acabei de despertar de um sonho estranhíssimo. depois de enfrentar um temporal, chego na casa de campo de um tio (a casa realmente existe). tomo um banho, e aí começa a parte da qual realmente me lembro. chego na sala e vou cumprimentar os parentes, que estão sentados um tanto bovinamente em frente à televisão. esta, que por sua vez, está na frente da lareira acesa. entre eles está minha irmã. depois dou a volta no sofá para falar com meu tio, que encontra-se sentado numa mesa, mais atrás. há outra pessoa com ele, que não identifico agora. me aproximo, ele está com um copo de uísque na mão. delicadamente, não me deixa beijá-lo, e pergunta quantos anos tenho:
- é que fulano vem aí para jantar, e a filha dele tem mais ou menos a sua idade, e pensei que talvez você fosse gostar dela. - agradeço a lembrança, um tanto constrangido pela sua rudeza etílica, que nunca vi antes. e me sento na outra cabeceira da mesa. do meu lado, há outra televisão ligada, que passa um documentário sobre a genial carreira de meu tio.
conta o locutor como ele uma vez largou os convidados inesperadamente, no meio de uma visita à essa mesma casa de campo, sendo encontrado em seguida, em pé no seu quarto, escrevendo mais uma leva de seus geniais versos. entre os quais, o locutor destacava aqueles que provavelmente ficariam gravados na história como seu epitáfio (que me soaram o supra-sumo do mau gosto):
...e pouco me importa
se não reconheço o estilo de Gabo
neste mal-traçados versos:
só sei que tenho 26 anos,
estou desempregado,
sou bom de cama,
e tenho uma lista de resoluções
escrita com lápis vermelho
que inclui entre as prioridades
um encontro marcado com a felicidade,
a despeito de mim mesmo.
...
nesse ponto despertei imediatamente, as palavras ainda borbulhando, quentes. salvo um ou outro lapso, é isso mesmo. por sorte, um bloquinho estava perto da cama. e aqui vai o detalhe cômico: antes de dormir, eu estava lendo cartas a um jovem poeta, do rilke.