acabei de rever "as virgens suicidas", da sofia coppola, com um apertinho bom no coração. não sou dado a nostalgias, mas esse filme retrata com perfeição o gosto da adolescência -- um misto de angústia, ansiedade, antecipação e amor. tempos repletos de urgências dramáticas e desejos, que, não atendidos ou negados, parecem oferecer como única solução o fim à vida.
uma das grandes espertezas da fita é centrar a narrativa no ponto de vista dos garotos da vizinhança, que tentam remontar os acontecimentos como um quebra-cabeças de pequenos vestígios do dia-a-dia. lembrou-me muito a época em que eu e um pequeno grupo de amigos, inocentemente tentávamos desvendar os mistérios que o mundo, e, principalmente, as meninas, reservavam para nós.
We knew the girls were really women in disguise, that they understood love, and even death, and that our job was merely to create the noise that seemed to fascinate them.
outro ponto a favor da sofia (já tô íntimo) é não cair na esparrela de tentar explicar os "motivos", tampouco banalizar a situação puxando pela neurose dos pais. a opção é pela sutileza das pequenas violências, como na cena da queima dos discos. o clima solar, quase de conto de fadas, ajuda a não deixar o filme cair na morbidez óbvia, e a trilha sonora do "air", se me premitem a má literatura, é linda de morrer. quase hipnótica, inebriante como deve ser um uma overdose de soníferos ou um barato de gás carbônico. ótima escolha; gostaria de saber até que ponto o fato de os músicos serem quase adolescentes ajudou.
So much has been said about the girls over the years. But we have never found an answer. It didn't matter in the end how old they were, or that they were girls... but only that we had loved them... and that they hadn't heard us calling. Still do not hear us calling them from out of those rooms... where they went to be alone for all time... and where we will never find the pieces to put them back together.
a cena da conversa por músicas é muito bem sacada. e reescutar "you're so far away", da carole king, foi pungente. é meio cafoninha, mas capaz de me transportar de volta aos seis anos de idade, aos rincões da tijuca, às lembranças das minhas primeiras paixões. eram amigas da minha irmã mais velha, algumas quem sabe já mocinhas, cuja companhia tornou minha infância muito colorida e rica em experiências. um dia eu falo mais da importância da minha irmã mais velha para minha apreciação do gênero feminino.
a claudia, eu considerava minha namorada, a quem presenteei com uma figurinha do álbum do filme king kong, estampada com a foto da jessica lange. verinha, a mais linda, morava na casa do lado do meu prédio, e simone. ah, simone...era filha do porteiro, e talvez seja dela a culpa pela minha paixão por mulheres de pele branquinha e cabelo encaracolado. simone, a primeira que me mostrou suas graças, enquanto nos escondíamos no banheiro da empregada lá de casa.
algumas paixões juvenis podem marcar mais que água fervente sobre a pele, embora não sejam vistas a olho nu. como saldo final, alguma nostalgia das velhas amizades, muitas das quais só existem hoje em fotos esquecidas dentro de algum livro, ou perdidas em um fundo qualquer de gaveta.
enfim, para mim, esse filme manda muito melhor que o seguinte, lost in translation.