04 novembro 2005

jornalismo enquanto fábrica de biscoito

A cobertura política, na maioria das vezes, é descritiva, repete o que o ministro disse, o que o deputado falou, nunca o que eles realmente fazem ou pensam. É ilustrativo que nunca ninguém tivesse ouvido falar de Marcos Valério até maio passado... Há diversas explicações, mas uma é muito forte: as redações encolhem sem parar. Um mesmo jornalista que escreve três, quatro materinhas por dia, é claro que não vai se aprofundar em nada. Editores e diretores viram mais homens de negócios que jornalistas. Quando amadurecem e são menos ingênuos, jornalistas mais experientes migram atrás de melhores salários. Abrem seus negócios, viram assessores de imprensa. O grosso de nossas redações é formado por semi-adolescentes. Na cobertura internacional, viaja-se cada vez menos. Confia-se demais na Internet, na CNN. Os jovens jornalistas têm parco domínio de Português, de história, recursos mínimos para você entrevistar alguém. Não me estranha que muitas personalidades do mundo acadêmico ou empresarial não retornem ligações ou falem cada vez menos com repórteres. Somos um país pobre, que cresce pouco, onde a maioria da população não tem condições de ler. Isso é claro que se reflete na imprensa.

de raul juste lores, jornalista, assessor especial da secretaria de relações internacionais de são paulo, ex-correspondente da veja em buenos aires e colaborador de diversos veículos, dos dois lados da fronteira. a entrevista na íntegra está no comunique-se, e a regra do bostejo anterior continua valendo.