outro dia cheguei à conclusão que tenho uma inclinação atávica para o banzo. avaliando a frio, pelo lado estético, meus gostos musicais, cinematográficos, artísticos, etc., observo um padrão meio deprimido. no entanto, não sou de ficar me queixando da vida que nem a hiena do desenho - "ó dia, ó vida, ó azar...". simplesmente tenho meus calundús. e gosto deles. e os preservo em segredo, num vidro de compota guardado numa prateleira entre o cérebro e o coração.
é como o traço de ciclotimia dos palhaços, muito bem retratada pelo nelson cavaquinho: "volta, que a platéia te reclama/ sei que choras palhaço/ por alguém que não te ama/ (...) faça a platéia gargalhar/ um palhaço não deve chorar". acho que por isso que gosto tanto de palhaços, e porque, no íntimo, gostaria de sê-lo por profissão.
mas nesse sábado pude satisfazer minha verve clóvis (melhor que clown). é que fui, com a bibi, ao aniversário de um ano do tarik, filho da judith, que está com o marido passando o holiday on ice no brasil. foi divertidíssimo, e para completar, todos os ADULTOS ganharam saquinho surpresa, com nariz de palhaço, dentes postiços e língua-de-sogra (ótimo nome, já repararam?). tiramos fotos paramentados e de chapeuzinho, e seguimos para outro aniversário, da rê queveda, no rio scenarium. eu e bibi no carro de palhaço - óbvio. até o flanelinha esqueceu de nos cobrar, na ida. aliás, quando viu a dentadura postiça na boca da bibi, escancarou um sorriso limpa-trilho de fazer inveja. perguntei, com o vidro fechado (pro sujeito não ouvir):
- e aí, onde foi que você comprou os seus?
na fila, todos nos olhavam, e eu retribuá a curiosidade, cumprimentando-os tirando o chapéu - afinal, sou um camarada educado. na hora de pegar a cartela de consumação, o atendente perguntou o nome. num surto esquizofrênico, respondi na lata:
- coçadinha! - mas o dani, sem senso de humor, consertou - marcelo.
lá dentro, a chegada foi uma festa. fiz jus ao apelido de "loco", que essa galera me deu há...treze anos (cacete!), e do qual sequer me lembrava.
vieram falar comigo, e eu cumprimentava batendo na bunda, "como vai, vai bem, veio a pé ou veio de trem?". quando era um pessoal interessante que eu não conhecia, virava de costas, tirava o aparato e me apresentava:
- como vai? marcelo, seu criado. qual a sua graça?
me diverti, dancei pra dedéu, cheirei uns cangotes no forró, reencontrei o povo do boitatá, e sai quase cinquenta reais mais leve. vagabundo tá metendo a mão no finde, 18 paus! e sem direito a consumir uma azeitona sequer. mas valeu.
agora estou aqui - como dizem os gringos - mais azul do que o azul pode ser. ouvindo umas sonatas de piano do beethoven que aprendi no "homem que não estava lá", dos irmão coen, que aliás, no momento aproveito para baixar. filme triste e bonito. preto-e-branco, como convém.
doze dias para ficar assim...boa média para 2004.