25 fevereiro 2004

a ignorância é opcional

há pouco tempo, bostejei algo sobre os textos toscos que mandam por imeio, com a suposta autoria de algum escritor ou poeta. pois bem, acabaram de me mandar um texto aparentemente do drummond, que apesar de bacaninha, depunha sem piedade contra o poeta.

(quem estiver curioso faça uma pesquisa no google com "drummond", "sofrimento" e "opcional", que ele vai pipocar aos montes. não quero tomar parte nisso.)

num dos sites tinha uma informação estranha, dizendo que o texto era, na verdade de emílio moura, um "amigo do poeta". continuei encafifado, e catei uma antologia de verso e prosa do itabirano que tem aqui em casa (aquelas de capa dura verde). voilá! emílio moura realmente existiu e foi resenhado por drummond. nascido em dores do indaiá (MG) em 1902, morreu em belzonte, em 1971, e era identificado com a segunda fase de poetas modernistas.

mas, cacete! um cara que escreve coisas com as que eu li aqui e aqui, jamais assinaria um troço que diz "O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana", ou "Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada". a menos que tenha sido vítima de um processo feroz de emburrecimento. ou que tenha sido feito por um homônimo - o que não está nem perto de ser uma solução.
além do mais, identificar o cara, por mais desconhecido que seja, como simplesmente "amigo do drummond", é sacanagem e má-fé.

só para terminar, vou bostejar uma poesia da lavra do autor. dedico a ela...

Poema

Renasces em ti mesma e por ti mesma.
Movimentas o sonho, a poesia e as aventuras imprevisíveis.
O imponderável é a tua matéria.

A poesia só me visita para que te realizes,
para que eu te sinta e te compreenda.

Que caminhos te prendem,
que ignotas rotas te iluminam?

Uma rosa se forma entre o teu sorriso e a aurora.
De repente,
tudo se torna tão irreal
que te sinto visível.