18 agosto 2007

eu não tenho pé

torci o pé. mas a maneira como aconteceu poderia figurar na série "se eu contar ninguém acredita". até porque, não tem ninguém acreditando.

mas olha, o negócio foi assim:

na quarta à noite, voltei do cinema empolgadíssimo. não sei se tanto pelo que passou na tela ou na platéia. afeto é bom e feito para se gastar, pensava. sabe-se lá se daqui a pouco você vai estar comendo capim pela raiz?

cheguei, fiz um chazinho de camomila e outras mumunhas para dormir cedo, e nem liguei a tevê para fazer barulho (porque para assistir tá cada vez mais difícil, não tem net que salve). peguei um livro muito do subversivo e li até cochilar.

a luz acesa me incomodou e acordei para apagá-la. devo ter dormido sobre a perna esquerda, porque ela estava completamente dormente (e não é que o sacana do ortopedista teve a cara-de-pau de dizer que "isso acontece com muita freqüência quando se toma umas cachaças", sendo que eu estava purinho?).

como o pé estava completamente bobo, devo tê-lo apoiado errado, porque ele virou para dentro, com meu peso em cima. despenquei de dor, mas o sono era mais forte e me arrastei de volta para a cama.

no dia seguinte, fui trabalhar, mesmo sofrendo uma dor excruciante. até porque a carteirinha do plano de saúde estava na gaveta do escritório. caminhar do ônibus ao trabalho foi uma tarefa de tirar o fôlego. literalmente.

cheguei, explanei o caso para a chefia, desci para o serviço médico, me deram um analgésico e me mandaram de táxi (exclamação) para um ortopedista. ainda ganhei o auxílio luxuosíssimo de uma colega de trabalho como acompanhante (outra exclamação).

radiografia, a piadinha supracitada, edema e estiramento de ligamentos de diagnóstico, dez dias de fisioterapia. apenas um dia de dispensa, e porque eu pedi. chegando em casa, cruzo com salsão no botequim. o sacana me pergunta se vou competir no parapan. fico mais um dia de molho por conta própria, pois a dor ainda era muita.

mais tarde a piv me viu, disse que estiramento nada, o roxo denunciava ligamentos rompidos. levei um esporro por ainda não ter comprado o antiinflamatório, mas ganhei emprestado o "robofoot" dela, uma bota que imobiliza o pé e o tornozelo. para vocês poderem visualizar, a geringonça é algo entre o pé do robocop e aqueles aparelhos de paralisia infantil.

dois dias depois, lá vou eu, todo pimpão, a caminho da labuta. as mulheres me olham na rua, mas desconfio que não é pelas minhas doces olheiras. quando vê minha bota nova, minha chefe diz que não era para estar lá, que se um fiscal do trabalho aparecesse, era multa certa para a empresa.

a doutora do serviço médico confirma e me recomenda voltar ao ortopedista e pegar um atestado decente. eu realmente nem poderia ter entrado no prédio com aquele calçado.

resumindo: vou ficar mais uma semana cevando, olhando para o teto, lendo e vendo filmes. preferia tirar esse tempo para viajar, ou, pelo menos, ter uma moça para cuidar de mim.