em sua biografia, além da frase "esqueçam o que escrevi" (apócrifa, ao que parece, mas nem por isso menos ilustrativa), o príncipe fernando henrique cardoso deveria acrescentar outra, "esqueçam o que fiz". e ficar bem quietinho até 2007, porque sua reputação não resiste a um "olha o rapa!" gritado na uruguaiana.
no mais, o aldir continua afiadíssimo. não por acaso o considero, ao lado do fausto wolff, um dos camaradas mais perspicazes da atualidade. além de um compositor de futuro. guardem esse nome.
Rua dos Artistas: Varejeiras na sopa
Publicado por Aldir Blanc no Jornal do Brasil em 26/07/2005
O deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE) expectorou, na CPI dos Correios, em tom mucho surpreso:
- Nós falamos em milhões como se falássemos de trocados...
É verdade, deputado. Vossa Excelência tem razão. Como político profissional, deveria estar acostumado ao fenômeno (não confundir com o Ronaldo). No textículo abaixo, fornecerei alguns subsídios à perplexidade de Vossa Excelência.
O amigo e leitor Isaac Goldenberg respondeu a meu pedido de ajuda lançado em crônica passada. Recebi um suculento e-mail que, certamente, será de utilidade pra alcatéia que gosta de carniça fresca e omite o que lhe convém. Vamos ver alguns milhões que viraram trocados, deputado Sérgio Guerra:
1. Sivam - O tal Sistema de Vigilância da Amazônia, que derrubou ministros e assessores presidenciais de FHC I e II. Cifra estimada do contrato, entre outras denúncias de corrupção e tráfico de influências: US$ 1,4 bilhão!
2. Com o Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer), tucanagens de FHC I e II beneficiaram com R$ 9,6 bilhões o Banco Econômico, para favorecer o aliado ACM, vulgo Malvadeza. Hoje já temos até o Malvadinho atuando na CPI dos Correios.
3. Precatórios - Mutreta com pagamentos de títulos no DNER (Departamento de Estradas de Rodagem). Prejuízo estimado: R$ 3 bilhões.
4. Compra de votos - Essa foi muito bacaninha, deputado Sérgio Guerra, porque mostra a diferença entre mensalão do PT e mesadão das elites. Aqueles que votaram a favor dos projetos de governo de FHC I e II teriam recebido R$ 200 mil (cada um, claro). O pedido de uma CPI foi afundado pelos dignos parlamentares governistas.
5. Socorro nas coxas aos bancos Marka e FonteCidam - Rombo no bolso da galera em torno de R$ 1,6 bilhão. Tem até banqueiro foragido. Pra variar e ficar igual, proposta de criação de uma CPI foi arquivada pela bancada governista.
6. Apoio à Previ, caixa de previdência do Banco do Brasil, pra uma mãozinha - grande - ao consórcio do Banco Opportunity. Um dos donos do banco era o tucano Pérsio Arida. A negociata envolvia a Telebrás, o BNDES, o então ministro das Comunicações, Luis Carlos Mendonça de Barros etc., etc. Valor estimado da cartada: R$ 24 bilhões. CPI evitada.
7. Denúncia em torno da grande figura tucana Eduardo Jorge, secretário geral da Presidência de FHC - esquema de liberação de verbas no valor de R$ 169 milhões para o TRT/SP; lobbies para favorecer empresas de informática; uso dos fundos de pensão nas privatizações.
8. O procurador-geral da República da época, Dr. Geraldo Brindeiro, foi batizado de ''Engavetador Geral''. Dos 626 inquéritos instalados até maio de 2001, 242 foram engavetados e 217 arquivados. Envolviam 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e ex-ministros e, em quatro deles, o próprio FHC I I e II.
Não apuraram lhufas. De nada, deputado Sérgio Guerra. Disponha sempre.
*******************************************
ps: fh nega a autoria da frase, mas o globo de 26 de maio de 2003 o desmente. infelizmente, não tenho link ou o autor do texto, mas a referência está na página 27 da prova de vestibular da ibmec para o segundo semestre de 2003 (tem que baixar, por isso demora para abrir):
O presidente Fernando Henrique Cardoso passou seus dois mandatos sob a espada de Dâmocles por causa de uma frase que negou, em diversas oportunidades, ter dito: 'Esqueçam o que escrevi'. A frase literal seria 'Esqueçam o que escrevemos no passado, porque o mundo mudou, e a realidade hoje é outra' e teria sido dita, segundo os presentes, num almoço fechado com empresários, em São Paulo, em junho de 1993, quando ainda era ministro da Fazenda do governo Itamar Franco.