09 julho 2007

"filhos, melhor não tê-los", disse o poeta

não sou um sujeito que se pode chamar de caridoso. afora amigos e conhecidos, tenho dificuldade em fazer algo para meu "próximo". mas como me afeta a visão de idosos e crianças vivendo nas ruas, em meio ao lixo, ajudo doando coisas concretas, como roupas e sangue (sou doador voluntário há alguns anos). entretanto, acho difícil dispor de conceitos abstratos como "atenção", "tempo" e "dinheiro".

não sou um um sujeito que se pode chamar de ecológico. não reciclo lixo, e não dou muita importância para a amazônia, o aquedimento global e as baleias. mas como me afeta o calor crescente e a iminência de outro apagão, fiz da economia de água e luz um hábito. e só tomo banhos frios (o que me imunizou quase definitivamente a resfriados e me deixou mais resistente a baixas temperaturas). pensando também na manutenção do ecossistema, não faço a menor questão de ter filhos.

considero essa uma decisão ecológica. não passando adiante meus genes (não me entendam mal, não há nada de errado com eles. e pelo que tenho visto pela aí, até que eles estão acima da média), evito a superpopulação, problemas de espaço e o esgotamento dos recursos naturais e energéticos. e ainda estaria colaborando para minimizar o problema das crianças abandonadas.

se o papel do macho na manutenção do equilíbrio social já é questionável, na reprodução ele tornou-se praticamente secundário. de maneira que prefiro passar adiante meu "legado intelectual", por mais buracos e falhas que ele tenha. agrada-me mais minha perpetuação enquanto idéia do que biologicamente. ao contrário das fêmeas, que através da concepção sentem o milagre da continuidade da espécie, aos homens resta o consolo de tentar alcançar a imortalidade histórica.

talvez eu seja egoísta demais para dividir minha liberdade tardia, conquistada com tanto sacrifício, cuidando de outra vida. se mal comecei a aprender a administrar a minha... é que, como bom geminiano, considero que as crianças só se tornam seres dignos de interesse quando começam a desenvolver a comunicação verbal. antes disso, prefiro os gatos, que pelo menos são independentes o suficiente para saberem usar a caixa de areia sem ajuda externa.

pode ser que algum dia eu venha a ser pai biológico, e tenho a certeza de que se isso acontecer, serei o mais babão dos pais. mas enquanto estivermos no terreno das hipóteses, prefiro "adotar" o filho de alguma namorada e queimar a etapa das fraldas & choro noturno.