13 julho 2005

se cair na área... ou "como não deixar-se enganar por sofismas"

tem alguém aí?

(quase ouço o eco reverberando pelo vazio, "aí... í... í...")

pois é, estou vivo. andei um tempo cansado de escrever, assoberbado com as tarefas de sair das estatísticas de desemprego do jornal da globo, lavar, passar, cozinhar, e me assombrar com a podridão do congresso (sei que há quem se surpreenda com a minha "ingenuidade". mas no dia em que me acostumar com essa pouca-vergonha, peço para quem estiver mais próximo meter um balaço na minha nuca).

hoje cometi uma ação pouco usual, e não sei se me senti bem depois. hipótese: você entra em uma autarquia, em busca de um serviço qualquer. você entra no tal escritório a um dos inúmeros guichês, em busca de atendimento. o funcionário orienta-lhe a voltar a entrada e retirar uma senha para que o atendimento seja efetivado. você obedece, e ao chegar à maquininha, um outro sujeito, que chegou depois de você, está retirando um número. qual seria sua reação?

a) conformar-se por ter visto o aparelhino depois, retirar sua senha e esperar civilizadamente sua vez, ou
b) pedir para que o rapaz lhe dê a senha dele, alegando que você havia chegado antes.

eu, normalmente, teria optado pela primeira resposta, não sem lamentar minha sorte e falta de atenção. pois bem, hoje fui postar uma carta no correio (que nostalgia...), e me vi na situação do carinha que entra depois. um camarada que havia entrado dez segundos antes de mim, dirigiu-se ao meio da loja, percebeu o equívoco e voltou. ao me ver na maquininha, pediu que eu lhe cedesse a vez, pois ele havia chegado primeiro. detalhe: era um cara saudável, entrado nos quarenta, aparentando ser um profissional liberal de classe média. e só havíamos nós de clientes na agência; não havia viv'alma sendo atendida. fiquei tão perplexo que, por puro impulso, simplesmente retirei a senha para mim, sem sequer dirigir-lhe a palavra. diante do meu gesto, ele indignou-se, e ainda ameaçou-me dizendo que não me iria deixar passar na sua frente.

sentei-me, ainda mudo, mas já disposto a fazer valer minha prevalência, mesmo que só de birra. em alguns segundos, a luzinha anunciou meu número. ao me perceber a caminho do guichê, levantou-se, chamou um funcionário dizendo que havia chegado antes, mas não tinha tirado a senha etc. me emputeci e respondi que quando cheguei ele nem estava lá, e que o problema era dele. e cheguei-me ao balcão, estendendo envelope e senha. ele ainda tentou intimidar-me, falando alto: "ah, vai entra na minha frente, é?" ao que respondi afirmativamente. nisso, um funcionário interveio, oferecendo-lhe outro guichê. ele foi-se, resmungando que era preciso acabar com esse tipo de esperteza pequena.

confesso que senti-me um pouco mal, pois havia tomado uma atitude em completa oposição à minha natureza, mas ao mesmo tempo, meu sangue fervia. rapidamente a carta foi selada, recebi meu troco e me mandei, em silêncio. mas minha vontade era passar por ele e falar algo como "tá vendo, seu chorão? de que adiantou o faniquito?", torcendo para que ele retrucasse algo que me desse motivo para enfiar-lhe um murro na cara. o que é - volto a repetir - o oposto da minha filosofia de vida. na rua, me odiei por não ter sido mais incisivo, de não ter provocado, mesmo porque, sei que esse tipo de pequeno burguês adora latir, mas se a situação sugere qualquer tipo de entrevero físico, afina. é o típico proceder do dito "educado-eunuco", que não tem coragem o suficiente para ser veemente (e não violento, note-se a diferença), na defesa de um ponto de vista. sei disso porque ajo da mesma maneira (e não gosto nem um poucode ser assim). mas desta vez, de certa forma, estava no papel de "aproveitador boçal". fiquei também com raiva de não ter tido a frieza de um roberto jefferson, e tripudiar em cima dele com sutileza, de maneira a desestruturá-lo psicologicamente. técnica básica de retórica, ensinou minha irmã, estudante de direito.

sei que quando cheguei no prédio, subi pelas escadas e fiz umas quinze flexões, para descarregar a adrenalina. bebi água ne liguei a tv. no canal francês tava passando deus e o diabo na terra do sol. conheço a história em linhas gerais, mas ainda não foi dessa vez que consegui escapar às garras do sono e assisti-lo. bem que tentei. acordei com a tati chegando, e comentei-lhe o ococrrido. ela me deu total razão, inclusive na minha reação de não "descer ao nível do bate-boca", o que provavelmente era a intenção dele.

realmente, acho que tenho que parar de ter vergonha de não ceder sempre. e não me intimidar com manifestações pseudo-cidadãs egoístas. enfim, as mulheres hão de achar que essa conversa toda não passa de um conflito entre testosteronas...

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depois conto as coisas legais dos últimos dias. participei de uma "oficina de roteiro" no sesc com o grande lourenço mutarelli.

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sei que ninguém perguntou, mas quem quiser saber qual a minha posição sobre os dirceus, genoínos, valérios e delúbios, basta ler a entrevista com o plinio de arruda sampaio, na caros amigos de maio. depois eu explico.