19 novembro 2003

man on the mam, ou a volta do diabo da garrafa

desde domingo, pé de cachimbo, estou para contar sobre como enchi os cornetos no finde. fui ao mam para umas festas de algum evento. eu mais uma amiga mais seu namorado batemos ponto na sexta, e no sábado repetimos a dose, sem o namorado, que estava tocando com sua banda.

bão, na sexta marcamos num japa aqui de laranjeiras, e enquanto eles jantavam, mergulhei no saquê até atingir um estado que, na vertical, poderia se aproximar de um arremedo de consciência zen.

embora a festiva em si estivesse fraca, valeu por ter encontrado alguns amigos que não via há tempos. saímos de lá relativamente cedo e partimos para o recém-reinaugurado jobi, o pai de todos os bebuns no leblon. os garçãos, coitados, envergando coletes xadrez iguais às toalhas das mesas. feio que só.

sábado, pela primeira desde que cheguei no bairro, há dois meses, dei as caras no choro aqui na rua com gabi e salsão. estava, segundo eles, mais cheio que de costume, graças à matéria do caderno de bairros do globo. comi pastel e bebi garapa. de álcool, nem uma gota sequer. encontramos com uns amigos paulistas, fizemos um tour pelas redondezas e paramos no serafim. chopes e doses de magnífica molharam as palavras dos amigos, enquanto eu fiquei no mate (ou coca, não lembro).

depois vieram todos pra cá, mas fui pra cama. de noite, segui para a casa do casal, e de lá rumamos para o mam, diversas doses de uísque com red bull depois.

o show do autoramas foi legal, bacalhau está destroçando na batera, mas a baixista tinha uns trejeitos esquisitos. de vez em quando repetia o mesmo gesto de levantar o baixo na vertical à sua frente, e fazia umas caretas que lembravam o lon chaney interpretando o fantasma da ópera. alguém precisa avisar pra essa menina...

minha partner de noitada saiu cedo pois o namorado veio buscá-la, e fiquei só, zanzando como barata tonta depois de algumas generosas doses de vodca pura com gelo. e a carne começou a esquentar. e o desejo aumentou na mesma medida em que eu me dispersava. o conhecido e temido desfecho caminhava a passos largos para sua realização: sairia dali de manhã - sozinho, obviamente.

mas antes encontrei com uma amiga e ex, que por sua vez estava acompanhada de uma amiga (dela), figura em quem já havia reparado noutra ocasião. mas como àquela altura meu meu filme ficando quieto. mas tarde, entornaria o caldo queimando-o, quem sabe, irremediavelmente.

nas indas e vindas pelos dois salões, mais birita foi absorvida, meu senso decrescdo proporcionalmente. e o velho diabo da garrafa ia tomando conta da personalidade. reencontrei as duas, que há horas conversavam com dois camaradas. o clima era de pegação, mesmo assim puxei minha "amiga ex" e sussurrei (sem muita certeza de não estar sendo ouvido por todos): "pô, esses caras não vão tomar uma atitude? esse papo já tá rolando há um tempão e até agora, nada!"
ela me mandou um "vai tomar banho", enquanto eu me afastava, contente com a molecagem.

amanhecia, a pista esvaziava, e pintou uma cadeira de plástico numa parte afazstada do salão. sentei e me pus a admirar uma menina que, apesar da pouca idade, já tinha passado da validade de ser a avril lavigne que ela gostaria. era bonita, e pela lentes embaçadas, dava a impressão de estar retribuindo os olhares. fui até ela, que estava meio de costas pra mim, conversando com uma gordinha à minha frente. quando me aproximei, a gordinha levantou o olhar, avisando-a. ela se virou, eu disse oi. ao que ela respondeu, com uma agressividade de quem se acha muito esperta:

- algum problema?
- problema nenhum. só gostaria de me apresentar. meu nome é marcelo.
- meu nome é michelle.

na verdade, não lembro se o nome era esse, nem o que exatamente eu disse em seguida, mas acho que pedi o telefone, ou coisa que o valha. talvez tenha dito que gostaria de conhecê-la melhor. a resposta foi um "não" seco. não perdi a pose e disse que que achava que quem devia estar com problemas era ela, com aquele humor péssimo. encerrei a discussão dizendo que ela não sabia o que estava perdendo; virei as costas e voltei para minha cadeira em triunfo, certo de que havia ensinado àquela fedelha uma lição de educação e malandragem. um sorriso estampou-se em meu rosto enquanto eu caminhava despreocupado, as mãos nos bolsos. devo até ter assoviado, mas de qualquer forma ela não ouviria, com todo o volume da música. sentei-me, e fiz uma varredura no entorno, começando em sua direção, mas sem fixar o olhar. sentia-me magnânimo e paternal, como um barão admirando seus escravos trabalhando a terra.

fui embora por volta das sete, sob o sol já então castigando. assisti a uma briga de casal no ponto , num espaço de tempo que me pareceu eterno. tomei o ônibus e saltei na padaria perto de casa. comi um risole que jurou algum dia ter hospedado um camarão. frito em óleo de caminhão. tomei um mate e pedi um queijo minas na chapa.

na saída, liguei para a "amiga ex", para perguntar como tinha sido a noite. estranhei a rapidez com que ela atendeu e a clareza da voz. perguntei onde estava. em copa, foi a resposta, com a amiga e os dois carinhas. não resisti:

- pô! quer dizer que os caras ainda tão aí de papo, sem tomar uma atitude até agora?! ah, não! que é isso, meu deus! e por acaso seu pai sabe que você está na rua até essa hora?

e continuei falando disparates. acho que no começo ela riu, mas depois deve ter ficad brava. tenho esse problema, perco os amigos, mas não posso perder a piada. aliás, acho que liguei duas vezes, pois se não me angano a amiga também atendeu, e até brincou por eu ter confundido as vozes.

enfim, foi isso. não falei com ela até hoje. acho que amanhã eu ligo para saber como foi. e como fui.

dessa história, só sei tirar uma conclusão: não posso facilitar com o diabo da garrafa, pois ele parece ser muito meu chapa, mas sempre acaba me sacaneando. mas o pior é que, olhando em perspectiva, me divirto bastante. afinal, o que é a vida sem essas pequenas incongruências?

de qualquer forma, vou dar um sossego no bicho. acho.