25 fevereiro 2004

sobre o filme da paixão de cristo

quero ver o novo filme de mel "maquina mortífera" gibson. não sou religioso (às vezes desconfio da existência de deus), mas sou interessado em assuntos místicos. e atraem as polêmicas, mesmo que burras, como a que envolve o filme.

não sou um expert em assuntos histórico-religiosos, mas qualquer cachorro sarnento de rua sabe que foram raríssimos os períodos em que estado e religião não negociaram uma divisão de poder. na judéia não foi diferente. tinha-se lá uma representação oficial de roma, que permitia a liberdade de culto, desde que os sacerdotes mantivessem o cabresto no povo, em nome da pax romana.

aí veio jesus e bagunçou tudo. enfureceu os fariseus porque, entre outras coisas, não respeitava o shabbat, e os romanos, porque reunia a massa com um papo esquisitíssimo de estabelecer "um reino de meu pai", e por conta do "a césar o que é de césar e a deus o que é de deus". ponto parágrafo.

já se passaram dois mil anos, e neguinho continha discutindo quem crucificou o caboclo. se o cara incomodava todo mundo! a única coisa que o estado fez foi utilizar sua máquina de coerção para "corrigir um erro na matrix", já que sua única função é perpetuar-se eternamente no poder (e isso não sou eu que estou dizendo, é clastres, é foucault, é deleuze, é guattari).

que me perdoem os intelectuais judeus que estão fulos por causa do filme, mas ficar empombando com isso parece coisa de menino que recebe apelido na escola. quanto mais o cara se chatear, mas vão encarnar nele. relaxa, gente! chega de ser vidraça do mundo. vocês encararam o pão que o diabo amassou durante toda a sua história, mas não existe preço a pagar por ser o "povo escolhido", como não existe pecado original (não sirvo de exemplo pra nada, mas não admito que me queiram imputar o peso de uma maçã consumida há sei lá quantos séculos).

vocês são lindos, sua história é riquíssima, seus rituais são fantásticos, produziram e produzem grandes gênios (e um dos maiores amores da minha vida), têm um humor refinadíssimo, sobreviveram a todo tipo de perseguição - tá na hora de vocês curtirem um pouco a vida.
...
só espero que ninguém me cruci...ops!, pegue no meu pé por causa desse texto.