guardadíssimas as devidas proporções, às vezes me sinto como anchieta, escrevendo seu poema na areia da praia, pra depois vir a porra do mar e lamber tudo. ou seja, um trabalho boçal, mas que pelo menos eleva à santidade.
digo isso porque sempre que consultado (não sou besta de puxar esse tipo de assunto), canso de entregar às amigas o pulo do gato do trato com o sexo oposto. em vão.
sei que nada sei, porém gigante pela própria natureza, e com a experiência do convívio com os de meu gênero e espécie, afirmo com um mínimo de propriedade conhecer o que eu e alguns homens queremos delas e com elas.
talvez nenhuma mulher acredite em mim pela predominância do meu hemisfério palhaço. só que quando elas vêm me contar suas desventuras amorosas, tenho que morder lábios, língua e cotovelos para segurar o desejo de lascar um "não disse?", porque isso um cavalheiro não faz.
além do mais, desisti de ter razão. melhor é ser feliz ao lado de uma costelinha para esquentar e chamar de minha linda. os fatos apenasmente confirmam minha tese ainda não totalmente elaborada sobre o "romantismo canalha". mas atire a primeira pedra quem souber o que querem as mulheres.
para ser ouvido, resta-me ecoar as palavras do canalha-romântico por excelência, xico sá (dois bostejos seguidos sobre o cara... vão achar viadagem). reproduzo o texto, para ninguém ter a pachorra de dizer que a página não abriu.
DOU RISADA DE UM GRANDE AMOR - 16/04/2008
“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor, mentira!”
Encontro minha amiga A., no nosso botequim predileto, e a desalmada vai logo anunciando, com a ironia fina que a acompanha na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença.
Sempre tem boas histórias e uma mania louca de escolher uma música, normalmente Chico Buarque, para trilha das sagas românticas.
Como Chico tem um vasto elenco de personagens femininos e incorpora as dores e delícias das mulheres, ela escolhe no capricho, no ponto. Moleza, garoto.
“Tinha cá pra mim que agora sim, eu vivia enfim o grande amor, mentira!”, ela repete e repete, enche o saco com o “Samba do grande amor”.
Essa música nem é protagonizada por uma fêmea, e sim por um homem desiludido do amor, um cabra cujo destino parafusou-lhe na testa belos objetos pontiagudos, como diria o compay Marçal Aquino.
Mas ela insiste e canta assim mesmo. Pior: canta e ri, uma loucura. Que diabo de sofrimento é esse com essas gargalhadas todas?
A moça é assim mesmo. Não tem jeito. E olhe que nem pediu caipiroscas de frutas vermelhas nesse dia, ficou apenas no chope, coisa fina e civilizada.
“Morrer dessa vez é que não vou”, tira onda. “Ih, estou escaldada, velho Francisco”.
O que A. me contou uma das coisas banais que mais escuto das minhas amigas nos últimos tempos. E olhe que sou conselheiro, ombudsman das moças, cupido e ouvidor-geral de muitas crias das nossas costelas.
“Sua carteira de desesperadas é grande”, ela mesma tira uma boa onda sobre um ofício que desenvolvo com gosto e curiosidade desde os verdes anos –quando sequer eu sabia o era uma mulher para valer, conhecia apenas as cabritas e as bananeiras.
A amiga deparou-se com mais um desses homens que prometem, ensaiam, jogam um charme, cultivam, cantam de galo... comparecem e..., sem dizer nada, tomam o clássico chá de sumiço.
“Por essas e por outras é que agora prefiro um bom canalha a um homem frouxo”, prega a amiga, conquistando rapidinho o apoio da mesa feminina ao lado. “Um canalha pelo menos me pega com gosto e temos noites deliciosas”.
Defende a tese e emenda, riso desavergonhado: “Passava um verão a água e pão, dava o meu quinhão pro grande amor, mentira!”
É rapazes, é tempo de homem frouxo, que corre mesmo diante da possibilidade de uma história mais densa e afetiva. Não sabem o que estão perdendo. A começar pela minha amiga cantante, belo exemplar da raça, no auge dos seus 3 ponto 6, boa conversa, boa lábia, gostosa, bocão e um humor capaz de tornar o mais nublado dos dias no dia mais alegre e comovente para o cara que estiver ao seu lado. Sorte deste hombre!