31 outubro 2005

retrato do artista enquanto jovem criatura do mal




quem esteve presente nos acontecimentos da minha vida há uns sete anos não vai poder deixar de notar a ironia do acróstico.

ah, foi tarrado da solange.

27 outubro 2005

recebi por email

Era uma vez um cara que pediu a uma linda garota:

- Você quer se casar comigo?
Ela respondeu:
- NÃO!

E o cara viveu feliz para sempre, foi pescar, jogou futebol, conheceu muitas outras garotas, visitou muitos lugares, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava grana, bebia cerveja com os amigos sempre que estava com vontade e ninguém mandava nele.

A moça teve celulite, varizes, os peitos caíram e ela ficou sozinha.


não estou querendo dizer nada. "apenasmente" achei o texto engraçado.

24 outubro 2005

seu direito termina onde começa o cano do meu trabuco

além de chato, estou ficando repetitivo. mas não resisti às reflexões do ivson.

o resto é inocente útil.

23 outubro 2005

"o troco pode ser em balas?"

a essa altura do campeonato, não é novidade para ninguém, o "sim" foi abatido sem dó, no brasil inteiro. agora que defendemos nosso direito à truculência, que tal deixarmos de brincar de democracia e forçarmos outros referendos, dessa vez relevantes de fato, como questionar a obrigatoriedade do voto; a urgência da reforma política; a modernização do código penal (com a classificação de hediondo para o crime de corrupção, sem direito à fiança); o voto distrital, etc.

sobre hoje, faço minhas as palavras de hoje do verissimo (essas são deles, mesmo):

Luis Fernando Verissimo
Publicado em 23 de outubro de 2005

Interferência

Agora é tarde, Inez é morta, provavelmente a tiros, mas o debate vai continuar depois do referendo. E como muita gente se queixou que o referendo foi confuso, sugiro que da próxima vez que consultarem a população sobre o assunto simplifiquem a pergunta, colocando-a em termos corriqueiros, de experiências pessoais como as que estão todos os dias nos jornais, e que qualquer um entenderá. Por exemplo: se você fosse a mãe de um rapaz morto com um tiro numa briga de torcidas, preferiria que fosse mais difícil alguém ter acesso a armas como a que matou seu filho ou que seu filho também tivesse acesso a uma arma para poder se defender? Não é uma pergunta sentimental ou injustamente armada para favorecer um lado, eu até tenho dúvidas sobre como as “mães” hipotéticas responderiam. Mas a questão é, ou era, simplificada, exatamente esta.

Os que pregaram o “Não” invocaram muito a interferência indevida do estado na vida e no direito de escolha dos cidadãos. Vale a pena recordar outras ocasiões em que foram ouvidas queixas parecidas, na história do Brasil. Na abolição da escravatura havia tantos argumentos fortes a favor como contra a medida e — como no caso do referendo das armas — muitos dos antiabolicionistas nem tinham escravos, defendiam a escravatura em nome do direito de quem tinha de não ser coagido pelo estado. Não foi uma resistência emocional, foi racional e bem articulada como muitos dos artigos que lemos recentemente na defesa do “Não”, e o resultado é que atrasou a nossa história. O Brasil foi o último país do mundo a acabar com a imoralidade do escravismo. Mas algumas defesas da liberdade de ter escravos foram brilhantes.

Outro exemplo: a revolta contra a vacinação antivaríola no Rio de Janeiro, que chegou, violentamente, às ruas, mas começou na imprensa, onde Oswaldo Cruz era denunciado como uma ameaça pública pior do que qualquer epidemia. Foi preciso recorrer às armas para enfrentar a revolta, e alguns setores do exército aderiram aos revoltosos. A população do Rio foi vacinada literalmente à força. Livrou-se da varíola sob repetidos protestos contra aquela suprema interferência — subcutânea! — do estado na vida dos cidadãos. Oswaldo Cruz perderia um hipotético referendo popular sobre a vacina, na época, de zero.

O Brasil perdeu a oportunidade de dar um bom exemplo ao mundo na questão das armas. Mas estou escrevendo sem saber qual foi o resultado do referendo. Pode ter dado o “Sim”. Neste caso, se você leu até aqui, desleia.

20 outubro 2005

como se eu não soubesse...

You Are 60% Weird

You're so weird, you think you're *totally* normal. Right?
But you wig out even the biggest of circus freaks!


peguei da solange.

19 outubro 2005

a beleza pode estar em qualquer lugar

quem acha que a contabilidade é uma ciência fria e impessoal, pode surpreender-se, como aconteceu comigo, com a profundidade da definição de um dos princípios contábeis fundamentais -- no caso, o da continuidade. se considerarmos a acepção de "entidade" como "qualquer indivíduo, ente", então vejam que beleza:

Pronunciamento "Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade", aprovado pela Deliberação CVM nº 29 de 1986 do IBRACON:
"Para a contabilidade, a entidade é um organismo vivo que irá operar por período indeterminado de tempo, até que surjam fortes evidências em contrário".

Resolução nº 750/93 do Conselho Federal de Contabilidade, de 29 de dezembro de 1993:
"A continuidade ou não da entidade, bem como sua vida definida ou provável, devem ser consideradas quando da classificação e avaliação das mutações patrimoniais, quantitativas e qualitativas".

desenrolou o novelo

meu amigo fabão conseguiu dizer exatamente o que eu vinha tentando, sem sucesso, expressar em palavras.

17 outubro 2005

"orgia-bugia nos traz alegria"

aldous huxley é, na minha opinião, um dos camaradas mais inteligentes e visionários do século 20. ao contrário das teorias de orwell em 1984, sua utopia criada em admirável mundo novo não envelheceu. pelo contrário, ele foi capaz de antecipar que a dominação mais eficaz não se dá através da privação, mas do entorpecimento dos sentidos através da busca incessante pelo prazer do consumo, transformando-nos em "animais gentis e dóceis". e no caso de qualquer sombra de dúvida ou angústia, há o soma, a droga perfeita, que acalma e não dá revertério, fornecida pelas próprias autoridades em esquema de ração semanal.

a propósito, se alguém se interessar pela leitura, recomendo garimpar em sebos a edição da ed. bradil, de 1969. a reedição da editora globo, além de uma tradução menos feliz, não traz o prefácio crítico escrito pelo autor 20 anos depois do lançamento da obra.



reproduzo trechos picados do momento em que o selvagem -- personagem criado fora da utopia, nas "reservas", onde as pessoas mantém hábitos arcaicos como a reprodução vivípara e o culto a divindades -- encontra-se com o administrador-geral. é o ápice da história, quando é discutido o núcleo duro do pensamento civilizado industrial que rege a utopia. o gancho que escolhi é o momento em a proibição das artes (no caso, a obra de shakespeare) é questionada. seguimos a partir da resposta:

"Porque é velho; eis a razão principal. Aqui não temos aplicações para coisas velhas. (...) Especialmente quando são belas. A beleza atrai, e não queremos que as pessoas sejam atraídas por coisas velhas. Queremos que apreciem as novas. (...) Nosso mundo não é o mesmo de Otelo. Não se pode fazer calhambeques sem aço -- e não se pode fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo é estável. O povo é feliz; todos têm o que desejam e nunca querem o que não podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não têm medo da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se afligem com pais e mães; não têm esposas, filhos nem amantes a que se apeguem com emoções violentas; são condicionados a não poderem deixar de se comportarem como devem. E se alguma coisa não estiver bem, há o soma. (...) É esse o preço que devemos pagar pela estabilidade. Tem-se que escolher entre a felicidade e aquilo que antigamente se chamava arte. Sacrificamos a grande arte. Em seu lugar temos filmes sensíveis e os órgãos de perfume.

(...) A felicidade real parece bem sórdida em comparação às compensações que se encontram na miséria. E sem dúvida a estabilidade não é tão bom espetáculo quanto a instabilidade. E estar contente nada tem do encanto de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de uma batalha contra a tentação, nem de uma derrota fatal pela paixão ou pela dúvida. A felicidade nunca é grandiosa. (...) [Ela] mantém as engrenagens em constante funcionamento; a verdade e a beleza não são capazes disso.

(...) Por que iríamos perseguir um substituto dos desejos dos jovens, quando os desejos dos jovens nunca faltam? Ou um substituto para as distrações, quando continuamos desfrutando todas as velhas tolices até o fim? Que necessidade temos de repouso quando nosso corpo e nosso espírito continuam em deleite na tividade? de consolação, se temos o soma? de algo imutável, quando existe a ordem social? (...) Nossa civilização escolheu a máquina, a medicina e a felicidade.

(...) A civilização industrial só é possível quando não existe renúncia. É necessário desfrutar até os limites máximos impostos pela higiene e pela economia. De outro modo as engrenagens cessam de girar. (...) A civilização não tem absolutamente necessidade de nobreza nem de heroísmo. Essas coisas são sintomas de ineficiência política. Numa sociedade adequadamente organizada como a nossa, ninguém tem oportunidade de ser nobre ou heróico. É preciso que as condições se tornem essencialmente instáveis antes que se apresente tal oportunidade. (...) Todos podem ser virtuosos hoje. Pode-se conduzir consigo pelo menos a metade da própria moralidade num frasco."

entre a usura e a limpeza interior

"deve estar escrito 'otário' na minha testa", foi o pensamento que segurei na boca quando a registradora somou quase cinquenta merrecas por uma caixa de suco, duas barras grandes de chocolate, uma lata de batata frita e uma caixinha de biscoitos de queijo. queriam não apenas que eu concordasse com esse valor, mas que o aceitasse, na loja de tolerância do posto do dona marta, há menos de dez minutos.

claro que devolvi quase tudo. minha indignação não vem do fato de estar duro como um pau. é vergonha de gastar 1/6 do que boa parte da população ganha depois de um mês de trabalho (e a maioria nem isso consegue) por meia dúzias de besteiras apenas para satisfazer uma gula dominical, que em troca de uma breve sensação ia me aumentar o colesterol (pois é, agora me preocupo com isso) e a circunferência.

sei que sou chato pra cacete, ranzinza e utópico, mas não demagogo a ponto de negar que gastaria até mais em supérfluos comestíveis, se a extorsão pelo menos incluísse mais artigos. fico admirado com a cara-de-pau dos empresários que têm a ousadia de praticar esses preços no pé de uma favela.

certo estava o hélio luz ao declarar no documentário do joão moreira salles que o mecanismo aqui é tão maquiavélico, que nem precisa de arame farpado para segurar "o morro". na áfrica do sul, os guetos eram cercados; aqui, ao contrário, o mecanismo repressor que impede os favelados de descer é muito mais sutil. vejam bem, não estamos falando de espasmos de violência entre grupos rivais, que levam pânico à população "de bem". refiro-me à (re)ação enfurecida em massa contra a ausência total a que é submetida. não sei qual o entorpecente - igreja, televisão ou droga (álcool incluso) - que deixa todo mundo manso, ainda que comendo merda.

divaguei. talvez esse episódio sirva de exemplo para que eu leve a cabo o antigo projeto de respeitar meu corpo. e nem me refiro à forma física, mas à saúde. abster-me de substâncias que me poluem, como pregava o profeta muhammad (que a paz e a bênção de deus estejam sobre ele). o corpo é o templo da alma, e é preciso mantê-lo limpo. mal não fará. além do mais, é uma forma de não compactuar com a cultura do exagero onde o consumo assume o status de panacéia e válvula de escape contra as frustrações.

11 outubro 2005

paranóia é uma forma avançada de inteligência

compartilho com o fausto wolff a teoria de que existe uma sigla por trás da farsa da al qaida.

10 outubro 2005

tiro certo

istoé acertou na mosca com a capa da semana: "referendo das armas: sete razões para votar sim, sete razões para votar não -- só você decide".

pegou a "veja" à queima-roupa. na bala estava escrito "jornalismo".
*****

a propósito, bezerra da silva, que de mané não tinha nada, já tinha batido a real: "você com revólver na mão é um bicho feroz, sem ele anda rebolando e até muda de voz". (bicho feroz)
*****

mudando de assunto, matéria de xico sá na trip deste mês prova porque a revista "de surfista" talvez seja a única do mercado editorial com com pautas inteligentes e diferenciadas. trecho que não está no site:

A mesma Andréia, uma das melhores do ramo em Brasília, conta: "Bom mesmo era no tempo das privatizações. A cada leilão a gente mudava de casa, de tanta grana, era tudo pago em dólar pelos empresários e pelo povo do PSDB. Esses petistas, ô raça, são miseráveis, pechincham no sexo, quero que se danem agora neste escândalo, não sabem nem roubar direito".

Mais filosofia da alcova, segundo a mesma linda moça: "Um senador do Maranhão, vixe, velho lobo, viciadíssimo numa safadeza paga...".

"Aquele senador do Pará, não, é honrado, engravidou uma amiga minha e sustenta, tá na mão dela".

Agora a manchete: "Fica todo mundo falando dos deputados e senadores que pegam meninas e esquecem de um membro da CPI dos Correios que pega um cara chamado Adriano, de um site erótico aqui de Brasília".

Quem será o tal membro? Silêncio da moça e do auditório. Ela só conta que o tal membro é passivo.

eu já andei de elevador com o clovis bornay

...e não foram poucas vezes. minha vó comprou na prado júnior um "apartamento de praia" (essa é uma prática comum entre tijucanos natos ou de espírito. pergunte para 80% dos moradores da barra, que assim o fizeram antes de emigrar da zona norte definitivamente. sei porque também sou do oriundo do bairro, apesar da trajetória diferente).

nunca entendi bem a escolha da minha avó, dado o fato de a pj ostentar um recorde informal de concentração de garotas de programa por metro quadardo na cidade, só perdendo para o "shopping" da villa mimosa. pensando bem, só copacabana geraria uma comunidade assim.

pois bem, o síndico da quitinete era o clovis bornay. por conta disso, protagonizei alguns encontros rápidos com o museólogo e campeão de fantasias na portaria e elevador do prédio. aos que imaginam histórias desvairadas, decepcioná-los-ei. ele era um gentleman (sic). talvez, dada a liturgia do cargo, portava-se com educação, mas era um tanto seco. confesso que ficava com vontade de puxar assunto, perguntar dos bastidores dos antigos carnavais e bailes do municipal e do glória, da emoção das capas da manchete, mas ficava com um misto de vergonha e medo de ser mal-interpretado. como eu era (?) idiota...

minha vó continua com o apartamento, mas nunca mais me encontrarei com o ilustre personagem, seu rosto europeu marcado pelos rigores do sol tropical, a indefectível peruca, e, juro, uma aura de lantejoulas e vidrilhos que brilhava sob olhares mais atento.

primeiro a emilinha borba, agora o clovis bornay. sei não, vai sobrar alguma coisa para o carnaval do ano que vem?

09 outubro 2005

coluna do ximenes

de 08/10. a todos que já amargaram na mão da telemerda:

Disk-Inferno

Sou o consumidor que a Telemar pediu a Deus. Dou uma boiada, seis galinhas e duas mariolas para não entrar numa briga; portanto, nunca conferi uma conta. Deveria. Afinal, há sete anos a Hellemar está no topo da lista das empresas com mais reclamações registradas no Procon do Rio, justamente por cobranças indevidas. Mas eu sempre lhe dei um voto de confiança. A empresa, contudo, me acusou de mafioso esta semana.

Pode parecer que se trata de um problema pessoal. Mas sofrer com a Hellemar é um esporte que quase todo carioca pratica. Um esporte assaz simbólico de um cotidiano marcado pelo desrespeito institucionalizado em todas as áreas: segurança, consumo, serviços. Assim, creio que este samba da telefonia louca é de interesse dos leitores.

Estou de mudança e pedi transferência da linha. A Hellemar se negou a fazê-lo: alegaram uma dívida, referente ao mês de abril, dos antigos moradores do apartamento para o qual estou indo. Então tá.

Entrei em contato com a antiga moradora, que é gente de bem. Ela nunca soube dessa dívida. Há de ter sido confusão na cobrança. Seja como for, ela não teve qualquer problema para cancelar sua linha quando se mudou? e já tem outro telefone! Ou seja, alguém não paga uma conta seja lá por que razão, nunca é cobrado, cancela a linha, consegue outra, e fica por isso mesmo. E o problema passa a ser de quem se mudar para esse endereço depois.

Pelo telefone, a atendente V. me explica que a intenção não é me repassar a dívida. Ufa! Só que eu preciso provar que em abril eu não morava no meu futuro endereço. Kafkaqui, Kafkalá, viva a Telemar.

O nome-CPF da linha A SER transferida usa a Telemar por anos em determinado endereço. A Telemar, entre todas as possíveis instituições deste planeta, SABE onde este nome-CPF estava em abril. Sabe que não era no apartamento para o qual foi pedida a transferência. Esco-esco-esco, a Telemar é uma peça do Ionesco. Mas V. diz que vai “explicar”:

— Por exemplo, o senhor tem um telefone com seu nome e CPF e não paga a conta, então cancela a linha e pede outra com o CPF do seu filho. Para evitar isso, nós não conectamos a linha se houver dívida no mesmo endereço.

Ah, então é isso. Não se trata do absurdo, mas de algo bem mais banal: Mario Puzo. A Hellemar acha que sou pai do Sonny Corleone. Embora não haja dívida neste nome-CPF que há anos é cliente da empresa, eles partem do princípio que este nome-CPF está armando um golpe familiar contra eles. Bem, reza a lei que cabe ao acusador o ônus da prova. Menos no universo Hellemar.

Então, lá vou eu perder uma tarde de trabalho, gastar dinheiro com transporte, para levar a documentação requerida por eles. Mostradas as provas de que este nome-CPF nada tem a ver com a dívida, entra em questão a transferência. Aí, a coisa se transforma em “Eu, robô”, a versão com o Will Smith. Ou qualquer ficção científica na qual o mundo é dominado por grandes corporações. Os atendentes W. e D. negam todos os procedimentos sobre a transferência que, antes, V. havia “explicado” ao telefone.

— Então o 103 deu informações erradas?

— Não nos responsabilizamos pelas informações fornecidas ao telefone.

— Então quem se responsabiliza pela informação correta? Não existe uma pessoa com quem se possa falar?

— Não. Existe uma empresa. A Telemar.

— Então porque a mesma empresa diz uma coisa ao telefone e outra ao vivo?

Sem resposta.

— E o cliente, como fica?

— O cliente segue os procedimentos da Telemar.

Vinte minutos à frente, W. solta a seguinte pérola:

— Sei que pareço robótico, mas você fica repetindo as mesmas perguntas.

— Claro, nenhuma resposta faz sentido.

Bem, nem tão robótico assim. Quando cheguei em casa, o telefone já havia sido cortado. Um dia antes do previsto. Ou seja, parece mesmo uma história de Mario Puzo. Com toques de Kafka, Asimov e Phillip K. Dick.

Solução: nenhuma. A Hellemar é um monopólio privatizado e tem poder absoluto sobre nós. É a autocracia corporativa nos limites do absurdo. Seria trágico, se não fosse cômico.

07 outubro 2005

cosa nostra

lá pelos anos 70, o sucesso do pasquim fez com que seus editores começassem a encartar um mini-compacto com uma faixa de cada lado (quem nasceu depois de 90, vá perguntar ao papai ou à mamãe). um desses trazia a canção "cosa nostra", do meu mestre musical jorge ben. espero que o sílvio santos tenha pago muito bem pelos direitos de usá-la para apresentar os jurados do seu show de calouros.

a composição é uma baita homenagem ao "pasca", com seu deboche característico turbinado pelo estilo ímpar do babulina. tá lá o espírito desbundado da época, além de uma mui sutil referência à ditadura, na primeira estrofe (o desejo de dar um presente para os amigos ou inimigos no exterior).
se alguém quiser a canção, pede num email que eu mando.

dá um aperto no coração ver que vários citados já partiram para o boteco nas nuvens. para quem não liga o nome às figuras, recomendo os livros "ela é carioca", do ruy castro, e o "pasquim - gargalhantes pelejas", da norma pereira rego.

para dar uma idéia do tom do jornal, encontrei aqui um artigo do tarso de castro.
...

Cosa Nostra (Jorge Ben)

Cosa nostra
E se vc quiser
Dar um presente lindo para seu amigo
Ou mesmo que seja para seu inimigo
E que esteja no exterior
Falando mal da gente

Como por exemplo
Dizendo que o Tarso de Castro não entende de jornal
E que o Sérgio Cabral é vasco por fora, mas flamengo por dentro
E que o Luis Carlos Maciel está entre o hippie e a tropicália
E o Ziraldo é anti-mineiro, só trabalha com barulho
E o Jaguar é manager e aproveitador do Sig
Que o Millôr é o ex-marido daquela mulher
Que o Fortuna pensa em fazer humor para fazer fortuna
Que o Paulo Francis está inserido no contexto da consumação do uísque e da "gp", pê pê pê]
Paulo Garcez vive com o clique na cuca, clique clique clique
E o Pedro Ferreti fala, fala, mete o pau e não aparece
Que o Sig morre de amor pela vedete Odete Lara e não é correspondido, que perigo!]
E o Henfil teve um problema patológico - ele é o próprio fraquinho baixinho]
E dizendo que eu só namoro empregadinha
E que eu sou duro
E só ando de trem
Mas o que vai, vai
O que vem, vem

Cosa nostra
Você é cosa nostra
Essa garota linda é cosa nostra
A simpatia é cosa nostra
O amor, o amor é cosa nostra
O Pasquim é cosa nostra
O flamengo é cosa nostra
Todas as escolas de samba é cosa nostra

É cosa nostra
O carnaval é cosa nostra
A zona norte é cosa nostra
A zona sul é cosa nostra
A república livre de Ipanema é cosa nostra
O parabéns também é cosa nostra
Esse céu azul lindo de morrer é cosa nostra
Esse sol de quarenta graus é cosa nostra, é cosa nostra, é cosa nostra

É cosa nostra o perdão
É cosa nostra esse seu sorriso lindo
É cosa nostra essa sua simpatia
É cosa nostra esse pa-tro-pi, esse pa-tro-pi
É cosa nostra

Mas o que vai, vai
O que vai, vem
Mas o que vai, vai
O que vai, vem
Cosa nostra
É cosa nostra
Esse suínge é cosa nostra

villa-lobos deve estar se remexendo no túmulo...

o projeto aquarius, parceria do globo com a osb, apresenta no sábado o concerto villa-lobos, alma brasileira, no trecho da praia em frente ao copacabana palace.

entre os convidados estão o olodum (!) e a sandy xororó (!!!).

o menino tuhú já deve ter mexido os pauzinhos junto a são pedro para não deixar essa ignomínia passar -- literalmente -- em brancas nuvens.

(depois de mencionar a cantora-ninfeta, os tarados de plantão farão meu conta-giros disparar...)

06 outubro 2005

batmacumba


frank miller - o cavaleiro das trevas.

05 outubro 2005

reflexão mercadológica

"Veja" de arma na mão. boa sacada do coleguinhas, uni-vos.

update: o xingatório diz:

Artilharia
Havia tempos o jornalismo brasileiro não via uma capa tão imparcial como a da Veja desta semana: "Referendo das armas: 7 razões para votar não".

vive la contradiction!

ha ha ha... os dois últimos bostejos saíram praticamentes contraditórios. esquizofrenia pouca é bobagem...

religião de merda! profissão de merda!

merda para meus pais, que me criaram na religião católica, para quem o lucro é pecado. eu devia ter nascido calvinista ou de qualquer religião semita, que pelo menos vêem o dinheiro ganho com o trabalho honesto como um mandamento do altíssimo.

meus filhos, se os tiver, aprenderão a situar as religiões como curiosidades teóricas, extravagâncias históricas tão bizarras e ultrapassadas quanto a abiogênese ou o positivismo. sua educação será voltada para a crença em si mesmos, o desenvolvimento de seus potênciais e faculdades; com respeito aos outros, mas questionando sempre suas motivações, sem jamais curvarem-se diante do poder. viva a imanência! abaixo a transcendência!

minha criação deu-se sob o signo do temor irracional a um poder onipresente, onisciente e inquestinável. para piorar, todo meu treinamento profissional levou-me a ser autônomo, obrigado a mensurar de forma independente o valor do meu trabalho. mas como estabelecer parâmetros condizentes com o tempo e o esforço mental gastos na realização de uma tarefa (sem mencionar os custos indiretos de toda a instrução acumulada ao longo da vida, além da óbvia formação acadêmica), se na hora de cobrar ou de receber, me deixo enrolar por qualquer lorota triste; ou pior, sou guiado pelo medo primevo, instintivo e irracional da danação eterna?

chega! minha paciência esgotou-se! cansei de ser feito de otário! de levar calotes! de me aviltar em nome de quem -- com o perdão da má-palavra -- só quer me botar na bunda.

pois fodam-se todos! se as pessoas acham que qualquer um é capaz de escrever, que o façam eles mesmos e não me procurem mais. como lembra o poeta, "nevermore". prefiro morrer duro (como se já não o estivesse...) e seco.

demorei demais para aceitar que devo concentrar todos os esforços em passar para um concurso público. se não serei remunerado de acordo com o que mereço, pelo menos não serei muito exigido, tendo tempo para me dedicar a outros interesses. como fez vinícius de morais, joão cabral de melo neto e carlos drummond de andrade, só para citar alguns.

estarei em melhor companhia do que agora.

lê shaná tova ticatevu!

o título, que significa algo como "que você seja inscrito no livro da vida", é a frse que se diz para desejar um feliz ano-novo judaico. minha modesta homenagem ao rosh hashaná, cuja data desta vez praticamente coincidiu com o ramadã, o mês em que o alcorão foi revelado ao profeta muhammad, e portanto, considerado sagrado.

espero que isso seja um bom presságio de entendimento entre os irmãos. afinal, só os tolos não percebem que deus, allah ou jhvh são todos uma única entidade.

enquanto isso, fica a lembrança do paladar do gefilte fish, bolinho de peixe que se costuma comer nessa época entre os judeus. com rabanete (?) e uma geleinha também de peixe, está entre as iguarias mais deliciosas que tive o prazer de saborear. o gefilte seria capaz de acabar com qualquer guerra ou desavença.

a trilha sonora fica a cargo do bão e velho slim gaillard.

Matzoh balls (circa 1939)


(Oh well) the Matzoh balls
Gefilte fish
Best ol' dish I ever ever had

Now Matzoh balls and gefilte fish
Makes you order up an extra dish

Matzoh balls,
Gefilte fish
Really really really really fine

Now you put a little horse radish on it
And make it very mellow
Because it really knocks you right on out

(Oh well) the Matzoh balls
Gefilte fish
Best ol' dish I ever, ever had

Now Matzoh balls and gefilte fish
It makes you order up an extra dish
Matzoh balls, gefilte fish
Put a little horse radish on the side

Makes it mellow, makes it jello
Mellow and the jello, boy
Horse radish on matzoh balls

Matzoh balls stew!

04 outubro 2005

adeus às armas

até agora, ainda não me tinha decidido sobre o referendo do dia 23. vinha acompanhando o debate com uma dose grande de isenção e afastamento, embora achasse alguns argumentos dos defensores do comércio um tanto americanófilos e paranóicos (desconfio que, no brasil, a maioria dos que defendem o uso de paus-de-fogo como forma de auto-defesa sequer sabem manejar um revólver de espoleta).

a leitura do artigo "Tudo o que o lobby das armas não quer que você saiba", da carta maior, me fez bater o martelo. para o autor, a violência causada por armas de fogo só não é considerada um escândalo no Brasil, porque a maioria das vítimas são jovens pobres e negros." lembrou-me da pesquisa do caco barcellos no livro Rota 66, A história da polícia que mata, de 1992 (aqui uma boa entrevista com o repórter).

de volta ao desarmamento, um trecho do artigo merece destaque:

Rolim também analisa alguns dos argumentos utilizados pelos defensores das armas no Brasil. Um deles é aquele que afirma: “armas não matam; são as pessoas que matam”. O autor comenta: “Esta é uma daquelas afirmações muito ao gosto de um público televisivo, acostumado com a exigência intelectual de programas como Big Brother e que, por isso mesmo, agradam muito e tendem a ser repetidas infinitas vezes como se, de fato, dissessem algo”. Na verdade, acrescenta, trata-se de uma afirmação tautológica [vai ver no dicionário, pô!]. E propõe a seguinte estratégia de resposta: “Caso você tenha que enfrentar este tipo de lógica não tente falar em tautologia. Seja mais simples e direto. Diga algo como: É verdade, armas não matam. E também não morrem. Quem morre são as pessoas. Seu interlocutor, então, terá no que pensar, por alguns dias”.

ps: aposto minha mão esquerda que se o referendo passar, alguns "coleguinhas" também vão utilizar o título do livro do hemingway.

update: afinal encontrei um argumento fortíssimo a favor do "não": o carlinhos brown aparecendo na campanha do desarmamento.

até breve, chiquita!

quando o alzheimer ainda não devorava minha voca, ela contava como minha mãe reproduzia, à sua maneira infantil, o bordão do rádio: "a minha, a sua, a nossa vangerica!" anos depois, o mistério foi esclarecido pelo cd que acompanhava um livro sobre a história do rádio que ganhei de presente. a voz do ator, locutor, e mais tarde diretor da rádio nacional, césar de alencar, anunciava a plenos pulmões "... a faaaaaaaaaavoritaa...emilinha borrrrrrrrba!" , com o "r" vibrante dos speakers de antanho.

mas foi nos últimos anos, no gargarejo do palco de carnaval da prefeitura na cinelândia, atrás do carro de som do bola preta, e nos bastidores do programa de tv em que trabalhei por alguns anos (onde ela apareceu como convidada um punhado de vezes), que me tornei fãzaço da emilinha borba. ambém ajudaram os primeiros tempos de cordão do boitatá, quando aprendemos uma carrada de marchinhas.

vai ser difícil não fazer coro com os que andam dizendo por aí que "o carnaval acabou".

a propósito, o nome da minha gatinha chica foi dado em homenagem à "chiquita bacana", do braguinha (joão de barro) e alberto ribeiro.