Como eu ia dizendo aqui no JB antes de ser rudemente interrompido por 20 anos de ditadura militar e 20 de ditadura branca, talvez ainda haja salvação para o Brasil. Neste meio tempo, para ficar apenas no fundamental, acabaram com a nossa cultura, o nosso futebol e a nossa imprensa. O povo, principalmente o carioca, sempre tão gentil, emburreceu, a classe média vive tão desesperada em sua ânsia de não descer ao inferno do proletariado que não tem tempo para outra coisa além do pobre umbigo. O último estadista, Leonel Brizola - tinha um dedo podre para escolher parceiros mas era um homem de bem - morreu. Em seu vício pelo vício de fazer dinheiro, a televisão agoniza enquanto mostra os seres humanos como se fossem porcos em programas ao estilo de Big Brother que torturam Orwell até depois de morto. O país tem solução? Tem e precisa ser drástica, se não quisermos que, desesperado pela dor da fome, o povo desça e o resto dance. O jornalismo pode ser uma solução. Outro dia perguntaram-me se era possível voltar a fazer do JB o melhor jornal do Brasil. Respondi que sim por dois motivos: primeiro, por causa do insípido e medíocre panorama da nossa imprensa; segundo, se recolocarmos a mocinha, a heroína, a estrela, no centro do palco. Estou me referindo à verdade. O erro dos que se propõem a entrar no ramo é imitar as grandes corporações, que só têm compromisso com o lucro e desabam sobre seu próprio peso, enquanto a maioria dos seus colunistas fala de uma vida que não viveu. Em princípio o jornal é o advogado do povo. É o advogado daquele que tem dinheiro para comprar jornal e não para comprar advogado. Os bandidos têm medo dos jornais, pois podem ser desmascarados por eles. A não ser, é claro, que os jornais sejam sócios dos bandidos, quer os privados quer os da Justiça, do Executivo e do Legislativo. O povo precisa sentir que o jornal é parcial; que está do seu lado; que não trata caricaturas de seres humanos que navegam em naves de papelão como pessoas sérias; que o jornal não admite justiça sem força e força sem justiça. Para começar, por que não dizer a verdade? Severino, o presidente da Câmara, não é uma bizarra exceção. Exceção são os não Severinos. Severino apenas faz escancaradamente o que os senhores pomposos, elegantes e bem falantes - do poder ou não - fazem às escondidas. É isso aí. O Brasil não tem mais a cara de Carmem Miranda, mas sim a cara do Severino, que ri dos que dele riem, pois a cumplicidade é óbvia demais. Como na peça de Ionesco, tornamo-nos uma nação de rinocerontes exatamente porque não temos coragem de nos reconhecermos rinocerontes. No Brasil encenam uma realidade para encobrir a verdade e a verdade está na nossa bandeira. O verde representa os que vivem com menos de dez reais por mês; o amarelo, os que vivem com menos de cem; o azul, os que vivem com menos de mil. E os pontos brancos são os tiranos que sendo tão poucos nos esmagam com tamanha facilidade.
o wolff é capaz de me levar às lágrimas. mas continua um visionário (o que não é demérito nenhum, precisamos deles mais do que nunca), pois fazer jornalismo sério no jb, do jeito que está, só com muita fé.
de qualquer forma, boa sorte, jebão. o jornalismo (e os leitores) agradecem.