01 setembro 2005

o mito juvenil da imortalidade

ok, senhoras e senhores, não sou mais o "garoto sapeca" que, tal qual o "avã garde" de oswald de andrade, "brincava, xingava, comia meleca". no entanto, não esperava levar uma rasteira do próprio corpo. pois o resultado do check-up a tanto tempo pedido por mamã e finalmente realizado -- graças aos contatos de dona patroa (vou levar um cascudo por isso) --, me deu um susto e tanto: colesterol nas alturas e fígado engordurado; ambos, provavelmente, fruto dos desvarios juvenis, que, apesar de mais escassos, ainda aconteciam esporadicamente.

mas afinal, o que mais pode um homem que, assim como o anti-herói de checov, tem consciência de tudo o que se passa ao seu redor, mas é impotente para mudar o rumo das coisas, senão beber? e comer uma lingüicinha? e sambar de vez em quando? e beliscar umas morenas? pois é, meus caros, assassinaram o camarão... começará assim a tragédia no fundo do mar? não! afinal de contas, não perdi várias noites de sexta em frente ao globo repórter em vão. tenho guardadas na cachola todas as dicas do chapelin.

já comecei a mudar de vida: agora em casa só entra gororoba light (puá! a gente ainda tem que fingir pra si mesmo que aquilo tem gosto!), e todo dia au matin, le chef (moi-même) prepara uma tisana de berinjela batida em água para ser tragada antes do desjejum. tudo isso para daqui a dois meses submeter-me a um novo hemograma que avaliará se meus níveis de colesterol baixaram, para que não tenha que tomar remédios. quem diria, héin, super-homem? culpa do lado da família da minha mãe, de quem herdei esse legado macabro -- mas que acabará em mim, e não comigo!

bom, quanto ao álcool, por enquanto ainda faço vista grossa, mas em breve não poderemos mais continuar nos encontrando desse jeito. minha neurologista de plantão calcula uns seis meses de abstinência até o bichinho voltar ao normal. pô, e eu que sempre teci loas ao meu fígado nos cadernos de perguntas das meninas do colégio, quando era para dizer qual a parte do corpo que eu mais gostava... poderíamos considerar o caso como traição?

eu, que sempre admirei a força de vontade de um amigo que passou um ano inteiro sem beber para se recuperar de uma hepatite, estou seguindo pelo mesmo caminho. "é a minha vida", uma vez ele respondeu, com uma garrafa de mate embaixo do braço, enquanto nos dirigíamos para uma daquelas festas de arromba que tive o prazer de participar quando era mais novo. (pensando bem, a expressão "festa de arromba" me fez sentir o peso da idade, apesar dos apenas três fios de cabelo branco que me adornam o coco; um recorde em comparação aos meus contemporâneos.)

é isso, colegas. estou no quilômetro dois da estrada da vida, e apesar do corpinho de falstaff, a idade cobra seu tributo. mas ao contrário do que talvez possa ter parecido, tô tranqüilo, tô numa nice. na verdade, sempre tive uma certa queda pelo ascetismo, e que melhor hora para botá-lo em prática? daqui a dois meses a gente conversa sobre isso de novo. alea jacta est!

ui!