08 janeiro 2004

millôr de verdade

na época da bolha da internet, quando eu trabalhava num sáite, volta e meia recebia uns textos supostamente assinados por celebridades nacionais, de pena & traço. mas uma leitura um tiquinho mais atenta denunciava rapidinho que os autores não eram os próprios signatários. alguém com um conhecimento mínimo - nem digo da obra, mas da pessoa - de mário quintana acharia realmente que ele usaria uma expressão que se assemelhasse a "corpos sarados"?

ou que o ziraldo abriria mão de sua sutileza mineira para divulgar pela internet um panfleto recheado de palavrões, explicando a razão pela qual não economizaria energia durante o apagão? ah, tem também o caso clássico do suposto poema sentimentalóide do borges, que chegou até a ser utilizado num reclame (alguém se lembra dessa palavra?) de tv. o caso depois virou até notícia de jornal.

é interessante analisar essa inversão estabelecida pelo advento da internet, no que diz respeito à originalidade de uma idéia. antes, a autoria de qualquer boa idéia ou declaração inteligente era disputada a tapa. depois da internet, o volume de informação que se recebe no dia-a-dia é tão grande que, para merecer a atenção do destinatário, ela tem que conter algo de extraordinário imediatamente identificável. para isso, as pessoas camuflam suas próprias idéias sob a chancela de um nome famoso. daí os títulos dos imeios serem sempre "poema de fernando pessoa", "texto do ziraldo - leia", ou coisa que o valha.

esse narigão de cera tem dois motivos: primeiro, porque até hoje esses textos às vezes vêm bater à minha caixa postal, ou alguém vem citá-los, cheio de erudição. e dá um trabalhão desmenti-los. o outro (e real) motivo é porque li uma das famosas "fábulas fabulosas" do millôr, em seu sáite, que me deu vontade de reproduzir. e para que não reste dúvidas quanto à sua autenticidade, eis o link.

O milagre econômico. (à maneira dos... persas)

Um mendigo surdo-mudo entrou num botequim e, com gestos fortes e significativos, pediu esmolas. Os fregueses, irritados em sua generosidade, recusaram. O mendigo ficou insistindo de mesa em mesa, até que o dono do botequim enxotou-o dali. O mendigo continuou pela rua afora, pedindo a todos os passantes do mesmo jeito. Uma hora depois, voltou, sentou com espalhafato numa mesa do botequim e gritou, para que todos ouvissem:
- Uma Brahma estupidamente!
O garçom trouxe a Brahma correndo, abriu e disse:
- Ué, como é? Você não era surdo-mudo? Ficou bom de repente?
E o mendigo respondeu:
- Que adianta a gente falar, quando não tem o puto de um níquel pra pedir uma Brahma?
MORAL: O DINHEIRO FALA MAIS ALTO.