).

4. "o que é que a baiana tem?" - dorival caymmi:
aqui, se eu quisesse fazer justiça, teria que ter colocado a discografia inteira do caymmi, por isso escolhi essa por ser a mais representativa. foi ele quem me resgatou para os braços da música popular brasileira. foi só a partir de então que vieram joão gilberto, cartola, nelson cavaquinho e guilherme de brito, francisco alves e mário reis, a divina elisete, geraldo pereira, almirante, sinhô, donga, joão da bahiana, pixinguinha, clementina, cadê você? digo sem medo de errar que foi um dos germes que deu vida ao cordão do boitatá. enfim, até hoje ando atrás de saber o que é que a baiana tem...

5. "remember" - air:
meu onze de setembro começou em agosto de 2001. a bolha da internet tinha estourado, e com ela, meu emprego, meu casamento e minha casa. obrigado a voltar para a tijuca, morar com minha avó, com quem nunca tinha tido muita intimidade, resolvi encarar um mestrado. afundei na bibliografia recomendada dia e noite, passando em claro à base de cigarros e café. de vez em quando parava e escutava um cd. um dos que figuravam na bandeja era um do "air", uma dupla de quase-adolescentes franceses que abusam dos teclados e sintetizadores com timbres setentistas. quantos pôres-do-sol não assisti da varanda do meu pai (antes que construíssem um maldito arranha-céu em frente), filosofando sobre a incerteza do futuro, tendo apenas a esperança como sustentação. como no caso anterior, seria covardia escolher apenas uma, já que tinha também playground love, all i need e kelly, watch the stars.

se a brincadeira permitisse mais, eu ainda metia um billy paul, um frank zappa, um novos baianos, mas, por enquanto, é isso aí, pe-pe-pessoal.

03 agosto 2007

um país de dois

finalmente consegui baixar mother night, filme inspirado no livro "o espião americano", do kurt vonnegut. numa semana para lá de estranha, essa foi, sem dúvida, uma das boas coisas que poderiam ter acontecido -- embora nem de longe a única. ou a melhor.

há um trecho que não lembrava, em que o personagem principal -- um escritor americano recrutado para atuar como agente infiltrado de propaganda nazista durante a segunda guerra -- descreve seu amor pela esposa.

mesmo não sendo um vinícius, drummond ou rubem braga, o texto tem lá seus méritos.

Nenhum jovem na terra é tão excelente sob todos os aspectos que não precise de um amor incondicional. Bom Deus, enquanto os jovens desempenham seus papéis nas tragédias políticas com elencos de bilhões, o amor incondicional é o único tesouro real que eles deveriam procurar.

Das Reich der Zwei, o país de dois que minha Helga e eu tínhamos –- seu território, o território que defendíamos com tantos ciúmes, não ia muito além dos limites de nossa grande cama de casal.

Um pequeno país, liso, cheio de tufos e fontes, tendo minha Helga e eu por montanhas.

E, sem que nada fizesse sentido a não ser o amor, que estudante de geografia eu era! Que mapa eu poderia desenhar para um turista de um mícron de altura, um submicroscópico
Wandervögel [excursionista] andando de bicicleta entre um sinal e um cabelinho dourado encaracolado de cada lado do umbigo da minha Helga. Se a imagem é de mau gosto, Deus me ajude. Todo mundo deveria inventar brincadeiras para sua saúde mental. Eu simplesmente descrevi uma brincadeira, uma interpretação adulta de “Este porquinho” que era a nossa.

Oh, como nos apegávamos a isso, minha Helga e eu –- como nos apegávamos sem nos importar com nada!

Não escutávamos as palavras um do outro. Ouvíamos apenas a melodia de nossas vozes. As coisas que procurávamos ouvir não eram mais inteligíveis que o ronronar de gatos.

Se tivéssemos escutado mais, se tivéssemos pensado no que ouvíamos, que casal enfadonho teríamos sido. Além do território soberano de nosso país de dois, nós conversávamos como os lunáticos patriotas ao redor de nós.

Mas isso não importava.

A única coisa que contava –- nosso país de dois.

E quando esse país deixou de ser, tornei-me o que sou hoje e o que sempre serei, um apátrida.

29 julho 2007

...pequeno lembrete, para o caso de eu me esquecer

Brown shoes don't make it
Brown shoes don't make it
Quit school, why fake it?
Brown shoes don't make it?
TV dinner by the pool
Watch your brother grow a beard
Got another year of school
You're OK, he's too weird
Be a plumber, he's a bummer
He's a bummer every summer
Be a loyal plastic robot
For a world that doesn't care

Smile at every ugly
Shine on your shoes and cut your hair
Be a jerk and go to work
Be a jerk and go to work
Be a jerk and go to work
Be a jerk and go to work
Do your job, and do it right
Life's a ball! (TV tonight!)
Do you love it, do you hate it?
There it is, the way you made it (wow!)


Brown shoes don't make it - Frank "quem mais poderia ser?" Zappa

PS: com o impulso de baixar a discografia completa do caboclo, tenho falado tanto nele que everia mudar logo o nome do blog para "daughter of invention".

24 julho 2007

entre o par perfeito e o chinelo velho

chope com amigos casados dia desses aí. é cedo, mas em pouco tempo começam a pipocar celulares e justificativas para os respectivos cônjuges. diz que tá com fulano, não diz que tá comigo, faz silêncio, gente, e por aí vai.

passado o contratempo (nem sei se dá para chamar assim), tudo são risos e piadinhas, e eu, o único na mesa solteiro, descasado, sei lá, enfim, sozinho, digamos assim, penso de mim para mim. quá quá quá! não devo explicação pra ninguém.

aí chego em casa, sento no computador, bato uns papos muito fuleiros pela rede, me coço até o limite do bom-gosto, tomo um banho e vou dormir. já na cama, cutuco as caraminholas. pô, não chego a ser assunto de banheiro feminino, mas tamos aí, soltinho na pista, e nada?

é verdade que até não posso me queixar de estiagem na horta do papai aqui, mas cadê que me empolgo para dar segmento às coisas? ai, que preguiça, diria macunaíma. conheço, cativo, chego na intenção, marcando cerrado, driblo a zaga, marco o gol, mas dá dois dias, e cadê o ânimo pro campeonato? tem sido bola pro mato. paro e penso, não é por aí. e mais trinta vezes penso antes de pegar o telefone, e é batata que acabo deixando pra lá.

uma amiga diz que é amadurecimento. que tô ficando mais seletivo nas escolhas. que os parâmetros estão mudando, mas os velhos hábitos ainda insistem em permanecer, mesmo não se adequando mais aos novos padrões, até porque, estes nem estão claramente estabelecidos.

o i-ching talvez definisse a situação como crise, mas o primeiro a dizer que crise é oportunidade leva uma bifa no meio dos cornos, pois não agüento mais esse chavão rastaqüera de rh. seja qual for o nome, entretanto, não resta dúvida que é uma pele velha saindo, e uma nova que ainda não adquiriu a consistência de casca. ponto.

as moças de pela aí devem pensar que sou um belo de um féla por sumir como tenho feito, mas o fato é que ainda não achei o tal do borogodó, sacumé? aquela capaz de fazer brilhar o olho, dilatar as ventas, bambear as pernas.

o pior é que, a cada dia que passa, tenho ficado com uma lombeira de procurar... deve ser a idade.

22 julho 2007

do alfa ao zappa

Free Image Hosting at www.ImageShack.ushá uns meses, eu escrevi sobre a história da minha admiração por frank zappa. no texto, eu citava o clipe de uma música que chamou minha atenção pela primeira vez.

como ando numa carreira desembestada atrás da discografia do homem, hoje topei com a dita cuja. trata-se de night school, faixa de abertura do álbum jazz from hell, de 86.

parece papo de nerd (e deve ser mesmo), mas fiquei emocionado ao reconhecer os primeiros acordes. depois de um intensivão de arqueologia para encontrar o vídeo, constatei que as porcarias ingeridas ao longo dos anos não afetaram meus neurônios tanto quanto suspeitava. as imagens e a torrente de sintetizadores (malditos anos 80!) eram exatamente como eu lembrava.

a quem interessar possa, o vídeo tá aqui.

21 julho 2007

adiós, negro!


"De mí se dirá posiblemente que soy un escritor cómico, a lo sumo. Y será cierto. No me interesa demasiado la definición que se haga de mí. No aspiro al Nobel de Literatura. Yo me doy por muy bien pagado cuando alguien se me acerca y me dice: me cagué de risa con tu libro"
roberto fontanarrosa

a argentina é um país paupérrimo em melanina, fato que leva todos os morenos de lá a ganharem o carinhoso (sem ironia) apelido de "negro". com o rosarino roberto fontanarrosa não foi diferente.

mas nesta quinta-feira deve ter sido o negro do luto que tomou conta do país, na despedida do negro fontanarrosa, desenhista pai do gaucho 'renegau' inodoro pereyra e boogie, el aceitoso.

diz a notícia que li no trabalho, que a causa foi esclerose lateral amiotrófica. se fosse possível atribuir um juízo de valor às doenças, essa seria uma das mais cruéis.

em meus anos de "estágio" em neurologia, soube que ela vai gradativamente destruindo os neurônios motores, fazendo com que os impulsos nervosos não cheguem aos músculos, que vão se atrofiando, até que o doente perca o controle de todos os movimentos. inclusive dos músculos que controlam a deglutição e a respiração. ao longo do processo, no entanto, a lucidez permanece intacta.

no dia 14 de janeiro, fontanarrosa já havia anunciado sua aposentadoria. um fim muito triste para quem fez tanta gente rir.

ps: já que o asunto é morte, esclareço que qualquer bostejo sobre horror do acidente do vôo 3054 seria desnecessário. quanto ao acm, ele não merece minha LER...

18 julho 2007

bill withers para as massas



"Information is not knowledge. Knowledge is not wisdom. Wisdom is not truth. Thruth is not beauty. Beauty is not love. Love is not music. Music is the best."
frank zappa

14 julho 2007

de máquinas e mulheres

depois de quase 50 dias de inexplicável silêncio, meu computador simplesmente voltou a funcionar. o fato deu-se quando, movido por um palpite mediúnico, resolvi testá-lo na noite de quarta-feira.

com a experiência acumulada de dois casamentos, voltei a trabalhar nele como se nada tivesse acontecido. sem perguntas. sem cobranças.

as máquinas, como as mulheres, podem ser extremamente volúveis, e a nós, humanos, machos, não nos cabe questionar seus insondáveis desígnios.

seja feita a sua vontade.

a propósito, vai tudo bem entre nós agora.

09 julho 2007

"filhos, melhor não tê-los", disse o poeta

não sou um sujeito que se pode chamar de caridoso. afora amigos e conhecidos, tenho dificuldade em fazer algo para meu "próximo". mas como me afeta a visão de idosos e crianças vivendo nas ruas, em meio ao lixo, ajudo doando coisas concretas, como roupas e sangue (sou doador voluntário há alguns anos). entretanto, acho difícil dispor de conceitos abstratos como "atenção", "tempo" e "dinheiro".

não sou um um sujeito que se pode chamar de ecológico. não reciclo lixo, e não dou muita importância para a amazônia, o aquedimento global e as baleias. mas como me afeta o calor crescente e a iminência de outro apagão, fiz da economia de água e luz um hábito. e só tomo banhos frios (o que me imunizou quase definitivamente a resfriados e me deixou mais resistente a baixas temperaturas). pensando também na manutenção do ecossistema, não faço a menor questão de ter filhos.

considero essa uma decisão ecológica. não passando adiante meus genes (não me entendam mal, não há nada de errado com eles. e pelo que tenho visto pela aí, até que eles estão acima da média), evito a superpopulação, problemas de espaço e o esgotamento dos recursos naturais e energéticos. e ainda estaria colaborando para minimizar o problema das crianças abandonadas.

se o papel do macho na manutenção do equilíbrio social já é questionável, na reprodução ele tornou-se praticamente secundário. de maneira que prefiro passar adiante meu "legado intelectual", por mais buracos e falhas que ele tenha. agrada-me mais minha perpetuação enquanto idéia do que biologicamente. ao contrário das fêmeas, que através da concepção sentem o milagre da continuidade da espécie, aos homens resta o consolo de tentar alcançar a imortalidade histórica.

talvez eu seja egoísta demais para dividir minha liberdade tardia, conquistada com tanto sacrifício, cuidando de outra vida. se mal comecei a aprender a administrar a minha... é que, como bom geminiano, considero que as crianças só se tornam seres dignos de interesse quando começam a desenvolver a comunicação verbal. antes disso, prefiro os gatos, que pelo menos são independentes o suficiente para saberem usar a caixa de areia sem ajuda externa.

pode ser que algum dia eu venha a ser pai biológico, e tenho a certeza de que se isso acontecer, serei o mais babão dos pais. mas enquanto estivermos no terreno das hipóteses, prefiro "adotar" o filho de alguma namorada e queimar a etapa das fraldas & choro noturno.

05 julho 2007

"who's on first?"

hoje, no trabalho, ouvi trechos de um diálogo entre dois caras de outro setor que trabalham na mesma sala que eu. era algo mais ou menos assim:

- Eu queria saber o nome daquela revista...
- Quem.
- Eu. Você sabe o nome da revista?
- Quem.
- Você! Estou perguntando para você o nome da revista!
- Quem.
- Eu! Eu queria saber...


e por aí vai.

foi muito engraçado ver a referência ao famoso esquete da dupla abbott & costello, que a maioria conhece através das repetições autistas do personagem do dustin hoffman em rain man.

alguns anos depois do filme, recebi por imeio uma paródia, utilizando como personagens o bush e a condoleezza rice. mas o diálogo mesmo, esse eu nunca tinha ouvido. até que encontrei o esquete original, e com áudio (no pé da página).

dá gosto ouvir o domínio da dupla do timing de comédia.

30 junho 2007

machadiana

"folhas misérrimas do meu cipreste",
não se preste
não se empreste
a vida, vide,
não é um teste.
"heis de cair".

28 junho 2007

o mundo não perdoa

num desdobramento do caso sirley, o pai de um dos envolvidos, ao sair da polinter, declarou:

Minha vida acabou, e a do meu filho também. Quem vai dar emprego para ele?

caro seu ludovico [é o nome do cara], a única lição que o senhor deveria ter dado para o seu filho, a mais basal e ao mesmo tempo mais importante para o convívio em sociedade, a única que separa o ser humano das bestas, é a responsabilidade pelos próprios atos.

isso claramente não foi ensinado. agora, como dizia minha mãe, o mundo vai ensiná-lo.

e o mundo é um professor severo. cqd.

ode ao trabalho

não gosto de trabalhar. ponto.

gosto, sim, de viver. ler, ir ao cinema, passear, desenhar, beber, bater papo com os amigos, me vestir confortavelmente, comer bem e ter mobilidade - seja viajar ou ter livre acesso para freqüentar os lugares que me apeteçam. e se a regra do jogo estipula que para eu realizar minhas vontades, eu precise de dinheiro, e principalmente, que para ganhá-lo eu precise trabalhar, assim o farei.

posso então afirmar que o único motivo que me faz acordar de manhã, me arrumar, tomar um ônibus e perder oito horas do meu dia esquentando uma cadeira em frente ao computador, engordando e cultivando uma tendinite no braço direito, é grana.

alguns me perguntam, de olhos rútilos (obrigado, nelson rodrigues), se não busco satisfação ou realização no trabalho. a esses respondo, fatal como um tiro de fuzil: não. realização eu vou ter nas atividades que enumerei no primeiro parágrafo. no trabalho, não.

não alimento a menor ilusão de alcançar qualquer forma de prazer com o trabalho. trabalho é trabalho, prazer é outra coisa. está na bíblia. o oposto do paraíso é o trabalho. o máximo de pretensão profissional que almejo é ter o mínimo de aporrinhações.

agora, não gostar de trabalhar não significa que enquanto estiver gastando minha vida dentro de um escritório, não farei tudo que seu mestre mandar da melhor maneira possível. e isso é o ápice da coerência, pois mais do que ao trabalho, tenho ojeriza a aborrecimentos. se me exigirem iniciativa, terei iniciativa. se me cobrarem criatividade, assim o serei. se nada pedirem, mas sempre pedem algo. e eu dou.

se não gosto de trabalho, abomino igualmente tudo o que faça parte de seu ambiente ou se relacione a ele. por isso não gosto de fofocas de corredor, boatos e antecipações. tento não sofrer angústias. e como estou longe de ser um camarada depressivo, é bem verdade que no meio dessa sarabanda, tento me divertir, para não transformar tudo em calvário.

sou fascinado por gente, sua beleza e sua miséria. portanto, trato a todos com educação e equanimidade. eventualmente faço alguns amigos. como todos os outros que já passaram por mim, alguns ficam. mas nem quanto a isso tenho pretensão.

e para terminar esse texto, que já nem eu agüento mais, deixo um trecho do antigo testamento que aprendi hoje. não sei se o que reproduzo condiz com a mensagem bíblica, mas me vale agora. livro de eclesiastes, capítulo 2, versículos 22 a 26.

22 Pois, que alcança o homem com todo o seu trabalho e com a fadiga em que ele anda trabalhando debaixo do sol?

23 Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho é vexação; nem de noite o seu coração descansa. Também isso é vaidade.

24 Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma goze do bem do seu trabalho. Vi que também isso vem da mão de Deus.

25 Pois quem pode comer, ou quem pode gozar, melhor do que eu?

26 Porque ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, e conhecimento, e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dá-lo àquele que agrada a Deus. Também isso é vaidade e desejo vão.

22 junho 2007

pára tudo!

sabe cotidiano, do chico buarque?

pois é, o lessa me apresentou uma música que, na minha concepção, seria a "visão" do raul seixas.

É fim de mês

É fim de mês, é fim de mês, é fim de mês, é fim de mês, é fim de mês!

Eu já paguei a conta do meu telefone,
Eu já paguei por eu falar e já paguei por eu ouvir.
Eu já paguei a luz, o gás, o apartamento
Quitinete de um quarto que eu comprei a prestação
Pela caixa federal, au, au, au,
Eu não sou cachorro não (não, não, não)!

Eu liquidei a prestação do paletó, do meu sapato, da camisa
Que eu comprei pra domingar com o meu amor
Lá no Cristo, lá no Cristo Redentor, ela gostou (oh!) e mergulhou (oh!)
E o fim de mês vem outra vez!
E o fim de mês vem outra vez!

Eu já paguei o peg-pag, meu pecado,
Mais a conta do rosário que eu comprei pra mim rezar ave maria.
Eu também sou filho de deus
Se eu não rezar eu não vou pro céu,
Céu, céu, céu.
Já fui pantera, já fui hippie, beatnik,
Tinha o símbolo da paz pendurado no pescoço
Porque nego disse a mim que era o caminho da salvação.
Já fui católico, budista, protestante,
Tenho livros na estante, todos têm a explicação.
Mas não achei!

Eu procurei!
Pra você ver que procurei,
Eu procurei fumar cigarro hollywood,
Que a televisão me diz que é o cigarro de sucesso.
Eu sou sucesso! eu sou sucesso!
No posto esso encho o tanque do meu carro
Bebo em troca meu cafezinho, cortesia da matriz.
"there's a tiger no chassis"...

Do fim do mês,
Do fim de mês,
Do fim de mês eu já sou freguês!
Eu já paguei o meu pecado na capela
Sob a luz de sete velas que eu comprei pro meu senhor
Do bonfim, olhai por mim!
Tô terminando a prestação do meu buraco, do
Meu lugar no cemitério pra não me preocupar
De não mais ter onde morrer.
Ainda bem que no mês que vem,
Posso morrer, já tenho o meu tumbão, o meu tumbão!

Eu consultei e acreditei no velho papo do tal psiquiatra
Que te ensina como é você vive alegremente,
Acomodado e conformado de pagar tudo calado,
Sem bancar o empregado sem jamais se aborrecer...
(Ele só que, só pensa em analisar, na profissão seu dever é adaptar, ele só que só pensa em adaptar, na profissão seu dever é adaptar)

Eu já paguei a prestação da geladeira,
Do açougue fedorento que me vende carne podre
Que eu tenho que comer,
Que engolir sem vomitar,
Quando às vezes desconfio
Se é gato, jegue ou mula
Aquele talho de acém que eu comprei pra minha patroa
Pra ela não me apoquentar,

E o fim de mês vem outra vez...

quase um haicai

hoje completo
um mês sem computador
com puta dor...

21 junho 2007

carne nova no pedaço!

tem blog novo e bão aí do lado: foreign mama, da judith. amiga de outros carnavais, hoje sabe a dor e a delícia de ser mãe de guri pequeno em san francisco. tá em inglês, mas tem versão em português, embora ela não a atualize. sabe como é, o moleque é exigente...

o eric, meu colega de trabalho e cada vez mais amigo de infância, fala para o mundo direto do trem. o cara é tão bom de ler quanto o lessa, que também sua com a gente para tirar o pão, e ainda tem que me aturar ao seu lado todo dia.

o último, ms não menos importante, é uma receita que leva um monte de jornalista fera e doses cavalares de inteligência e ironia embebidas em uísque. misture tudo, chacoalhe a cabeça, e o resultado será uma sopa de tamanco que é, como eles dizem, pau puro!

saboreiem sem moderação!

Âpideite:
Esqueci de citar a deborah e o tom. eles se conheceram, namoraram, casaram, engravidaram, foram morar nas estranjas, e fizeram um blog. até o presente momento, o lucas ainda não nasceu...

19 junho 2007

no meio do caminho tinha uma pedra do reino

sou fã do ariano suassuna desde os 14 anos, quando, ainda aluno do colégio militar, fui obrigado a ler o auto da compadecida. outro dia, uma amiga até apontou a ironia do fato: uma instituição que prima pela seriedade marcial incluir em seu conteúdo programático uma obra tão irreverente.

talvez eles estivessem vendo adiante, porque além deste livro e dos já manjados machados (dom casmurro, o alienista e quincas borba), tive contato com o socialismo cristão de érico veríssimo (olhai os lírios do campo), o naturalismo contundente de aluízio azevedo (o cortiço), além de um volume de contos de diversos autores, que incluía, entre outros, mario de andrade (o peru de natal) e aníbal machado (a morte da porta-estandarte).

voltando ao mestre ariano, seu livro em nada me atraiu: a capa não denunciava nada de seu conteúdo, e a palavra "auto" não fazia parte do meu repertório lingüístico. compadecida eu até sabia o que era, mas esse diabo de "auto" era fogo. e tudo era estranho: a linguagem, os personagens ("chicó"?! porque não "chico"?!) e as situações (enterro de cachorro?!). acho que só fui entender a ironia quando fui fisgado pelo episódio do gato que descome dinheiro. a partir dali, nascia para mim um clássico absoluto.

de lá para cá, minha admiração pelo autor só aumentou. devorei e assisti a várias montagens desse e de outros títulos, e até consegui trocar duas palavras com o autor ao praticamente esbarrar com ele numa bienal de são paulo ("a mim me impressionou muito a obra de klee. e pode botar aí que gostei muito da tauromaquia do picasso", disse o mestre a um assombrado marcelo, então estudante de jornalismo que cobria a exposição para um jornal comunista). o auge foi a leitura d'o romance da pedra do reino, numa edição encontrada num sebo do catete, depois de muita sola de sapato gasta. já reli o tijolo uma vez, e pretendo repetir a dose em breve.

por isso, esperei com muita ansiedade e expectativa a transposição para a telinha da história de dom pedro dinis quaderna, o decifrador. na noite de estréia, me reuni a um grupo de pessoas na casa de uma amiga arianófila. estava ciente de que luis fernando carvalho não é guel arraes. enquanto este consegue um equilíbrio perfeito entre obra comercial e artística, o primeiro tem lá seus fumos autorais. à parte isso, considero lavoura arcaica uma pequena jóia do cinema de todos os tempos.

mas na minha humilde opinião, na pedra... ele errou a mão feio. muitas informações visuais e sonoras ao mesmo tempo, com um monte de close-ups que acabavam prejudicando o trabalho de corpo dos atores, cenários e figurinos, além do excesso de cortes "videoclípicos", que deixavam a continuidade narrativa muito quebrada. a história, que já não é muito acessível, foi muito prejudicada, e deve ter assustado muita gente à espera das estripulias de um outro joão grilo.

o resultado me deixou tão decepcionado que nem tive ânimo de ver os outros dias. mas não fui só eu. na coluna do ancelmo gois (a quem tarso de castro acusou de ser "analfabeto até no nome"), leio que o gravador j. borges faz coro comigo. reproduzo a nota:

Enviado por Ancelmo Gois - 16.6.2007| 20h17m

Ariano Suassuna

J. Borges: Pedra do Reino não tem nada de Nordeste

O xilógrafo J. Borges, considerado o melhor do Nordeste, na opinião do amigo Ariano Suassuna, não viu e não gostou da versão televisiva de "A Pedro do Reino":

- Vi apenas o comercial porque o programa passa muito tarde. Mas ouvi vários comentários. Eles fizeram uma coisa que nem parece ter sido feita no Nordeste. Parecem umas figuras romanas. Muito esquisito, muito feio. Aquilo não tem nada do Nordeste. O povo aqui está dizendo que não se encaixa bem com o livro.

18 junho 2007

balada para seu geraldo

rapaz, tenho andado numa preguiça monstruosa.

desconfio que a razão tenha sido o abandono temporário da ioga, fruto de uma súbita e inesperada falta de grana, que me levou à alguma descompensação físico-química.

é bem verdade que o computador queimado também pode ter colaborado, já que, como "webdependente", sem acesso à rede eu não acho nada engraçado, macaco, praia, carro, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco...

ainda teve um caso que mexeu comigo. no dia do meu aniversário, um camarada do trabalho me mostrou um site de biorritmo, apresentado como exemplo numa apostila do curso de java que ele está fazendo.

na maior boa-intenção, o caboclo digitou minha data de nascimento e voilá!, o resultado pelos quinze dias seguintes era uma curva descendente até o zero nos quesitos saúde e grana.

dei uma risada cética, mas batata! dali a dois dias perdi meu cartão de débito do banco, e estou até hoje num "gripa-não-gripa" que me levou ao ponto de ir à farmácia comprar xarope, coisa que não faço há uns quinze anos.

enfim, meu ânimo tem andado meio down the high society, por mais que meu hemisfério palhaço não demonstre a fraqueza...

o caso anda tão crítico que nem perna bem-feita de moça tem me tirado da letargia.

entretanto, nos últimos dois dias, devo ter ouvido algum indiano encantador de serpentes, porque a curva aos poucos tem dado sinais de vida.

sábado eu varri os dois dedos de poeira e "cabelhos" acumulados pela casa, que já conspiravam para me despejar. ontem limpei o banheiro, lavei roupa & louça e, pasmem!, fui dar um "chêgo" na praia.

nesse passeio senti um daqueles momentos mágicos de solitude absoluta que me levam a um estado de comunhão com tudo e com todos.

talvez deus seja um troço tão bom quanto isso.

********

enrolei até aqui, mas meu objetivo era contar uma cena que presenciei, e que despertou lembranças muito profundas de criança. em determinado momento da caminhada, passaram por mim um jovem pai e seu filho de uns onze anos.

eles vinham pela pista fechada da praia, tocando uma bola de futebol. o garoto, de chinelos, ia mais à frente, e apresentava bastante desenvoltura com a pelota, apesar do calçado inadequado.

o fato lembrou-me de quando eu batia bola com os garotos da mesma idade, no playground do meu prédio, na gávea. desde aquela época, eu já não levava muito jeito para futebol, mas ainda tentava, para não ficar de fora da brincadeira.

uma vez, voltávamos meu pai e eu de uma praia domingueira, e me juntei à molecada num jogo de "golzinho" (era esse o nome?).

meu pai, orgulhoso, queria ver o filho honrar a linhagem -- ele próprio um peladeiro bem razoável. e pediu para que eu subisse para trocar os chinelos por tênis. desde então já consciente da mediocridade do meu futebol, eu não dava a mínima, queria era me divertir. mas ele tanto insistiu que eu subi.

e a interrupção me tirou todo o prazer de continuar. mesmo assim, voltei para agradá-lo.

é curioso como hoje identifico esse episódio como a última vez que tentei me esforçar para jogar bola. nunca mais quis bater bola, talvez como uma vingança infantil inconsciente.

hoje não consigo sequer fazer um passe decente, mas graças ao meu pai tornei-me um leitor compulsivo, um desenhista desenvolto, um jornalista bom de papo e de copo (para seu desespero), e que não é exatamente um fracasso com as mulheres.

mesmo sem o futebol, ele nunca deixou de demonstrar orgulho por mim.

obrigado, pai.

12 junho 2007

promoção ou ameaça?

juro que vi escrito num anúncio de ponto de ônibus:

"Compre com os cartões Bradesco e vá conhecer todos os segredos de Salvador com a Preta Gil"

medo.

31 maio 2007

tora! tora! tora!


já devo ter dito isso antes, mas faço questão de repetir: sou daqueles que consideram a paranóia como uma forma evoluída de inteligência.

pode ser que esteja errado, mas farejo sinais de uma nova invasão nipônica, como a que assolou o mundo nos anos 80. começou com a bela e subnutrida miss universo, agora isso.

23 maio 2007

"lá vou eu de novo, como um tolo..."

a crônica abaixo já é minha conhecida de muuuitos anos. apesar de a parte do "irmão pára-quedista" ser a que melhor se gravou na memória, o universo tijucano em que nasci e me criei até os sete anos, e por onde gravitei por boa parte do meu tempo na terra, guarda muitas semelhanças com o grajaú retratado.

agora que, ironicamente, a vida parece imitar a arte, lembrei-me do texto. a situação não parece muito diferente.

na atual conjuntura, as fichas estão sobre a mesa -- embora ainda fechadas na minha mão. a roleta já começou a rodar, e se ainda não as soltei, e porque a aposta envolve dois universos distintos e antagônicos. um representa a pirueta que minha vida deu há oito meses, e o outro... bem, o outro é um salto no escuro. situação que, convenhamos, excita deveras minha natureza mutante.

vejamos que bicho vai dar. alea jacta est.
ah, não esqueçam o texto, pô!

As noivas do Grajaú - Luis Fernando Veríssimo

Acho que todos deviam ter uma noiva no Grajaú, principalmente os homens casados. Antes que me acusem de incentivar o adultério e a licenciosidade suburbana, esclareço que minha noiva do Grajaú é puramente teórica. E note que falo em noiva, não em amante. As noivas do Grajaú são castas e recatadas. Só deixam pegar na mão e assim mesmo com recomendações. Aquele montinho de carne na base do dedão, por exemplo, só depois de casados.

Você leva duas semanas para encostar, não na noiva do Grajaú, mas no portão da sua casa. Se tocar no seu cotovelo, soa um alarme dentro da casa e o irmão dela, ex-pára-quedista, vem ver o que está acontecendo. Um homem casado que tem uma noiva no Grajaú é mais fiel à sua mulher do que a sua mulher merece. É quase indispensável para a felicidade de um casamento que o marido tenha uma noiva no Grajaú e a visite diariamente das 5 às 6. Menos às quintas, quando ela tem aula de piano.

Como explicar o fascínio das noivas do Grajaú? Não haverá, na sua relação com ela, qualquer promessa sexual. Com sorte, depois de um ano e meio de noivado firme, você morderá a sua orelha. E ela pedirá que você nunca mais faça isso porque ela sente muitas cócegas e, olha aí, quase perdeu um brinco. Um dia, quando conseguir convencer o ex-pára-quedista a deixá-la ir com você até ao bar da praça tomar uma Mirinda, você conseguirá intrometer uma mão nervosa entre o seu braço nu e a blusa até quase em cima, mas aí ela apertará o braço contra o corpo com força e você temerá pela gangrena nos dedos.

E a conversa? A coisa mais íntima que ela perguntará a você será:

- Acompanhas alguma novela?

Você experimentará com assuntos mais conseqüentes.

- És ciumenta?

Ou, afoitamente:

- Qual é teu sabonete?

Mas ela repelirá todas as tentativas de uma conversa séria. Até rirá quando você tentar ser poético,
pomba!

- Esta hora, este crepúsculo, sei lá...

Ela se dobrará de tanto rir. E a mãe dela aparecerá na janela para ver se você não avançou na orelha outra vez.

A vigilância é constante. O pai dela - aposentado, espiritualista - usa um coldre preso à cinta. O coldre está vazio, mas o seu tamanho é eloqüente: em algum lugar está guardada a grande arma com que ele zela pelo seu patrimônio, incluindo a virgindade da filha e uma coleção encadernada de Malba Tahan. Na única vez em que conversar com ele você ficará sabendo que ele já expeliu 17 pedras pela uretra e foi militante da UDN. Cuidado. A mãe tem bigode. Seus olhos pretos na janela são como dois faróis que guiam a virtude de Grajaú para a cama, intacta, todas as noites.

* * *

- Sua mãe não vê novela?

- Só a das oito.

- Não tem o que fazer na cozinha?

- Temos empregada.

- Ela não...

Mas a mãe interrompe:

- Olha esses cochichos, olha esses cochichos...

As noivas do Grajaú têm um irmão menor que se diverte tentando chutar você nas canelas. Um dia ele erra, acerta o muro e vai correndo dizer para a mãe que você lhe bateu.

É uma provação noivar no Grajaú. Por que você insiste?

As noivas do Grajaú têm amigas que passam em bandos pela calçada de braços dados e rindo, você não tem a menor dúvida, de você.

É demais. Você não precisa disso. O casamento está fora de questão. Você já é casado. Ou tem outra noiva em algum bairro onde a vigilância é menor e o acesso é mais fácil. Mas você persiste. O fascínio é irresistível. Às seis em ponto, a mãe dela acende a luz do alpendre. É o sinal para você ir embora. Você jura que nunca mais volta.

Mas aí ela cospe fora o chiclé e pergunta:

- Amanhã você vem?

E você vai.


********

sem comentários.