30 dezembro 2004

o último bostejo do ano (2)

correção: há bostejos atrás, eu rejubilava-me com a interjeição "evoé! zut! zut!". queria então este humilde digitante, fazer gracejos com os parnasianos. no entanto, anta que sou, confundi-me. corrige-me o genial cony, em sua crônica "evoé!", registrada no volume "o harém das bananeiras", de 1999. registro-a aqui:

Evoé

Nunca entendi o que quer dizer. Os jornais de antigamente, ao chegar aquilo que chamavam de "tríduo momesco", botavam nas primeiras páginas, em letras garrafais, EVOÉ! - assim mesmo, em maíusculas e com o ponto de exclamação que foi abolido pelos copidesques que vieram depois e introduziram nos textos da redação o pavoroso "diz que".

Evoé era uma senha, talvez de alegria, talvez de esbórnia, e como nada significava realmente, tanto fazia. Os dicionários explicam que era o grito festivo com que se animavam as orgias de Baco, também conhecidas como bacanais. Triste festa e triste animação que necessitavam de tal palavra para dar início aos trabalhos.

nas Cruzadas, diante das hordas heréticas, os grandes de Espanha e os pares de França gritavam para seus comandados: "Deus vult' - Deus o quer! - em português a exclamação é necessária, pois o "vult"latino já contém uma dose razoável de exclamação. Matava-se ou morria-se por um
slogan. Amava-se também. Na Idade Média, as esposas iam para a cama com uma camisola na qual havia uma fenda no lugar apropriado, com o mesmo estímulo: deus o quer. Como se vê, até para fornicar era aconselhável ter um estímulo suplementar.

Bem verdade que não se precisa de uma senha para morrer e muito menos para fornicar. Essas coisas acontecem no devido tempo - e ainda bem que acontecem. Nada aconteceria, por exemplo, se, ao invés de "Evoé!", fossem usadas aquelas interjeições que os parnasianos freqüentemente colocavam em seus poemas: "Eia! Sus! Sus!"

Fico imaginando o Joãosinho Trinta gritando eia, sus, sus para animar os foliões da Beija-Flor durante os desfiles do carnaval. acho que o técnico de nossa seleção, na Copa do Mundo, após esgotar todas as miraculosas fórmulas táticas de ganhar um jogo, bem que podia pensar no assunto.

Falta a todos nós, tanto no carnaval como no futebol, na vida em geral, um grito de guerra, um "Deus vult", um "Evoé!", até mesmo, em caso de desespero, um Eia! Sus! Sus! Talvez por isso ainda não demos certo.