20 maio 2008

domingo de praia

acordei ainda meio zonzo da farra de sábado, que começou com o churrasco de um amigo, e acabou com a comemoração improvisada do aniversário de outro num show cover dos beatles. em dado momento, caí de costas no palco, e depois do fim da apresentação, tomei de assalto o microfone junto com outro camarada, e esfrangalharmos nossas gargantas cantando helter skelter até desligarem os microfones.

levantei-me lá pelas nove, com o sol clareando meu quarto sem cortinas. depois de vários dias nublados, fiquei animado com a posibilidade de recuperar as energias com um banho de mar. vesti um calção e fomos os três à praia, eu, mrs. dalloway e mário quintana.

ainda havia pouca gente na areia, a água estava cristalina, e a temperatura, nem estupidamente, como a boa cerveja, nem aquela sopa morna que no nordeste chamam de mar. enquanto nadava em direção à arrebentação, mergulhei de olhos abertos (tão clarinha...) e emergi sem as duas lentes de contato. beleza, não seria a primeira vez, e ainda tinha um par sobressalente em casa.

pouco depois subiu uma onda que, de onde eu estava, parecia ter uns cinco andares de altura. afundei até ficar rente ao chão, mas ela estourou em cima de mim e me arrastou de todos os jeitos durante uma eternidade. ao alcançar a superfície, bebi um tanto d'água e vi o quanto tinha me afastado da areia.

foi apenas o tempo de outra coluna d'água desabar sobre minha cabeça e praticamente virar-me pelo avesso. depois da quarta onda, achei que a coisa tava ficando preta, pois meu fôlego ficava cada vez mais curto. pela primeira vez, considerei a possibilidade de me afogar.

felizmente, a série me jogou num ponto em que consegui ficar em pé e sair da água, meio tonto, mas com alguma dignidade. e com tanta areia no calção que parecia ter herdado os bagos do homem-elefante. tive que voltar para a água (no rasinho, dessa vez) para esvaziá-lo.

desabei na canga e fiquei me esquentando ao sol enquanto recuperava o fôlego. depois comecei a ler mrs. dalloway, mas a conversa do lado era páreo duro para a prosa rebuscada de mrs. woolf. uma moça contava para outra nem tanto as brigas homéricas que tinha com o namorado/marido, por conta das puladas de cerca do bruto.

à medida que as horas passavam, mais gente se aboletava à minha volta. principalmente quando o mar, que produzia umas ondas de uns dois metros e meio de altura, começou a avançar sobre as pessoas instaladas na beirinha d'água.

dei uma cochilada, mas fui acordado por três aviões voando em fila indiana, cada qual carregando uma faixa. acho que era algum protesto contra o ministro da saúde. tudo o que esse míope sem lentes conseguiu ler foram as palavras "temporão" e "remédios", mas duvido que alguém usasse tal expediente para elogiar alguém.

depois chegou um casal com uma criança que jogava areia para todos os lados enquanto brincava de pegar com um cachorrinho yorkshire chamado "fifi". definitivamente vi que era hora de tirar o time de campo.

no caminho de casa, dois camaradas carregando um caiaque atribuíam o tamanho do mar à lua cheia, e quando cheguei à princesa isabel, o helicóptero do salva-mar içava um sujeito com um puçá preso à uma corda. poderia ser eu.