14 dezembro 2003

rest in peace, bro' (resta um piço, broa)

se sábado recebi dois imeios que salpicaram o dia com brilhos dourados, no domingo não tive tanta sorte. estava no parque lage, curtindo um piquenique com marçuda, uns amigos e seus filhotes. mas eis que toca o celulari da minha irmã. ela atende volta e dispara: mar, o farid morreu".

até agora, depois de escrever essa frase, ainda não consigo realizar o fato. um cara muito bom, da minha idade, torcedor do américa, músico de mão cheia, e, sem dúvida, o camarada mais alto-astral que eu já conheci, se foi num acidente de carro besta em cabo-frio.

nem éramos tão próximos, mas tínhamos afinidades musicais muito parecidas, o que redundava num carinho e numa admiração mútua muito grande. sempre fazíamos um carnaval quando nos encontrávamos. de tanto que eu andava ausente, as perguntas que ele fazia à marçuda sobre mim já tinham se tornado uma piada interna.

nos falamos pela última vez na quinta-feira passada, no samba que rola no planetário. conversamos bastante, e ele estava radiante pelos shows em que tinha tocado, e pelos que ainda ia tocar. contou como estava conseguindo encontrar o suíngue que tanto procurara com sua banda anterior, a Garapa, e os caras nem curtiam tanto. eu contei orgulhoso das minhas recentes incursões pelo mundo do samba, e combinamos de ir aos ensaios dos blocos de carnaval. também mexemos com minha prima, uma amiga e outras meninas que vinham conversar conosco.

agora ficamos todos seus órfãos. órfãos da sua simpatia e do seu carinho. alguns amigos mais próximos e que souberam mais cedo, se despencaram para cabo-frio para resolver as questões burocráticas de hospital, reconhecimento...

alguns ficaram dando uma força ao irmão e ao pai, e todos nós pensávamos em como contariam para a mãe dele, que não sabia ainda nem do acidente. ela, que além de tudo que se possa dizer do amor de mãe, ia a todos os seus shows, recebia de braços abertos uma cambada nos fins de semana na casa de saquarema.

...não me venham dizer que existe propósito em tanta dor inútil; não me venham falar de desígnios!

eu e minha irmã fomos encontrar alguns amigos no planetário, onde acabamos formando uma espécie de agência de notícias informal, recebendo e repassando as notícias que chegavam. e bebemos. lembramos histórias dele e com ele, e tentamos rir, pois era assim que o conhecíamos, e assim que ele talvez gostasse de nos ver, reagindo num momento de tristeza.

nesta próxima quinta, estamos pensando em homenageá-lo. um pretende fazer um mural com as fotos que tirou num dos shows do farid, outro levar os cds que ele gravou, e vamos todos beber juntos, à sua memória, mandando boas vibrações para que o nosso negão faça sua passagem numa boa, e que lá em cima ele se enturme logo com a galera pra arrebentar numa jam session divina, cheia de suíngue classe A.

é isso aí, irmão. alexandre, farid, negão, até algum dia...saiba que vais fazer falta...