gerundismos à parte, costumo dizer que gosto de "estar viajando", em oposição a "ir viajar". trocando em miúdos, isso quer dizer que detesto arrumações & preparativos de viagem (malas, reservas, etc.), mas adoro estar fora da minha zona de conforto cotidiana, experimentando lugares e situações diferentes.
na argentina não foi diferente, fiz várias descobertas interessantes:
- achei que sentiria mais fome no frio, suposição que não se confirmou;
- entendi na carne o significado da expressão "frio de doer", ao tomar o primeiro banho frio com a temperatura abaixo de 9oC;
- porque ele reina absoluto sobre a paisagem, o pôr-do-sol do pampa é o mais lindo que já vi;
- aliás, o pampa, como bem dizia minha anfitriã, é uma vertigem horizontal. no campo, salvo por uma ondulação no terreno, você consegue facilmente enxergar todo seu entorno num raio de cinco quilômteros;
- os homens lá se beijam no rosto. fui a um jantar em que um cara chegou atrasado e foi mecanicamente estalando a bochecha de todo mundo, inclusive a desse que vos escreve. e o sacana ainda estava com a barba por fazer, o que tornou a coisa toda muito mais desagradável. até beijo alguns parentes e amigos mais chegados, mas acho que, como na música do gil, ainda vou demorar muito tempo até aprender a beijar outros homens como beijo meu pai;
- no geral, bem geral, achei a alimentação do argentino médio muito pobre: basicamente carne (muito boa, faça-se justiça) e batata. senti falta de mais hortaliças e frutas;
- chimarrão (que eles chamam de mate) é a bebida socialista por excelência. todo mundo bebe na mesma bomba, democraticamente. achei a erva "picotada" de lá é melhor que a "moída" daqui;
- o hábito de passar horas em cafés lendo e bebericando devia ser previsto na declaração universal dos direitos dos homens, na convenção de genebra, ou coisa que o valha...
- o espanhol é uma língua muito mais objetiva e incisiva que o português. o pessoal lá não é muito dado a circunlóquios e diminutivos;
- eu teria sido um adolescente felicíssimo em buenos aires: lá é possível vestir, sem dramas térmicos, todo e qualquer figurino americanizado que se vê nos comercias e seriados de televisão da moda: casacões de pele ou nylon para rappers, blazers sobre moletons com capuz para os descolados urbanos, longos sobretudos negros para góticos e soturnos em geral; casacos de couro para punks e roqueiros, minissaias com meias-calças de todas as cores imagináveis para as alternativas, além de outras coisas que não reparei;
- depois de 15 dias, não agüentava mais escutar e (tentar) falar espanhol. até ouvir a conversa alheia me irritava. no fim da viagem já buscava me comunicar por gestos;
- e finalmente, a tal convergência digital é uma falácia. as mídias podem até atingir um padrão comum, mas os fabricantes continuam querendo ser "autorais". minha bagagem ficou atulhada com cinco tipos de fios diferentes para o celular, a câmera e o ipobre.