26 julho 2004

Cenas do cotidiano a dois

interlúdio.

manhã de inverno. "ele" está no quarto, aprontando-se para o trabalho. "ela", está na cama, depois de ter virado a noite de plantão.


ele (falando do banheiro, já meia hora atrasado para ao trabalho) - Ei, amor! Sabe que eu tive uma idéia genial?

ela espera interessada, como se ele fosse anunciar a cura para os males da humanidade.

ele (radiante) - Vou começar a fazer a barba de noite!...

ela (rindo muito) - Ué, Fofo, mas a sua barba não cresce durante à noite?

ele - Cresce, mas como as lâminas que eu uso são geralmente uma porcaria mesmo, ninguém vai notar se eu fiz hoje ou ontem. E além do mais, isso vai me dar mais tempo para dormir com você...


...

morra de inveja, truffaut!

*Update*
num rasgo de sabedoria zen, ele resolve deixar a barba crescer...

...lá vou eu de novo, como um tolo...

mais uma vez, como na canção, estou movendo mundos e (poucos) fundos, para morar junto. de novo.

dessa vez (de novo), o céu está claro e sem nuvens. no entanto, diferente de antes, não há sequer sinal de precipitação no horizonte. como se diz no jargão aeronáutico, "céu de brigadeiro". ou seja, uma beleza.

stay tuned, folks! em breve, novas previsões metereológicas.

...

no segmento de minha trajetória cigana, abandonei o lar do casal de amigos que me aturarou por quase um ano, para aninhar-me nos braços da minha cara-metade (cafonalha geral, perdão).

adeus, laranjeiras, não chore, nosso caso de amor está apenas começando. alô, comunidade de botafogo! preparem a área que eu tô chegando com tudo! alô tereza, seremos vizinhos!

segundo um recente cálculo, desde que saí do lar materno, na gávea, há sete anos, esse é o quinto bairro em que morarei. nada mal. por ordem cronológica, passei pelo humaitá, jardim botânico, tijuca, laranjeiras, e agora, botafogo. todos moram no meu coração, e de todos guardo boas recordações. até da tijuca.

descontando os percalços, a vida até que tem sido boa para mim.

24 julho 2004

reflexões musicais ranzinzas

outro dia - antes dos acontecimentos fatídicos de anteontem - na sala contígua à minha, no escritório em que trabalho, botaram imagine para tocar. aí, ouvi alguém de lá comentando:

"esse cara não precisava ter feito nada, só essa música já bastava, né?"

apesar da pena que uma ignorância de tal magnitude deixa transparecer (de beatles, você nunca ouviu falar, minha filha?), a asneira soou como uma chicotada.

odeio imagine. como odeio qualquer obra com a pretensão de passar uma "mensagem". ou melhor, em que objetivo de transmiti-la se sobreponha sobre forma e/ou conteúdo. mas, infelizmente, é o caso dessa música. transborda boas intenções, mas é de uma ingenuidade boçal.
(além do mais, todos sabem em que lugar as boas intenções e seus autores costumam ir parar.)

de tão executada, a suposta vitalidade de conteúdo esvaziou-se. ela já deve ter figurado até em publicidade de papel-higiênico. é um pouco o caso de what a wonderful world, cantada pelo louis armstrong. metade dos filmes americanos nas duas últimas décadas usou-a para ilustrar todos os tipos de emoções e situações: nascimento, morte, defloração, bombardeio...

outro caso é aquela canção do carl orff, o fortuna-sei-lá-o-quê, do carmina burana. o único bom uso desta foi em excalibur, do john boorman, na cena da cavalgada de recuperação do rei arthur. foi a primeira vez que a ouvi, e a imagem gravou-se a ferro na cabeça. até hoje, quando a ouço, visualizo a cena.
(essa é a nossa dica de cinema da semana.)

mas, voltando ao imagine, um dos agravantes que ma fazem detestá-la é saber que tem uma grande possibilidade da japa-vodu yoko ono ter metido o bedelho lá.

o fato é que os grandes não buscaram passar nada. vá achar "mensagem" em rubens, velasquez, nelson rodrigues, mozart. o que é mais bonito e representativo de picasso? a série de pinturas das touradas, ou as "imagens da guerra", e guernica? não adianta, "mensagem" é para pouquíssimos, e definitivamente, o nosso "beautiful boy" não figura nesse hall.

23 julho 2004

o blog está de luto

lula, luiz fernando para a imprensa, meu amigo, foi mais uma vítima da boçalidade do governo, do egoísmo e da corrupção das autoridades, que tem na violência apenas sua face mais óbvia e cruel.

tô colocando esse meu amigo na conta de vocês, rosinha e garotinho. um dia vocês hão de pagar, podem ter certeza.

no que depender de mim, vocês e sua corja de vendilhões do templo, de parasitas sanguessugas, serão varridos para fora da MINHA CIDADE e do MEU ESTADO.

deixando a raiva de lado, reproduzo a carta publicada n'o dia, que a marcia, mãe dele, minha ex-professora de faculdade, escreveu, depois de tudo. dói.

'Sua imprudência? Ter sido solidário'
A mãe de Luiz Fernando, a psicóloga Márcia Lopes Caldeira, escreveu a carta abaixo quando soube da morte do filho.

Tiro de repente....

De manhã, a brincadeira...

Você hoje caprichou... tão arrumado!

-
É que vou visitar clientes, tenho que ir mais bonito!

Tudo porque pro Luiz Fernando, o bom é trabalhar na oficina, andar com roupa manchada, bem à vontade, desarrumado até...

E isso é sempre motivo de queixa e reclamação. Mas ele é assim. Adora seu trabalho, mexer com madeiras, plásticos, acrílicos, escalar, acampar, estar com a namorada, encontrar amigos. Fazer churrasco. Tudo é motivo.

Aí, ao meio-dia, o telefone toca e meu filho mais velho diz, segurando o choro: "Mãe, o Luiz sofreu um acidente. Ele levou um tiro. Foi nas costas, mas ele está bem. Está com todos os movimentos, falando".

Um susto. Pensar o que fazer e como fazer. Falar com amigos que podem ajudar. Avisar à irmã em Brasília - ela deve vir? - , aos avós, aos tios, aos amigos. Será verdade que ele está bem?

E, assim, tão de repente, já o vejo em coma. Sei, pressinto que é sério. Cinco horas de cirurgia. Saiu do centro cirúrgico.

Chega o médico. "Ele teve uma parada cardíaca". Morreu. Acabou. Deixou de ser o que era. Passou a ser, tão de repente, o impensável, aquilo que não tinha nos acontecido mas que andava perto.

Seu pecado? Sua imprudência? Ter sido solidário.

Ajudou uma senhora que, com seu neto, saíra do banco e estava sendo assaltada.

Assim, tão de repente, acabou. De certa forma, como viveu. Amando o que fazia, aproveitando suas oportunidades, vivendo a vida e... sendo amigo e solidário.

Perdi meu filho. Meus outros filhos, seu irmão menor. Os avós, seu neto. Assim estamos, tão de repente, perplexos. Até quando?

...
só sei que o baixo-astral é foda. vou melhorar em breve...





09 julho 2004

hitler começou assim

deu na edição de hoje do globo e no plantão do site:

08/07/2004 - 11h54m
Crianças com doenças mentais são presas nos EUA, diz jornal
O Globo

WASHINGTON - Uma equipe de investigação do Congresso dos Estados Unidos descobriu que mais de 15 mil crianças com distúrbios psiquiátricos foram indevidamente encarceradas no ano passado no país, porque não havia serviços de atendimento a doentes mentais em suas comunidades. Os dados foram revelados por deputados democratas do Comitê de Reforma do Governo, na primeira pesquisa sobre os centros de detenção juvenis dos EUA. As informações são do jornal "New York Times".

é o capital tentando achar uma solução (final?) para o fardo do contingente não-produtivo que é obrigado, por alguns ultrapassados escrúpulos humanistas, a carregar.

06 julho 2004

contra as asneiras que circulam por aí

quem me acomapanha aqui (?) sabe da ojeriza que tenho a textos "autorais" - do tipo que a gente recebe por email, supostamente assinados por "personalidades" como o millôr, mario quintana, ziraldo, jabor e outros que tais. comigo, eles recebem o mesmo destino das correntes e tudo o mais que vem gritando "urgente" em caixa alta e com pontos de exclamação no subject. sinceramente, nem abro. e posso garantir, até hoje não peguei leptospirose por beber direto da latinha, não fui alvo de um super-vírus de computador, não tive meu celurlar ou cartão de banco clonados, ou grampearam meu telefone.

mas, voltando a essas mensagens, apenas quem nunca sequer ouviu falar nos autores citados podem confundi-los com as indigências semi-analfabetas a eles atribuí­das. o quino já protestou contra, e agora o jabor, na abertura de sua coluna de hoje, bota a boca no trombone. o texto todo é bom, mas em respeito aos leitores (?), só reproduzo as primeiras frases. quem se interessar pelo resto, procure no site do jornal o globo.

Está rolando na internet um texto ridículo sobre “mulheres” atribuído a mim. Sou uma besta, todos o sabem; mas não chego a esse relincho lamentável do asno que o escreveu. Diz coisas como: “A mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro...” Uma bosta, atribuída a mim. Toda hora um idiota me copia e joga na rede.

o sacana ainda apresenta uma teoria que estou desenvolvendo há alguns meses, e estava prestes a bostejá-la. o sacana chegou na minha frente, mas foi na veia:

Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade passiva, expectante, e jogadas na obrigação do sexo ativo e masculino. A supergostosa é homem. É um travesti ao contrário. Alguns dizem que os homens erigiram seus poderes e instituições apenas para contrariar os poderes originais bem superiores da mulher.

em breve voltarei ao assunto deste último trecho. evoé!

01 julho 2004

improviso sobre o centro da cidade

uma das coisas que mais me dão prazer é flanar pelo centro da cidade. é bem verdade que me divertia mais quando ia a passeio, mas mesmo agora, como mais um proletário na multidão, tento manter a cabeça acima da manada, e o distanciamento de quem não se locomove apenas por necessidade, com um destino definido a cumprir.

tem dias em que fico sem tostão, e tenho que me contentar com uma refeição de três saquinhos de amendoim a um real. especialmente nessas ocasiões, preencho a hora do almoço no trottoir (meu francês merece a guilhotina), e me deixo levar para o interior de galerias e outros buracos escuros que abundam no centro (sem trocadalho, por favor). dia desses saí sem destino e descobri algumas coisas interessantes:

1) na são josé, em frente a uma farmácia, tem um camelô de dvds e softwares único. rodrigo (ou ricardo) tem os últimos lançamentos: kill bill (xibiu) volume 2, o pornô novo do alexandre frota, o filme da rita cadillac, e uns outros troços que não me lembro. o diferencial é que rodrigo (ou ricardo) faz dois preços (com ou sem a capa do filme), fornece garantia e o celular para reclamações e encomendas. e jura estar sempre no mesmo ponto.

2) na esquina do carmo com a rua sete (de setembro, para os menos íntimos) tem uma banca de jornal exibindo entre várias revistas antigas de mulher pelada, um exemplar palstificado da status da xuxa - a única em que ela aparece nua EM PÊLO. tive a sorte de ter essa revista nas mãos, quando do lançamento, por intermédio de um primo mais velho, que infelizmente já cantou para subir. na época, eu sequer sabia a utilidade de uma mulhwer pelada, mas se tivesse um palpite de que essa revista seria tão disputada hoje, teria guardado uma comigo. ah, o preço? uma bagatela de R$ 300,00. (aliás, para quem se interessa, a cavídeo tem uma das únicas cópias do filme "amor, estranho amor" do walter hugo khoury. para os mais novos, a película mostra uma cena em que a "rainha" demonstra a origem de toda a sua intimidade com os baixinhos. talvez seja a única cópia não recolhida pela xuxa.

3) na saraiva da rua do ouvidor, descobri que desprezo praticamente toda a atual cena musical brasileira. ivete sangalo, adriana calcanhoto, jota quest, maria bethânia, ney matogrosso e a parede, sandy e junior, pitty, sepultura e ana carolina são igualmente chatos pra caralho. até o ed motta anda me enchendo o saco. me dão náuseas as campanhas publicitárias, as promoções, os apelos, as fotos, as temporadas, os clipes, os acústicos, as harmonias, os arranjos, as entrevistas. não ouço rádio. não tenho mtv. não vou a shows. salvo quando viajo no carro da tereza, que às vezes sintoniza numa rádio que só toca música nacional 9algumas boas, até), meu conhecimento musical raras vezes chega aos anos 80. rock nacional? puá! deixei de gostar aos 15 anos, quando era punk. outro dia ouvi o disco da plebe rude, e tive vergonha de ter gostado tanto daquilo. sou obscurantista mesmo, fazer o quê? do pouco que conheço, talvez salve o lenine e os los hermanos, mas não devo conhecer mais de três músicas dos dois juntos.

mas o que isso tem a ver com centro da cidade, mesmo? pelo menos deu a impressão daquelas reflexões que surgem quando se está andando...