30 outubro 2003

sons do bicho

parabéns para você, amiguinho que descobriu que o título é uma brincadeira com o pet sounds, do beach boys. é que ontem, estávamos eu, Salsão e MW aproveitando a viagem de negócios da mulher da casa para falar besteiras, ouvir música alta e consumir substâncias estupefaciantes. e pintou o papo sobre álbuns lapidares do pop internacional.

desde que assisti no cabo o vanilla sky e uns documentários sobre os anos 60, fiquei meio obcecado pelo grupo do brian wilson, citei na lata o pet sounds, entre vários pink floyds, jimis e led zeppelins. depois de alguma discussão e farta distribuição de pescoções, chegamos à conclusão de que, apesar de ser um disco pau-duro (afinal foi uma das ins-pirações para o SGT. Peppers, referência pra lá de respeitável), não é muito lembrado. e sequer rendeu uma onda revival de"beachboysmania". quem sabe, sabe, mas ainda assim,acho um disco injustiçado.

experimente escutar god only knows ou wouldn't it be nice - só pra ficar nas mais óbvias - e diga se não estou certo.

27 outubro 2003

sobre cachorros em apartamentos e seus donos

muita gente vai querer arrancar minha carótida a dentadas, mas, em geral, classifico gente que tem cahorro em apartamento entre os tipos que menos respeito têm pelos seus semelhantes.

como diria jack, o estripador, vamos por partes:

1) cocô. infelizmente, ainda é exceção o sujeito levar um saquinho para catar o cocô do seu estimado totó. das duas uma: 1) ou o cara que faz isso nunca pisou em cocô na rua, ou 2) não se importa de entrar com o sapato cagado em casa. qualquer uma das opções é porcaria. essa é a mentalidade da lei de gérson. levar vantagem em tudo, certo? farinha pouca, meu pirão primeiro. e danem-se os outros.

2) latidos. é a mais pura falta de respeito obrigar os outros a escutar em casa a sinfonia de latidos. quando eu morava na casa da minha vó, tinha um camarada que sempre quando saía ou limpava a casa, deixava o "cóqui ispénel" latindo na varanda. e o bicho se esgoelava a tarde inteira, sem intervalos. até pensar ficava inviável nestas condições. e ninguém fazia nada. e ganha um doce porque as bestas fazem um escândalo toda vez que se toca uma campainha?

3) ruído no assoalho. essa só entende quem já teve vizinho de cima dono de cachorro. é um tique-tique-tique na sua cabeça a qualquer hora do dia ou da noite. pior do que barulho de salto alto. sempre lembrava isso à minha ex quando ela reclamava do vizinho de baixo botava a casa toda pra tremer no último volume do home theatre nos fins de semana.

4) cheiro. dentro de casa ou no elevador. sem mais comentários.

antes de sofrer linchamento, só gostaria de lembrar que não tenho nada contra cachorros. gosto deles e eles, normalmente, de mim. e por respeitá-los é que acho judiação e egoísmo mantê-los em apartamentos. é igual a ter passarinho em gaiola. cachorro precisa de espaço.

sem falar na grana de manutenção, que poderia ser melhor empregada na ajuda dos necessitados da sua própria espécie. até porque são eles os bárbaros que descerão dos morros para ameaçar a tranqüilidade burguesa da classe média criada a toddynho. na qual eu me incluo.

mais dda na sua vida

é, meus velhos, parece que os prognósticos se confirmam. ontem levei um papo rápido com uma amiga psiquiatra, que me conhece há anos (antes mesmo de estudar para encolher cabeças), e assim que levantei a hipótese de dda, ela fuzilou um "também acho" convicto.

pano rápido é o cacete. me encontro com ela essa semana para tirarmos essa história a limpo.

bái de uei, os compromissos ainda andam a passos de cágado. aleijado.

24 outubro 2003

acho que tenho dda

dda é a sigla de "distúrbio de déficit de atenção", mas também pode ser conhecida como tdah, vulgo "transtorno de déficit de atenção e hiperatividade".

pois bem, falando sério como poucas vezes posso ter falado na vida (pelo menos que eu lembre - outro sintoma de dda é o esquecimento), acho que tenho essa porra, cujo processo se traduz num rateamento dos lobos pré-frontais toda vez que eu preciso me concentrar em alguma coisa. ao invés de funcionar, o bicho desliga. ou então liga demais, criando estados de super-concentração.

o papo surgiu hoje na análise, quando eu me queixava do constante adiamento das tarefas mais banais a que era submetido, da dispersão absurda, do medo do enfrentamento, das mentiras constantes e da baixa capacidade da realização dos meus projetos. daí meu analista perguntou se eu havia lido um texto que ele me passara há mais de um mês e que eu obviamente perdera antes de poder lê-lo. era sobre dda, e a cada sintoma descrito na sessão de hoje, meu queixo caía um centrímetro a mais, tamanha a identicação.

cheguei em casa e vim procurar pelo assunto na rede. e cheguei a conclusão que deve ser isso mesmo. uma matéria da Istoé de 6/09/2003 transcrita no blog conviver com dda ou tdah, entre outras coisas diz o seguinte:

"Para saber se o adulto é hiperativo, é necessário que ele tenha sentido na infância pelo menos seis dos sintomas indicados abaixo. E que ainda hoje conviva com alguns destes sinais por no mínimo um semestre:

'Os pacientes distraem-se facilmente e têm dificuldades para se concentrar. Assim, cometem erros no trabalho,
'São desorganizados, esquecidos e impulsivos,
'Agitados e inquietos, não ficam parados por muito tempo,
'Têm mudanças bruscas de humor e entram facilmente em depressão,
'São volúveis nos relacionamentos afetivos,
'Falam excessivamente,
'Não completam as tarefas,
'Perdem com frequência os objetos."

sou eu mesmo. mifudi, né?
na matéria ainda tem um caso de um camarada que voltou a fazer faculdade depois de a ter largado porque "estava achando chato". porra, eu tentei três, e só terminei a última por intervenção direta de uma grande amiga, que literalmente me pegava em casa, do contrário eu não ia. passei três anos e tal admirado por todos os professores como um crânio, e nos dois últimos semestres, quase fui reprovado duas vezes por faltas. o mistério tinha sido desvelado, e lá nada mais me interessava.

e o que dizer da facilidade com que eu conquistei e desperdicei namoradas? no começo me apaixono, me envolvo etc., mas depois de conquistada a presa, entrando na rotina, me desinteresso absurdamente. sou capaz das maiores veleidades, sem querer. é raro - e falo aqui sem a menor dose de presunção - freqüentar festas de determinados grupos de amigos, sem que haja pelo menos uma ex presente. no entanto, meu recorde de permanência com elas é de um ano e meio, com muito custo.

acho que o fato de eu nunca ter passado mais de dois anos no mesmo colégio, devido as constantes mudanças a que meu pai era submetido como militar, pode ter mascarado o problema durante o período escolar - se é que eu o tenho. idependente disso, sempre tive dificuldades de cumprir prazos (um dia, depois de fevereiro, provavelmente, contarei a história do meu ingresso no mestrado). escrever o menor dos textos pode demorar horas, às vezes dias, tantas são as vezes em que interrompo a tarefa. (felizmente hoje devo estar no período de super-concentração)

uma qualidade de que sempre me orgulhei (e que sempre irritou todos ao meu redor) é a capacidade de conversar com uma pessoa e ao mesmo tempo olhar a menina passando na rua e escutar uma música que esteja tocando. pois descobri que isso é típico de ddas.

embora o texto esteja leve e eu esteja muito empolgado escrevendo-o, se for dda o que eu tenho, estarão explicadas muitas tardes de verão em que eu me trancava no quarto com as cortinas fechadas. assim como os constantes conflitos que fui protagonista e que tornaram boa parte da minha adolescência em casa uma chaga aberta. eu vivenciava uma insatisfação incompreensível para meus pais. tinha pavor (e raiva) de acabar como eles, de uma maneira que eu classificava de ignorante e medíocre. queria mais, queria uma plenitude intraduzível. algumas vezes eles até tentavam entender meus motivos, mas o turbilhão de sentimentos e a falta de termos adequados só me deixavam mais irado. e como eu chorava nessa época...

ao mesmo tempo, para consumo externo, eu era dos caras mais populares e um dos amigos mais leais que qualquer um pudesse ter... durante uns seis meses. quantas vezes eu não disse para os outros e para mim mesmo que as pessoas não passavam de sombras na minha vida; elas apareciam e desapareciam sem maiores dramas, normalmente. quantas vezes não fui chamado de egoísta por isso!...

também perdi a conta das vezes em que reencontrava amigos de longa data que me contavam coisas de arrepiar o cabelo que eu supostamente havia dito. e muitas delas eu só acreditava por reconhecer um certo padrão de raciocínio meu - mas lembrar, mesmo, qual o quê!... ultimamente achei até que os lapsos haviam sido superados, mas eis que há pouco tempo, fui protagonista de dois episódios: uma ex que encontrei me disse que, quando namorávamos, eu costumava usar uma frase extremamente desairosa como um comentário corriqueiro; e numa festa, uma amiga de uma amiga (por quem eu até alimento um certo quebranto secreto e inatingível) lembrou de um encontro que tivemos num antigo emprego meu. depois de tanta insistência dela, tive que fingir que lembrava do episódio, que só pode ter sido verdade, tamanhos os detalhes e as circunstâncias. mas não guardo a mínima lembrança de nenhum dos dois casos.

enfim, posso passar muito tempo descrevendo coisas da minha vida associadas ao dda, mas acho que já me estendi bastante. e se pareço um tanto eufórico, é mais por parecer conseguir uma explicação para tantos problemas que venho enfrentando nos últimos anos, e que agora parecem atingir um ponto próximo do insuportável. é um alívio descobrir que o que te impede não é falta de caráter ou de perseverança, e sim um desequilíbrio na produção de dopamina, o que quer que isso signifique. diante disso, basta (basta? como assim?) tentar criar mecanismos de conscientização dos processo e não deixá-los acontecer.

assim parece.

de qualquer forma, encontrei outro site muito bom, o orientações médicas, escrito pela dra. sonia maria coutinho orquiza, que dá uma explicação bem detalhada da parada, com inclusive dicas de estímulo positivo dos lobinhos pré-frontais. o site do napades, da dra. ana beatriz barbosa, que anda muito badalada no assunto, ela mesma uma dda.

23 outubro 2003

mais sobre Ricardo Reis

continuo meu romance com ricardo Reis. calma! antes que algum desavisado saia aos quatro ventos espalhando que virei adepto da inversão, aviso: RR é o heterônimo do Fernando Pessoa que eu não gostava na era da pedra lascada, mas que o redescobri há dias, e de quem ando lendo tudo.

minha humilde impressão é a de que, diante da tomada da consciência da finitude do corpo e da vida, RR empreende uma volta ao classicismo grego como forma de dar sentido à iminência do fim, organizando-a esteticamente.

bão, tudo isso me lembra muito um curso que uma professora de faculdade e amiga contou que ministrou uma vez na PUC: Fernando Pessoa à luz do budismo. (e para ninguém ter cócegas de utilizar a idéia, quebro minha política de privacidade e dou nomes aos...bem...a ela: maria da conceição do couto netto, vulgo "meu anjo".

a teoria dela era a de que se podia organizar os heterônimos, independente de sua cronologia, de forma a desenhar um paralelo com a iluminação budista. começando com a poesia histórica de Fernando Pessoa ele mesmo, e o desejo de retorno à simplicidade da infância. Diante da consciência da morte pinta o RR, com a grande experiência de um passado clássico, grandioso, que pelo menos justifique a miséria do fim. mas o esforço, além de desgastante, mostra inútil. vem daí a revolta e a descrença de Álvaro de Campos. por último, depois de romperem-se as amarras às regras sociais de boa conduta e de civilidade, chega-se à placidez sem de Alberto Caeiro, sensorial, direto, que não se importa com o mistério, e que só pensaria no mundo se estivesse doente. "Por que o ter consciência não me obriga a ter teoria sobre sa cousas:/ Só me obriga a ser consciente".

em linhas gerais é isso. pra terminar, gostaria de sapecar mais um Ricardo Reis. Se eu tivesse um túmulo, gostaria que fosse esta a inscrição:

Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.

um leitor! um leitor!

descobri um cara que lê (ou pelo menos leu uma vez) o blog sem a minha expressa recomendação. alguém que realmente encontrou-o pelo google e o leu. e até citou a história do "seu tiguê".

tudo bem, o cara é meu conhecido, mas não importa. ele jamais poderia ter adivinhado que eu perdia meu tempo aqui. aliás, sem medo de parecer baba-ovo, o cara é um dos grandes luminares das letras da nova geração. e embora eu tenha estabelecido como norma pessoal evitar ao máximo citar o nome de pessoas, nesse caso vou abrir uma exceção: é o max mallman.

na minha humilde opinião (que ninguém pediu, é verdade), seu "síndrome de quimera" está entre os livros mais bacanas que já li. tá pra sair outro na segunda que vem, na travecona de ipanema. se não me falha a grafia, o título é "zigurate". não percam!

21 outubro 2003

velhos hábitos não são solúveis em água

há dois dias não consigo sair de casa, não procuro meu orientador, sequer vou atrás do dinheiro que estão me devendo. fico sentado nesse computador maldito, jogando, vendo sacanagens, enquanto o mundo corre, o tempo passa, e os prazos encolhem.

a letargia está tomando conta de mim de novo. e eu que achei que isso estava superado...

SOCORRO!!!

"prazer, mas devagar"

Ricardo Reis é um dos heterônimos de Fernando Pessoa. É o dos versos exaltando o classicismo grego. como bom clássico, RR tem lá a sua musa inspiradora, Lídia.

quando eu cometia versos durante a adolescência, o heterônimo com quem eu menos simpatizava era o próprio, mais interessado estava eu nas experiências transgressoras dos modernistas e dos poetas contemporâneos do que em redondilhas e alexandrinos. coisa de moleque.

semana passada minha irmã atiçou meu interesse, ao me contar como tinha, pela primeira vez, lido o "ficções do interlúdio", anos depois de ter praticamente forçado o ex a dar-lhe o livro de presente. comentávamos sobre as características dos diferentes autores, e hoje, levei-o para ler no - arham - banheiro.

dele (do livro, não do banheiro) tirei duas pérolas do RR. uma delas sobre a discrição dos amantes, e outra sobre mania das mulheres de antecipar tudo, ou de só fazer as coisas pensando no futuro. ei-las:

XVII

Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã. Cumpre-te hoje, não sperando.
Tu mesma é tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?

XIX

Prazer, mas devagar
Lídia, que a sorte àqueles não é grata
Que lhe das maõs arrancam.
Furtivos retiremos do horto mundo
Os depredandos pomos.
Não despertemos, onde dorme, a erinis
Que cada gozo trava.
Como um regato, mudos passageiros,
Gozemos escondidos.
A sorte inveja, Lídia. Emudeçamos.

...

a propósito, não achei "erinis" nem no houaiss. no entanto, lá mesmo tem "erínia", cuja etimologia francesa érigne ou érine, remetem ao latim aranea - aranha, teia ou fio. faz sentido. as palavras foram grafadas exatamente como no livro. as letras faltando não são erros de digitação. é métrica, manja?

tão pensando o quê? marcelão também é cultura!

...e a cozinha virou veneza

...mas não só ela: a área, o quartinho de empregada, o hall de entrada e o tapete que o decora, e passando por debaixo da porta, até o corredor do elevador.

tudo porque ontem, quando fui lavar minhas roupas de manhã, não notei que havia uma camisa do Salsão dentro do tanque. botei-as na máquina como de costume e fui cuidar da vida. mas a camisa acabou tapando o ralo, e toda a água expelida nos vários processo de enxágue, torção, centrifugação etc., em vez de seguir seu curso natural pelo encanamento, transbordou alagando metade do apê. depois de uma meia hora, de banho tomado, arrumado e cheiroso, vou pendurar as roupas, mas eis que ouço o chapinhar de poças da d'água. - mas peralá! na minha cozinha?!

corri para a área, achando que a mangueira tinha escapulido do tanque. mas qual!...(a bem da verdade, escapulindo ou não, o estrago teria sido o mesmo.)

resumindo: passei o dia inteiro com o rodo na mão, puxando água até o banheiro de empregada, onde fica o único ralo disponível por aquelas plagas, e trocando de tempos em tempos os jornais que eu usava para chupar á água. esse processo, como já disse, me consumiu o dia inteiro, e todos os planos que eu havia estabelecido para ontem se esboroaram.

em compensação, a cozinha ficou limpa e cheirosa.

os grafites de banksy

li na trip de outubro: na inglaterra, um grafiteiro que atende pela alcunha de banksy cria intervenções nas ruas com temática esculhambatória ao status quo, além de levantar questões para as pessoas pensarem. mas como o grafite é proibido na bretanha, ninguém sabe ao certo se o cara é homem ou mulher, preto ou branca. e como é considerado criminoso, banksy não pode dar mole de aparecer. mesmo quando uma galeria londrina organizou uma exposição com seus trabalhos, não se sabe se ele compareceu.

um exemplo das traquinagens do sujeito são os monumentos grafitados com os dizeres "área permitida para grafite", como se fosse um aviso oficial. no dia seguinte, os ditos já ostentam milhões de garatujas de várias procedências. e pra provar que é um cabra arretado mesmo, ele fez isso numa viatura policial. está registrado no sítio dele, onde também se pode encontrar outras obras cometidas no mobiliário e no cenário urbanos. também está na lista dos favoritos, no canto direito da página. divirtam-se!

coca-cola é isso aí!

não tenho nada contra a coca-cola. ou melhor, nada além da antipatia de praxe para com grande parte das major companies, porque se elas conseguiram galgar esse status, não foi pelas boas maneiras com a concorrência ou a cordialidade com funcionários (basta dar uma olhadina no ADBUSTERS, no link dos favoritos aí do lado). only the strong survive!, vociferam os neoliberais, reiventando a teoria darwinista.

enfim, voltando à coca (cola!), apesar do meu paladar não se animar muito com o gasoso (salvo em ressacas), não deixei de bebê-lo quando os states resolveram fincar pé no iraque. entretanto, a notícia que li hoje na internet me surpreendeu. não pelo fato em si, afinal, a estratégia de estrangular e encampar companhias menores não é nova, vide o que foi feito com os"guaranás paquera", só para citar um exemplo mais fresco na memória. o inusitado é alguém ter posto a boca no mundo:

Dono de refrigerante Dolly disse que se acontecer algo a ele ou à família será obra da Coca-Cola

19:06 20/10
Agencia Brasil

Desde junho deste ano, Laerte Codonho, dono da marca de refrigerantes Dolly - com sede em São Paulo -, vem realizando uma cruzada para reunir provas de que a Coca-Cola teria agido deliberadamente para tirar a empresa brasileira dele do mercado. "Vindo à tona tudo isso, só nos ajuda, me tranqüiliza porque se alguma coisa acontecer comigo ou com alguém da minha família, está claro que isso é obra da Coca-Cola", afirmou Codonho.

Ele esteve reunido hoje com o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg. Depois do encontro, o empresário contou que, em 15 dias, vai apresentar todas as provas à secretaria que confirmam a sua denúncia para que seja possível abrir um processo administrativo. "Vamos entregar provas que apontam que a Coca-Cola tentou tirar as empresas menores do mercado e a Dolly é a principal. E que eles realmente não pouparam nenhum tipo de intriga, de pressão em cima de clientes e fornecedores para que a Dolly saísse do mercado", disse.

Durante reunião realizada hoje, o dono da marca Dolly apresentou ao secretário uma lista de fornecedores dispostos a testemunhar contra a Coca-Cola. Segundo Codonho, os fornecedores foram obrigados, pela Coca-Cola, a paralisar fornecimento para Dolly para que ela não pudesse atender seus clientes e que as empresas que não fornecessem para Dolly seriam recompensadas pela Coca-Cola com paralisia de pressão. "Pressão por órgãos governamentais e também a compra de insumo que era vendido por esta empresa para Dolly por um preço maior para Coca-Cola. Ou seja, a Coca-Cola pagaria a mais pelo insumo que a Dolly estava comprando, mas desde que a empresa não fornecesse nada para Dolly", explicou.

Codonho promete entregar ainda fitas de vídeo que comprovam as denúncias. Uma delas contém a gravação de conversas entre Codonho e Luís Eduardo Capistrano do Amaral, ex-diretor de compras e estratégia da Spal-Panamco (maior engarrafadora da Coca no Brasil, recém-adquirida pela mexicana Femsa). Na gravação, Capistrano disse que tinha a missão de tirar a Dolly do mercado. Um dos primeiros artifícios para isso, segundo Codonha, foi o envio de um e-mail fraudulento afirmando que a Dolly fazia mal à saúde e que esta mensagem foi colocada ainda em hospitais, pontos de venda, postos de saúde e academias de ginástica.

Nenhum representante da Coca-Cola quis se pronunciar sobre o tema. No entretanto, a empresa divulgou nota oficial em que trata do caso. "O Sr. Luiz Eduardo Capistrano do Amaral, que figura como fonte de informações e que trabalhou na Spal/Panamco até Dezembro de 2000, prestou depoimento no Terceiro Distrito Policial de Diadema/SP e não confirmou as acusações". Em outro trecho da nota nega ter disseminado informações contra o refrigerante brasileiro. "A acusação do presidente da Dolly, de que a Panamco teria propalado um e-mail na internet contra seu produto, é falsa e não faz sentido. Este e-mail, na verdade, atingiu o Guaraná Kuat, numa versão criminosa de grande repercussão na internet". A nota coloca ainda que a Femsa ainda não tem nenhuma informação ou evidência que comprovem as referidas acusações.

A nota termina com a seguinte afirmação: "Com 60 anos de presença no Brasil, a Coca-Cola e seus fabricantes adotam uma conduta comercial fundamentada em princípios éticos, que respeitam as normas legais e a concorrência leal em todos os segmentos que atua. Como resultado, ao longo destes anos, vêm conquistando a preferência de clientes e consumidores com produtos da mais elevada qualidade", finaliza.

19 outubro 2003

outras coisas que tenho ouvido

além das já citadas versões de "on the sunny side of the street", baixei "my favorite things" com o John Coltrane. aliás, sobre essa música, tem uma história curiosa. a ouvi pela primeira vez na trilha do American Splendor, pelo menos assim eu pensava, embora tenha achado familiar a melodia e a assinatura do sax óbvia desde as primeiras notas.

Pois bem, a trilha toda era magnífica, e fiquei doido para procurá-la e baixar tudo pela rede. dito e feito. embora algumas das músicas sejam cascudas de encontrar, apostei de cara no Coltrane. consegui e gostei muito. daí que, uns dois dias depois, estava eu com a gabriela num birô de xerox quando começo a murmurar a melodia. e ela completa as partes que não me lembrava. espantado, perguntei se conhecia. aí vei a minha surpresa:
- claro, essa música é da noviça rebelde.

- UQUÊ????!!!!! - respondi, incrédulo. o queixo encostava na ponta dos sapatos. - da noviça rebelde???? porra, esse é o filme que eu mais odeio na vida!...

e não é que era mesmo. ela até contou quando entrava, e tive que concordar, apesar da pouca lembrança. e para completar, ela sapecou que têm umas três músicas que foram regravadas por jazzmen. por essa realmente eu não esperava. uma das músicas mais lindas do universo saída justamente do pior filme.

bom, só tenho uma coisa a mais para dizer: goste ou não você de jazz, procure escutar "my favorite things". sua vida pode transformar-se para sempre.

no lado ensolarado da rua

é, amiguinnhos, depois de semanas de trabalho duro e exposição da própria figura - mesmo quando negativa, que bom o sentimento de estar vivo! -, as coisas continuam estéreis, o dinheiro curto, e a justiça - alas! - sendo feita com as próprias mãos.

mas quem se importa se a colheita da noite anterior foi inútil, se a língua travou e o ritmo perdeu o tempo, se no dia seguinte, camarada, você abre as ventanas, e vê um puta sol e a brisa da primavera beijando seu corpo cheio de cerveja?

e pra completar a felicidade, ouço sem parar as "versão" recém-baixadas de "on the sunny side of the street", por BILLIE HOLIDAY e DIZZIE GILLESPIE, esta cantada por SONNY ROLLINS, (nem maiúsculas para esses, é caixa alta mesmo).

dá até pra acreditar que deus existe...e que tá tentando se comunicar comigo.

se o diabo é o pai do rock, deus definitivamente deve ser o do jazz.

mas vamos às letras:

on the sunny side of the street

Grab your coat and get your hat
Leave your worries on the doorstep
Just direct your feet
To the sunny side of the street

Can't you hear the pitter-pat
And that happy tune is your step
Life can be so sweet
On the sunny side of the street

I used to walk in the shade with my blues on parade
But I'm not afraid...this rover's crossed over

If I never had a cent
I'd be rich as Rockefeller
Gold dust at my feet
On the sunny side of the street


...é de encher um sujeito de esperanças na vida, na humanidade, em si mesmo, no cacete a quatro...

acho que estou vivendo uma maré muito boa. embora as coisas não estejam nem um pouco cor-de-rosa, minha atitude perante a vida e o olhar sobre os fatos estão bem mais positivos.

e assim pretendo seguir, sem medo de trupicar, negão.
você está com um mundo em suas mãos. levante e corte.

09 outubro 2003

chlöe sevigny

fiquei com a pulga atrás da orelha em relação à ela. tinha certeza de que já a havia visto em algum filme, mas não lembrava qual.

aí, depois de um café, fui vasculhar a rede e descobri que só deu chlöe sevigny nesse festival. além dos dois filmes mencionados no post anterior, ela está também em dogville (esse não vi, apesar de estrelado pela mulher mais linda do mundo - Nicole Kidman).

e de quebra, chlöe fez dois dos piores filmes que já vi - american psycho e kids. sabia que já a conhecia de algum lugar...

"only the strong survive" y otras cositas más

hoje à meia-noite vai passar o filme pelo qual eu venho esperando desde o começo do festival: "only the strong survive", sobre os músicos que fizeram o nome da Stax (maiúscula!), a correspondente da Motown em memphis.

vai entrar em cartaz amanhã. mas podendo ver de graça...

outro filme que eu "se amarrei" foi o american splendor. mas vi muita coisa ruim.

o tal do brown bunny é um cu (com todo respeito aos cus). a única ação do filme que tem sentido é realmente o boquete, que aliás a chlöe sevigny executa com maestria. fico imaginando o papo brabo de "entrega do ator ao papel" que o vincent gallo deve ter jogado para convencê-la a realizar a cena. mas inegavelmente, é muita coragem. (um parêntese: engraçado que NINGUÉM na sala de cinema esboçou a menor reação diante da cena. todos estavam grudados nas poltronas, e não se ouvia sequer o som das respirações. todos os fôlegos estavam suspensos.)

mas voltando ao roteiro (roteiro?), tudo bem que o cara está atormentado com a perda da mulher etc. mas há outras maneiras de se mostrar sofrimento, menos internalizadas. é que o gallinho de quintino não comunica para a platéia o sofrimento. o cara é oco a maior parte do tempo. quem expressa o que está rolando são as músicas, que aparecem nos momentos-videoclipe, quando a câmera dentro do carro vai filmando a estrada à medida que ele viaja. aliás, tô pra ver artifício mais óbvio.

numa boa, os críticos que me perdoem, mas eu prefiro um feijão com arroz bem feito do que um experimentalismo só para chocar.

aliás, vi um outro filme com a chloe sevigny, "demonlover". esse sim, um filme estranho, mas na melhor acepção da palavra. estranho bacana, respeitando a carpintaria do cinema. lembra um pouco "videodrome", do david cronemberg.

mas até agora não cheguei à conclusão se mme. sevigny é feia ou bonita. quero dizer, no brown bunny ela está bem bonita, mas no demonlover ela tá com cara de adolescente abestada. não sei...

já o elefante tem umas coisas interessantes, mas acho que também cai na esparrela de experimentalizar. o bom é que o gus van sant não vai pelo caminho fácil de explicar o porquê dos meninos terem resolvido encher os coleguinhas de azeitona. ele não explica nada, e aliás, até quase a metade do filme, não se tem a menor idéia de quem serão os assassinos.

mas a revelação foi mesmo "chouchou em apuros". filme gay francês para a família. o chouchou é um camarada que se finge de refugiado chileno pra conseguir viver numa igreja, e vai vivendo sua vida numa boa, até descobrir o amor. engraçado, mesmo.

perdi o saco de escrever. depois continuo. ou não.

o tal texto...

salve, povo!
com o festival acabando, a sala ficou vazia e deu para dar uma olhadinha um pouco mais detalhada no blog. o tal texto que eu achava que tinha perdido, voltou. ou melhor, nunca havia ido, foi publicado direto.
on the other hand, o espaço para comentários desapareceu de novo, o danado.

acho que isso é um trabalho para o super-dude!

não gosto muito de importuná-lo com essas coisa, mas vou ver qual é.

08 outubro 2003

otras cositas más, perdidas

depois que, por algum estranho desígnio, meu template ficou apagado durante uns quatro dias, e conseqüentemente, a página, vazia, descobri que a minha lista de links foi apagada. vou ver se em algum lugar dessa parte administrativa os links estão armazenados, em vez de perdidos.
dude, my main man, where are you, bro?!

04 outubro 2003

"não consigo ler nada..."

alguém lembra dessa frase de um desenho do pica-pau? ele vai fazer um exame de vista para renovar a carteira de motorista, e o examinador dá a ele uma sopa de letrinhas que formam a frase do meu título. o cara vai approximando a cabeça do picapau da tigela, até enfiá-la lá perguntando "e agora? já consegue ler?"

pano rápido.

tudo isso para dizer que há algo errado com o blog hoje. tá tudo apagado. quem entra na página não consegue etc.

mistério...

american splendor

algumas informações relevantes sobre o filme, coletadas do site do festival do rio 2003: "Grande Prêmio da Crítica Internacional da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes de 2003 e o Grande Prêmio do Júri no Sundance Film Festival deste ano".

bem que o john cooper, diretor do sundance, que conheci ao servir de intérprete numa entrevista, me deu o toque: "esse american splendor é muito bom".

harvey pekar de ouro

pare tudo o que estiver fazendo e vá assistir "American Splendor" (maiúsculas! maiúsculas!). vi ontem e fiquei chapado! o diretor (nem sei quem é) fez um caldo maneiro, com toques de documentário entrando pela ficção, com animações etc.

o filme é sobre um camarada chamado harvey pekar (nome que dá piada tanto em português como em inglês), amigaço do Crumb, Robert Crumb (esse também merece maiúsculas!). bom, quando este começou a fazer sucesso com quadrinhos, o pekar ficou tentado a engrossar seu raquítico orçamento da mesma forma. mas o cara era incapaz de traçar uma linha reta no papel. na base dos bonequinho de palito, ele apresenta umas histórias pro Crumb, que imediatamente topa desenhá-las. aí nasceu o gibi que dá nome ao filme. hoje ele tem programa de rádio, blog, vende livros, camisas, bonequinhos com sua estampa etc.

os idiotas da objetividade podem alegar que o sujeito "se vendeu ao sistema", ou qualquer outra baboseira do gênero. ora, direi aos sacripantas, o que há de mal em faturar uns cobres de forma decente, utilizando como matéria-prima apenas a própria vida, e ainda por cima, sem passar absolutamente por cima de ninguém?

enfim, como diria o tim (maia, não lopes), "não perca tempo!" vá no google, digite o nome do gibi e do seu autor e veja o que há. e levante essa bunda gorda da cadeira e vá assistir ao filme qundo entrar em cartaz. no festival ele já tava até legendado.

03 outubro 2003

de volta (e sem maiúsculas!...)

hola, considerados

estou voltando depois de um longo inverno de acesso precário ou nenhum. me mudei (mas ainda não perdi a mania de iniciar as frases com pronomes oblíqüos), tentei instalar o Velox, perderam meu pedido e depois (para minha sorte) consegui um frila no festival do rio. resumindo o entrevero, só vão poder instalar a banda larga (ô nome feio!...) no dia 10.

acho que tenho passado por algumas mudanças, não tão visíveis pela perspectiva externa, mas internamente. sendo que a mais visível foi uma sensível perda de peso (no que o festival tem contribuído bastante com o ritmo puxado) e o abandono das maiúsculas. sei lá, estou querendo descomplicar as coisas,e as maiúsculas me parecem um bom começo.

ah, ontem eu escrevi um textão falando disso tudo, de transformações etc., bem escrito até, meio profundão, mas acabei apagando-o sem querer.

vou pegar uma carona para assistir um filme, e depois escrevo mais.

jundas!

é bom estar de volta...

02 outubro 2003

Depois de um longo inverno...

Hola, rapaziada!

Depois de muito tempo, estou quase retomando essa joça. É que muitas coisas aconteceram: me mudei, fiquei - e ainda estou - sem internet, peguei uns frila por aí (que, se Deus quiser vão se multiplicar e encorpar até formar um emprego fixo, com um salário decente. Ou então, vou encarar de vez as atres plásticas/ilustrações como meio de vida. Já acho agora que as coisas não se excluem, mas isso é outra história...).

Resumindo, ressucitei. Estava morto, ou morrendo, intoxicado pelo miasma putrefacto de meu próprio corpo inerte, mas agora as coisas estão mudando. O sangue pulsa novamente em minhas veias, estou mais forte, sentindo o vigor voltar aos músculos, a cor às faces. Ainda não sei bem o que quero, mas (oh! clichê...) sei muito bem o que não quero mais.

Em pouco tempo, muito mudou, mas não na medida externa dos homens; as transformações foram internas. Mais coragem e menos punheta filosófica.

Uma das paredes do meu querto é recoberta com tinta misturada com limalha de ferro, o que a torna aderente a magnetos. Celso e Gabi deixaram lá um monte daqueles imãzinhos com palavras. Um dia, meio inconsciente do que fazia, escrevi "alegria no lugar de idéia". Até hoje estou meio intrigado com o significado. Não entendi muito bem a frase e fiquei com medo dela. Para mim, abdicar da racionalidade é um passo grande demais. Embora já sejam reflexos das transformações previstas no meu mapa astral. Ascendente em peixes - migração de razão para sentimento.

Barra pesada, irmãos...

Mas a verdade é que ando meio cabreiro com sentimentos. Melhor, acho que perdi tempo demais tentando me completar através de relacionamentos, quando na verdade o que precisava era procurar maneiras de me fortalecer e seguir adiante. Sei lá, isso parece aquele papo do Delfim Netto de "primeiro fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo". Pode ser, não sei. Lo que pasa es que tô feliz em estar tocando a vida assim, aprendendo a ser só. Dá um aperto às vezes, tem noites em que sou assombrado por fantasmas, pinta uma certa melancolia no luco-fusco, mas tudo certo. As coisas estão redondinhas.

Tô no Festival do Rio (aliás, tô escrevendo depois da hora, desde o escritório), aprendendo meus limites, varrendo o quarto, fazendo compras, lavando e, pasmem!, passando roupas!

(acabei de reler o texto e parece que estou fazendo tudo isso no festival. hahaha! não confundam! lá estou na assessoria, o resto das atividades eu faço em casa!)

Bom, é isso. Acho que só vou poder voltar a escrever oficialmente depois do dia 10 de outubro, quando reinstalarei o Velox. Até lá, só se pintar a mamata de ficar depois da hora no escritório, babe!

Um dia eu falo dos filmes que vi, das terras por onde andei...lá lá lá lá... Como é aquela música do Gonzagão "minha vida é andar por esse país..."?