22 abril 2004

confissão

tô há um tempão sem escrever, basicamente por dois motivos: 1) vivo um período muito bom, de intensa felicidade, como só poderia supor nos meus mais desvairados delírios românticos adolescentes. sem aquela melosidade piegas, mas utilizando todo o bom senso que consegui reunir ao longo desses 30 outonos. estou, pela primeira vez na vida, deixando o coração frouxo, sem que o cérebro o castigue a cada instante. dá uma certa vertigem, mas recomendo a todos. 2) vivo um período muito ruim, de intensa ansiedade, um pesadelo mesmo. confronto contra esqueletos até então sublimados. barra pesada, amiguinhos (será uma prévia do inferno astral que me aguarda em poucos dias?).

o que está bem, está bem; o que me preocupa é o resto. numa tentativa de ser menos vago, direi que o problema é mais ou menos o seguinte: tenho uma transa mal resolvida com autoridade. me amedronta e repugna, mas ao mesmo tempo, é o motor que me tira da inércia. dificilmente produzo sem pressão. com um agravante: amizade é amizade, chefia é chefia. tal água e óleo, não consigo misturá-las sem prejuízo para ambas as partes. tenho buscado alcançar um meio-termo, mas, por enquanto, ou bem estou pagando pelos pecados de adão, ou bem estou no jardim das delícias.

outra coisa é uma estranha mania de me desinteressar por qualquer assunto no exato momento em que ele se torna uma obrigação. foi assim até com o desenho. o período em que cursei a faculdade de belas-artes, foi quando praticamente abandonei as histórias em quadrinhos. desenhava, sim, mas deixei de lado minha verdadeira paixão. depois fui cair na besteira de acreditar na conversa burra e preconceituosa de que tinha que arrumar um emprego de gente grande. afinal, todo mundo sabe que esse negócio de desenhar não vai te levar a lugar nenhum...
mas isso é outra história.

tenho uma auto-crítica insana. e um medo danado de me expor ao julgamento alheio (mas não sou um cara tímido; sou do tipo que, com um pouco de inspiração e algumas latinhas na cabeça, sou capaz de fazer as pedras gargalharem. pensando bem, às vezes, não preciso nem das latinhas...). a possibilidade de críticas, ou de que descubram que não passo de uma farsa – é isso aí, gente fina, a coisa é ruim assim – me paralisa. meu nível de exigência dispara e, mesmo inconsciente, se não for para ser o melhor, prefiro declinar. até os elogios e expectativas positivas soam como cobrança.
bem-aventurados os caras-de-pau, pois deles será o mundo. não é despeito, não. é admiração.

agora misture os igredientes até formar uma massaroca, bata repetidamente na cabeça, e não dê tempo para ela descansar. deu para perceber o drama ou querem que eu desenhe?

isto posto, só me resta tocar um tango argentino, ou manter-me atento e forte, sem medo de temer a morte, porque afinal de contas, tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso.

pensando bem, fico com a segunda opção. i choose life. whatever the cost. que venham os tártaros. tombarei lutando.