apenas um náufrago, preso na ilha do meu próprio corpo, cercado de gente por todos os lados. "mais solidão", diz o sting, "que qualquer homem pode agüentar. Resgate-me antes que eu caia em desespero".
no entorno da ilha, graças a são sebá, também há montanhas, umas poucas matas nas encostas ainda não tomadas por favela, e também o samba - ritmo melancólico bom de cantar e de botar para mexer o esqueleto. e as praias, claro, as quais não posso mais ignorar, sob pena de começar a ser chamado para trabalhar como rebatedor de luz.
e à parte o desespero das perguntas aindas sem respostas, e da voz que ecoa no vazio, vivo bem. um resfriado anda brincando comigo, mas já já dou um jeito nele. são os excessos, meu pai, são os excessos, minha mãe...
voltemos à ilha: tento mantê-la da melhor maneira, mas às vezes a solidão me leva a arroubos que não compreendo ou controlo.
a mulher que um dia tomar posse dessa gleba, fértil e rica de novidades, corre o risco de, com jeito, desencavar um tesouro. embora já avise que não é fácil, pois está ele muito bem entocado. outras já tombaram tentando, e as poucas que porventura conseguiram tocá-lo, por algum atrapalhamento, deixaram a terra engoli-lo mais.
até hoje está la. mas o tempo, o inexorável passar das eras - ou quem sabe, os ventos de verão - está afastando a terra, a hera e o limo que o cobrem.
posso acreditar que ele deve estar pronto para ser escavado. e talvez até queira ser encontrado...quem sabe...