05 outubro 2005

religião de merda! profissão de merda!

merda para meus pais, que me criaram na religião católica, para quem o lucro é pecado. eu devia ter nascido calvinista ou de qualquer religião semita, que pelo menos vêem o dinheiro ganho com o trabalho honesto como um mandamento do altíssimo.

meus filhos, se os tiver, aprenderão a situar as religiões como curiosidades teóricas, extravagâncias históricas tão bizarras e ultrapassadas quanto a abiogênese ou o positivismo. sua educação será voltada para a crença em si mesmos, o desenvolvimento de seus potênciais e faculdades; com respeito aos outros, mas questionando sempre suas motivações, sem jamais curvarem-se diante do poder. viva a imanência! abaixo a transcendência!

minha criação deu-se sob o signo do temor irracional a um poder onipresente, onisciente e inquestinável. para piorar, todo meu treinamento profissional levou-me a ser autônomo, obrigado a mensurar de forma independente o valor do meu trabalho. mas como estabelecer parâmetros condizentes com o tempo e o esforço mental gastos na realização de uma tarefa (sem mencionar os custos indiretos de toda a instrução acumulada ao longo da vida, além da óbvia formação acadêmica), se na hora de cobrar ou de receber, me deixo enrolar por qualquer lorota triste; ou pior, sou guiado pelo medo primevo, instintivo e irracional da danação eterna?

chega! minha paciência esgotou-se! cansei de ser feito de otário! de levar calotes! de me aviltar em nome de quem -- com o perdão da má-palavra -- só quer me botar na bunda.

pois fodam-se todos! se as pessoas acham que qualquer um é capaz de escrever, que o façam eles mesmos e não me procurem mais. como lembra o poeta, "nevermore". prefiro morrer duro (como se já não o estivesse...) e seco.

demorei demais para aceitar que devo concentrar todos os esforços em passar para um concurso público. se não serei remunerado de acordo com o que mereço, pelo menos não serei muito exigido, tendo tempo para me dedicar a outros interesses. como fez vinícius de morais, joão cabral de melo neto e carlos drummond de andrade, só para citar alguns.

estarei em melhor companhia do que agora.