aos três dias do décimo-primeiro mês do ano da graça de dois mil e seis, a.d. (mais de um mês à deriva nesse mundão prenhe de possibilidades.)
minha biografia confirma: desde antes do nascimento, dona sorte sorri para mim. ultimamente tem dado até para ver o vermelhão das gengivas. muitas coisas boas têm esbarrado em mim. o trabalho exige, mas não assusta; as entranhas afinal remendaram-se; e até as nuvens negras que alguns amigos identificaram se afastaram com um pé-de-vento. enquanto isso, bruceleeanamente, sigo buscando ser água, moldando-me a cada recipiente em que sou derramado.
"o que a língua trava, a pena solta". acho que acabei de inventar essa frase, e é tanto o que eu quereria pra mim, que a adotarei como lema. meu analista a teria adorado.
está provado, ônibus são ótimos para a reflexão rasteira. proponho enquadrar ao lado da filosofia de botequim a categoria da "metafísica de ônibus". a ocasião é quase tão propícia ao devaneio quanto ao se lavar louça. com a vantagem de se poder olhar para dentro dos apartamentos e para as pernas das motoristas e caronas nos carros lá embaixo. o único inconveniente é a letra tremida, que dificulta um pouco a compreensão depois.
as palavras são suseranas caprichosas, e por mais que tente, raramente extraio significados precisos. até formulei uma teoria meio maluca de que todos têm uma guerra a combater. pode ser conviver com uma doença ou má-formação, vencer um vício etc., mas sempre será uma superação, interior ou exterior. já sei, o paulo coelho já deve ter dito alguma coisa nesse sentido, mas, a grosso mole, os muçulmanos já tinham um conceito bem parecido -- a tão aviltada jihad. talvez a luta com as palavras seja o combate da minha vida. eu gostaria que fosse. nada mais geminiano...