29 setembro 2006

combinado para domingo

por mais que tentem criar um fato político com o objetivo de forçar um segundo turno, marquemos posição fazendo como nossos hermanos argentinos nos anos 50:

"Ladrón o no ladrón, queremos a Perón!"

pra encerrar de vez o assunto

I pray you, in your letters,
When you shall these unlucky deeds relate,
Speak of me as I am; nothing extenuate,
Nor set down aught in malice: then must you speak
Of one that loved not wisely but too well;
(...)
Of one whose hand,
Like the base Indian, threw a pearl away
Richer than all his tribe (...).


Othello - Ato 5, cena 2

24 setembro 2006

"Separação"

por affonso romano de sant'anna:

Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
após a tempestade
das conversas.
O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermeio.

Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juizo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã
ante os destroços junto à porta:
-pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se
de pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
modo de botar a mesa. Amou-se
um certo modo de amar.

No entanto, o amor bate em retirada
com suas roupas amassadas, tropas de insultos
malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendem
numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.

Erguerá outra casa, o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta afora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
mais que uma mala de chumbo.

17 setembro 2006

a vergonha da segurança estadual

desde que mudei-me para botafogo, há dois anos, sempre me surpreendi com o número de viaturas abandonadas no pátio do 2o BPM, na esquina da são clemente com a real grandeza. cheguei a contar 15 carcaças, entre rádio-patrulhas, kombis e camburões, completamente deteriorados pelas intempéries, de pneus vazios, sem motores, lanternas e pára-brisas. qualquer morador da região mais atento pode corroborar a informação.

a notória incompetência do governo estadual no combate ao crime é estrutural: os pms não têm formação psicológica e tática antes de irem para as ruas, não sabem atirar, e não têm viaturas em condições operacionais. ou seja, não são capazes nem de exercer mal suas atividades.

eis que, em junho/julho, é dada a largada oficial para a campanha para o estado. nossa digníssima governadora, rosinha garotinho, manda recolher os carros abandonados, empilhá-los num canto coberto do pátio, escondendo-os do escrutínio público com uma lona azul.

como era freqüente a força do vento expor as vergonhas da política de segurança, o pano acabou sendo amarrado às ferragens de um dos ferros-velhos escondidos. tivesse eu uma máquina digital disponível na época, essa crônica do grotesco estaria registrada em imagens irrefutáveis.

15 setembro 2006

ao benjamin du mmal

Jumento não é
Jumento não é
O grande malandro da praça
Trabalha, trabalha de graça
Não agrada a ninguém
Nem nome não tem
É manso e não faz pirraça
Mas quando a carcaça ameaça rachar
Que coices, que coices
Que coices que dá


"O Jumento - Os Saltimbancos"
Composição: Chico Buarque, Enriquez, Bardotti


dedico o trecho da canção a um pilantra que expropriou não apenas a minha força de trabalho, mas minha confiança.

por empenho próprio, as coisas mudaram. como já diria rosa, o guimarães, "cada um tem a sua hora e a sua vez".

11 setembro 2006

a vingança é um prato que se come frio, muito frio...

não sou um camarada rancoroso, mas tenho dificuldade em perdoar mau-caratismo e baixeza (como deve saber agora o ex-chefe que me deu um calote no valor de um carro popular, por sete meses de trabalho, e que na audiência teve a desfaçatez de dizer na minha cara que tinha a consciência tranqüila de que não me devia nada, porque eu jamais havia trabalhado para ele. eu venci a causa, e se não fugir do brasil ele deve recorrer. mas isso é um papo futuro).

refiro-me especificamente há uma história entalada na minha garganta há 14 anos. na faculdade de teatro, um calouro um pouco mais velho que eu, então suboficial da marinha, oferece uma carona para mim e minha namorada. eu e ele sentados na frente, ela no banco de trás. depois de chegarmos ao nosso destino, ela me conta das tentativas dele de passar a mão em sua perna diversas vezes durante o percurso, e de como ela furara suas mãos como os fechos de sua presilha de cabelo, pontudos a ponto de poderem ser classificados como arma branca.

ela guardara o fato até o infeliz arrancar com o carro, ciente do baixinho esquentado que ela tinha por namorado. espumei de ódio, minhas relações com ele esfriaram de vez, e logo em seguida a vida me soprava para outros rumos, em outras faculdades.

essa história vinha esquecida até hoje, quando um casal de amigos me passa a notícia fatídica. tem mais aqui.

há um equilíbrio no universo, regido, entre outras coisas, por leis como a que estabelece que e não se abusa da confiança dos outros. demorou, mas valeu a espera.

10 setembro 2006

gnarls barkley

não sei se é um cara ou se o nome de um grupo (botei o saite no título mas ainda não o vi). conheci-o(s) no churrasco de um amigo, há algumas semanas. talvez tenha sido a cerveja, mas demorou uns cinco minutos para eu entender o nome, devidamente esquecido no segundo seguinte, claro. mas hoje vi o clipe abaixo na tv e voltou tudo.



saca só essa outra música:



também gostei muito; lembra um pouco o que o ed motta poderia ter sido. botei o álbum pra baixar. pode ser apenas mais um "two-hit-wonder", mas só o fato de, depois de tantos anos, ouvir algo com alma de novo já me deixou feliz.

07 setembro 2006

o exterminador do futuro (2010)

uma amiga indicou-me o vídeo-documentário liberdade, essa palavra, de marcelo baêta, feito como projeto final de curso de jornalismo na ufmg em junho desse ano. esse caboclo promete...

o tema gira em torno das relações espúrias entre os donos dos veículos de comunicação e o poder, este personificado por nosso futuro presidente, aécio "déficit zero" neves, o mauricinho das gerais.

assista o vídeo aqui.

tamos bem servidos...
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atualização:


parece que o vídeo causou tanto mal-estar que a assessoria do candidato entrou em campo, acusando o trabalho de baêta de manipulação petista, e produziu um "documentário" em resposta. liberdade de imprensa em minas está disponível em três partes no you tube. a terceira não responde nada, é apenas uma ataque ao pt através do caso da demissão do boris casoy da record.

alea jacta est
.

quanto a mim, quero mais é ver o circo pegar fogo.

funcionário do mês


responda rápido aonde um camarada com esse perfil seria mais adequado: na presidência da república ou na gerência de uma farmácia, supermercado ou loja de tecidos na tijuca?

03 setembro 2006

the manchurian candidate

essa noite tive um sonho muito estranho (talvez, quem sabe, pelo fato de ter ido na sexta à belzonte): eu era contratado para manipular mamulengos com a cara dos vencedores das eleições para o governo estadual de minas e são paulo.

a "apresentação" seria nas sacadas dos respectivos palácios, no fim da contagem dos votos. o discurso de posse estava gravado, e eu apenas faria a mímica, acenando, cumprimentando etc. mas não seria uma paródia, as pessoas deviam ser convencidas de que estavam vendo os políticos reais.

acordei com a angústia de perceber que, nos dois casos, a população nas ruas não percebia o engodo, por mais toscos que fossem os mamulengos.

será que isso quer dizer alguma coisa?...
cartas para esse endereço.