antiamericanismo comigo não cola. acho quase tão estúpido quanto qualquer outra forma de intolerância ou racismo. e, embora não tenha o menor desejo de voltar àquelas bandas, onde já morei e de onde tenho ótimas recordações, não posso negar a profunda admiração que sinto pelos estados unidos.
não pelo que ele representa no cenário político/econômico mundial nos últimos 50 anos, pela qualidade de grande parte do que é produzido artisticamente lá, e muito menos pelo puritanismo das tradições herdadas dos quakers. aliás, com a licença do meu mestre suassuna (o ariano, não o ney), diria que sou atraído pelo espírito do país "real", não pelo "oficial".
amo o que aquele torrão representa em termos de inovação transgressora, não simplesmente no sentido de novidade mercadológica, mas de novas possibilidades efetivas de criação. o grande mérito dos estados unidos, na minha opinião, é possuir em seu dna os cromossomos da grande depressão e da imigração de cérebros, principalmente depois da segunda guerra.
pensem no que seria de roliúde, da literatura, das artes plásticas, das ciências exatas e humanas (comunicação inclusa), sem a oxigenação que veio com os fugitivos de uma europa cada vez mais sufocada e neurótica. sem citar a contribuição anterior da salada formada por africanos, franceses, irlandeses, italianos, chineses, mexicanos e índios, à música, culinária, costumes, vestimenta, etc.
oquei, o velhíssimo continente hindo-europeu foi o berço da civilização e outros babados, mas se não fosse pela retroalimentação do novo continente, ele teria sucumbido ao próprio peso da cristalização de seu formalismo. enquanto isso, desde seu nascimento, os estados unidos foram berço e guarida de tudo o que era desviante. assim surgiram os blues, o jazz e o rock, os beats e os hippies, o new journalism, a internet, a bomba atômica (por que não?).
é óbvio que, em muitos aspectos, o país só anda fazendo cagada, que as nações européias também contribuíram pra cacete para as maravilhas do progresso humano e material, que o brasil e os demais países da américa latina representam hoje e no futuro próximo o embrião de um sopro de vida que vai mais uma vez sacudir o status quo. tudo isso eu sei e ponto.
no entanto, o que me levou a bostejar essa defesa rastaqüera é ver a atitude crescente de hidrofobia contra o local que foi e é o lar de tanta gente que eu admiro. thoreau, clint eastwood, josephine baker, richard stallman, fred astaire, kurt vonnegut, timothy leary, lou reed, mary cassat, miles davis, groucho marx, sam shepard, jennifer connely, frank zappa, malcolm x, al pacino, john fante, charlie parker, edward hopper, paul auster, henry fonda, billie holiday, winslow homer, mark twain, além dos adotados frank capra, elia kazan, salma hayek, billy wilder... e por aí vai. a lista é imensa.