20 agosto 2003

Lourenço Mutarelli

Falei no Cybercomix no post passado. Se ninguém (tem alguém aí...í...í...í...?) se dignar a linkar, procure as historinhas do Lourenço Mutarelli.

Topei com o trabalho do Lourenço lá pelo fim dos 80/início dos 90, na época em que a Abril publicava Moebius pra vender em banca de jornal! (Bons tempos da primeira bienal de quadrinhos...) Tinha revistas pipocando por todos os lados. Além da Chiclete (com Banana, para os não iniciados) e Circo, tinha Animal, Porrada, Abutre, e até umas revistas do Crumb, da editora Press, traduzidas em paulitês (é, be-lô!).

Enfim, fui no meio dessa salada que descobri o cara. E não gostei. Só pra ilustrar, o título mais light dele era "O cachorrinho sem pernas". Sem falar numas que tinham delírios suicidas, crises de depressão, psicose e coisas do gênero. Era pesado, os desenhos distorcidos, mais ainda assim, tinha uma ironia meio hipnótica. Sabe aquelas coisas grotescas que você tapa o rosto pra não ver, mas afasta um pouco os dedos pra deixar uma fresta? Pois é, assim era o velho Muta.

Depois dessa fase, passei anos sem ver nada seu. Até que a Trip publicou uma entrevista no ano passado. Muito boa, por sinal. Entre outras coisas, explicava a origem sombria dos desenhos. Tô sem saco de contar, mas no link acima tem umas pistas. O cara era saudado como novo fodão dos quadrinhos, premiado, o escambau. Além de ser um dos poucos que estava publicando álbuns, o que hoje no mercado editorial de hoje, é uma aposta forte.

Não resiti e comprei "O dobro de cinco". E gostei pracará. O cara tá muito bem, de traço & texto. É a primeira parte da trilogia com o detetive Diomedes, que como o autor, é aficionado por tangos argentinos. Tem umas coisas com tarô, outra paixão do Mutarelli. A esquicitice continua, mas direcionada, canalizada para o fluxo narrativo, mas ainda tá toda lá, nem um pingo foi diluído.

Faltam os outros dois. Mal posso esperar pra comprá-los.