hoje peguei emprestado dois livros do hesíodo - a "teogonia", que já conhecia e do qual li algumas partes, e "os trabalhos e os dias", como o anterior, um poemão. mas neste, me chamou a atenção um dos trechos em que ele fala das "cinco raças" de mortais criadas por zeus. De ouro, de prata, de bronze, de heróis e de ferro, à medida em que vão decrescendo em termos de perfeição, os graus de selvageria e barbárie aumentam. algo na descrição me remeteu de leve a traços do zigurate, do meu amigo max mallman.
para hesíodo, somos da raça do ferro, dos quais transcrevo o fragmento. atentem para a atualidade do caboclo, que provavelmente entre o fim do século VIII e o início de VII a. C. (!), já havia matado a xarada da civilização ocidental que o sucederia em até quase três milênios.
Raça de Ferro
Antes não estivesse eu entre os homens da quinta raça,
mais cedo tivesse morrido ou nascido depois.
Pois agora é a raça de ferro, e nunca durante o dia
cessarão de labutar e penar e nem à noite de se
destruir; e árduas angústias os deuses lhe darão.
Entretanto a esses males bens estarão misturados.
Também esta raça de homens mortais Zeus destruirá,
no momento em que nascerem com têmporas encanecidas.
Nem pais a filhos se assemelhará, nem filhos a pai; nem hóspedes a
hospedeiro ou companheiro a companheiro,
e nem irmão a irmão caro será, como já havia sido;
vão desonrar os pais tão logo estes envelheçam
e vão censurá-los, com duras palavras insultando-os;
cruéis; sem conhecer o olhar dos deuses e sem poder
retribuir aos velhos pais os alimentos;
[com a lei nas mãos, um do outro saqueará a cidade]
graça alguma haverá a quem jura bem, nem ao justo
nem ao bom; honrar-se-á muito mais ao malfeitor e ao
homem desmedido; com justiça na mão, respeito não
haverá; o covarde ao mais viril lesará com
tortas palavras falando e sobre elas jurará.
A todos os homens miseráveis a inveja acompanhará,
ela, malsonante, malevolente, maliciosa ao olhar.
Então, ao Olimpo, da terra de amplos caminhos,
com os belos corpos envoltos em alvos véus,
à tribo dos imortais irão, abandonando os homens,
Respeito e Retribuição; e tristes pesares vão deixar
aos homens mortais. Contra o mal força não haverá!