continuo meu romance com ricardo Reis. calma! antes que algum desavisado saia aos quatro ventos espalhando que virei adepto da inversão, aviso: RR é o heterônimo do Fernando Pessoa que eu não gostava na era da pedra lascada, mas que o redescobri há dias, e de quem ando lendo tudo.
minha humilde impressão é a de que, diante da tomada da consciência da finitude do corpo e da vida, RR empreende uma volta ao classicismo grego como forma de dar sentido à iminência do fim, organizando-a esteticamente.
bão, tudo isso me lembra muito um curso que uma professora de faculdade e amiga contou que ministrou uma vez na PUC: Fernando Pessoa à luz do budismo. (e para ninguém ter cócegas de utilizar a idéia, quebro minha política de privacidade e dou nomes aos...bem...a ela: maria da conceição do couto netto, vulgo "meu anjo".
a teoria dela era a de que se podia organizar os heterônimos, independente de sua cronologia, de forma a desenhar um paralelo com a iluminação budista. começando com a poesia histórica de Fernando Pessoa ele mesmo, e o desejo de retorno à simplicidade da infância. Diante da consciência da morte pinta o RR, com a grande experiência de um passado clássico, grandioso, que pelo menos justifique a miséria do fim. mas o esforço, além de desgastante, mostra inútil. vem daí a revolta e a descrença de Álvaro de Campos. por último, depois de romperem-se as amarras às regras sociais de boa conduta e de civilidade, chega-se à placidez sem de Alberto Caeiro, sensorial, direto, que não se importa com o mistério, e que só pensaria no mundo se estivesse doente. "Por que o ter consciência não me obriga a ter teoria sobre sa cousas:/ Só me obriga a ser consciente".
em linhas gerais é isso. pra terminar, gostaria de sapecar mais um Ricardo Reis. Se eu tivesse um túmulo, gostaria que fosse esta a inscrição:
Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.