14 agosto 2003

Tourette na cabeça

Sempre pensei que se algum dia eu tivesse (ou tiver, nunca se sabe o dia de daqui a cinco minutos) que surtar, gostaria que fosse de uma síndrome de Tourette básica. Não vou dar grandes explicações científicas, porque sequer as tenho, mas na minha leiga ignorância, Tourette é um distúrbio que leva o sujeito a vários comportamentos compulsivos, como lavar a mão o tempo todo, não pisar nas riscas da calçada etc.

Mas o que mais me fascina é a capacidade de fazer barulhos estranhos e falar umas coisas fora de hora, geralmente palavrões. Do nada. Imaginem, o sujeito está indo comungar, chega na frente do padre e solta um "vápraputaquiupariu!". Genial!

Pois bem, ontem eu estava assistindo ao Jô Soares (pois é, ainda faço isso, já devia ter perdido essa mania) e uma das convidadas era a Luciana Vendramini. Quem está na faixa dos trinta, como eu, deve lembrar daquele pitéu que saiu na Playboy lá pelo fim dos 80/começo dos 90 do século passado. Caralho, século passado...

Apesar do sobrenome de remédio para enjôo, ela foi a musa de uma geração de punhe...ehrm, de jovens virgens e sonhadores. E ontem ela estava na TV, já um pouco sambada, mas ainda linda. Sambada não, é sacanagem. Menos quimérica, mais mulher de carne e osso. E que carne!

Além de contar que tinha apenas 16 ANOS! quando posou pra Playboy, falou de uma história que eu ouvira en passant (é assim?) há muito tempo: que ela teve uma espécie de Tourette. Um desequilíbrio físico-químico que a fazia traçar uma lógica absurda entre eventos e coisas.

Por exemplo, uma vez ela achou que devia sentar numa cadeira ao mesmo tempo em que uma porta era fechada. Então, fez a irmã fechar a porta umas 15 vezes, até que a sincronia entre o som da batida e a sentada fosse perfeita. O Jô perguntou do "Melhor, impossível", aquele filme com o Jack Nicholson. Ela disse que foi assistir por recomendação de amigos, mas que foi um problema: só podia sair da sala de projeção depois que os créditos terminassem, porque não havia música quando entrou, então tinha que esperar acabar para deixá-la. E por aí ia.

Tenho um certo fascínio por esse tipo de coisa. Traçar lógicas incongruentes, ver e ouvir pessoas que não existem, etc. Mas sei que é um tormento conviver com isso. Eu mesmo não tinha muita paciência com um amigo que passou um tempo meio Tourette. Ele roía a pele da articulação dos polegares, e às vezes repetia o que era falado, num som baixo e gutural. Ir ao cinema com ele era um inferno! O cara reproduzia os diálogos do filme o tempo todo. Putz, como a gente o sacaneava por isso. Não sei se foi a nossa pressão, mas um dia ele parou. Geral. E acredito, sem precisar tomar nada, o que é muito espantoso, tendo em vista que o problema é orgânico. Uma descompensação de enzimas, sei lá.

É isso. Se algum dia eu pirar, pode apostar que vai dar Tourette na cabeça!