18 junho 2007

balada para seu geraldo

rapaz, tenho andado numa preguiça monstruosa.

desconfio que a razão tenha sido o abandono temporário da ioga, fruto de uma súbita e inesperada falta de grana, que me levou à alguma descompensação físico-química.

é bem verdade que o computador queimado também pode ter colaborado, já que, como "webdependente", sem acesso à rede eu não acho nada engraçado, macaco, praia, carro, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco...

ainda teve um caso que mexeu comigo. no dia do meu aniversário, um camarada do trabalho me mostrou um site de biorritmo, apresentado como exemplo numa apostila do curso de java que ele está fazendo.

na maior boa-intenção, o caboclo digitou minha data de nascimento e voilá!, o resultado pelos quinze dias seguintes era uma curva descendente até o zero nos quesitos saúde e grana.

dei uma risada cética, mas batata! dali a dois dias perdi meu cartão de débito do banco, e estou até hoje num "gripa-não-gripa" que me levou ao ponto de ir à farmácia comprar xarope, coisa que não faço há uns quinze anos.

enfim, meu ânimo tem andado meio down the high society, por mais que meu hemisfério palhaço não demonstre a fraqueza...

o caso anda tão crítico que nem perna bem-feita de moça tem me tirado da letargia.

entretanto, nos últimos dois dias, devo ter ouvido algum indiano encantador de serpentes, porque a curva aos poucos tem dado sinais de vida.

sábado eu varri os dois dedos de poeira e "cabelhos" acumulados pela casa, que já conspiravam para me despejar. ontem limpei o banheiro, lavei roupa & louça e, pasmem!, fui dar um "chêgo" na praia.

nesse passeio senti um daqueles momentos mágicos de solitude absoluta que me levam a um estado de comunhão com tudo e com todos.

talvez deus seja um troço tão bom quanto isso.

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enrolei até aqui, mas meu objetivo era contar uma cena que presenciei, e que despertou lembranças muito profundas de criança. em determinado momento da caminhada, passaram por mim um jovem pai e seu filho de uns onze anos.

eles vinham pela pista fechada da praia, tocando uma bola de futebol. o garoto, de chinelos, ia mais à frente, e apresentava bastante desenvoltura com a pelota, apesar do calçado inadequado.

o fato lembrou-me de quando eu batia bola com os garotos da mesma idade, no playground do meu prédio, na gávea. desde aquela época, eu já não levava muito jeito para futebol, mas ainda tentava, para não ficar de fora da brincadeira.

uma vez, voltávamos meu pai e eu de uma praia domingueira, e me juntei à molecada num jogo de "golzinho" (era esse o nome?).

meu pai, orgulhoso, queria ver o filho honrar a linhagem -- ele próprio um peladeiro bem razoável. e pediu para que eu subisse para trocar os chinelos por tênis. desde então já consciente da mediocridade do meu futebol, eu não dava a mínima, queria era me divertir. mas ele tanto insistiu que eu subi.

e a interrupção me tirou todo o prazer de continuar. mesmo assim, voltei para agradá-lo.

é curioso como hoje identifico esse episódio como a última vez que tentei me esforçar para jogar bola. nunca mais quis bater bola, talvez como uma vingança infantil inconsciente.

hoje não consigo sequer fazer um passe decente, mas graças ao meu pai tornei-me um leitor compulsivo, um desenhista desenvolto, um jornalista bom de papo e de copo (para seu desespero), e que não é exatamente um fracasso com as mulheres.

mesmo sem o futebol, ele nunca deixou de demonstrar orgulho por mim.

obrigado, pai.