nunca fui um sujeito magro. meus pais contam que, no primeiro ano de vida, quando tentavam me colocar sentado, o bebê-eu caía esparramado para os lados, como uma espécie de joão-bobo ao contrário.
o padrão seguiu-se por grande parte da minha vida, sempre mais afeito que fui aos livros e aos desenhos do que aos esportes. pelo menos até o período entre os quatorze aos vinte e três, quando, impulsionado pelos hormônios da adolescência, e depois pela urgência de agradar o sexo oposto, espichei (não muito, vide minha altura) e emagreci.
no entanto, a descoberta do álcool, do tabaco e de drogas como carboidratos de várias procedências, ketchup e maionese, fizeram-me retornar às origens rotundas. mas foi a aparição de uma presença muito especial na minha vida que me tirou da escuridão. não, não me refiro a jesus, e sim ao colesterol.
desde que nos apresentaram formalmente, saltei da montanha-russa de peso, procurando maneirar na gastronomia. em compensação, fiz um trato comigo mesmo de não subir mais em balança. e assim vamos vivendo em paz.
mas não era nada disso que tinha a dizer. minha intenção era contar algo do tempo em que um imeio selou o fim do meu primeiro casamento. sim, amiguinhos, devo ter sido o desbravador das separações via internet (a propósito, se o guiness estiver interessado, ainda devo ter uma cópia impressa em algum lugar).
entre as várias tolices que fiz nesse período, a maior delas deve ter sido me envolver com outras mulheres sem ter cicatrizado a ferida. creio que fui responsável por algumas semanas de análise a mais de pelo menos duas. aliás, se alguma delas estiver lendo estas mal-digitadas, gostaria que soubessem que sinto muito. não era eu naquela época. ou talvez fosse eu demais. sei lá.
enfim chegamos aonde eu queria: uma dessas moças era uma atleta dedicada -- principalmente para os meus padrões. ou será que academia não é esporte? tem gente que acha que fórmula 1 é. divago...
mas a moça era tão bacana que quis dar uma aprimorada no meu shape. para me estimular, apresentou um método muito ajeitadinho de exercícios chamado body for life, desses em que bastam dez minutos por dia para você passar de barbapapa a super-homem num piscar de olhos.
ela me trouxe uma série de planilhas, encapadas numa pasta transparente, com um disquete colado (era no tempo do disquete), para o caso de eu precisar imprimir mais folhas.
se bem me lembro, para o troço funcionar azeitado, eu deveria realizar uma série leve por tantos minutos, depois uma pesada e outra média, sempre pelo mesmo tempo, descansando entra cada uma. ou algo assim. e a cada semana entrariam novos exercícios, a duração aumentaria (ou diminuiria) à medida que o tempo passasse, até que, voilá! eu me transformaria no charles atlas.
tudo lindo, se não fosse por vários problemas. primeiro, um camarada que sai de casa meia hora atrasado para um compromisso achando que vai chegar pontualmente, como é meu caso, jamais conseguiria seguir esses minutos como manda o figurino.
segundo, cresci assistindo conan, o bárbaro. portanto, acredito até hoje que para um sujeito conseguir uma forma física situada entre o expressionismo e o realismo fantástico, como é o caso do schw@z&$wrrgueÇxnyegger, ele deve, no mínimo, passar mais da metade da vida acorrentado a uma pedra de mó, empurrando-a sem parar, ao som do canto do chicote, e exposto às intempéries. nunca vão me convencer que é possível ficar forte sem sofrimento.
e terceiro, quando ela me mostrou o livro de onde havia aprendido o método, eu perdi o respeito. e olha que ela é uma de inteligência acima da média. acima da minha, com certeza. mas é que vivi o suficiente para não acreditar em nenhum americano querendo ajudar cucaracho, principalmente os que estampam sorrisos cândidos congelados. pois o sujeito era bem assim. até achei a foto dele para provar.
esse papo todo veio à tona quando hoje, voltando do trabalho, estava prestes a começar a leitura de um livro que está na fila de espera desde meu aniversário. não é que, quando pego o marcador que veio de brinde da livraria, encontro uma foto da versão feminina do camarada? com um baita sorrisão psicopático, e o detalhe macabro -- um estetoscópio, o que sugere que a moça é médica! e deve ser, mesmo, porque tem um "dra." antes do nome dela. alô, povo de branco! podem rasgar seus diplomas.
essas figuras parecem as vagens alienígenas que tomavam as formas humanas no filme invasores de corpos, ou os clones "ipsilones semi-imbecis" do admirável mundo novo do huxley. assustadora é a impressão de que eles estão em cada vez maior número. medo.