mais ou menos aos 14 anos deixei de ter ilusões a respeito do amor cortês. essa foi a época em que percebi que não chegaria a lugar nenhum passando noites em claro ouvindo as canções "mela-cueca" do good times 98 no rádio, fantasiando confissões de amor eterno no leito de morte a uma amada hipotética.
junto à percepção do senso de ridículo, a passagem dos anos se encarregou de me presentear com uma ou duas belas rasteiras no campo sentimental. e se é bem verdade que nessas ocasiões os joelhos e o coração saíram escalavrados, também me ajudaram a forjar uma armadura racional que, antes de me separar do mundo, me protege de golpes desnecessários.
uma vez me apontaram uma definição de geminiano (meu signo) como um sujeito que carrega dois corações: um na mão, o qual ele presenteia a todos, e outro trancado no armário do peito, cuja chave ele não dá para ninguém. e por muito tempo achei essa a imagem que me definia melhor emocionalmente. hoje sei que não é bem assim.
ainda não cheguei ao ponto de dizer, como maiakovski, que "comigo a anatomia ficou louca. sou todo coração", e nem sei se assim o quero. o importante é que os tropicões que levei ao longo dessa estrada serviram para destruir de vez o mito do amor romântico.
sou capaz de me apaixonar, sem no entanto perder a razão. e, com todo o respeito devido, discordo do houaiss em sua acepção de paixão como "sentimento, gosto ou amor intensos a ponto de ofuscar a razão". comigo, felizmente, não é mais assim.
amo sim, e não deixo de me entregar aos relacionamentos com intensidade. mas nunca sem pesar as variáveis. por exemplo, se logo nos primeiros momentos começarem a despontar muitas arestas estruturais, não adianta se iludir que a coisa não irá muito adiante. é melhor nem deixar a massa crescer, porque o bolo vai solar e o resultado será feio.
podem me chamar de frio, calculista e racional em excesso. mas sou totalmente favorável aos relacionamentos saudáveis. não sem diferenças e desavenças, porque essas fazem parte da convivência de quaisquer dois seres que se proponham a levar uma vida em comum, sob o mesmo teto ou não. mas evitarei ao máximo alimentar neuroses, competições ou recalques que identificar ao longo da jornada.
é graças a esse sentido apurado que hoje consigo ser amigo de todas as minhas ex-namoradas e eventuais casos. não, pensando bem, tinha uma que, há una anos, não podia sequer ouvir falar meu nome. mas hoje ela nem deve lembrar mais que eu existo. de qualquer forma, isso é outra história...
enfim, toda essa baboseira foi para dizer que tenho um renque de defeitos, entretanto, uma ou duas coisas a respeito do amor eu sei. e quero, antes de mais nada, que as pessoas brilhem, e que, se o amor não vingar, que pelo menos fique a amizade -- porque essa sim, vale ouro.
resumindo: o que tiver que ser, será. e o que não tiver, também. só que ao contrário.