de novo vez venho por meio dessas mal-traçadas criticar o analfabetismo dos criadores de conteúdo para os canais a cabo. a ignorância varia entre os gringos acreditarem que todos abaixo da linha do equador falam espanhol, e a completa falta de intimidade dos conterrâneos com o vernáculo.
o complexo de vira-latas é tamanho, que os caras se esmeram em falar todos os nomes em inglês - inclusive inventando pronúncias descabidas - enquanto devotam um descaso retumbante à língua portuguesa.
dessa vez o troféu "jumento de platina" vai para o canal people and arts, que brinda a audiência em seus comerciais com uma vinheta chamada "parêntesis".
alguém aí tem um revólver?
21 julho 2008
inculta e bela flor do lácio
18 julho 2008
cena (infelizmente) carioca
hoje presenciei um fato que periga tornar-se prosaico no meu rio de janeura.
pouco antes do meio-dia eu passava pela avenida chile a caminho de um compromisso. para quem não está familiarizado com a geografia do centro , esta via é de mão-dupla, com uma calçada separando as pistas. normalmente vou pelo meio, porque costuma ter menos gente atravancando o caminho do que nas calçadas das pontas.
dali presenciei um acontecimento que marcou meu dia. foi tudo muito rápido, um recorte fragmentado da realidade, e dessa forma tentarei narrá-lo.
reparo num adolescente alto do outro lado da rua, na esquina da treze de maio. ele dá uma espécie de pinote e põe-se a correr, como se quisesse pegar um ônibus saindo do ponto mais à frente.
logo atrás dele, um camarada aparentando ter quarenta anos, gordo, de calça, casaco e mochila às costas faz um sinal com o braço estendido como se o chamasse. sem obter resposta, aperta o passo, saca uma pistola de detrás da camisa e aponta para o garoto.
eu, que fico incomodado até com barulho de estouro de balão de aniversário, reajo imediatamente tapando o ouvido do lado da arma e acelero o passo para longe da cena, o coração subindo à boca. no entanto, mantenho a cabeça virada para ver o que acontece.
o garoto pára de correr e começa a se abaixar para atender à ordem do homem para deitar no chão. uma mulher vem gritando que o rapaz é seu filho. o cara imediatamente guarda a arma e o rapaz se levanta de novo.
pelo que pude entender, o adolescente vinha acompanhado da mãe e correu, talvez, como supus, para segurar o ônibus. o cara da arma deve ter pensado que era assalto e quis dar uma de herói antes de entender o que acontecia.
continuei meu caminho, pensando na violência e na humilhação de ser forçado a deitar-se de bruços no meio da rua sem ter feito nada, simplesmente porque alguém de posse de uma arma de fogo se achou no direito de fazer justiça.
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não sei o que sentiria se ficasse provado que o rapaz era mesmo ladrão. já fui assaltado e sei que a emoção que bate depois é uma fúria homicida. mas uma vez vi um bandido baleado por um segurança de rua, após uma tentativa frustrada de assalto. eu morava no jardim botânico, e voltava da faculdade quando fui atraído por uma aglomeração. o jornaleiro me inteirou do assunto, e meio guiado por uma curiosidade mórbida, fui lá.
nunca me esquecerei da expressão em choque do ladrão, os olhos esbugalhados olhando em todas as direções, sem no entanto ver nada, a respiração rápida e descompassada, certamente em razão do tiro na barriga. ele estava sentado no chão, escorado num poste, sem camisa e com a calça jeans aberta (depois descobri tratar-se de uma manobra policial para impedir que o "elemento" fuja correndo).
eu pensava "o sujeito deve ter acordado, tomado lá um café, beijado a esposa e ido roubar. mesmo que tenha acordado, cheirado um pó e batido nela..." de alguma forma não consegui sentir raiva. sei lá, senti-o muito próximo a mim. como eu, ele nasceu, aprendeu a falar, andar, em algum momento amou, sentiu alegria, raiva, frustração, medo... tudo igualzinho a mim. só que tive mais sorte. apenas por um acaso não era eu que estava ali.
é muito fácil sentir raiva, indignação, ou querer vingança, quando o alvo é um vilão distante, que causou dano a alguém que a gente não conhece. é quase uma abstração. eu mesmo já me apanhei querendo arrancar jugulares ao ler sobre uns dois ou três casos de violência recentes. mas ao vivo, olho-no-olho, a coisa pode mudar. talvez porque, embora uns se esforcem muito para fugir à regra, ainda sejamos todos humanos.
13 julho 2008
tá chegando a hora
daqui a exatos trinta dias o blog faz cinco anos.
já não agüentava mais olhar para aquele verde.
achei que precisava deixar as coisas mais limpas.
ainda não fiquei satisfeito.
talvez seja questão de costume, sei lá.
11 julho 2008
pra tirar as teias
o borduna! tá meio abandonado, admito, mas tenho andando muito ocupado vivendo. como se sabe, viver toma muito tempo.
para vocês terem uma idéia, ainda tô devendo escrever sobre minha ida pra jericoacoara em janeiro (!), sobre o nascimento da minha sobrinha e afilhada - a criatura mais linda e arrepiada que deus já teve a ousadia de criar, sobre mais um porrilhão de coisas.
prometo que daqui a pouco eu volto. cheio de novidades.
06 julho 2008
musica do dia
de hoje, anteontem, semana que vem, dois anos atrás... whatever (que é uma maneira educada de dizer "foda-se").
Discover The Beatles!
04 julho 2008
noite de frente fria
aqui poderia ser lido o poema das sete faces, que caberia como uma luva na situação. mas depois que meu professor falou que tem muito copy & paste na internet, resolvi dizer algo que julgo bem parecido, com as minhas palavras.
covarde que sou, abriguei-me da noite no piano do joão donato, desperdiçando um vinho que suspeito ser bom em copo de requeijão, fumando os últimos tocos de romeu e julieta, dando uma paradinha esporádica para ler clarice lispector e olhar as estrelas. o vento do inverno esfriando o pensamento do que poderia ter sido, o álcool esquentando o que será de fato daqui a poucas semanas.
ah, como é patética a melancolia. mas que tem seu charme, lá isso tem... não comigo, entretanto.
03 julho 2008
interlúdio para uma quinta-feira cinzenta
One evening as the sun went down
And the jungle fires were burning,
Down the track came a hobo hiking,
And he said, "Boys, I'm not turning
I'm headed for a land that's far away
Besides the crystal fountains
So come with me, we'll go and see
The Big Rock Candy Mountains
In the Big Rock Candy Mountains,
There's a land that's fair and bright,
Where the handouts grow on bushes
And you sleep out every night.
Where the boxcars all are empty
And the sun shines every day
And the birds and the bees
And the cigarette trees
The lemonade springs
Where the bluebird sings
In the Big Rock Candy Mountains.
In the Big Rock Candy Mountains
All the cops have wooden legs
And the bulldogs all have rubber teeth
And the hens lay soft-boiled eggs
The farmers' trees are full of fruit
And the barns are full of hay
Oh I'm bound to go
Where there ain't no snow
Where the rain don't fall
The winds don't blow
In the Big Rock Candy Mountains.
In the Big Rock Candy Mountains
You never change your socks
And the little streams of alcohol
Come trickling down the rocks
The brakemen have to tip their hats
And the railway bulls are blind
There's a lake of stew
And of whiskey too
You can paddle all around it
In a big canoe
In the Big Rock Candy Mountains
In the Big Rock Candy Mountains,
The jails are made of tin.
And you can walk right out again,
As soon as you are in.
There ain't no short-handled shovels,
No axes, saws nor picks,
I'm bound to stay
Where you sleep all day,
Where they hung the jerk
That invented work
In the Big Rock Candy Mountains.
....
I'll see you all this coming fall
In the Big Rock Candy Mountains
(da trilha sonora de e aí, meu irmão, cadê você?)
01 julho 2008
ninguém gosta da yoko ono
pode ser que eu mais uma vez esteja errado, mas desconfio que a mulher mais odiada do mundo seja a yoko ono.
se partirmos do princípio que o planeta tem cantos, calculemos quantos seriam os fãs de beatles, moderados e fanáticos, de todas as idades, espalhados por seus quatro cantos.
o número resultante deve ser algo da ordem de dez elevado a porrilhésima potência (eu mesmo só conheço duas pessoas que NÃO gostam dos fab four).
suponhamos agora que, desse número mastodôntico, uma enorme fração é composta por gente que detesta a yoko ono, por diversos motivos. a ela é atribuída a responsabilidade pela alienação do john lennon, pela pior música já gravada num álbum dos beatles (revolution #9), e pela separação do grupo. além de ser oportunista, esganiçada, baranga, e péssima artista plástica.
alguns episódios embasam esse ponto de vista:
- na época do mothers, frank zappa fez um show no filmore east, em 1971, que contou com a participação de john e (pé-de-pato-mangalô-três-vezes) yoko. ela aborreceu tanto o pessoal da banda com seus balidos de cabra desmamada, que o captain beefheart enfiou um saco nela, da cabeça aos pés. a pentelha deve ter pensado que se tratava de uma performance, porque nem assim parou. check it out:
- no mesmo episódio, john lennon e seus produtores aproveitaram da boa-fé do zappa e armaram uma crocodilagem, que você pode ler no blog do pedro marques e ouvir da boca do próprio zappa:
- para coroar, teve uma época em que a própria yoko se encheu do john ("meu deus, criei um monstro"), e jogou sua secretária may pang pra cima do marido. por quase dois anos eles foram felizes, john recuperou o viço, voltou a falar com o paul, e até ensaiaram planos de um projeto juntos. mas a yoko hipnotizou o cara (!) pra voltar pra ela. duvida? leia o relato da outra japa.