acabei de assistir à edição feita para o fantástico do documentário do mv bill "falcão, meninos do tráfico". a globo até que tentou fazer tudo certinho, levou o autor lá para conextualizar as imagens e explicar seus possíveis objetivos, aparentemente não "suavizou" nada, nem botou "pí" nos palavrões.
depois da exibição, entra a glória maria de cara séria, anunciando para depois dos comerciais um "debate com a opinião de quem ficou chocado com as imagens". volta o programa e ficamos sabendo que são pessoas "acostumadas a ter um olhar aguçado sobre as pessoas e a realidade". esfrego as mãos, curioso em saber que iria aparecer: algum sociólogo? uma autoridade política? um comandante de força policial? alguém vai argumentar com o bill?
além de não ter necas de debate, botaram no ar depoimentos de manoel carlos, glória perez, cacá diegues, camila pitanga e luís fernando verissimo. meu queixo caiu: os dois primeiros escrevem novelas cujos personagens parecem polianas com paralisia cerebral; cacá diegues devia ter sofrido impedimento legal por sua adaptação "turma da xuxa" do orfeu de vinícius de moraes; camila pitanga é linda, gostosa... é linda, gostosa... é linda, gostosa... e o que mais? até o verissimo caiu na armadilha dos comentários óbvios.
aí me pergunto: são esses nossos formadores de opinião? são essas as pessoas que moldam e representam o pensamento da sociedade atual? os seres elevados a quem delegamos o poder de nos explicar o mundo? de pensar por nós? tudo bem que pegar o luís eduardo soares, a alba zaluar, o roberto da matta ou gilberto velho, poderia ser forçação de barra para o público do fantástico, mas porra!, não deram nem uma colher-de-chá para a viviane mosé, a filósofa-danoninho?!
ficou claro até que ponto as fronteiras entre espetáculo e realidade foram entortadas e transformadas na pasta fedorenta que nos empurram goela abaixo, com que pretendem pavimentar a cabeça das novas gerações.
no filme, uma menina deseja que o seu filho, então com quase três anos, "conheça o mundo" além do tráfico. o que sabe ela do mundo, escrava cujas correntes se manifestam pela ausência de tudo? por outro lado, e nós, que temos dinheiro para viajar e desfrutar os prazeres do mundo, o que sabemos dele além do consumo? o que sabemos de nós mesmos, além dessa corrida de ratos de tentar se dar bem a qualquer custo?
pelo menos o mv bill rompeu a letargia e está tentando entender alguma coisa. tomara que algo seja movido.