24 abril 2008

gênios da publicidade

nos anos 90 do século passado (adoro a sensação de pertencer a outro século), inventaram uma coalhada com um troço chamado "bifidus ativus", que supostamente faria maravilhas ao trânsito intestinal.

agora, tentam nos convencer de que seremos constipados de pai e mãe se não comermos um iogurte com um tal de "bacilo dan (dããã...) regularis". então tá.

no fim das contas, trata-se de publicidade de merda. e, nesse campo, até as pedras do calçamento sabem que mamão causa o mesmo efeito, com a vantagem de existir desde o princípio dos tempos e ser muito mais barato.

para me fazer de trouxa é preciso um pouquinho mais de sagacidade.

pra saber das novidades

já faz algum tempo que as manchetes do diarinho (não é que os caras cobram pela leitura do conteúdo?) tornaram-se quase obrigatórias.

misto de "espreme-e-sai-sangue" e "casseta e planeta", seu estilo é garantia de pelo menos um sorriso pela manhã. recomendo.

pérola do dia:

16 abril 2008

gastando latim

guardadíssimas as devidas proporções, às vezes me sinto como anchieta, escrevendo seu poema na areia da praia, pra depois vir a porra do mar e lamber tudo. ou seja, um trabalho boçal, mas que pelo menos eleva à santidade.

digo isso porque sempre que consultado (não sou besta de puxar esse tipo de assunto), canso de entregar às amigas o pulo do gato do trato com o sexo oposto. em vão.

sei que nada sei, porém gigante pela própria natureza, e com a experiência do convívio com os de meu gênero e espécie, afirmo com um mínimo de propriedade conhecer o que eu e alguns homens queremos delas e com elas.

talvez nenhuma mulher acredite em mim pela predominância do meu hemisfério palhaço. só que quando elas vêm me contar suas desventuras amorosas, tenho que morder lábios, língua e cotovelos para segurar o desejo de lascar um "não disse?", porque isso um cavalheiro não faz.

além do mais, desisti de ter razão. melhor é ser feliz ao lado de uma costelinha para esquentar e chamar de minha linda. os fatos apenasmente confirmam minha tese ainda não totalmente elaborada sobre o "romantismo canalha". mas atire a primeira pedra quem souber o que querem as mulheres.

para ser ouvido, resta-me ecoar as palavras do canalha-romântico por excelência, xico sá (dois bostejos seguidos sobre o cara... vão achar viadagem). reproduzo o texto, para ninguém ter a pachorra de dizer que a página não abriu.

DOU RISADA DE UM GRANDE AMOR - 16/04/2008

“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor, mentira!”

Encontro minha amiga A., no nosso botequim predileto, e a desalmada vai logo anunciando, com a ironia fina que a acompanha na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença.

Sempre tem boas histórias e uma mania louca de escolher uma música, normalmente Chico Buarque, para trilha das sagas românticas.

Como Chico tem um vasto elenco de personagens femininos e incorpora as dores e delícias das mulheres, ela escolhe no capricho, no ponto. Moleza, garoto.

“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor, mentira!”, ela repete e repete, enche o saco com o “Samba do grande amor”.

Essa música nem é protagonizada por uma fêmea, e sim por um homem desiludido do amor, um cabra cujo destino parafusou-lhe na testa belos objetos pontiagudos, como diria o compay Marçal Aquino.

Mas ela insiste e canta assim mesmo. Pior: canta e ri, uma loucura. Que diabo de sofrimento é esse com essas gargalhadas todas?

A moça é assim mesmo. Não tem jeito. E olhe que nem pediu caipiroscas de frutas vermelhas nesse dia, ficou apenas no chope, coisa fina e civilizada.

“Morrer dessa vez é que não vou”, tira onda. “Ih, estou escaldada, velho Francisco”.

O que A. me contou uma das coisas banais que mais escuto das minhas amigas nos últimos tempos. E olhe que sou conselheiro, ombudsman das moças, cupido e ouvidor-geral de muitas crias das nossas costelas.

“Sua carteira de desesperadas é grande”, ela mesma tira uma boa onda sobre um ofício que desenvolvo com gosto e curiosidade desde os verdes anos –quando sequer eu sabia o era uma mulher para valer, conhecia apenas as cabritas e as bananeiras.

A amiga deparou-se com mais um desses homens que prometem, ensaiam, jogam um charme, cultivam, cantam de galo... comparecem e..., sem dizer nada, tomam o clássico chá de sumiço.

“Por essas e por outras é que agora prefiro um bom canalha a um homem frouxo”, prega a amiga, conquistando rapidinho o apoio da mesa feminina ao lado. “Um canalha pelo menos me pega com gosto e temos noites deliciosas”.

Defende a tese e emenda, riso desavergonhado: “Passava um verão a água e pão, dava o meu quinhão pro grande amor, mentira!”

É rapazes, é tempo de homem frouxo, que corre mesmo diante da possibilidade de uma história mais densa e afetiva. Não sabem o que estão perdendo. A começar pela minha amiga cantante, belo exemplar da raça, no auge dos seus 3 ponto 6, boa conversa, boa lábia, gostosa, bocão e um humor capaz de tornar o mais nublado dos dias no dia mais alegre e comovente para o cara que estiver ao seu lado. Sorte deste hombre!

a pão e laranja

buquinando no centro da cidade, tomado pela modorra pós-prandial, deparo-me com um exemplar de "modos de macho, modinhas de fêmea" a 10 real.

o barbudinho do balcão faz graça durante a operação de pagamento pelo cartão de "déto":

- olha aí, o senhor tá sendo processado.

aprovada a transação (com trocadilho), a maquininha cospe o canhoto.

- pronto, saiu sua absolvição. o senhor já pode cometer outro crime.

penso cá com meus botões, se todos os crimes fossem literários, qual seria a pena imputável a um leitor de xico sá?

para gostar de beatles



porque ainda existe vida inteligente em algum lugar. dá até para acreditar que as novas gerações estão em boas mãos.

quem sabe, vai entender.

ps: o começo é acelerado e sem áudio, para burlar os direitos autorais.

12 abril 2008

atende, que é pra você

a solange indicou e eu tarrei. e já saí brincando de criar toques para celular. se algum dia você ouvir algum desses, pode procurar em volta que sou eu.











by audiko.net — ringtones.












by audiko.net — ringtones.












by audiko.net — ringtones.

11 abril 2008

músicas que marcaram minha vida (1)

irene - caetano veloso



se não me engano, o caetano compôs essa música em 69, durante seu exílio em londres. é um hino à saudade, materializada pela lembrança do riso da irmã. quase 20 anos depois, vivo uma história parecida, obviamente guardadas as devidas proporções.

circunstâncias alheias à minha vontade levaram-me a fixar residência em brasília pela terceira vez. estávamos às vésperas do jubileu de minha maioridade oficial, data que, pela localização geográfica, não oferecia nenhum motivo de júbilo. exilado no meio do cerrado, eu amargava a saudade de um rio de janeiro cuja noite, bares, mulheres, naturezas e mistérios eu mal começara a desbravar.

no distrito federal relacionava-me pouco, mas houve coisas boas. meu desenho deu um salto qualitativo, mergulhei fundo na obra dos beatles, de augusto dos anjos e allen ginsberg, e tomei meu primeiro porre de vomitar e apagar. assisti "hair" pela primeira vez. pouco antes de voltar, conheci um pessoal freqüentador do teatro garagem e da 109 sul.

ainda assim, a existência era cinza diante do tédio da imensidão sem fim do planalto central -- pô, venho de uma cidade onde mar e montanha dividem (às vezes aglutinam) o monopólio da paisagem em quase todas as direções. o banzo era tão violento que eu parecia uma adolescentezinha com tpm, de tanto chorar.

eis que um dia, o rádio me desperta para o colégio com essa música, que eu não conhecia e que traduzia exatamente meu estado de ânimo. era um sopro de esperança e vigor, apesar da letra triste. ouvi-a com atenção, e depois esperei o locutor anunciar o nome e o autor. até hoje guardo-a com carinho.

10 abril 2008

o segredo

"In my opinion, the best thing you can do is find a person who loves you for exactly what you are. Good mood, bad mood, ugly, pretty, handsome, what have you, the right person will still think the sun shines out your ass. That's the kind of person that's worth sticking with."

não tem nada desse papinho fajuto de mentalizar grana, sucesso, o escambau. o segredo da felicidade está em seguir à risca essas frases aí em cima.

a propósito, o texto é da diablo cody, roteirista de juno, filme que estava no meu computador há um tempão e que só assisti agora. uma pequena jóia. recomendo.

08 abril 2008

memória coletiva

a caminho do trabalho, o ônibus manobra na tesoura do aeroporto santos dumont, ponto que marca o fim do aterro do flamengo.

o trocador, pensativo, começa a falar, um pouco para si mesmo, um pouco para o motorista, um pouco para a pequena platéia do coletivo vazio, da qual eu fazia parte.

"Carlos Lacerda... quem construiu isso foi o Carlos Lacerda" - disse, abarcando toda a extensão dos jardins artificiais com um movimento circular de queixo.

"Eu era novinho quando ficou pronto... tinha acabado de chegar ao Rio. Isso já faz 48 anos.

E lá se vai uma vida...

Carlos Lacerda... Carlos Werneck Lacerda...
"

ele escandia as palavras de maneira hipnótica, como se o nome do antigo governador da guanabara pudesse se sobrepor às memórias de sua própria vida.

logo estávamos na presidente antônio carlos, onde puxei a corda e desci. mas a vontade era continuar até o ponto final e além, puxando conversa sobre como era o rio quando ele chegou, quantos anos tinha, o que havia mudado nesse tempo todo, e como se tornou trocador.

nesse dia trabalhei pensando numa cidade que não existe.

06 abril 2008

domingueira

o prédio onde moro é constituído por apartamentos de dois tipos. os como o meu são chamados de quarto-e-sala. os outros, que tem um único cômodo, não sei como chamam, mas desconfio que uma lata de sardinhas deva ser mais confortável.

para mim, que vivo só (física, espiritual e sentimentalmente), o tamanho não é problema (o do apartamento, o meu já é outra conversa). mas há famílias inteiras que se amontoam nesses espaços exíguos. normalmente o pessoal se comporta e a vida em comum é tranqüila. quer dizer, suponho que seja, porque passo pouco tempo em casa.

mas aí chega o domingo. chove, e na noite anterior, como na outra, você esteve com umas companhias muito interessantes, de bom papo, e que gostavam de tomar umas cervejas. e o estoque de bebes era tão generoso, e o entendimento tão grande, que as conversas vararam a noite, até dia claro.

resumindo, você preferiu ficar em casa. quer dizer, preferi (por que eu estava falando na terceira do singular?). aí é aquela preguiça de domingo. uma musiquinha, um chazinho com bolachas, uma jarrinha de café para recuperar a energia, mas quem disse que tive direito ao sagrado sono da tarde?

os rebentos dos vizinhos, trancafiados no dia chuvoso, deviam estar subindo pelas paredes. pelo menos eram o que os berros deixavam transparecer. os pais, muito preparados, respondiam na mesma altura. e os cachorros, tão contrariados quanto eu, opinavam com seus latidos agudos.

deitado na cama, a cabeça escondida sob o travesseiro, entortava entredentes as palavras do poetinha:
"começo a achar herodes natural".

"visions of angels"

tá com nojinho? deixa pra mim

toda vez que o assunto de fetiche vem à baila em mesa de bar (são interessantes os bares que freqüento. uma das minhas poucas qualidades é escolher lugar pra beber), tenho que justificar minha preferência pela pilosidade axilar feminina, vulgo sovaco de moça cabeludo. só porque faço galhofa com tudo, ninguém acredita quando sou sincero. o que posso fazer se minha libido é setentista, cheia de ranços hippies?

é curioso ver os homens rindo, como se eu estivesse fazendo graça. já as mulheres só faltam vomitar. vejam só o que é a imposição artificial da estética. elas estão tão acostumadas, tadinhas, a serem escravas de processos de tortura em nome da beleza (escovas, tinturas, maquiagens, manicures, depilações etc.), que quando se lhes é apontado o caminho da liberdade, ficam horrorizadas como se vissem uma ratazana morta.

enfim, quando toco no assunto, as pessoas querem que eu explique, como se desejo viesse com bula, ou pudesse ser objeto de análise acadêmica. meus camaradinhas, prestem atenção, desejo é para se vivido, e não debatido.

mas para não dar aos distintos cavalheiros e às doces senhoritas a impressão de que os fiz de boi-de-cabresto, trazendo-os até aqui por nada, dou uma pista sobre o que estou falando. minha transa com os pelinhos não funciona com qualquer mulher, qualquer sovaco, ou qualquer penugem. é um troço meio difícil, como disse.

para a química dar certo, é necessária uma conjunção de fatores sutis, porém fundamentais. aí é que está o imponderável da coisa. em minha defesa afirmo que há poucas coisas tão sublimes sobre a face da terra quanto assistir uma moça se espreguiçando, os pelinhos debaixo do braço a brilhar de sol.

aos interessados, termino com uma citação dos nossos luminares propagandistas automobilísticos: "faça um test-drive".

mamãe eu quero

sabadão, dia de visitar irmã e cria, esta ainda desacostumada com a perda da unidade física com a mãe. conversávamos na sala, quando de repente, um "unhé" se faz presente (até rimou).

minha irmã acode ao quarto e leva a pequena ao seio, que imediatamente pára de chorar e logo cai no sono.

- tá vendo? - diz a irmã, calmíssima - não é nada. às vezes ela só quer isso, um peito para mamar um pouco e depois dormir junto ao calor do corpo.

e não é absolutamente a mesma coisa que procuro?

03 abril 2008

o animal mais belo do mundo

simone spoladore em lavoura arcaica. Vê-la dançando é cruel demais...

a qualidade da reprodução não é das melhores. felizmente, não se pode dizer o mesmo da moça. é uma compilação com os momentos "festivo" e "pomba-gira".

02 abril 2008

ah, esses cientistas...

deu no globo onláine:

Barriga grande aos 40 aumenta risco de Alzheimer, diz estudo

tudo bem que ainda não cheguei ao time dos "enta", mas...

...o que era que eu ia escrever, mesmo?

metido a gente

olhem que curioso:

fiz um frankenstein do meu bostejo do dia 27 de março e mandei pro observatório da imprensa.

e não é que os caras publicaram?

ps: justiça seja feita, se não fosse pela sugestão do meu bróder lessa (também responsável pelas dicas de edição), eu não teria sequer pensado em enviá-lo.

01 abril 2008

o pastor de nuvens

vista da janela de casa depois da chuva. sem photoshop


estou me repetindo, mas no meu mundo ideal, todos seriam jorginho guinle. ou índios. ou algo entre os dois.

o que quero dizer é que no mundo perfeito que projeto na minha cabeça, um dos aspectos principais é que as pessoas só trabalhariam por prazer, já que a todos seria garantido o acesso a tudo, e o dinheiro, se não supérfluo, seria inexistente. nunca é demais exercitar a esponja intracraniana.

dentro desse espírito, há duas ocupações que gostaria de exercer. uma real e outra fantástica. a primeira seria ser palhaço de circo. gosto dessa figura ambígua que, por sua aparência bizarra e absurda, é capaz de driblar impedimentos ou punições ao ridicularizar os poderosos e apontar as verdades mais inconvenientes. por outro lado é quase escravo da obrigação de fazer os outros rirem enquanto ele mesmo chora. faria isso de graça.

a segunda ocupação que penso para mim nasceu da observação do mundo através das janelas dos aviões, e é quase felliniana, ou saída de um poema de maiakovski. pois eu gostaria de ser um "pastor de nuvens".

nada me dá mais prazer do que assistir ao espetáculo fugaz e poderoso formado pela condensação de partíclas d'água. na primeira vez que morei só, meu micro-apartamento ficava quase colado ao corcovado, bem no suvaco do cristo. as nuvens sempre se acumulavam ali, proporcionando tantas tardes belas. assim que chegava do trabalho, sentava-me num banquinho estrategicamente instalado junto ao peitoril, onde ficava até escurecer.

imaginem então meu êxtase ao estar a milhares de quilômetros acima do chão, assistindo-as de cima, mesmo encapsulado numa lata de sardinha voadora.

quem dera poder passear sobre os cirros, afastando ou juntando as nuvens da maneira que me aprouvesse, espremendo nimbos, criando formas, tingindo-as de sol ou simplesmente descansando sobre elas. não haveria felicidade maior. nem cafuné em rede ganhava.

as nuvens são feitas da mesma matéria que os sonhos (alguém já disse isso, aliás melhor que eu). meu consolo é que, a cada dia que passa, me descubro vivendo mais próximo de seu mundo.