03 abril 2006

dias de fúria

cena 1:

eu e consorte a caminho de casa. um camarada quase o dobro do meu tamanho, branco, talvez um pouco mais velho, de óculos, me interpela com a velha conversa de "desculpe interromper, amigo, eu sou de campos e fui assaltado aqui"... sem deter minha marcha, dou a resposta automática de sentir muito e estar sem dinheiro. o cara me acompanha, "mas espera aí, pára um pouco, você não quer nem ouvir?" não, senhor, não posso, estou com pressa, replico, irritado e surpreso com a subida de tom do sujeito. "mas eu não quero seu dinheiro, não sou ladrão, será que você não pode parar nem um segundo?" já de pirraça, insisto que não, e que com essa atitude insistente, o máximo que ele está conseguindo é conquistar minha antipatia. nesse ponto, ele estaca no mesmo lugar, e quando se sente a uma distância segura, grita algum tipo de insulto que a pressão ribombando nos ouvidos já me impede de ouvir. bastou. volto-me em sua direção, explicando-lhe em bom português que, na minha opinião, ele deve estar querendo é levar uns sopapos. mas quando tomo a iniciativa de realizar o que julgo ser seu desejo, a tati puxa meu braço para irmos embora. sigo, tentando controlar a besta-fera.

cena 2:

sonho que estou num passeio pela praia. um professor de geografia ensina a um grupo de normalistas sobre sacrifícios maias ao deus-sol e seus rituais funerários. converso com uns amigos que encontro e tomo o rumo de casa. na portaria, um quilômetro de velhinhos aguardam do lado de fora o horário de abertura de uma agência bancária situada na sobreloja. passo por eles, e colada à porta lateral, uma prima aguarda bater a hora para poder sair do edifício. vou à porta principal e entro, sem maiores explicações. no mesmo minuto, o relógio bate dez, e as portas são abertas. inicio a subida dos degraus de mármore até meu apartamento, no décimo primeiro andar, disposto não ocupar no elevador o lugar de ninguém. mas o coro de queixas e resmungos pela minha "furada de fila" chama a atenção do zelador, que, do saguão, me chama pelo nome. ele diz que se não descer, vai ter que me obrigar. nesse ponto o sangue ferve. atiro no chão a pasta que carrego e grito: "vem, experimenta vir aqui para me fazer descer. mas vem mesmo, para você ver uma coisa!"

a aceleração das batidas no peito me desperta. banhado pelas certezas da luz matinal que inunda o quarto, concluo que preciso urgentemente voltar a fazer alguma arte marcial para controlar meu temperamento.