01 fevereiro 2004

carta aberta de peito idem

acordo às três da tarde, a cabeça desse tamanho, e a certeza de que nunca
mais volto a beber até a próxima semana. ou até o fim do meu karma dissertativo. me lembro vagamente (de não começar frase com pronome oblíquo) e de ter ouvido um pipipi enquanto dormia. era o celular, com uma porrada de mensagens. ao mesmo tempo em que levava esporro, me perguntavam sobre música dos anos 80 (!).
...
ontem saí porque estava a fim de te conhecer, mas como vc mesmo lembrou num dos pipipi, não tinha a menor intenção de nada. sinceramente, não sei de onde veio essa fixação comigo, sei lá, a sua amiga pode ter falado etc., mas essa história morreu. finito. e mais ainda, não sei de onde veio a idéia de que eu pudesse ser um cara bacana. não sou. ou melhor sou, algumas vezes. outras não, como acho que acontece com a maioria das pessoas, à exceção do papa, que tem por profissão, se não gostar, ao menos perdoar os outros.

sinto se ontem meio larguei de mão nosso encontro, mas há muito não via aquele cara, que é um dos meus maiores amigos, e um dos sujeitos por quem mais tenho apreço. e posso até ter realmente me galanteado pra prima dele, assim como me galanteio pra meio mundo, mas como já afirmei, sem a menor intenção de nada. e não te "rifei", como você afirmou. o outro camarada é um dos caras mais interessantes que eu conheço, um puta escritor e um sujeito que eu levaria para uma ilha deserta. se ele se mostrou interessado, bacana, mas não tenho nada a ver com isso.

sou chato, egoísta e, depois de uns merecidos pés-na-bunda, fiquei cético e cínico. talvez a imagem que a sua amiga tenha te passado seja a de um cara que estava mostrando o melhor de si para impressionar. mas não sou aquilo. como também não sou apenas isso que acabei de escrever. não sei o que quero, mas sei o que não quero. mal-resolvido, duro e desempregado, a última coisa que quero é me envolver. já disseram que tenho dois corações: um que dou pra todo mundo, e outro que não dou pra ninguém. mas há controvérsias. porque também já me compararam ao homem-de-lata, do mágico de oz. se vc não lembra, ele não tinha coração (mas isso, eu e o norton nascimento sabemos que temos. o meu talvez esteja no intestino). mas enfim, como um puta narcisista que sou, gosto até dos meus defeitos, e gostei da imagem. e vivo bem sendo um enclausurado sentimental.

sinto se te decepcionei, mas pensando fria e sobriamente (apesar da dor de cabeça), chego a considerar a possibilidade de, levado pelo álcool e privado de sentidos (sempre achei que um dia usaria essa expressão), poder ter querido desconstruir a imagem de bom moço. não sou um desafio, não sou a esfinge que pede para ser decifrada, não sou inteligente ao ponto de não fazer cagadas, e tampouco capaz de me interessar verdadeiramente pelas pessoas. e gosto disso. para o bem ou para o mal.

mas não estou aqui para pedir desculpas. o que fiz está feito, e só me resta viver com isso. ou não.