12 fevereiro 2004

estrabismo ou crise de identidade?

descobri que, assim como a déborah secco, pode ser que eu seja ligeiramente estrábico. estrabismo convergente, não metafórico, bem entendido. (aliás, acabei de ver no houaiss que estrábico e vesgo são sinônimos. sepultada uma dúvida ancestral).
foi vendo as fotos do reveillon no fotolog do cabeção (não consegui fazer o link pegar de jeito nenhum) que descobri que saí vesgo em TODAS as fotos. bizarro! será que sempre fui assim e nunca havia reparado? será que foi o álcool que me deixou daquele jeito?

outro dia, vinha sentado no ônibus atrás do trocador. nas costas dele, normalmente tem um anteparo com um vidro, bem na altura de quem tá sentado. é bom porque, se a viagem estiver chata, o sujeito pode dar uma de narciso, sem culpa de neguinho reparar.

assim estava eu, até que me lembrei de uma coisa que fazia bastante quando chegava bêbedo em casa, ainda com a minha mãe. sentava na frente do espelho e ficava me encarando, sem no entanto focalizar em nenhum ponto específico. o que acontecia era que, em pouco tempo, as feições embaçavam-se e o rosto dava a impressão de se modificar.

como o bumba passasse pelo aterro a uma velocidade constante, sem muitos sobressaltos, resolvi brincar disso para passar o tempo. e me concentrei, até que consegui. e durante quase um minuto, talvez, tive a impressão de que meu rosto ser aquele que tinha se formado, e não o que estava acostumado a ver. fiquei impressionadíssimo, e bolei uma teoria meio louca: se é tão comum as pessoas terem uma opinião completamente equivocada sobre si mesmos, porque não seriam capazes de criar mentalmente uma auto-imagem física? não é tão difícil quanto parece. ou não é o que acontece com anoréxicos e bulímicos - se verem jamantas, quando estão cambaxirras? e quanto ao som da voz gravada? quantas vezes você não estranhou o som de sua própria voz na secretária eletrônica ou num vídeo? por isso não acho tão absurdo que alguém, depois de 30 anos, se descubra vesgo...

fiz o teste, perguntando para o salsão, mas a resposta foi um tanto evasiva: "talvez, ligeiramente, mas de um olho só, sei lá...". lembrei que quando era moleque freqüentei durante um tempo um oftalmo. ia pra lá e fazia aqueles exercícios de olhar dentro de um aparelho e, com alavancas, colocar o leão dentro da gaiola. ou de tentar reproduzir um desenho refletido por um vidro espelhado, numa folha de papel do outro lado. exercícios de convergência? vou perguntar para a minha mãe, ela deve saber disso melhor...

o engraçado é que não estou puto em ser um possível vesgo. estou meio vidrado com a novidade. como quando descobri que talvez tivesse distúrbio de déficit de atenção (dda). é apenas mais uma característica, inconclusiva, que se soma à construção de minha confusa personalidade.

às vezes me acho um camarada bem estranho...