10 maio 2008

parábola

depois de calcinar meu almoço no microondas durante uma acalorada discussão telefônica sobre quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete, entrou uma abelha pela janela.

essa abelha já não devia ser lá muito boa da bola, porque, até onde eu saiba, o cheiro de fumaça repele esse tipo de inseto. no entanto, a névoa fedorenta que saía do forno e tomava meu pequeno apartamento pareceu atraí-la.

enxotei-a delicadamente com uma revista pela janela do quarto, mas quando fui beber água, notei que ela havia entrado novamente, dessa vez pela sala.

botei-a para fora de novo, mas a estúpida insistiu em voltar, e agora está zumbindo e se debatendo contra o vidro, na tentativa de sair. depois de tê-la ajudado duas vezes, vou deixá-la ali até que morra de exaustão.

definitivamente, há seres que preferem insistir em empreitadas inúteis, mesmo que isso lhes custe a vida, do que aceitar uma mão de alguém que, no momento, tenha uma visão mais ampla da situação.

são esses os que dizem: "ei, tenho minha própria cruz para carregar!"

quem sou eu para contrariá-los?