01 junho 2008

no fim das contas

um dos maiores prazeres para mim é tomar banho, e o atribuo à uma distante herança indígena. o hábito também poderia ser explicado pelo manancial de pensamentos e associações esdrúxulas que brota nessa hora. é batata: basta a água bater no corpo para a cabeça desenvolver um rizoma de bobagens. lavar louça e caminhar também causam esses estímulos.

e foi no banho que, por ocasião do meu aniversário, cheguei à conclusão de que não há presente maior, nessa ou em qualquer outra data, do que a presença dos amigos, física, virtualmente ou em lembrança. quando era criança, só queria saber de brinquedos. depois foi o tempo das roupas e dos tios chamando à parte para nos enfiar no bolso um envelope com cheque ou dinheiro. não vá gastar tudo em bobagem, conselho que nunca pude seguir. mas não há nada que substitua os abraços e beijos, ligações, imeios, recadinhos pela internet, ou o daqui a pouco eu ligo que vira esquecimento. afinal, somos todos humanos. tudo muito simpático, de verdade.

por isso agradeço a todos os que já riram comigo ou de mim, aos que me viram chorar ou que choraram comigo, aos que dividiram os momentos de angústia ou que sofreram por mim, aos com quem sentei em mesa de bar, que beberam até vomitar na minha casa ou eu nas deles ou em seus carros. aproveito para agradecer àqueles que me amaram de alguma forma, abertamente ou em segredo, especialmente às moças, mesmo as que me odiaram, ignoraram ou me devotaram seu desprezo. saúdo os que já me fizeram perder a paciência, os que correram atrás de mim por algum interesse ou favor, os que alguma vez tenham me humilhado ou invejado (quem diria que eu poderia ser digno de inveja, talvez o seja, sei lá), os meus credores... enfim, meus agradecimentos sinceros a todos aqueles que me fazem lembrar que estou vivo aqui nesta terra e que existo. é por vocês que eu acordo, faço a barba, corto e penteio os cabelos (como disse antes, banho eu tomo porque gosto), é por vocês que mofo oito horas por dia num labirinto de ratos por dinheiro, que arrumo a casa, e, por mais que me entristeça, é por vocês que não ando nu como é de minha natureza e como gostaria de andar.

a todos vocês, "ícones guardados num coração-caverna/ como quem num banquete ergue a taça e celebra/ repleto de versos levanto meu crânio". obrigado também, maiakovski, pelos versos. obrigado do fundo do coração. a vida tem sido boa para mim. sem vocês todos ela não seria a mesma. são 35 outonos - a mais bela das estações - de serviços prestados mais ou menos nas coxas, mas que coxas!

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