08 abril 2008

memória coletiva

a caminho do trabalho, o ônibus manobra na tesoura do aeroporto santos dumont, ponto que marca o fim do aterro do flamengo.

o trocador, pensativo, começa a falar, um pouco para si mesmo, um pouco para o motorista, um pouco para a pequena platéia do coletivo vazio, da qual eu fazia parte.

"Carlos Lacerda... quem construiu isso foi o Carlos Lacerda" - disse, abarcando toda a extensão dos jardins artificiais com um movimento circular de queixo.

"Eu era novinho quando ficou pronto... tinha acabado de chegar ao Rio. Isso já faz 48 anos.

E lá se vai uma vida...

Carlos Lacerda... Carlos Werneck Lacerda...
"

ele escandia as palavras de maneira hipnótica, como se o nome do antigo governador da guanabara pudesse se sobrepor às memórias de sua própria vida.

logo estávamos na presidente antônio carlos, onde puxei a corda e desci. mas a vontade era continuar até o ponto final e além, puxando conversa sobre como era o rio quando ele chegou, quantos anos tinha, o que havia mudado nesse tempo todo, e como se tornou trocador.

nesse dia trabalhei pensando numa cidade que não existe.